Um quarto
dos jovens europeus com menos de 25 anos estão desempregados. O fenómeno não é
novo. Volta, esta semana, a ser confirmado por um estudo apresentado pela
Comissão Europeia.
Apesar de
ter aumentado desde a crise financeira de 2008, o desemprego jovem na Europa
atingia valores elevados muito antes. Afetava 21% dos indivíduos com menos de
25 anos já em 1995. E nunca mais baixou dos 15%, verificados em 2007. O estudo
realizado pela consultora McKinsey para a Comissão Europeia, conclui que a
“falta de emprego” e a “crise económica” explicam apenas uma parte do problema.
Mas encontra outras explicações. Há muito apontadas pelos sociólogos: o
adiamento da idade da reforma que prolonga a permanência da população no ativo;
o aumento do número de mães trabalhadoras que conciliam a vida familiar com a
profissional e, assim, reingressam ou nem chegam a sair do mercado de trabalho.
Estas tendências sociais são as restantes partes que compõem a narrativa do
desemprego entre os jovens, reconhecem os autores do relatório “Da Educação
para o Emprego: Pondo a Juventude Europeia a Trabalhar”, cujas conclusões se
fundamentam nos dados recolhidos em oito países europeus.
Ao
competir por um emprego com estes dois grupos, os jovens partem em larga
desvantagem, diz o estudo. A principal razão apontada para esta concorrência
desleal é sobejamente repetida: falta de experiência. Entretanto, a consultora
aponta o dedo às leis laborais dos países europeus que, segundo os autores,
dificultam tanto o despedimento como a contratação. Um argumento reúne adeptos,
por parte dos empregadores, mas é bastante repudiado pelas organizações
intersindicais.
As
conclusões apresentadas pela consultora McKinsey resultam de dados recolhidos
através de inquéritos realizados a 5300 jovens, 2600 empregadores e 700
instituições de educação. Entre os estados-membros da União Europeia que
participaram no estudo, estão as cinco maiores economias da Europa – Reino
Unido, França, Alemanha, Itália e Espanha; dois dos países mais afetados pela
crise – Grécia e Portugal; e um país nórdico – Suécia, cujo modelo de educação
para o emprego se distingue dos demais. Combinados, realçam os autores, estes
países contabilizam quase 75% de jovens desempregados na Europa dos 28.
Barreiras
ao “futuro merecido”
Assim, os
autores identificaram outras barreiras que estão a impedir esta geração - já
apelidada de “perdida”- de ter o “futuro desejado e merecido”. À cabeça da
lista o custo do ensino universitário e do vocacional. Apesar de as propinas
dos cursos superiores serem subsidiadas na Europa, muitos estudantes não
conseguem suportar as despesas de estudar longe de casa. Um cenário preocupante
para os 45% de jovens portugueses que são obrigados a deixar a sua cidade para
continuar a estudar.
A
realidade portuguesa é detalhada num sumário individual, onde se apresentam
mais alguns dados. Como o de 31% dos jovens terem afirmado aos investigadores
não ter tempo para estudar por necessitar de trabalhar, perfazendo o valor mais
elevado entre os países analisados. Portugal tem ainda uma das percentagens
mais altas (38%) de jovens que gostariam de continuar a estudar, mas não têm
condições económicas para tal.
Não são
dados surpreendentes. Confirmam o que outros estudos realizados em Portugal têm
demostrado. As limitações económicas estão na base do abandono dos estudos ao
nível do ensino superior. Também condicionam o acesso dos futuros candidatos.
As propinas são atualmente uma parte bastante significativa do financiamento
das instituições. E, apesar do país apresentar um dos mais baixos gastos por
aluno universitário, quando comparado com a maior parte dos países da União
Europeia, as famílias dos estudantes são das mais sobrecarregadas.
A redução
do custo dos cursos superiores parece ser a solução para estes problemas. Entre
as sugestões apresentadas pela consultora da Comissão Europeia está a
fragmentação dos currículos em módulos de formação. Cada um focando um
determinado conjunto de competências e com uma duração de semanas ou poucos
meses. Módulos autónomos permitiriam aos estudantes combinar a sua sequência
segundo as suas aspirações de emprego, defendem os investigadores da McKinsey.
Outra
opção de reduzir os custos volta-se para o modo como os cursos poderiam ser
ministrados: as componentes curriculares mais teóricas poderiam ser lecionadas
através de plataformas de ensino à distância, apenas as mais práticas seriam
ensinadas presencialmente. Ou até permitir aos jovens pagar parte das despesas
com propinas na forma de prestação de serviços.
Por outro
lado, a concessão de empréstimos a baixos juros, seria outra das opções
apontadas para ajudar os alunos no prosseguimento dos estudos. Do mesmo modo, a
consultora não esquece a possibilidade de serem os próprios empregadores a
suportar os custos da formação dos seus candidatos. As soluções não são novas.
E funcionariam apenas nos casos dos cursos apresentarem elevado potencial de
empregabilidade, admitem os autores do estudo.
O ensino
superior não é o único a atingir custos insuportáveis. Em alguns países europeus
o ensino vocacional não chega a ser subsidiado e a sua frequência pode ser
dispendiosa, acrescenta o relatório.
Necessidades
dos empregadores
Que as
empresas não estão a contratar devido à crise parece indiscutível. Mas haverá
outras razões? Em resposta aos inquéritos da McKinsey, um terço dos
empregadores elegem a falta de competências dos candidatos como um dos maiores
problemas causados aos seus negócios. Já 27% dizem mesmo tratar-se da razão
pela qual existem postos de trabalho vagos nas suas empresas.
Se os
jovens não estão a adquirir os conhecimentos de que as empresas precisam, notam
os autores do estudo, deve-se à falta de consenso entre educadores e
empregadores sobre o que importa ensinar e aprender. A evidência desta
discordância é apresentada no relatório com alguns dados obtidos nos
inquéritos. Exemplo: 74% das instituições de educação estão confiantes que os
seus diplomados estão preparados para ingressar no mercado de trabalho, porém,
só 38% dos jovens e 35% dos empregadores partilham a mesma confiança.
Que
formação falta aos candidatos? As respostas dos empregadores apontam lacunas ao
nível do que designam por “competências básicas” nas áreas da comunicação oral
e da ética do trabalho. Mas pior, realçam os autores do estudo, é que os jovens
estão a frequentar cursos que levam a qualificações pouco procuradas no mercado
de trabalho. E dão como exemplo a realidade vivida em Espanha: desde 2008, o
número de empregos na área da construção caiu em 62%, no entanto, o número de
diplomados em arquitetura e engenharia civil aumentou em 174% desde 2005.
Face aos
dados, não é de estranhar que apenas quatro em dez empregadores se mostrem
confiantes em resposta à questão: Conseguiria encontrar no mercado de trabalho
a oferta aos diplomados qualificados que necessita? Na Alemanha a procura
excede a oferta. E 32% dos empregadores afirmam que ficam vagas por preencher
nas suas empresas devido à falta de competências dos candidatos. Apenas 8% dos
jovens alemães estão desempregados. Do lado oposto está a Grécia onde 55% dos
jovens não conseguem arranjar emprego e 33% dos empregadores referem ter postos
de trabalho vazios por falta de mão de obra competente.
Com
exceção do Reino Unido, mais de um quarto dos empregadores dos países
analisados dizem que a falta de candidatos competentes gera problemas
significativos às suas empresas. Segundo o estudo, as mais atingidas são as
indústrias de serviços, entre elas, hotéis e restaurantes, e as empresas de
serviços públicos ligados à saúde e à educação. E se esta divergência entre
qualificações disponíveis e procuradas permanecer, a retoma económica não
resolverá o problema do desemprego jovem, alerta a McKinsey.
Fonte:
http://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=23501
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