quarta-feira, 11 de abril de 2012
CNJ TRAÇA PERFIL DOS ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI
O estudo foi realizado pelo
Departamento de Pesquisas Judiciárias do CNJ com base nos dados colhidos pelo
Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (DMF). Entre
julho de 2010 e outubro de 2011, a equipe do programa percorreu todos os
estabelecimentos de internação do país, entrevistou 1.898 adolescentes e
coletou dados de 14.613 processos judiciais de execução de medidas
socioeducativas de restrição de liberdade em tramitação nos 26 estados e no
Distrito Federal.
Segundo o juiz auxiliar da
presidência do CNJ, e um dos coordenadores do Justiça ao Jovem, Reinaldo
Cintra, a pesquisa servirá de base para a formulação de políticas públicas,
tanto no Executivo quanto no Judiciário, que garantam a proteção de crianças e
adolescentes no país, assim como a ressocialização daqueles que cometeram algum
tipo de infração. "Pela primeira vez temos números sobre a qualidade de
vida do interno, a forma com ele enxerga a medida que está sendo aplicada, como
o Estado trata esses adolescentes e como o Judiciário luta para
acompanhá-los", destacou o juiz.
Agressão - Durante as
visitas, o Justiça ao Jovem detectou situações graves de maus tratos cometidos
contra os jovens internados nas unidades de internação. Mais de 10% dos
estabelecimentos registraram situações de abuso sexual e 5% deles apresentaram
ocorrências de mortes por homicídio. Além disso, quase um terço dos
adolescentes declarou sofrer algum tipo de agressão física por parte
funcionários e um quarto dos estabelecimentos visitados já havia enfrentado
situações de rebelião ou motins.
Como resultado, a metade
dos adolescentes pesquisados é reincidente na prática criminal. Embora o roubo
e o tráfico de drogas sejam as infrações que levam a maior parte dos jovens ao
cumprimento de medidas socioeducativas (60% dos entrevistados), entre os
reincidentes a prática de homicídio foi três vezes superior à verificada entre
aqueles que cumpriam a primeira internação, aumentando de 3% para 10%.
Diferente da média nacional, nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, as
infrações que resultaram em morte aparecem como segundo principal motivo de
internação dos adolescentes, ultrapassando o tráfico de entorpecentes.
Perfil - O estudo revelou
que cerca de 60% dos jovens entrevistados possuem entre 15 e 17 anos e que mais
da metade deles não frequentava a escola antes de ingressar na unidade. A
maioria dos adolescentes infratores parou de estudar aos 14 anos, entre a
quinta e a sexta série, o que demonstra a necessidade de se adotar no país
políticas específicas voltadas ao combate da evasão escolar no ensino fundamental.
Além disso, 8% deles não chegaram sequer a serem alfabetizados. Nesse aspecto,
a desigualdade entre as Regiões do país ficou evidenciada no estudo. Entre os
jovens entrevistados no Nordeste, 20% declararam que não sabem ler, enquanto no
Sul e no Centro-Oeste essa proporção foi de apenas 1%.
Em relação à estrutura
familiar, o CNJ constatou que 14% dos jovens infratores possuem pelo menos um
filho, apesar da pouca idade, e apenas 38% deles foram criados pela mãe e o
pai. Além disso, 7 em cada 10 adolescentes ouvidos pelo Justiça ao Jovem se
declararam usuários de drogas, sendo este percentual mais expressivo na Região
Centro-Oeste (80,3%). A maconha aparece como o entorpecente mais consumido,
seguida da cocaína e do crack.
Situação processual - A
maior parte dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação
(73% dos 14.613 processos analisados) teve seus casos julgados pela Justiça com
sentença definitiva, contra a qual não cabe mais recurso. O Nordeste e o Norte
foram as regiões onde o CNJ verificou o maior percentual de jovens internos que
ainda aguardam julgamento de seus processos (33% e 27% respectivamente).
O fomento à prática de
atividades externas no período de internação, como participação em cursos,
eventos religiosos ou oficinas de profissionalização, se mostrou uma forma
eficiente de evitar a fuga dos adolescentes, além de favorecer a
ressocialização. No Sudeste, em 85% dos casos de internação há prática de
atividades externas, levando a Região a registrar índice de evasão de apenas 3%,
o menor do país.
Estabelecimentos - O CNJ
verificou ainda que faltam vagas no sistema brasileiro de medidas
socioeducativas para atender de forma adequada os adolescentes infratores. A
taxa nacional de ocupação das unidades é de 102%, sendo que os estados com a
maior sobrecarga estão Nordeste. No Ceará, as unidades abrigam mais do que o
dobro da capacidade, enquanto em Pernambuco a média é de 1,8 jovem por vaga e
na Bahia 1,6.
Quase a totalidade dos
estabelecimentos (cerca de 90%) conta com atendimento de psicólogos e
assistentes sociais. O mesmo não ocorre no caso de médicos e advogados,
presentes em apenas 30% das unidades, o que compromete os direitos básicos à
saúde e à defesa processual. Além disso, um terço dos estabelecimentos não
dispõe de enfermaria e mais da metade não possui gabinete odontológico.
Políticas - O diagnóstico
traçado pelo CNJ servirá de base para a definição de políticas públicas capazes
de garantir aos jovens sob custódia do Estado os direitos previstos no Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) e no Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (SINASE). A pesquisa indica que ações voltadas à manutenção das
crianças na escola e estratégias de combate ao uso de drogas podem contribuir
para impedir que elas entrem na criminalidade. O Conselho constatou ainda a
necessidade de mais investimentos estatais na estrutura dos estabelecimentos de
internação, muitos dos quais carecem de pessoal e infraestrutura adequada para
promover a ressocialização dos adolescentes.
Fonte: CNJ
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