Representatividade
e responsabilidade política (*)
Michels
(1911) colocou um ponto de interrogação na questão da democracia dentro de
sindicatos ao argumentar que organizações trabalhistas formais - partidos e
sindicatos - desenvolvem inevitavelmente tendências oligárquicas. Segundo ele,
há uma tendência inexorável por parte dos líderes sindicais de desenvolverem
interesses privados que não somente são diferentes, como também opostos aos
interesses dos filiados. Por causa de seu caráter definitivo, a tese de Michels
ganhou o status de lei sociológica, o que foi reforçado .pelo próprio Michels
ao chamá-la 'lei de ferro da oligarquia''.
Michels
analisou o exercício e o controle do poder em partidos, e sindicatos que
considerava democráticos, isto é, aquelas organizações socialistas. Esse autor
não recusava a priori a idéia da existência da democracia (que ele
identificava, de forma não muito clara, como do tipo plebiscitária). No
entanto, ele aponta uma série de fatores que levariam inevitavelmente à
oligarquização dessas organizações: a necessidade de um corpo burocrático,
especializado e centralizado, para tomar decisões rápidas e seguras; a
transformação de idéias radicais em moderadas pela necessidade dos dirigentes
sindicais de se protegerem contra os ataques dos capitalistas conservadores; o
desenvolvimento de interesses pessoais por parte dos dirigentes sindicais; e a
necessidade de autoridade e disciplina para enfrentar o Estado.
Estudos
subseqüentes - como o de Lipset, Trow e Coleman (1956) - levaram à mesma
conclusão. Na verdade, o fato de que seus dados apontaram a existência de um
sistema democrático dentro do International Typographical Union (ITU) foi visto
como uma exceção que confirmava a "lei'' de Michels. Isso porque esse
sindicato tinha características bem particulares. Eles concluíram que a
democracia sindical, onde ela existia, significa meramente um
"caso-desvio". Esses autores definem democracia como se segue:
[...] Nós consideramos democracia no ITU como
equivalente ao fato de que os filiados do sindicato têm o direito de escolher
entre dois "partidos"'que representam abordagens' opostas com relação
à ação sindical. [Lipset, Trow e Coleman, 1956:53] (1)
Claramente,
esses autores construíram seu modelo de análise a partir do sistema partidário
americano, no qual dois partidos disputam cadeiras no Congresso Nacional e/ou o
posto na Casa Branca. Ou seja, sua definição de democracia emerge da existência
de um sistema formal de escolha entre dois partidos durante períodos eleitorais
(cf. Hemingway, 1978:7).
Edelstein
e Warner (1975) desafiaram as conclusões de Michels e de Lipset e seus
colaboradores ao mostrar, apoiados numa teoria organizacional de democracia
sindical, que sindicatos podem ou não ser democráticos. Essa teoria foi
construída em torno de um modelo que enfatiza resultados eleitorais. O modelo
desses autores se funda no pressuposto de que democracia é sinônimo de um
sistema eleitoral competitivo em que grupos e/ou partidos têm condições justas
e iguais de conseguir votos dos eleitores a partir de uma plataforma eleitoral.
Além disso, grupos opositores teriam o direito de criticar atos praticados pelo
grupo no poder. A diferença entre esses autores e o modelo de Lipset e seus
colaboradores é que Edelstein e Warner operacionalizam de forma mais
sistemática seu modelo no tratamento dos resultados eleitorais – organizados à
partir de quatro indicadores: 1) percentagem de eleições disputadas por, pelo
menos, duas chapas; 2) grau de substituição, por meio de eleições, de grupos no
poder; 3) percentagem média de votos recebidos pela chapa vencedora; e 4)
existência de uma oposição organizada e permanente (cf. Roxborough;
1984:132-44; Thompson e Roxborough, 1982; e Mangabeira, 1993:18).
Por outro
lado, certos autores marxistas preocupados com o mesmo problema têm também
tentado mostrar que há um descompasso entre as práticas dos dirigentes
sindicais, vistos como "gerenciadores do descontentamento", e os
impulsos "verdadeiros" e as demandas oriundos dos locais de trabalho.
Essa posição é expressa, por exemplo, por Hyman (1989) quando ele sugere que os
sindicatos estariam interessados em manter a "paz estabelecida",
permitindo assim o controle dos trabalhadores pelos gerentes. Para ele, a
própria existência de
relações
estabelecidas entre sindicato e empregador podem servir na verdade para alterar
o próprio caráter das reclamações dos empregados, ao definir a pauta de
discussão dentro de limites estreitos que moldam os parâmetros para a sua
resolução potencial; pois se questões de princípio fundamentais são suprimidas,
a tarefa de alcançar um compromisso pode ser grandemente facilitada. [Hyman,
1989: 40]
Nesse
caso, as organizações no nível do local de trabalho expressariam os interesses
dos trabalhadores melhor que os sindicatos burocratizados, pois não estariam
sujeitas a normas regulatórias, presentes nas relações institucionalizadas
entre dirigentes sindicais e empregadores, nem comprometidas com essas normas.
Uma outra
variante de estudos nesse campo está relacionada à questão dá
representatividade dos dirigentes sindicais em termos de algumas variáveis
sócio-econômicas e políticas. Assim, Handelman (1977:205-48), estudando o caso
de dois sindicatos mexicanos, tenta analisar o problema da representatividade
sindical ao considerar possíveis diferenças e/ou similaridades estatísticas
entre líderes e liderados utilizando variáveis tais como idade, renda, nível
educacional, percentagem acima de cinqüenta anos de idade, percentagem de
nascidos em áreas urbanas e outras relacionadas a "consciência industrial
e de classe". De fato, tendo em vista tais variáveis, Handelman encontrou
diferenças consideráveis entre líderes e liderados e concluiu que isso poderia
significar uma divergência de interesses entre líderes sindicais e liderados.
Estudos
recentes sobre política interna em sindicatos têm chamado a atenção para a
dinâmica do relacionamento entre líderes sindicais e seus liderados. Esses
estudos afastaram-se da abordagem sobre procedimentos democráticos em
sindicatos semelhantes a sistemas políticos gerais e passaram a enfatizar os
canais e procedimentos por meio dos quais se tenta assegurar a participação da
base sindical no processo decisório. Assim, esses estudos examinam aspectos
como os graus de responsabilidade política,(2) isto é, em que medida a
liderança presta contas de seus atos aos liderados, e de representatividade,
isto é, em que medida a liderança mostra-se comprometida com os interesses dos
liderados.
Fosh e Cohen
(1990:107-46), a partir de uma pesquisa em cinco sindicatos britânicos,
mostraram que havia diferentes graus de democracia dentro desses sindicatos
quando se considerava o compromisso dos diretores sindicais tanto com a
representatividade quanto com a responsabilidade política embutida em seus
cargos. Para essas autoras, representatividade é entendida como sendo as
políticas dos líderes sindicais espelhando os "interesses expressos"
dos liderados, enquanto responsabilidade política é a prática de "consultar
e prestar contas aos liderados". Isso permitiria uma definição de
democracia sindical que incorporasse a idéia de democracia participativa.
Finalmente,
Heery e Kelly (1990:75-106) analisaram, mediante o estudo de alguns sindicatos
britânicos, padrões de colaboração entre líderes sindicais de vários níveis
hierárquicos e os liderados em geral. Os pontos levantados por esses autores
foram construídos a partir das contribuições de Michels e de certos teóricos
marxistas da burocratização sindical. Como dito acima, essas duas tradições
predizem que há uma.diferenciação inevitável entre os interesses dos líderes e
dos liderados. Além disso, como Heery e Kelly (1990:76-7) enfatizam, certos
autores, tal como Hyman (1989), trabalhando dentro da tradição marxista, têm
sugerido que essa diferença deve-se tanto ao fato de que líderes sindicais
desenvolvem uma cultura política conservadora que aceita o controle dos
gerentes sobre a força de trabalho,
quanto à natureza essencialmente progressista dos trabalhadores.(3)
Heery e
Kelly mostram que isso não ocorre, pelo menos nos sindicatos que eles
analisaram. Na verdade, encontraram um "amplo padrão de cooperação e
interdependência entre diretores sindicais e delegados de base". Além
disso, em lugar de serem conservadores como sugerido por Michels e Hyman, os
diretores sindicais são os que freqüentemente propõem objetivos mais radicais.
Ou seja, eles não encontraram evidência empírica suficiente para apoiar a idéia
de que os líderes sindicais são conservadores e tentam "abafar" as
demandas de uma base radical e progressista.
No
entanto, isso não significa que os líderes sindicais imponham suas demandas
radicais sobre os liderados. De fato, ao mostrar que há uma cadeia de
cooperação entre esses dois pólos, Heery e Kelly demonstram que há um
relacionamento de mão dupla entre eles. Ou seja, líderes sindicais estão
comprometidos com a prestação de contas de seus atos e, ao mesmo tempo, tentam
responder positivamente aos interesses dos liderados. Assim, Heery e Kelly
introduzem o conceito de liderança participativa para explicar o fato de que,
apesar de os líderes sindicais terem um compromisso com a responsabilidade
política e com a representatividade de seus cargos, eles mantêm um certo grau
de autonomia quando negociam.
A contribuição
acadêmica brasileira sobre a relação "topo e base" no novo
sindicalismo
O tema da
democracia sindical, enquanto problema teórico, tem recebido pouca atenção das
ciências sociais no Brasil. Com efeito, o problema da relação entre líderes e
liderados no sindicalismo brasileiro foi abordado por vários autores desde
meados da década de 70 por causa das bandeiras pregadas pelos novos líderes
acerca da necessidade de uma renovação no relacionamento entre "topo e
base". Dessa forma, vários autores apontaram esse novo fenômeno sem, no
entanto, recorrer às contribuições teóricas produzidas por estudos específicos
sobre democracia sindical em outros países. Vale ressaltar, porém, que
recentemente um importante estudo foi publicado, vindo a preencher essa lacuna
(cf. Mangabeira, 1993).
No
entanto, algumas contribuições de estudiosos brasileiros são importantes e
serão referidas brevemente neste trabalho.
Maroni
(1982) analisou o significado das greves de maio de 1978 nas principais
fábricas automobilísticas de São Paulo. Ao analisar esses conflitos
trabalhistas, tenta explicar como eles tomaram a forma de greves. Aponta duas
causas principais: os comitês de fábrica e as assembléias de fábrica. Analisa
ainda o papel dos trabalhadores dos setores estratégicos no sucesso do
movimento grevista. De acordo com essa autora, o papel desses trabalhadores
qualificados deveria ser devidamente analisado, pois os metalúrgicos tinham um
alto grau de organização, simbolizada pelos comitês de fábrica. Por outro lado,
ela também mostra que os movimentos significativos subseqüentes, foram,
resultado da ação de trabalhadores não qualificados que questionavam o controle
capitalista do processo de trabalho sem a liderança de setores mais
qualificados.
O trabalho
dessa autora parece indicar que o relacionamento entre os sindicatos e os
trabalhadores foi virado de "cabeça para baixo" pela ação espontânea
dos trabalhadores. Ao apontar o fato de que esses protestos foram liderados por
comitês de fábrica, a autora mostra, implicitamente, que os sindicatos não
estavam representando de forma apropriada os trabalhadores porque alguns
dirigentes pelegos chegaram ao extremo de se posicionar contra as greves com
argumentos similares aos usados pelos empresários. Por outro lado, a autora
mostra que, mesmo em face de dirigentes sindicais não representativos, a base
sindical pode empreender ações não esperadas por dirigentes sindicais e
empresários. Neste caso, os interesses da base foram representados pelas
organizações de chão-de-fábrica, que expressavam melhor os interesses advindos
dos trabalhadores.
Sader
(1988) analisa o que lhe parece ser a emergência de uma nova forma de
organização dos trabalhadores no Brasil. Com o intuito de explicar como os
conflitos trabalhistas emergiram na Grande São Paulo nos anos 70, aponta dois
fatos: o aparecimento de novos líderes sindicais e a formação de oposições
sindicais.
Como
exemplo de novos líderes, Sader analisa o caso do Sindicato dos Metalúrgicos de
São Bernardo. Os dirigentes desse sindicato não constituíram um grupo de
oposição que conseguiu vencer as eleições e, em seguida, transformou o
sindicato. Na verdade, há uma continuidade entre esse grupo e o grupo que
"herdou" o sindicato depois da intervenção militar que se seguiu ao
golpe de 1964. Assim, as mudanças deveram-se ao que o autor chama de
"transformação por dentro" por causa de pressões da base. Em outros
casos, em que os dirigentes sindicais não mudaram suas posições conservadoras,
isso produziu fortes grupos oposicionistas apoiados por diversas facções do
movimento trabalhista.
Assim,
seguindo a análise de Sader, esses elementos indicam que, na década de 70, o
relacionamento entre dirigentes sindicais e trabalhadores foi renovado tanto
por líderes e/ou grupos oficiais como não oficiais. De fato, por um lado, o
primeiro caso mostra que o relacionamento entre "topo e base" mudou
por causa da ação de líderes oficiais, devido à pressão das bases. Por outro
lado, onde os líderes resistiram a qualquer mudança, não somente houve pressão
da base como os trabalhadores também desenvolveram formas de organização de
trabalho no sentido de conquistar suas demandas.
Antunes
(1988) argumenta, numa crítica ao trabalho de Maroni, que em 1978 os
trabalhadores entraram espontaneamente em greve devido aos baixos salários.
Parece que o sindicato não participou da organização da greve na Saab-Scania.
Mas, ao entrar em greve sem uma organização formal, os trabalhadores dessa
empresa não tiveram condições de negociar com os empregadores. Assim, o
sindicato teve de ser chamado para negociar as reivindicações dos
trabalhadores.
O trabalho
de Antunes mostra outro caso interessante de relacionamento entre líderes e
liderados em sindicatos. De fato, apesar de ele não afirmar textualmente que os
dirigentes sindicais não lutavam pelos interesses dos trabalhadores, seu
trabalho mostra que, mesmo quando os sindicatos não organizam politicamente os
trabalhadores, estes podem desenvolver ações independentemente da linha de ação
de suas organizações trabalhistas. No entanto, os trabalhadores tiveram de
recorrer ao sindicato pelo fato de terem desenvolvido uma ação espontânea sem a
coordenação de qualquer organização no chão-de-fábrica, o que dificultava a
negociação direta com os empregadores.
De acordo
com Moisés (1982), os protestos dos trabalhadores nos anos 70 tornaram-se
possíveis devido ao surgimento de novos líderes com habilidade para sintetizar
reivindicações contendo novas demandas específicas relacionadas com os
trabalhadores das modernas fábricas e ao que ele chama "mobilização de
base", ou seja, particularmente, a existência dos comitês de fábrica e, em
geral, das oposições sindicais.
Esses
dois, fatores são importantes como sinais de uma mudança no relacionamento
entre líderes sindicais e trabalhadores, pois apontam um processo vindo da
base. De fato, mesmo quando fala de uma nova liderança, Moisés não usa a
expressão "líderes sindicais", mas a expressão mais geral
"líderes trabalhistas". Por outro lado, o fato de que esse autor
aponta a existência de comitês de fábrica parece indicar que os: interesses dos
trabalhadores, naquele contexto, eram representados por organizações autônomas
atuando no chão-de-fábrica e não por líderes sindicais comprometidos com os
interesses da base.
A tese
básica de Almeida (1975) é que o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, com
suas fábricas modernas, criou novos segmentos dentro da estrutura da classe
operária, estimulando o surgimento de novos setores operários, cujas demandas
seriam relativamente diferenciadas das reivindicações do resto da classe
operária. De acordo com essa autora, esses trabalhadores teriam suas próprias
demandas e constituiriam uris segmento separado do resto .da classe operária.
Assim, as demandas desse segmento não poderiam unir todos os segmentos da
classe operária brasileira.(4)
O trabalho
de Almeida não pode ser considerado de imediato como uma análise da relação
entre sindicatos e trabalhadores tal como, por exemplo, na tradição de estudos
sobre política interna dos sindicatos. No entanto, sua análise oferece uma importante
contribuição geral acerca do relacionamento entre lideranças trabalhistas e
trabalhadores em geral. De fato, quando analisa a ação política dos
trabalhadores das fábricas modernas e chega à conclusão de que suas demandas
não poderiam ser extensivas para o Brasil como um todo por causa da natureza
específica dessas reivindicações e por causa da atitude conservadora desses
trabalhadores, ela está implicitamente afirmando que haveria um
"abismo" entre os interesses de alguns trabalhadores, que poderiam exercer
a liderança em disputas político-econômicas, e os interesses da maioria dos
trabalhadores. Podem-se estender suas conclusões ao considerar-se o fato de que
nem todos os trabalhadores
por um
dado sindicato, seriam membros de um segmento privilegiado. De fato, caso se
aceite, hipoteticamente, sua premissa básica, admite-se a hipótese de que
talvez haja um "abismo" entre os interesses desse grupo privilegiado
e os interesses do restante dos trabalhadores. Em suma, se o(s) sindicato(s)
fosse(m) dominado(s) por um segmento privilegiado, isso poderia levar a uma
conclusão pessimista acercado relacionamento entre líderes sindicais e seus
liderados.
Ao
contrário da tese de Almeida, Humphrey (1979b, 1980 e 1982) mostra que havia
uma classe.trabalhadora na indústria automobilística recebendo salários mais
altos que o resto da classe operária. No entanto esses salários não eram altos
a ponto de determinar que esse novo segmento se destacasse do resto da classe
operária. Humphrey mostra que a maioria desses trabalhadores enfrentariam
problemas se tivessem de procurar um novo trabalho. Isso significa que a
posição desses trabalhadores não era bastante segura para empreender ações
próprias e isoladas. Nesse setor, os trabalhadores que se sentiam mais seguros
em seus empregos eram os altamente qualificados. Esses tinham mais
probabilidade de empreender ações solidárias por causa de sua posição no
mercado de trabalho.
Humphrey
não analisou diretamente o relacionamento entre uma dada liderança e sua base
sindical. No entanto, sua análise é importante em termos do papel de uma dada
liderança sindical em sua relação com a base. A análise de Humphrey levou a
conclusões completamente diferentes das sugeridas por Almeida (cf. Almeida,
1978:489). De fato, poder-se-ia concluir que não havia um "abismo"
entre os interesses dos metalúrgicos do ABC paulista e os dos trabalhadores em
geral. Os trabalhos de Humphrey indicam que o importante papel exercido pela
classe trabalhadora do ABC paulista poderia ser melhor interpretado como um
papel de vanguarda - isto é, um grupo de fortes compromissos com relação à luta
pelos interesses dos trabalhadores - , seja por não se "destacar" dos
interesses gerais dos trabalhadores; seja em termos de liderança dos
trabalhadores em suas ações para realização dos seus interesses.
Gonçalves
(1984:30-1), sem-um tratamento mais sofisticado dos dados coletados em uma
pesquisa realizada em 1981-2 sobre estrutura e representação sindical no
Brasil, mostra que havia uma tendência moderada para a reeleição de diretores
em sindicatos com líderes de "grande influência [política]" e em
sindicatos que representavam "categorias de grande importância econômica".
Em sindicatos que representavam "categorias de pouca importância
econômica" havia uma alta taxa (93%) de reeleição.
Um
importante trabalho sobre democracia sindical é o recente livro de Mangabeira
(1993). Essa autora adota o modelo eleitoral referido acima, tendo, no entanto,
adicionado dois outros indicadores de democracia sindical: "a natureza da
estrutura da organização sindical e a medida em que a liderança tomou como
objetos os problemas da política ele produção" (Mangabeira, 1993:27-8,
190). A autora mostra que, sem dúvida, aconteceu um processo de democratização
no sindicato, de tipo novo sindicalismo por ela analisado, apesar de certas
tensões, ou dilemas, para usar sua terminologia, entre democracia e certas
tendências para oligarquização, ou entre democracia e burocratização.
O problema
de análise
Nesse
sentido, a análise desenvolvida nesse trabalho pode ser aproximada dos dois
últimos indicadores apontados por Mangabeira. No entanto, faz-se necessário
ressaltar que o objetivo mais geral do trabalho não é uma análise do novo
sindicalismo (embora ele tome como base empírica dados referentes ao mesmo),
mas a análise das implicações do uso das noções de representatividade e
responsabilidade política para a observação da relação entre líderes e
liderados em sindicatos. Em outras palavras, discutirei a validade do uso
dessas noções, assim como a própria definição desses termos e sua
aplicabilidade à análise do fenômeno da democracia sindical.
A análise
do problema acima colocado é feita a partir de dados referentes a seis
sindicatos que representam trabalhadores urbanos de Pernambuco: Sindicato dos
Urbanitários; Sindicato dos Bancários; Sindicato dos Metalúrgicos; Sindicato
dos Empregados em Empresas de Processamento de Dados (SINDPD); Sindicato dos
Professores (SINPRO); e Associação dos Professores da Rede Oficial de Ensino
(APENOPE).(5)
Os dados
foram coletados entre julho e novembro de 1990 e complementados em dezembro de
1992.
Novo
sindicalismo: democracia, representatividade e responsabilidade política
No final dos
anos 70, os testemunhos de muitos militantes que mais tarde se tornaram
diretores e de muitos trabalhadores mostram que havia um sentimento
generalizado entre os trabalhadores de que os "sindicatos existem mas não
são nossos porque não nos representam". Ou seja, o velho (6) sindicalismo
pelego não representava seus membros, em particular, nem a categoria, em geral.
"Eles não nos representam" significava que haveria um descompasso
entre os interesses dos trabalhadores e os dos diretores sindicais da velha
guarda no sentido michelsiano (cf. Michels, 1911).
Isso foi
claramente expresso no panfleto lançado em 1977 por um grupo de trabalhadores
do Grande Recife:
Nós
queremos denunciar a farsa e o vazio de nossos sindicatos [...] [Assim,] nós
exigimos que sindicatos totalmente renovados participem na vida nacional como
porta vozes das classes trabalhadoras [Panfleto de 20/11/77]
[...] [porque] não podemos mais tolerar
dirigentes sindicais .que não apóiam nossa luta real [...]: [Panfleto de
1/5/79]
Assim, um
dos principais temas referentes ao relacionamento entre trabalhadores e
lideranças sindicais no Brasil do final dos anos 70 estava ligado ao problema
da representatividade dos sindicatos, esta sendo entendida como uma atitude
política que os sindicatos deveriam tomar ao agir por e no interesse de seus
membros. Em outras palavras, o relacionamento entre dirigentes sindicais e os
membros deveria ser mudado radicalmente.
Trabalhadores
e militantes sindicais no Brasil do final dos anos 70 e nos anos 80 estavam expressando
um problema geral que tem sido investigado há já bastante tempo por cientistas
sociais interessados no impacto de organizações formais sobre a ação política
dos trabalhadores. Assim, o tema deste trabalho está associado à discussão do
relacionamento entre líderes e filiados em organizações sindicais formais, em
geral, e entre novos líderes sindicais e os trabalhadores, em particular. De
fato, desde que Michels (1982) publicou seu livro, cientistas sociais
preocupados com o problema da democracia sindical têm tentado responder à
seguinte questão: o relacionamento entre líderes sindicais e os filiados e/ou a
categoria tem de ser marcado por inevitáveis tendências oligárquicas, tal como
previsto por Michels?
O novo
sindicalismo emergiu com uma agenda política para mudanças na natureza dos
sindicatos brasileiros e no papel que os mesmos deveriam exercer na sociedade
como um todo, nas relações trabalhistas e no relacionamento entre sindicatos e
os trabalhadores por eles representados. O novo sindicalismo alcançou graus
variados de mudança e isso tem sido o resultado da construção constante de
novas relações sociais entre líderes sindicais e liderados. Em outras palavras,
isso significa que a agenda política do novo sindicalismo tem sido construída e
adaptada de acordo com as circunstâncias políticas.
Assim,
deve-se considerar um traço geral que tem caracterizado o novo sindicalismo no
sentido de entender o constante desenvolvimento pelo qual ele tem passado. Eu
sugeriria que esse traço geral que caracteriza o novo sindicalismo e o
relacionamento mais próximo e mais intenso entre líderes sindicais e liderados.
Isto é, tem havido tentativas de consultar os trabalhadores representados e
prestar contas a eles acerca dos atos dos diretores sindicais (responsabilidade
política). Essa característica sozinha provocou uma série de mudanças, com
implicações para outras esferas da vida sindical.
Além
disso, líderes sindicais têm tentado combinar suas próprias demandas radicais
com os interesses dos liderados (representatividade). Com efeito, na maioria
dos sindicatos aqui .analisados, os líderes sindicais têm tentado apresentar
propostas que são mais radicais que aquelas dos trabalhadores representados.
Isso parece sugerir que o comportamento previsto tanto por Michels quanto por
Hyman, ou seja, que os dirigentes sindicais são conservadores enquanto os
liderados são progressistas, não é confirmado pelos dados referentes aos
sindicatos aqui analisados, como será mostrado adiante. De fato, a maioria das
novas demandas têm sido propostas pelos dirigentes elou militantes sindicais em
lugar de serem o resultado de propostas de filiados comum.
Como dito
acima, as características sociais do novo sindicalismo têm sido construídas,
adaptadas e refeitas. A ampla agenda inicial do novo sindicalismo continha uma
série de propostas que não foram totalmente conquistadas. Sugiro que isso se
deve ao novo relacionamento com os trabalhadores implementado pelos novos
dirigentes e/ou militantes sindicais. De fato, ao tentar representar os interesses
dos trabalhadores e ter responsabilidade política, os novos líderes sindicais
têm tido algumas vezes de "refrear" certas propostas radicais como
relação a: 1) fim da prestação de serviços sociais, médicos e assistência
jurídica em casos que não sejam estritamente trabalhistas pelos sindicatos; 2)
canais de participação e "construção" da pauta de reivindicações; 3)
novas reivindicações radicais; e 4) fim do papel histórico e coercitivo que o
Estado tem exercido nas relações trabalhistas, especialmente no julgamento de
disputas trabalhistas no Brasil.
Sindicatos
e o problema do assistencialismo
Existia ou
existe uma série de medidas que os novos sindicalistas deseja(va)m tomar com
relação a certos aspectos organizacionais dos sindicatos. Primeiro, há os
problemas da assistência sócio-médica prestada pelos sindicatos e do próprio
aparato que os sindicatos têm de gerenciar para a prestação desses serviços a
seus filiados. Muitos dirigentes sindicais desejam acabar com esses serviços e
redirecionar os recursos financeiros para outros aspectos da - vida sindical.
Nas palavras de um desses grupos:
Nós
acreditamos em sindicatos como organizações dedicadas a lutar e não para ser
entidades filantrópicas. Nós devemos reivindicar que o INPS preste assistência
médica e odontológica. Com a extinção do imposto sindical e de sua estrutura
nós estaremos minando as bases do populismo, do empreguismo e do peleguismo.
[Desatrelar, nov.1979]
No
entanto, com exceção do SINDPD, os sindicatos continuam a prestar tais
serviços. Tanto o SINPRO quanto a APENOPE, apesar da pequena escala de seus
serviços assistenciais, continuam aprestá-los. Por outro lado, os sindicatos
dos Urbanitários e dos Bancários (no pós-1988) não somente não acabaram, como
na verdade aumentaram e melhoraram tais serviços. Dos sindicatos aqui
analisados, o dos Metalúrgicos foi o único que abertamente propôs acabar toda
assistência sócio-médica (cf. Morais, 1993).
Esse fato
parece sugerir que os serviços sócio-médicos são importantes para os filiados
dos sindicatos. Nesse caso, ao contrário do que se poderia pensar, isto é, que
os novos sindicalistas estão traindo sua agenda política, isso parece sugerir
que eles têm tentado atender aos interesses dos filiados. Se não, poder-se-ia
perguntar qual a razão para a manutenção de tais serviços. O caso do Sindicato
dos Metalúrgicos é um exemplo claro de minha hipótese. Os diretores desse
sindicato pensam que a prestação de serviços de saúde aos trabalhadores é de
responsabilidade do Estado brasileiro (Resoluções do Congresso dos Metalúrgicos
de Pernambuco, 1985, resolução n.° 30). Para eles, tais serviços absorvem
importantes recursos financeiros que poderiam ser usados mais efetivamente para
organizar politicamente os trabalhadores. Mas eles não impuseram sua visão aos
filiados. Ao contrário, decidiram saber o que os mesmos pensavam dessa mudança
tão importante e fizeram uma pesquisa entre os filiados. A resposta foi clara:
[...] Infelizmente, os resultados mostraram
que mais de 90% [dos filiados] são contra quaisquer mudanças nessa área. Na
verdade, eles queriam melhorias na assistência social. Diante dessa situação -
90% é um grande número, né? -, você não pode, em nenhum momento, desconsiderar
tal resultado. Não tem jeito! Mesmo considerando a proposta do movimento sindical,
que é de acabar com os serviços assistenciais, compreendemos que o momento para
isso está distante. [ Entrevista, 16/10/87]
Essa
decisão foi aceita pelos dirigentes sindicais e a assistência sócio-médica
continua a ser prestada aos filiados do sindicato.
Os novos
sindicalistas têm uma visão radical da sociedade e das relações trabalhistas.
No entanto, nessa visão radical das relações trabalhistas está contida a idéia
de um novo relacionamento entre o sindicato e os trabalhadores por ele
representados, em geral, e os filiados, em particular. Esse relacionamento
significa que o sindicato tem de representar propriamente os filiados e a
categoria, e que tem de levarem conta o que os representados reivindicam (cf.
Mangabeira, .1993). Assim, eu sugeriria que a diferença em relação aos velhos
sindicalistas é que os novos sindicalistas não mais enfatizam o lado
assistencialista dos sindicatos; mas a figura do sindicato enquanto
representante radical dos trabalhadores. O que os novos sindicalistas têm conseguido
fazer é combinar militância com serviços sociais, pois comumente os sindicatos
oferecem melhores serviços que o serviço nacional de saúde. Isso significa que
a maioria dos trabalhadores seria contra tais mudanças, especialmente aqueles
que não podem pagar serviços médicos e legais privados (cf. O Metalúrgico,
1984).
Sindicatos,
canais de participação e a "construção" da pauta de demandas
No que diz
respeito à organização no local de trabalho, os sindicatos aqui analisados
tiveram graus variados de sucesso. Durante os anos 80 muitos sindicatos
tentaram implementar ou, pelo menos, estimular a criação de comissões de
trabalhadores, apesar da resistência dos empregadores a aceitá-las. Tais
comissões são vistas pelos empregadores como um poder excessivo dos sindicatos
dentro das empresas, enquanto os novos sindicalistas vêem-nas como um meio de
aumentar o poder dos sindicatos nos locais de trabalho. Onde as comissões de
trabalhadores têm sido estabelecidas, elas têm sido usadas como canais de
ligação entre os sindicatos e os trabalhadores. Além disso, existem evidências
de que elas têm sido usadas pelos dirigentes sindicais para saber quais as
reivindicações dos filiados e da categoria. Isso parece indicar que os novos
sindicalistas não estão desconsiderando os interesses expressos dos
trabalhadores nem impondo decisões sem consultar os interessados. Naturalmente,
essa relação entre sindicatos e comissões de trabalhadores varia de sindicato
para sindicato. Alguns dirigentes sindicais, como os do Sindicato dos Urbanitários,
concebem essas comissões como apêndices do sindicato ou como uma presença
direta do sindicato no local de trabalho, o que significa que pode haver espaço
para tentativas de controlar as comissões. Há, porém, os casos do SINDPD e dos
sindicatos dos Metalúrgicos e dos Bancários, onde as comissões tinham ou têm
grande poder de autonomia, o que significa que a previsão feita pelos teóricos
da burocratização do sindicato não encontra firme comprovação na prática do
novo sindicalismo. Como demonstram os dados aqui expostos e a análise de
Mangabeira, embora existam pontos de tensão ou dilemas, já referidos acima, a
prática do novo sindicalismo refuta a "lei" de Michels e a tese de
Hyman, pois, se existem certas tendências para a oligarquização, muitos sindicatos
passaram por renovações no sentido de introduzir uma série de mecanismos para
estimular a democracia interna.
Além
disso, os novos sindicalistas têm tentado estabelecer novas formas para que os
trabalhadores participem das negociações durante campanhas salariais. De fato,
uma série de comissões provisórias tem o objetivo de diminuir a
"distância" entre líderes e liderados durante as negociações. A
comissão salarial, por exemplo, que existe em vários sindicatos, não é nomeada
pelos dirigentes sindicais, mas eleita pelos trabalhadores. Isso significa que
os dirigentes sindicais não podem negociar somente a partir de suas próprias
vontades ou idéias, pois esse tipo de comissão tem permitido aos trabalhadores
uma participação mais ampla desde o início da campanha salarial.
Uma
campanha salarial é um processo que começa pelo menos dois meses antes de
qualquer acordo com os empregadores porque os sindicatos têm dentado envolver
os trabalhadores em todas as etapas da campanha. Em geral, uma campanha
salarial típica começa com conversações preliminares entre dirigentes e
militantes sindicais nos locais de trabalho. O objetivo dessas conversações é
delinear uma lista de demandas preliminar para ser colocada em discussão numa
assembléia geral.
O próximo
passo é promover uma série de encontros locais (cf. Alves,. 1989:54; e
Humphrey, 1979a:77). Esses encontros acontecem por áreas geográficas ou por
setores ou ambos. O principal objetivo desses encontros é conhecer quais as
reivindicações gerais e específicas de cada área e/ou setor. Um outro objetivo
é a eleição de alguns representantes. Esses trabalhadores, representando diferentes
setores ou áreas geográficas, constituirão, juntamente com os diretores
sindicais, a comissão de negociação. Por outro lado, se o sindicato já tem uma
estrutura de delegados sindicais ou, de comissões de trabalhadores, vale-se
sobretudo dessa estrutura para delinear a lista de reivindicações.
Em seguida
vem o trabalho de síntese dos diversos resultados advindos desses encontros
preliminares em uma lista única de reivindicações, a qual será apresentada à
assembléia geral para ser modificada ou não e ratificada. Então, o sindicato
comunicará aos empregadores, principalmente por intermédio da Delegacia
Regional do Trabalho (DRT), que as negociações devem começar. Uma vez
notificados, os empregadores geralmente respondem com uma proposta de data e
local para as negociações preliminares. O número de encontros entre
sindicalistas e empregadores dependerá do grau de concordância entre ambos os
lados sobre a natureza e extensão das reivindicações. Se nenhum compromisso é
alcançado durante essas negociações, o processo será levado para o Tribunal
Regional do Trabalho (TRT) (cf. Humphrey, 1979c:224; e Entrevistas, 25/8/90,
4/10/90 e 16/2/92).
Assim, em
lugar de pensar pelos trabalhadores ou "guiá-los" para seus
"verdadeiros" interesses, tem-se tentado saber quais são esses
interesses e reivindicações. Essa é a razão pela qual a maioria dos sindicatos
tem implementado encontros setoriais e/ou por área geográfica antes das
campanhas salariais. Esses encontros permitem aos trabalhadores expressar suas
idéias, interesses e reivindicações.
Sindicatos
e novas demandas
No
entanto, o tipo de evidência exposto acima não nos permite concluir que os
novos sindicalistas são meros "agentes ou delegados portadores das
instruções recebidas dos eleitores" (Sartori; 1968:468). Na verdade,
existem evidências que permitem afirmar que os novos sindicalistas e militantes
têm proposto novos itens para uma agenda mais ampla de reivindicações. Como
afirma Almeida (1981:179).
[O novo
sindicalismo] chamou a atenção para a existência de novos temas passíveis de
serem incluídos na agenda de negociações e que diziam respeito aos problemas
concretos das condições e da organização do trabalho em cada empresa.
De fato,
no pós-64 os dirigentes sindicais conservadores raramente tentavam mobilizar os
trabalhadores para qualquer ação, sem falar na "ausência" durante as
campanhas salariais (cf. Keck, 1989:256; e Entrevistas, 22/5/87 e 29/5/ 87).
Por um lado havia uma aceitação passiva das políticas salariais dos governos
militares e por outro descrença em práticas tais como consultar e prestar
contas de atos aos filiados, em particular, e à categoria, em geral, e/ou
desconsideração por essas práticas. Assim, poucas reivindicações apareciam nas
listas de demandas dos sindicatos dirigidos por sindicalistas conservadores.
Os novos
sindicalistas, por sua vez, têm proposto novos itens previamente desconhecidos
no Brasil, do movimento operário em geral e do movimento sindical em
particular. Esses itens não estão relacionados somente com novos percentuais de
aumentos salariais, mas também com aspectos sócio-políticos das relações
trabalhistas.
Com
exceção da APENOPE, as reivindicações dos outros sindicatos, nos últimos dois
anos da década de 1970, referiam-se quase exclusivamente a aspectos salariais.
Grosso modo, somente a partir de 1980. Os sindicatos começaram a apresentar
listas de reivindicações mais complexas.
No caso do
Sindicato dos Bancários, de 1978 a 1981 as demandas relacionavam-se
principalmente com aspectos monetários das relações trabalhistas. De fato,
essas negociações eram centradas na discussão de aumentos salariais anuais, um
salário mínimo profissional (sugerido pela oposição) e um adicional por tempo
de serviço. A única demanda não diretamente relacionada com aspectos salariais
era a reivindicação pelo cumprimento da lei referente ao limite da jornada de
trabalho. O Sindicato dos Urbanitários estava na mesma situação, apesar de ter
apresentado demandas relacionadas à implementação de uma estrutura de emprego e
salários e à criação de creches. Por outro lado, em 1979 o Sindicato dos
Metalúrgicos começou a apresentar demandas relacionadas com outros aspectos das
relações trabalhistas. Juntamente com as demandas por aumento salarial e outros
benefícios monetários, havia reivindicações relacionadas com a situação
profissional, condições de trabalho e poder sindical.
Foi
durante os anos 80 que os sindicatos começaram a apresentar listas de
reivindicações mais longas devido ao fato de que grupos de oposição assumiram o
poder em certos sindicatos ou simplesmente conseguiram influir no conteúdo
dessas listas ao participar do processo de discussão durante campanhas
salariais em sindicatos controlados por sindicalistas conservadores. Por um
lado, as reivindicações por aumentos salariais não mais se baseavam nos índices
estabelecidos pelo governo. Em lugar disso havia fortes pressões para a
negociação de melhores aumentos salariais, levando-se em consideração as taxas
de inflação calculadas por entidades como o DIEESE. Ao mesmo tempo, os
sindicatos tentaram assegurar outros benefícios monetários que pudessem ajudar
os trabalhadores a enfrentar as altas taxas de inflação. Sem dúvida, houve um
aumento no número de demandas relacionadas com pontos tais como aumento de
produtividade, adicionais para alimentação e transporte, adicionais por tempo
de serviço, assistência médica a ser prestada pelas empresas e salário dobrado
durante as férias.
Além
disso, reivindicações relacionadas com a questão da própria situação
profissional e com as condições de trabalho começaram a aparecer nas listas de
demandas. As demandas mais importantes relacionadas com a situação profissional
eram as que se referiam à questão de uma estrutura clara de emprego e salários,
assim como a existência de critérios para admissão e demissão. Havia também uma
preocupação tom estabilidade provisória para os mais visados durante os
processos de demissão, isto é, estudantes, recrutas servindo as forças armadas,
trabalhadores que tivessem sofrido algum acidente e mulheres grávidas. Ao mesmo
tempo, verificava-se crescente preocupação com as condições de trabalho.
No
entanto, essas demandas se relacionavam não apenas a melhores condições físicas
do local de trabalho como também às condições que permitem aos trabalhadores
continuar a desempenhar bem suas tarefas. Isso fica claro a partir da contínua
reivindicação pelo cumprimento dos limites da jornada de trabalho. Essas
demandas diziam respeito principalmente ao setor privado, onde os empregadores
parecem estar pouco preocupados com o cumprimento das leis trabalhistas. No
caso do Sindicato dos Bancários, para ilustrar o que foi dito acima, tem havido
um grande número de denúncias acerca de longas jornadas de trabalho impostas
aos empregados dos bancos privados. Uma leitura dos assuntos abordados pelo
jornal desse sindicato revela que esse tem sido um tema recorrente,
principalmente no que diz respeito aos bancos privados. Por outro lado, quando
o Sindicato dos Urbanitários reivindicou um limite na jornada de trabalho,
assim o fez com relação a tarefas especiais que envolvem alta responsabilidade.
No caso
dos sindicatos dos Metalúrgicos e dos Urbanitários também há demandas
relacionadas à segurança no trabalho. Pela própria natureza de certas tarefas
nos setores metalúrgico e elétrico, seu desempenho implica considerável risco
para as vidas dos trabalhadores. O mesmo não ocorre no caso do setor bancário.
Nesse caso o trabalho mais perigoso parece ser o dos caixas por causa da ameaça
de assaltos violentos. Assim, o Sindicato dos Bancários tem reivindicado seguro
de vida obrigatório para os caixas, a ser proporcionado pelos bancos.
Os
sindicatos têm também apresentado demandas cujo objetivo é alcançar certo grau
de controle por parte dos trabalhadores sobre as tarefas a seu cargo. Isso está
claro tanto no caso do SINPRO e da APENOPE quanto no do SINDPD. No primeiro
caso, tem havido reclamações de que os professores dispõem de pouco tempo para
leituras, para preparar aulas e fazer pesquisas que poderiam melhorar o nível
de suas aulas. Esses professores argumentam ainda que recebem baixos salários e
que por isso são obrigados a ministrar muitas aulas, o que significa falta de
tempo para quaisquer outras atividades relacionadas ao ensino, (cf. Resoluções
do I Congresso Estadual de Professores do Ensino Oficial de Pernambuco,
23-26/10/87, resolução n. 4/3). Tanto o SINPRO quanto a APENOPE têm feito
campanhas para aumentar o número de aulas brancas que poderiam ser usadas para
essas atividades. Isso lhes permitiria, tem-se argüido, permanecer mais tempo
em suas escolas sem ter de "correr" de uma escola para outra para
ministrar o maior número de aulas possível e assim aumentar seus salários. Ao
mesmo tempo, isso significaria melhores aulas e um aumento geral no nível de
ensino e aprendizagem.
No caso do
SINDPD, a maior preocupação é acerca do trabalho dos digitadores. Como esses
trabalhadores são obrigados pelos empregadores a dar um maior número de
toques-hora que o recomendado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT),
tem havido uma alta taxa de doenças ocupacionais que afetam os ossos das mãos
dos digitadores, fazendo com que muitos deles se tornem incapazes para tal
trabalho (Entrevista, 28/8/90, e Jornal do Comércio, 22/8/93): Apesar de a CLT
estabelecer que pessoas trabalhando em datilografia e tarefas semelhantes têm
direito a dez minutos de descanso em cada período de noventa minutos, isso
normalmente não é cumprido pelos empregadores (cf. APPD-PE Informativo,
26/5/83; e Jornal APPD-PE, set.1983).
Juntamente
com as demandas pela regulamentação desse aspecto das relações trabalhistas
durante campanhas salariais, há também uma ampla preocupação acerca da saúde
dos trabalhadores em processamento de dados; fato indicado pelo número de
seminários e discussões promovidas pelo SINDPD. De fato, desde que os
trabalhadores em processamento de dados formaram sua associação no final dos
anos 70, têm-sido promovidos seminários sobre a saúde dos trabalhadores nesse
setor. Finalmente, os sindicatos têm tentado estender seu poder aos locais de
trabalho por meio da publicação de demandas gerais em jornais sindicais. Essas
demandas relacionam-se ao direito de eleger delegados sindicais nos locais de
trabalho e ao direito de eleger todos os representantes da Comissão Interna
para Prevenção de Acidentes (CIFA). Dois sindicatos foram além ao reivindicar o
direito de eleger candidatos para certos postos-chaves. No caso da APENOPE,
tem-se demandado o direito de eleger diretores e vice-diretores das escolas.
Isso não tem sido reivindicado somente durante campanhas salariais, mas também
mediante campanhas específicas relacionadas ao tema. De fato, a associação tem
promovido campanhas cujo objetivo único é tornar pública a necessidade de
eleger diretores utilizando dois argumentos: 1) a eleição de diretores
permitiria um maior controle por parte dos pais, professores e a comunidade em
geral sobre as escolas; e 2) a eleição de diretores significaria o fim da
prática do clientelismo por parte de vários governos que usam esses postos para
negociar o apoio de certos grupos políticos (cf. Informativo APE-NOPE,
jan.-mar. 1986). No caso do Sindicato dos Urbanitários, especificamente com
relação à Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), têm havido pressões
pelo direito de eleger o diretor administrativo ou o diretor de pessoal.
Obviamente, isso é uma reivindicação radical e intolerável para a gerência e o
poder político, pois diz respeito ao poder de controle exercido pelos gerentes
sobre o trabalho (cf. Hill, 1981:103-23).
Sindicatos
e negociação coletiva
A novidade
do novo sindicalismo não está relacionada somente a essas novas demandas, mas
também ao próprio processo de negociação e resolução de disputas trabalhistas.
De fato, além de tentativas de envolver a categoria na construção da pauta de
demandas, como enfatizado acima, o novo sindicalismo emergiu com propostas de
negociações diretas entre sindicatos, representando os trabalhadores, e
empregadores, sem a necessidade de se recorrer ao poder de árbitro do Estado
(Almeida, 1981:161; Alves, 1989:52; e Keck, 1989:254). De acordo com os novos militantes,
empregadores e empregados deveriam ser livres dos limites impostos pelo Estado
para a negociação entre as duas partes (cf. Jornal do Comércio, 25/7/78).
No
entanto, isso não é visto como uma questão de princípios a ser seguida
quaisquer que sejam as conseqüências para os trabalhadores. Dois casos podem
ilustrar este ponto por causa de seus diferentes resultados. Primeiro, os novos
dirigentes do Sindicato dos Bancários apóiam o princípio de negociação direta
entre as duas partes envolvidas numa disputa trabalhista. No entanto, por causa
de seu comprometimento com o princípio de consultar a categoria, em 1990 eles
se viram obrigados a submeter uma disputa salarial ao TRT, como resultado da
votação de uma assembléia geral, que aprovou a proposta de que a mesma fosse
decidida na esfera estatal.
Durante a
campanha [de 1990], [...] no nível nacional, os bancários conseguiram um acordo
com os banqueiros sem a presença da Justiça do Trabalho. No entanto, em
Pernambuco, a categoria recusou-se a aceitar esse acordo porque ele não
garantia a estabilidade temporária. Nós tivemos de manter a greve por mais uma
semana pois a categoria esperava consegui-la na Justiça do Trabalho. Essa
semana a mais expressou o desejo de lutar, a força dos trabalhadores. Mas, ao mesmo
tempo, representou também um retrocesso político, pois a categoria recusou o
resultado de um acordo direto com os empregadores porque ela estava contando
com a interferência da Justiça do Trabalho. [Entrevista, 24/10/90]
O segundo
caso aconteceu na APENOPE. Durante a campanha salarial de 1989, as negociações
entre essa organização e o governo estadual chegaram a um "beco sem
saída" e as discussões ficaram paralisadas. O governo estadual propôs
então que a disputa fosse julgada pelo TRT como forma de acabar com o impasse.
A proposta era inaceitável para os novos sindicalistas da APENOPE. No entanto,
em lugar de recusá-la a priori, eles convocaram uma assembléia para que a mesma
fosse votada pelos professores. A proposta foi recusada pela assembléia geral (cf.
Atas das assembléias gerais, 13 e 20/11/89).
Um outro
aspecto das campanhas salariais sob controle da categoria é o próprio acordo
final. De fato, além da participação dos trabalhadores na construção da pauta
de demandas e nas negociações feitas por intermédio das comissões salariais,
eles exercem controle sobre os acordos salariais, porque estes têm de ser
votados e ratificados pela assembléia geral antes de serem assinados.
Representatividade
e responsabilidade política: uma avaliação
Em termos
gerais, considerando o problema da democracia sindical, os dados expostos neste
trabalho permitem concluir que existe espaço para a democracia dentro dos
sindicatos e que tal fenômeno não é determinado a priori (cf. Edelstein e
Warner, 1975). Ou seja, ao contrário das teses de Michels (1911) e Hyman
(1989), os dados aqui apresentados sugerem que não há uma tendência inevitável
para a oligarquização dos sindicatos.
Fosh e
Cohen (1990) e Heery e Kelly (1990) sugerem que um importante aspecto no
relacionamento entre os líderes sindicais e os liderados parece ser o grau de
representatividade e de responsabilidade política com relação aos interesses
dos trabalhadores representados. No caso do novo sindicalismo, esses aspectos
têm sido ampliados utilizando-se medidas com o intuito de conhecer não somente
os interesses dos filiados como também o que a categoria deseja, e de saber
como responder a esses interesses, embora, mais uma vez, existam áreas
"obscuras'' sujeitas a práticas oligárquicas.
O tipo de
evidência apresentada acima permite-nos ir um pouco além ao explorar a
contribuição desse trabalho para uma teoria da democracia sindical em termos de
representatividade e responsabilidade política: O trabalho mostra que a análise
do relacionamento entre líderes e liderados pode ser enriquecida se recorrermos
às noções de representatividade e responsabilidade política como indicadores de
democracia sindical.
No
entanto, algumas qualificações devem ser feitas mesmo em face de outros estudos
que utilizam a noção de representatividade como um indicador de democracia
sindical. Handelman (1977) concluiu, ao utilizar variáveis sócio-econômicas e
políticas, que havia diferenças consideráveis entre líderes e liderados dos
dois sindicatos mexicanos que analisou. Mas isso dificilmente nos permite
entender e explicar o relacionamento entre os novos sindicalistas e os
filiados/categoria. De fato, parece haver diferenças importantes entre muitas
das propostas dos novos diretores e as dos trabalhadores. No entanto, o que o
estudo de Handelman "deixa escapar" são as noções de
representatividade e responsabilidade política no sentido empregado neste
trabalho, isto é, o fato de que os novos líderes podem propor novos itens, mas
estes têm de ser apresentados, votados e sancionados pelos liderados antes de
sua implementação.
Assim, uma
abordagem mais útil é a de Fosh e Cohen (1990). No entanto, a definição de
representatividade dessas autoras como sendo o espelho dos "interesses
expressos" dos filiados/categoria tampouco nos permite compreender e
explicar os casos em que os novos diretores propõem novos itens e/ou políticas.
Na verdade, elas reconhecem que
Nós não
estamos advogando aqui um modelo simplístico de democracia participativa onde
os líderes [sindicais] [...] meramente expressam as aspirações dos liderados;
mesmo as irrealistas. Um compromisso com o coletivo incorpora intrinsecamente o
conceito de liderança. Ocorre um processo interativo entre líderes [...] e
liderados através do qual os líderes, em considerável medida, moldam as demandas
dos liderados; às vezes moderando-as, às vezes aumentando-as. [Fosh e Cohen,
1990:138]
Ou seja, a
concepção de democracia sindical dessas autoras contida na citação acima
choca-se com a própria definição de representação como sendo o espelho dos
"interesses expressos'' dos liderados.
Assim, uma
das contribuições deste trabalho para o entendimento da democracia sindical
enquanto expressão da representatividade dos sindicatos com relação aos seus
membros é mostrar que, para serem. verdadeiramente representativos, os
dirigentes sindicais não têm necessariamente de espelhar os "interesses
expressos" dos liderados.
Procurei
mostrar neste trabalho que isso acontece por duas razões. Primeiro, apesar de
certas diferenças entre dirigentes sindicais e os filiados em termos de
interesses e políticas de curto e longo prazos, mostrou-se que os novos
sindicalistas têm procurado submeter suas propostas, mesmo as mais radicais,
aos filiados.
Segundo, a
definição de representatividade como o espelho dos "interesses expressos"
dos filiados restringe o sentido mais amplo desse termo. De fato, para alguém
ser representante não significa que tenha de espelhar os "interesses
expressos" de seus representados, pois, no próprio momento em que os
dirigentes sindicais propõem novos itens e/ou interpretam os interesses dos
filiados, a idéia de espelhar os "interesses expressos" dos
representados perde o sentido. Como já foi sugerido por vários teóricos, a
idéia de representatividade envolve também a idéia de certa liberdade pára o
representante (Laclau, 1991a e 1991b; Pitkin, s. d.; e Sartori,1968). Em outras
palavras, o papel do representante, em lugar de ser entendido como um papel
passivo, deve ser visto como contendo a idéia de que ele pode propor novos
itens ou moldar idéias e reivindicações oriundas de seus representados.
Assim, a
evidência apresentada neste trabalho mostra que definir representatividade como
espelho dos "interesses expressos" dos representados é perder outro
aspecto dessa relação: o representante também molda a identidade do
representado (Laclau, 1991a:12).
De fato, é
difícil afirmar que todos os temas e demandas das diferentes categorias de
trabalhadores já estavam presentes desde o início ou que foram propostos por
elas durante os anos 70 e 80. Uma visão mais realista diria que demandas são
propostas por líderes e liderados. Mais do que isso, é possível afirmar que as
reivindicações radicais têm sido propostas mais freqüentemente pelos líderes do
que pelos liderados.
Assim, a
principal contribuição deste trabalho é fornecer apoio para uma teoria da
democracia sindical na qual as noções de representatividade e responsabilidade
política exercem um papel central. No entanto, representatividade deve ser
entendida como uma relação de mão dupla por meio da qual líderes e liderados
têm suas identidades mutuamente moldadas. Em outras palavras, o que é central
para a existência de democracia em sindicatos é o fato de que os líderes
representem (não espelhem) os interesses dos liderados e sejam responsáveis
politicamente diante deles. Essa definição de representatividade permite-nos
explicar o que tem acontecido dentro do sindicalismo brasileiro desde o final
dos anos 70. Isto é, a existência de uma liderança sindical que tenta lutar
pelas reivindicações dos trabalhadores, propõe (não impõe) novos itens e
reivindicações e tenta ser responsável politicamente diante dos seus
representados sem se omitir com relação às responsabilidades intrínsecas ao
papel das lideranças (Heery e Kelly, 1990:86).
NOTAS
*.
Agradeço as sugestões críticas do prof. Luciano Oliveira e de dois pareceristas
anônimos da RBCS.
1. A
tradução deste e de outros trechos ao longo do texto é do autor deste trabalho.
2. Estou
utilizando esta expressão como tradução da expressão inglesa political
accountability.
3. Com
relação a posições diferentes das de Hyman, dentro da tradição marxista, ver
Kelly, 1988, pp.147-83; e Offe & Wiesenthal, 1984, pp. 56-118.
4. É
importante ressaltar que Almeida, em trabalhos subseqüentes,
"suavizou" o impacto deste segmento relativamente privilegiado na
ação política dos trabalhadores: Ver Almeida, 1978. Não interessa aqui discutir
a interpretação teórica dessa autora, pois o importante, para os propósitos
deste trabalho, é reter o fato de que ela analisa uma outra forma de relação
entre líderes e liderados no movimento operário.
5. Esta
associação foi extinta em 1990 quando da fundação do Sindicato dos
Trabalhadores em Educação (SINTEPE). Neste trabalho, estou considerando o
SINTEPE como continuador da APENOPE. Dados concernentes à história do SINTEPE
no período pós-1990 serão referidos como parte da história da APENOPE.
6. As
expressões "velho sindicalismo" e "velha guarda"
referem-se, neste trabalho, particularmente à prática e aos dirigentes
conservadores que assumiram os sindicatos brasileiros no pós-64.
7. Além do
trabalho já citado, de Heery & Kelly (1990), um outro autor
(Golden,1988:248), em estudo recente, chegou. a conclusões semelhantes com
relação ao movimento sindical italiano: "[...] [Os] sindicatos podem ser
mais radicais que os trabalhadores que eles procuram representar. Tal situação
vai de encontro ao pensamento comumente aceito acerca dos modernos sindicatos
que [...]tende a conceber os sindicatos como instituições inerentemente
conservadoras e, por extensão, os trabalhadores como instintivamente
radicais".
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Fonte:
http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_25/rbcs25_08.htm
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