Embate de
ativistas contra projeto imobiliário de luxo no Recife
é
ponto de partida para discussão
Por Marta
Pinho, professora de Redação do Colégio São Luís
Alvo de disputas judiciais, a área abandonada
conhecida como Cais José Estelita, no Recife, recentemente motivou um cabo de
guerra entre ativistas, poder público e o mercado imobiliário em expansão.
Localizada no centro da capital pernambucana, a região foi palco, em junho, de
ação policial para reintegração de posse, quando se encontrava ocupada há um
mês por cerca de 60 ativistas. Ao menos três ficaram feridos na operação.
O local
tem uma área de aproximadamente 101,7 mil metros quadrados e está localizado em
ponto estratégico da cidade, entre o
privilegiado bairro de Boa Viagem e o Recife Antigo, o que chamou atenção de um
grupo de construtoras.
A ideia do
projeto Novo Recife é a construção de 12 torres, parte residencial e parte
destinada a flats, hotel e comércio. A reação conhecida como Ocupe Estelita
aconteceu porque ativistas e moradores da cidade sentiram-se agredidos no que
diz respeito ao senso estético e à sustentabilidade. Para a advogada do grupo
Direitos Urbanos, Liana Cirne Lins, trata-se de um projeto “que destrói uma paisagem muito bonita, uma das mais bonitas
de quem vem de Boa Viagem. Não queremos esse desenvolvimento porque isso não é
desenvolvimento. Isso é retrocesso, é um modelo de urbanismo da década de 70,
da década de 80, que está superado”.
Em meio ao
embate, fica no ar a questão: a quem pertence a cidade? A pergunta nos remete
ao entrave que já dura alguns anos na região central de São Paulo, a
respeito de um terreno de cerca de 25 mil metros quadrados localizado na Rua
Augusta. A área tem vegetação de Mata Atlântica tombada pela prefeitura, e que,
portanto, não pode ser removida. De um lado, os proprietários querem vender o
terreno para incorporadoras, e de outro, moradores reivindicam sua
transformação em parque público, sem torres.
Caso optasse pela desapropriação, a prefeitura
teria de pagar 55 milhões de reais, valor avaliado do imóvel em 2009. Diante
desses dados, questionam-se o desejo da população e a lógica do uso mais
rentável do terreno, do ponto de vista econômico.
Enquanto é
bastante discutível a construção de novas torres numa região com poucas áreas
verdes, a prefeitura justifica que diante de outras prioridades não vê
necessidade em pagar milhões ao proprietário para viabilizar o parque,
colocando a conta no bolso da população. Certo ou não?
Vale saber
que os imóveis, embora de propriedade privada, têm uma função social e que é
preciso, urgentemente, definir esse papel. Se o critério for apenas o uso mais
rentável economicamente, nunca haverá parques, áreas culturais preservadas ou
habitação social, por exemplo, em áreas consolidadas das cidades. Outros
instrumentos urbanísticos podem e devem ser usados em casos como esse. O
momento da discussão é agora!
Publicado
na edição 89, de agosto de 2014
Fonte: http://www.cartanaescola.com.br/single/show/395
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