Hélder
Pessoa Câmara OFS (Fortaleza, 7 de
fevereiro de 1909 — Recife, 27 de agosto de 1999) foi um bispo católico,
arcebispo emérito de Olinda e Recife.
Foi um dos
fundadores da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil e grande defensor dos direitos humanos durante o regime
militar brasileiro. Pregava uma Igreja
simples, voltada para os pobres e a não-violência. Por sua atuação, recebeu diversos prêmios nacionais e
internacionais. Foi o único
brasileiro indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz.
Biografia
Décimo primeiro
filho de João Eduardo Torres Câmara Filho, jornalista, crítico teatral e funcionário
de uma firma comercial e da professora primária Adelaide Pessoa Câmara, desde
cedo manifestou sua vocação para o sacerdócio.
Formação e
Presbiterado
Ingressou
no Seminário Diocesano de Fortaleza em
1923, o Seminário da Prainha,
então sob direção dos padres lazaristas. Nesta instituição cursou o ginásio e
concluiu os estudos de filosofia e teologia. Foi ordenado padre no dia 15 de agosto de 1931, em Fortaleza, aos 22 anos de idade, com autorização especial da
Santa Sé, por não possuir a idade mínima exigida. No mesmo ano, fundou a Legião Cearense do Trabalho e
em 1933, a Sindicalização Operária
Feminina Católica, que congregava as
lavadeiras, passadeiras e empregadas domésticas. Atuou na área da educação, participando de políticas
governamentais do estado do Ceará na área da educação pública. Foi nomeado diretor do Departamento de Educação do
Ceará. Para aprofundar seus estudos nesta área, foi transferido em 1936
para a cidade do Rio de Janeiro, então capital da república. Aí dedicou-se a
atividades apostólicas. Foi Diretor Técnico do Ensino da Religião.
Neste
período, sente-se atraído pela Ação
Integralista Brasileira, que propunha o resgate dos valores de "Deus, Pátria e Família" e
declarou em discurso: "Esse programa social da Ação Integralista
Brasileira é o maior programa cristão de assistencialismo da história do
Brasil." Entretanto, afastou-se de
qualquer compromisso político-partidário ao perceber as implicações ideológicas
desta opção.
No Rio de Janeiro, teve como diretor espiritual
o Pe. Leonel Franca, criador da primeira universidade católica do Brasil - a
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. No período pós-guerra,
fundou a Comissão Católica Nacional de
Imigração, para apoio à imigração de refugiados.
Episcopado
Foi
nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro
no dia 3 de março de 1952. Foi ordenado
bispo, aos 43 anos de idade, no dia 20 de abril de 1952, pelas mãos de dom
Jaime de Barros Câmara, dom Rosalvo Costa Rego, dom Jorge Marcos de Oliveira.
Foi um
grande promotor do colegiado dos bispos e da renovação da Igreja Católica,
fortalecendo a dimensão do compromisso social. Em 1950, D. Hélder entrou em
contato com o Monsenhor Giovanni Batista
Montini, então subsecretário de estado do Vaticano e futuro papa Paulo VI,
que o apoiou e conseguiu a aprovação, em 1952, para a criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,
com sede no palácio arquiepiscopal do
Rio de Janeiro. Nesta instituição, exerceu a função de secretário geral até
1964. O mesmo monsenhor Montini apoiou a criação do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), fundada em 1955, com
sede em Bogotá. A fundação ocorreu na Primeira Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano realizada no Rio de Janeiro, tendo D. Hélder como articulador. Ele viria a participar das conferências
gerais do CELAM como delegado do episcopado brasileiro, até 1992: além da
conferência do Rio de Janeiro, esteve presente na Segunda Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano (Medellín, 1968), na Terceira Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano (Puebla, 1979) e na Quarta Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano (Santo Domingo, 1992). No CELAM, exerceu os cargos
de presidente e vice-presidente.
Sua capacidade de articulação torna realidade o
XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, em 1955, no Rio de Janeiro, que contou com a presença de cardeais e bispos
do mundo inteiro.
Em 1956, fundou a Cruzada São Sebastião, com a
finalidade de dar moradia decente aos
favelados. Desta primeira iniciativa, outros conjuntos habitacionais
surgiram. Em 59, fundou o Banco da
Providência, cuja atuação se desenvolve no atendimento a pessoas que vivem em condições miseráveis.
Teve
participação ativa no Concílio Ecumênico
Vaticano II: foi eleito padre conciliar nas quatro sessões do concílio. Foi
um dos propositores e signatários do
Pacto das Catacumbas, um documento
assinado por cerca de 40 padres conciliares no dia 16 de novembro de 1965, nas catacumbas de Domitila, em Roma,
durante o Concílio Vaticano II,
depois de celebrarem juntos a Eucaristia. Este pacto teve forte influência na Teologia da Libertação.
Diante da
conturbada situação sociopolítica nacional, a divergência de posições com
Cardeal Dom Jaime Câmara torna difícil sua permanência no Rio de Janeiro.
Arcebispo
de Olinda e Recife
No dia 12 de março de 1964 foi designado para ser
arcebispo de Olinda e Recife, Pernambuco, múnus que exerceu até 2 de abril de 1985. Instituiu um
governo colegiado nesta diocese, organizada em setores pastorais. Criou o Movimento Encontro de Irmãos, o
Banco da Providência e a Comissão de Justiça e Paz daquela diocese. Fortaleceu as comunidades eclesiais de
base.
Estabeleceu
uma clara resistência ao regime militar.
Tornou-se líder contra o autoritarismo e
pelos direitos humanos. Não hesitou em utilizar todos os meios de comunicação para denunciar a
injustiça. Pregava no Brasil e no
exterior uma fé cristã comprometida com os anseios dos empobrecidos. Foi perseguido pelos militares por sua atuação
social e política, sendo acusado de comunismo. Foi chamado de "Arcebispo
Vermelho". Foi-lhe negado o acesso aos meios de comunicação social após a
decretação do AI-5, sendo proibido inclusive qualquer referência a ele. Desconhecido da opinião pública nacional,
fez frequentes viagens ao exterior, onde divulgou amplamente suas ideias e
denúncias de violações de direitos humanos no Brasil. Foi adepto e promotor do movimento de
não-violência ativa.
Suas posições políticas lhe renderam pesadas
críticas, sendo seu algoz nos meios de comunicação o jornalista e teatrólogo
Nélson Rodrigues, que afirmava que "D. Helder só olha o céu para saber se
leva ou não o guarda-chuva".
Em 1984, ao completar 75 anos, apresentou sua
renúncia. Em 15 de julho de 1985, passou o comando da Arquidiocese a Dom José Cardoso
Sobrinho. Continuou a viver em Recife, nos fundos da Igreja das Fronteiras,
onde vivia desde 1968. Morreu aos 90
anos em Recife no dia 27 de Agosto de 1999.
O Regional
Nordeste 2 da CNBB, a arquidiocese de Olinda e Recife, o Instituto Dom Hélder
Câmara (IDHeC) e a Universidade Católica de Pernambuco estão promovendo a
comemoração do centenário de Dom Hélder, que foi celebrado em 7 de fevereiro de
2009. O objetivo é manter viva a sua memória e a sua luta pela solidariedade e
justiça social.
Títulos
Seu
primeiro título veio em 1969, de doutor
honoris causa pela Universidade de Saint Louis, Estados Unidos. Este mesmo
título foi-lhe conferido por diversas
universidades brasileiras e estrangeiras: Bélgica, Suíça, Alemanha, Países
Baixos, Itália, Canadá e Estados Unidos, alcançando um total de 32 títulos.
Foi intitulado Cidadão Honorário de 28 cidades
brasileiras e da cidade de São Nicolau na Suíça e Rocamadour, na França.
Recebeu o Prêmio Martin Luther King, nos Estados
Unidos e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega e diversos outros prêmios
internacionais. Foi indicado quatro
vezes para o Prêmio Nobel da Paz. Em 1970, o então presidente da República
Emílio Garrastazu Médici instruiu pessoalmente o embaixador brasileiro na
Noruega para tentar impedir que este prêmio lhe fosse concedido.
Foi o segundo mais votado como Brasileiro do
Século na categoria Religião pela revista Isto É.
Instituto
Dom Hélder Câmara
O acervo
histórico de Dom Hélder é mantido pelo Instituto Dom Hélder Câmara, em Recife.
Ordenações
episcopais
Dom Hélder
ordenou vários padres entre eles:
Dom
Antônio Fernando Saburido
Dom Hélder
presidiu às celebrações das ordenações episcopais dos seguintes bispos:
Dom Tiago
Postma
Dom
Marcelo Pinto Carvalheira
Foi
co-celebrante da ordenação episcopal de:
Dom José
Vicente Távora
Dom Agnelo
Cardeal Rossi
Dom
Geraldo Maria de Morais Penido
Dom João
Batista da Mota e Albuquerque
Dom Diego
Parodi, MCCI
Dom
Giovanni Ferrofino
Dom José
Lamartine Soares.
Prêmio Dom
Hélder Câmara de Imprensa
O Prêmio
Dom Hélder Câmara de Imprensa foi instituído pela Assessoria de Imprensa da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 2002, por ocasião dos seus
50 anos de fundação. Tem por objetivo premiar
profissionais e trabalhos jornalísticos voltados para a promoção do bem comum,
a construção de valores humanos, cristãos e éticos.
O nome
para o Prêmio é mais que justo, pois dom Hélder Câmara foi uma personalidade
que muito contribuiu para a construção de uma comunicação em estreita aliança
com a libertação do homem e a elevação dos valores que dão fundamento a uma
sociedade justa, igualitária.
O troféu Dom Hélder Câmara de Imprensa traz a
escultura de um cajado, símbolo do Pastor. Na Bíblia, a missão do Pastor é
proteger e defender a vida das ovelhas, assegurar-lhes pastagem e matar-lhe a
sede. O cajado é sua arma para afugentar tudo que ameaça as ovelhas. A Igreja
tomou este símbolo para significar a missão do bispo, pastor do povo de Deus.
Sua missão é cuidar e anunciar a todos a vida trazida por Jesus Cristo
Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara
A Comenda
de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, do Senado Federal, foi criada em 2010, e
destina-se a agraciar personalidades que
tenham oferecido contribuição relevante à defesa dos direitos humanos no Brasil.
Obras de
sua autoria
Indagações
sobre uma vida melhor (Ed. Civilização Brasileira)
Um Olhar
sobre a Cidade. 2a edição. São Paulo: Editora Paulus, 1997. ISBN 853490541X.
Revolução
Dentro da Paz, Editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1968. Traduzido para o alemão,
holandês, inglês, francês e italiano.
Terzo
Mondo Defraudado, Editora Missionária Italiana, Milão, 1968.
Spirale de
Violence, Ediciones Desclée de Brower, Paris, 1978. Traduzido para o português,
espanhol, sueco, alemão, norueguês, holandês, chinês, italiano e inglês.
Pour
Arriver à Temps, Ediciones Desclée de Brower, Paris, 1970. Traduzido para o
espanhol, alemão, italiano, holandês, sueco, inglês e grego.
Le Désert est Fertile, Ed. Desclée de Brower,
Paris, 1971. Traduzido para o português (1975), espanhol, italiano, holandês,
inglês e coreano.
Pier Pour les Riches, Ed. Pendo-Verlag, Zurique,
1972.
Les
Conversiones D'um Éveque, Ed. Seuil, Paris, 1977. Também em italiano, alemão e
inglês.
Mil Razões
para Viver, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1979. Traduzido para o
francês e o alemão.
Renouveau
dans l'Esprit et Service l'Homme, Ed. Lumem Vitae, Bruxelas, 1979. Traduzido
para o italiano, português e inglês.
Nossa
Senhora no Meu Caminho - Meditações do Padre José, Edições Paulinas, São Paulo,
1981.
Indagações
sobre uma vida melhor, Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1986.
Obras
sobre Dom Hélder
Livros
Novas
Utopias - Por Dom Helder Camara, pelo médium Carlos Pereira, Editora Dufaux,
2007
Dom Hélder
Camara - Coleção Vidas Luminosas, Alex Criado, Editora Salesiana, São Paulo,
2006
Os
Caminhos de Dom Hélder - Perseguições e Censura, Marcos Cirano, Editora
Guararapes, Recife, 1983.
O Monstro
Sagrado e o Amarelinho Comunista, Assis Claudino, Editora Opção, Rio de
Janeiro, 1985.
A Imprensa
e o Arcebispo Vermelho, Sebastião Antônio Ferrarini, Edições Paulinas, São
Paulo, 1992.
Dom Hélder
Câmara: entre o poder e a profecia, Nelson Pileti e Walter Praxedes, Editora
Ática, São Paulo, 1997.
Dom Hélder
por Marcos de Castro, Edições Graal, Rio de Janeiro, 1978.
A Igreja e
a Política no Brasil, Márcio Moreira Alves, Editora Brasiliense, São Paulo,
1979.
Dicionário
Histórico-Biográfico Brasileiro - Pós-1930. Rio de Janeiro: FGV/Finep, 2001. 5
v. (Coordenadores: Alzira Alves de Abreu, Israel Beloch, Fernando
Lattman-Weltman, Sérgio Tadeu N. Lamarão. V. 1, p. 958-963.
Dom Hélder
Câmara, profeta para o nosso tempo, Marcelo Barros, Editora Rede da Paz, Goiás,
2006.
As noites
de um profeta - Dom Hélder Câmara no Vaticano II, José de Broucker, Editora
Paulus, São Paulo, 2008, ISBN 978-85-349-2912-7.
Dom Hélder
Câmara: o profeta da paz, Walter Praxedes, Nelson Piletti. Editora Contexto,
2009, ISBN 978-85-7244-305-0.
Dom Hélder
Câmara: Um Modelo de Esperança - Martinho Condini - Editora Paulus - 2008 - 200
páginas
Helder
Camara, um nordestino cidadão do mundo - Ilvana Maria Pereria Bulla, Martinho
Condini. Paulus Editora - 2011, 16 páginas, Predefinição:ISBN -
978-85-349-2151-0.
Artigos
Artigo em
PDF Dom Hélder Câmara e a Pedagogia da Esperança - Martinho Condini, Mestre em
Ciências da Religião – PUC-SP
Filme
Dom Hélder
Câmara - O Santo Rebelde. Diretora: Erika Bauer. Brasília: Cor Filmes, 2004.
Filme documentário, 35mm (74’), cor.
Dom Hélder
Câmara - Em Busca da Profecia. Diretora: Erika Bauer. Brasília : Cor Filmes,
2003.
Educar
para a liberdade - Dom Helder Camara e Paulo Freire. Martinho Condini. Direção:
Toby Forner Cotrim.São Paulo: Nato4Motion - Paulus Editora, 2013. Documentário,
(43') legendado em português, inglês e espanhol.
Manuel
Bandeira (3º da esquerda para direita em pé), Alceu Amoroso Lima (5ª posição) e
Dom Hélder Câmara (7ª) e sentados (da esquerda para direita), Lourenço Filho,
Roquette-Pinto e Gustavo CapanemaRio de Janeiro, 1936.
Fonte: Wikipédia
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