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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Reflexão: No meio da riqueza, mesmo nos centros do capitalismo, regressam a pobreza e a fome

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Ora, sucede que, na terceira revolução industrial - a da microelectrónica, este mecanismo de compensação por expansão soçobra. É verdade que com a microelectrónica também são embaratecidos muitos produtos e criados outros novos (sobretudo no campo dos media). Mas, pela primeira vez, a inovação nos processos ultrapassa a inovação nos produtos. Pela primeira vez, há mais trabalho eliminado pela racionalização do que aquele que pode ser reabsorvido pela expansão dos mercados. No desenvolvimento lógico da racionalização, a robótica electrónica substitui a energia humana e as novas tecnologias das comunicações tornam o trabalho humano supérfluo. Desaparecem por inteiro sectores ou níveis anteriormente existentes na construção, na produção, no marketing, no armazenamento, na venda e mesmo na gestão. Pela primeira vez, o ídolo trabalho submete-se involuntariamente a um regime de racionamento duradouro. E com isso cava a sua própria sepultura.
Como a sociedade democrática do trabalho constitui um sistema autotélico amadurecido, fechado sobre si mesmo, orientado para o consumo de força de trabalho, a sua estrutura não aceita a simples passagem para uma redução generalizada do tempo de trabalho. Por um lado, a racionalidade económica empresarial exige que quantidades cada vez maiores de indivíduos permaneçam duradouramente «desempregados», e portanto postos à margem da possibilidade de reprodução da vida que é imanente ao sistema, mas por outro lado, o número sempre mais reduzido dos «empregados» é submetido a uma exigência de trabalho e de eficiência cada vez maior. No meio da riqueza, mesmo nos centros do capitalismo, regressam a pobreza e a fome. Há meios de produção que ficam parados, terrenos de cultivo que ficam de pousio em larga escala, como em larga escala ficam vazias as habitações ou edifícios públicos, enquanto o número dos sem-abrigo cresce imparavelmente.
O capitalismo torna-se uma instituição de minorias à escala global. No seu desespero, o ídolo trabalho, agonizante, torna-se o canibal de si próprio. Em busca de sobras de trabalho para se alimentar, o capital faz estourar as fronteiras da economia nacional e globaliza-se numa concorrência nómada, em que cada grupo procura desalojar o outro. Regiões inteiras do mundo são privadas dos fluxos globais de capital e de mercadorias. Com uma onda de fusões e de «aquisições hostis» sem precedentes históricos, os cartéis armam-se para a última batalha da economia empresarial. Os Estados e nações desorganizados implodem, e as populações, empurradas para a loucura pela luta concorrencial de sobrevivência, digladiam-se na guerra étnica dos bandos.

Fonte: Manifesto conta o Trabalho - Grupo Krisis

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