Centrais
Sindicais do Cone Sul defendem ação do governo argentino contra fundos abutres
A
Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS) defendeu nesta
terça-feira (20), em Buenos Aires, a ação
do governo argentino contra os “fundos abutres” como “uma medida justa e
necessária em prol da soberania nacional”. Na noite anterior (19), a
presidenta Cristina Kirchner anunciou em cadeia de rádio e televisão o envio de
um projeto de lei ao Congresso para
reabrir a troca de títulos, trazendo para o país a jurisdição sobre os bônus da
dívida que se encontravam em mãos do Banco de Nova Iorque.
Conforme
denunciaram as centrais, uma ação do juiz
Thomas Griesa, vinculado ao “megainvestidor” estadunidense Paul Singer permite
que cerca de 7% dos portadores de títulos da dívida pública argentina, que não
aceitaram a negociação realizada entre 2005 e 2010, agora recebessem as ações
com um ágio que sangraria o país.
Considerando
esta dívida de “interesse público”, a Casa Rosa alertou que a sentença de
Griesa, um juiz direitista indicado pelo ex-presidente Richard Nixon, é de
“impossível cumprimento”, sendo “violatória, tanto da soberania como das imunidades
do país e dos direitos de terceiros”. “A Argentina se nega a ser extorquida”,
sublinhou Cristina Kirchner. O presidente da Confederação Sindical
Internacional (CSI), João Antonio Felício, ressaltou que “93% dos credores aceitaram a remuneração entre 45% e 70% da dívida,
enquanto os abutres apostaram na política do quanto pior, melhor”. “Queriam que
a Argentina acelerasse rumo ao abismo, projetando lucros que seriam
potencializados com o crescimento do desemprego, da fome e da miséria de
milhões de pessoas”, acrescentou.
Frente à
campanha de desinformação capitaneada pela grande mídia, João Felício lembrou
que o movimento sindical e social estão em meio a uma batalha que “tanto quanto
económica, é política e ideológica, pois é inaceitável que uma decisão de um
tribunal de Nova Iorque se sobreponha ao interesse de toda uma nação”.
“A Coordenadora entende que é preciso apoiar o
governo argentino e barrar este ataque especulativo, antes que esse tipo de
prática, daninha à própria democracia, se alastre”, declarou o secretario de
Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa.
Somando
centrais da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai e Venezuela, ressaltou
Lisboa, a Coordenadora tem a responsabilidade de dar respostas contundentes aos
ataques que vêm sendo feitos pelo capital financeiro internacional para
inviabilizar os governos progressistas da região. “A América Latina e o Cone
Sul, principalmente, têm representado um contraponto à cartilha do retrocesso
neoliberal, mantendo uma política de defesa dos empregos, dos salários e
direitos. A unidade e a mobilização do movimento sindical cumprem, portanto, um
papel estratégico neste momento”, acrescentou.
De acordo
com o chanceler argentino Héctor Timerman, seu país “seguirá exigindo que os
Estados Unidos respeitem o direito soberano de seguir pagando” sua dívida sem
intervenções. Desde 2005 a Argentina já desembolsou 190 bilhões de dólares para
pagar suas “obrigações”. Caso os EUA não se apresentarem diante da Corte
Internacional de Haia, alertou Timerman, “deverão indicar um método alternativo
pacífico de solução de controvérsias”. Para o chanceler, Washington deve
“assumir a responsabilidade pelos atos” do juiz Thomas Griesa em favor dos
fundos abutres ao exigir o pagamento imediato de US$ 1,3 bilhões.
JUSTIÇA,
PAZ E LIBERDADE PARA A PALESTINA
As
centrais sindicais também condenaram de forma contundente os ataques de Israel
contra o território palestino, bombardeios que já causaram a morte de mais de
dois mil civis, grande parte crianças que se encontravam em escolas, hospitais
e inclusive no centro de refugiados da Organização das Nações Unidas (ONU).
Caracterizando
as agressões como “vergonhoso ato de genocídio do povo palestino”, a
Coordenadora fez um novo chamado à paz, “que deve passar necessariamente pelo
reconhecimento de dois Estados independentes, Israel e Palestina, com Jerusalém
como capital compartilhada, conforme as resoluções das Nações Unidas”. Nosso
compromisso, destaca a nota das centrais, “é respaldar uma causa que é justa.
Parar uma invasão que é criminosa. Denunciar com nome e sobrenome os interesses
que se movem por detrás desta invasão”.
“Frente à declaração dos presidentes dos
Estados membros do Mercosul, a qual compartilhamos, exigimos a urgente
suspensão do Tratado de Livre Comércio do Mercosul com Israel”, enfatiza o
documento da Coordenadora, recordando que este é um tratado subscrito em 2010,
e que tem de ser “denunciado de imediato”.
“Frente ao genocídio que está vivendo o povo
palestino”, as centrais do Cone Sul reafirmaram o seu compromisso com a
campanha mundial de boicote, desinvestimento e sanções contra Israel.
VISITAS À
CGT E À CTA
No final
da tarde e à noite, João Felício e Antônio Lisboa também se reuniram com
lideranças da Central Geral dos Trabalhadores (CGT) da Argentina e da Central
dos Trabalhadores da Argentina (CTA). Nos encontros, João Felicio agradeceu o
apoio recebido para sua eleição à presidência da CSI e reafirmou o seu
compromisso de realizar uma gestão profundamente democrática, sintonizada com
as demandas da base. Como novo secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio
Lisboa resgatou os fortes vínculos que unem as centrais da região - desde a
ação comum para a derrota da Alca, até a construção de projetos
anti-neoliberais – projetando um novo período de intensas mobilizações para
impedir qualquer retrocesso nas condições de vida e trabalho.
Fonte:
Leonardo Wexell Severo, de Buenos Aires - CUT - 21/08/2014
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