A prisão de um padre italiano esta semana, suspeito de
envolvimento em um esquema de fraude e corrupção no Banco do Vaticano, está
colocando ainda mais pressão sobre a Igreja Católica por mais transparência e
cooperação com as investigações da polícia.
O padre Nunzio Scarano, de 61 anos, que tem o título de
Monsenhor - um reconhecimento de honra dado pelo papa a sacerdotes com mais
tempo de carreira -, foi preso juntamente com um agente do serviço secreto
italiano e um investidor financeiro.
De acordo com investigações da polícia italiana, o grupo é
suspeito de tentar trazer cerca de 20 milhões de euros (ou quase R$ 58 milhões)
ilegalmente para a Itália.
Reação
Scarano ocupava o cargo de contador sênior num importante
departamento financeiro do Vaticano - o APSA (Amministrazione del Patrimonio
della Sede Apostolica), mas, segundo o porta-voz do Vaticano Federico Lombardi,
tinha sido suspenso de suas atividades "há cerca de um mês, quando seus
superiores tomaram conhecimento da investigação".
Nesta semana, o papa anunciou a criação de uma comissão de
clérigos para analisar o trabalho administrativo do Banco do Vaticano, que
vinha sendo alvo de denúncias de envolvimento em lavagem de dinheiro.
Mas não se sabe até onde o Vaticano estaria disposto a ir
para ajudar a polícia. Segundo o correspondente da BBC em Roma, David Willey,
"tradicionalmente, o Banco do Vaticano sempre impôs grande segredo sobre
as atividades de seus funcionários".
Com o anúncio da criação da comissão, o papa está tentando
"impor mais transparência e clareza na atuação financeira do Vaticano, o
que não poderia ter chegado em melhor hora", disse Willey.
O Banco do Vaticano - cujo nome oficial é Instituto para os
Trabalhos da Religião (IOR) - é considerado uma das instituições financeiras
mais secretas do mundo. A instituição tem 114 empregados e um total de 5,4
bilhões de euros (ou mais de 14 bilhões de reais) em fundos.
O papa teria dado "carta branca" à comissão de
clérigos do Vaticano, que terá poderes para quebrar regras tradicionais de
sigilo
Lavagem de dinheiro
Scarano, que exerceu o sacerdócio na cidade de Palermo, a
maior cidade da Sicília, no sul da Itália, está sendo acusado de ter lavado
dinheiro "sujo" no Banco do Vaticano através de cheques descritos
como "doação de igrejas".
De acordo com Willey, a imprensa italiana tem chamado o
padre Nunzio Scarano de "Monsenhor 500", numa alusão ao valor
constante dos cheques que ele movimentaria na conta do Vaticano - sempre
depositados em montantes de apenas 500 euros. O valor total envolvendo somente
esses pequenos cheques chegaria a US$ 700 mil (ou mais de R$ 1,5 milhão).
Sobre os outros homens presos - Giovanni Maria Zito,
descrito pela polícia como agente do serviço secreto italiano, e Giovanni
Carenzio, que seria um investidor de mercado - não foram divulgadas informações
de como eles participariam do esquema.
O Instituto para os Trabalhos da Religião tem como seu maior
investidor o Banco Ambrosiano, uma grande instituição financeira italiana que
entrou em decadência em 1982 com a perda de mais de US$ 3 bilhões (mais de R$
6,6 bilhões).
O presidente do Banco Ambrosiano, Roberto Calvi, foi
encontrado morto pendurado na ponte de Blackfriars, em Londres, em junho de
1982. O caso ficou famoso por uma reviravolta nas investigações, quando a
polícia londrina determinou como assassinato o que no início se supunha ser um
suicídio. Calvi tinha relações bem próximas com o Vaticano.
Fonte: BBC Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário