BRASÍLIA
(Notícias da OIT) – É necessário pensar em um modelo de desenvolvimento
verdadeiramente inclusivo e sustentável e garantir a transversalização da
perspectiva de gênero na agenda da ONU que tratará dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), sucessores dos Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio (ODMs) a partir de 2015, disse a Diretora do Escritório da OIT no
Brasil, Laís Abramo.
Ela
participou da abertura do Seminário “O uso do tempo e políticas públicas de
cuidado: Reflexões para uma agenda de desenvolvimento sustentável”, promovido
pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e pela Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com apoio da OIT.
“O atual
modelo de desenvolvimento, estruturado a partir de uma noção restrita da
atividade econômica e ocupação, está em crise há algum tempo”, afirmou Laís
Abramo. Segundo ela, também está em xeque o modelo tradicional de relação entre
trabalho e família baseado nos seguintes pontos:
· Noção do homem provedor versus mulher
cuidadora;
· Famílias biparentais e estáveis;
· Mercados de trabalho não adaptados a
trabalhadores e trabalhadoras com responsabilidades familiares;
· Com a Rio + 20, o debate em torno da
sustentabilidade foi fortalecido. Mas um mundo estruturado a partir das
desigualdades de gênero e étnico-racial e que mantêm vivos os mitos que
perpetuam as desigualdades não é sustentável.
Dois desses
mitos são os de que as mulheres possuem habilidades naturais para serem
cuidadoras e organizar os lares. Portanto, deveriam ser as principais
responsáveis por estas tarefas. O outro é que as mulheres são uma força de
trabalho secundário, e que participam do mercado de trabalho é para suprir uma
“falha” do homem como provedor e o fazem de forma instável e para complementar
a renda familiar.
Estes mitos,
de acordo com Laís Abramo, acabam de ser desfeitos por estudos recentes do
IBGE, com base nos dados do Censo de 2010, mostrando que em 10 anos a
porcentagem de mulheres responsáveis pela família aumentou de 22,2% para 37,3%.
Além disso, em 25 anos, a contribuição das mulheres para a renda das famílias
aumentou de 25% para 40%. Há, também, um aumento significativo na quantidade de
famílias onde as mulheres são as únicas ou principais provedoras.
A Diretora da
OIT lembrou que a metodologia dos custos de trabalho está sendo atualizada. Mas
um estudo realizado em 2001 em cinco países da América Latina (Brasil,
Argentina, Chile, México e Uruguai) mostrou que os custos monetários diretos
para o empregador associados à proteção da maternidade e ao cuidado infantil
são muito reduzidos: equivalem a menos de 2% da remuneração brutal mensal das
mulheres. “Ou seja, o custo adicional é irrelevante e não justifica a
desigualdade de gênero”, salientou.
Para Laís
Abramo, um modelo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável e inclusivo
deve incorporar o reconhecimento do papel econômico e produtivo das mulheres e
dos homens como cuidadores, desconstruindo a noção de “trabalhador ideal” e da
mulher como força de trabalho secundária. Além disso, é necessário repensar o
lugar de homens e mulheres, as relações de gênero e a concepção de família nas
políticas sociais, econômicas e de trabalho para evitar que esses mitos e
estereótipos sejam reproduzidos.
A OIT
participa como convidada permanente do Comitê de Estudos de Gênero e Uso do
Tempo, coordenado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, desde sua
criação em 2008.
18/10/2012
Fonte: OIT
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