O carnaval
de Salvador é marcado por blocos com trios elétricos nas ruas comandados por
grandes estrelas do axé. Mas uma figura
que pouco aparece na folia também tem importância na festa: o cordeiro –
responsável por segurar a corda nos blocos para separar quem pagou do restante
dos foliões, a chamada pipoca. Mas, apesar do clima de festa do carnaval, a
categoria reclama das precárias
condições de trabalho, da falta de reconhecimento e da insegurança.
É o que
conta o presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Cordeiros do Estado da Bahia, Matias Santos. Ele diz que só na capital baiana são cerca de 50 mil
profissionais que estão expostos a brigas e a agressões de quem quer entrar na
corda. Segundo ele, alguns foliões
chegam a jogar cerveja e água nos trabalhadores. Santos destaca que a
diária média recebida por um cordeiro é R$ 46, incluindo vale-transporte. O tempo à disposição do bloco pode chegar a
12 horas por dia. Para melhorar as condições de trabalho, ele defende a
assinatura de um contrato formal entre o trabalhador e os empresários.
“Nós lutamos por um contrato de trabalho, queremos
que o cordeiro seja reconhecido como trabalhador. Esse profissional tem
importância para o carnaval assim como Ivete Sangalo, Bell Marques, como os
blocos e as grandes cervejarias. Ele faz parte do carnaval. É ele que é o
atrativo para o turismo, já que muita gente vem para Salvador porque os blocos
aqui tem cordas”, destaca
ele.
Desde 2006, o Ministério Público do Trabalho na
Bahia assina um termo de compromisso com o sindicato, os blocos carnavalescos e
a Superintendência Regional do Trabalho. Entre os compromissos assumidos pelos
empresários, estão a garantia de lanches, protetores auriculares, luvas,
camisetas de identificação, filtro solar e seguro coletivo contra acidentes.
A
procuradora do Trabalho Andréa Freitas afirma que a primeira cláusula do termo
este ano prevê que os blocos assinem os contratos individuais. “O bloco se
obriga a celebrar um contrato por escrito de forma individual com todos os
trabalhadores que atuam na atividade de cordeiro. Além disso, esses documentos
devem ficar à disposição da fiscalização do Ministério do Trabalho por um
período não inferior a dois anos.”
Ela explica ainda que o termo de compromisso deste
ano determina que os empresários ofereçam curso de capacitação para 5 mil
cordeiros até o carnaval de 2017.
O professor
da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Paulo Miguez, especialista em carnaval,
explica que, antes da década de 80, o
cordeiro era folião do bloco e voluntário. A partir dos anos 80, surge o
profissional que segura a corda para organizar o carnaval.
Atualmente,
o cordeiro faz parte do comércio carnavalesco. “Como se criou o produto bloco,
esse produto é embalado com algumas características: a privatização do espaço
para você circular ali à vontade, a estrela – se paga pela possibilidade de
dançar atrás do trio onde tem uma estrela –, e o folião paga pela segurança.
Para garantir a segurança, inventaram a figura do cordeiro.”
Fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/brasil/2015/02/17/interna_brasil,561300/na-bahia-cordeiros-reclamam-de-condicoes-precarias-de-trabalho.shtml
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