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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Relatório europeu confirma retrato do desemprego jovem

Um quarto dos jovens europeus com menos de 25 anos estão desempregados. O fenómeno não é novo. Volta, esta semana, a ser confirmado por um estudo apresentado pela Comissão Europeia.
Apesar de ter aumentado desde a crise financeira de 2008, o desemprego jovem na Europa atingia valores elevados muito antes. Afetava 21% dos indivíduos com menos de 25 anos já em 1995. E nunca mais baixou dos 15%, verificados em 2007. O estudo realizado pela consultora McKinsey para a Comissão Europeia, conclui que a “falta de emprego” e a “crise económica” explicam apenas uma parte do problema. Mas encontra outras explicações. Há muito apontadas pelos sociólogos: o adiamento da idade da reforma que prolonga a permanência da população no ativo; o aumento do número de mães trabalhadoras que conciliam a vida familiar com a profissional e, assim, reingressam ou nem chegam a sair do mercado de trabalho. Estas tendências sociais são as restantes partes que compõem a narrativa do desemprego entre os jovens, reconhecem os autores do relatório “Da Educação para o Emprego: Pondo a Juventude Europeia a Trabalhar”, cujas conclusões se fundamentam nos dados recolhidos em oito países europeus.
Ao competir por um emprego com estes dois grupos, os jovens partem em larga desvantagem, diz o estudo. A principal razão apontada para esta concorrência desleal é sobejamente repetida: falta de experiência. Entretanto, a consultora aponta o dedo às leis laborais dos países europeus que, segundo os autores, dificultam tanto o despedimento como a contratação. Um argumento reúne adeptos, por parte dos empregadores, mas é bastante repudiado pelas organizações intersindicais.

As conclusões apresentadas pela consultora McKinsey resultam de dados recolhidos através de inquéritos realizados a 5300 jovens, 2600 empregadores e 700 instituições de educação. Entre os estados-membros da União Europeia que participaram no estudo, estão as cinco maiores economias da Europa – Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Espanha; dois dos países mais afetados pela crise – Grécia e Portugal; e um país nórdico – Suécia, cujo modelo de educação para o emprego se distingue dos demais. Combinados, realçam os autores, estes países contabilizam quase 75% de jovens desempregados na Europa dos 28.
Barreiras ao “futuro merecido”
Assim, os autores identificaram outras barreiras que estão a impedir esta geração - já apelidada de “perdida”- de ter o “futuro desejado e merecido”. À cabeça da lista o custo do ensino universitário e do vocacional. Apesar de as propinas dos cursos superiores serem subsidiadas na Europa, muitos estudantes não conseguem suportar as despesas de estudar longe de casa. Um cenário preocupante para os 45% de jovens portugueses que são obrigados a deixar a sua cidade para continuar a estudar.
A realidade portuguesa é detalhada num sumário individual, onde se apresentam mais alguns dados. Como o de 31% dos jovens terem afirmado aos investigadores não ter tempo para estudar por necessitar de trabalhar, perfazendo o valor mais elevado entre os países analisados. Portugal tem ainda uma das percentagens mais altas (38%) de jovens que gostariam de continuar a estudar, mas não têm condições económicas para tal.

Não são dados surpreendentes. Confirmam o que outros estudos realizados em Portugal têm demostrado. As limitações económicas estão na base do abandono dos estudos ao nível do ensino superior. Também condicionam o acesso dos futuros candidatos. As propinas são atualmente uma parte bastante significativa do financiamento das instituições. E, apesar do país apresentar um dos mais baixos gastos por aluno universitário, quando comparado com a maior parte dos países da União Europeia, as famílias dos estudantes são das mais sobrecarregadas.
A redução do custo dos cursos superiores parece ser a solução para estes problemas. Entre as sugestões apresentadas pela consultora da Comissão Europeia está a fragmentação dos currículos em módulos de formação. Cada um focando um determinado conjunto de competências e com uma duração de semanas ou poucos meses. Módulos autónomos permitiriam aos estudantes combinar a sua sequência segundo as suas aspirações de emprego, defendem os investigadores da McKinsey.
Outra opção de reduzir os custos volta-se para o modo como os cursos poderiam ser ministrados: as componentes curriculares mais teóricas poderiam ser lecionadas através de plataformas de ensino à distância, apenas as mais práticas seriam ensinadas presencialmente. Ou até permitir aos jovens pagar parte das despesas com propinas na forma de prestação de serviços.
Por outro lado, a concessão de empréstimos a baixos juros, seria outra das opções apontadas para ajudar os alunos no prosseguimento dos estudos. Do mesmo modo, a consultora não esquece a possibilidade de serem os próprios empregadores a suportar os custos da formação dos seus candidatos. As soluções não são novas. E funcionariam apenas nos casos dos cursos apresentarem elevado potencial de empregabilidade, admitem os autores do estudo.
O ensino superior não é o único a atingir custos insuportáveis. Em alguns países europeus o ensino vocacional não chega a ser subsidiado e a sua frequência pode ser dispendiosa, acrescenta o relatório.
Necessidades dos empregadores
Que as empresas não estão a contratar devido à crise parece indiscutível. Mas haverá outras razões? Em resposta aos inquéritos da McKinsey, um terço dos empregadores elegem a falta de competências dos candidatos como um dos maiores problemas causados aos seus negócios. Já 27% dizem mesmo tratar-se da razão pela qual existem postos de trabalho vagos nas suas empresas.
Se os jovens não estão a adquirir os conhecimentos de que as empresas precisam, notam os autores do estudo, deve-se à falta de consenso entre educadores e empregadores sobre o que importa ensinar e aprender. A evidência desta discordância é apresentada no relatório com alguns dados obtidos nos inquéritos. Exemplo: 74% das instituições de educação estão confiantes que os seus diplomados estão preparados para ingressar no mercado de trabalho, porém, só 38% dos jovens e 35% dos empregadores partilham a mesma confiança.
Que formação falta aos candidatos? As respostas dos empregadores apontam lacunas ao nível do que designam por “competências básicas” nas áreas da comunicação oral e da ética do trabalho. Mas pior, realçam os autores do estudo, é que os jovens estão a frequentar cursos que levam a qualificações pouco procuradas no mercado de trabalho. E dão como exemplo a realidade vivida em Espanha: desde 2008, o número de empregos na área da construção caiu em 62%, no entanto, o número de diplomados em arquitetura e engenharia civil aumentou em 174% desde 2005.
Face aos dados, não é de estranhar que apenas quatro em dez empregadores se mostrem confiantes em resposta à questão: Conseguiria encontrar no mercado de trabalho a oferta aos diplomados qualificados que necessita? Na Alemanha a procura excede a oferta. E 32% dos empregadores afirmam que ficam vagas por preencher nas suas empresas devido à falta de competências dos candidatos. Apenas 8% dos jovens alemães estão desempregados. Do lado oposto está a Grécia onde 55% dos jovens não conseguem arranjar emprego e 33% dos empregadores referem ter postos de trabalho vazios por falta de mão de obra competente.
Com exceção do Reino Unido, mais de um quarto dos empregadores dos países analisados dizem que a falta de candidatos competentes gera problemas significativos às suas empresas. Segundo o estudo, as mais atingidas são as indústrias de serviços, entre elas, hotéis e restaurantes, e as empresas de serviços públicos ligados à saúde e à educação. E se esta divergência entre qualificações disponíveis e procuradas permanecer, a retoma económica não resolverá o problema do desemprego jovem, alerta a McKinsey.

Fonte: http://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=23501

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