“No capitalismo maduro, os trabalhadores não-proprietários
que produzem os bens e serviços sobrevivem com a venda da sua força de
trabalho, enquanto os capitalistas dependem do mercado para comprar a força de
trabalho e os bens de capital e para vender o que os trabalhadores produzem. Em
sociedades não capitalistas, a classe superior se apropria diretamente do
trabalho excedente – como, por exemplo, quando um senhor feudal extrai trabalho
gratuito ou renda dos camponeses. Já os lucros capitalistas não são obtidos
diretamente dos trabalhadores. A relação entre capital e trabalho é mediada
pelo mercado. Os capitalistas pagam aos trabalhadores antecipadamente, por
assim dizer, e só podem realizar seus lucros através da venda das mercadorias
produzidas pelos trabalhadores. O lucro depende da diferença entre o que os
capitalistas pagam aos trabalhadores e o que eles apuram na venda dos produtos
e serviços fornecidos pelos trabalhadores.
[...]
A necessidade constante de aumentar a produtividade do
trabalho tornou o capitalismo excepcionalmente dinâmico, sempre a gerar novas
tecnologias e o assim chamado crescimento econômico. Mas a pressão do mercado
que o torna dinâmico tem efeitos contraditórios. O capitalismo está sujeito a
constantes flutuações, não apenas “ciclos de negócios” de curto termo, mas a
tendência de longo prazo para a estagnação e a recessão. A própria competição
significa que, enquanto novos competidores entram na disputa e antigos
competidores se retraem pelo máximo de tempo possível por medo de perderem seus
capitais, ocorrem constantes crises de superprodução e capacidade ociosa. Ao
mesmo tempo a pressão para reduzir os custos da mão-de-obra pode ao mesmo tempo
reduzir a demanda de bens e serviços – que precisa que as pessoas, inclusive os
trabalhadores, tenham dinheiro no bolso. O capital deve se expandir
constantemente para encontrar novos mercados e novos recursos, mas ao fazê-lo
cria mais competição. Carece de mercados para os seus produtos que podem ser
propiciados por outras economias mais ou menos bem sucedidas, mas quando,
inevitavelmente, tenta impedir o desenvolvimento dos competidores em potencial
arrisca suprimir seus próprios mercados. Estas são apenas algumas das
contradições que acometem uma economia na qual tudo depende do mercado.
Mas existem problemas ainda mais profundos no capitalismo.
Apesar do seu dinamismo, ele não é um modo muito eficiente de suprir as
necessidades humanas. É certamente verdade que o capitalismo gerou grande
progresso técnico e material, mas existe uma enorme disparidade entre a
capacidade produtiva engendrada pelo capitalismo e o que ele, de fato, oferece.
A produção não é determinada pelas necessidades da sociedade, mas por aquilo
que proporciona mais lucro.
Todo mundo, por exemplo, precisa de moradias decentes, mas
moradias
boas e baratas não são rentáveis para o capital privado.
Pode haver uma enorme demanda para este tipo de moradia, mas ela não constitui
o que os economistas chamam de “demanda efetiva”, aquele tipo de demanda com
dinheiro de verdade atrás dela. Isto significa que o capital certamente será
investido em algo como a produção de computadores, desenhados de modo a ficarem
ultrapassados assim que chegam ao mercado, para que as pessoas que possuem os
meios comprem modelos novos constantemente – enquanto ao mesmo tempo outras
pessoas permanecem sem teto. Ali onde a
produção é distorcida em prol da maximização do lucro, a sociedade (os EU
são o exemplo por excelência) pode
possuir alta capacidade produtiva suficiente para alimentar, vestir e abrigar
toda a sua população em níveis bastante altos e ainda assim conviver com
pobreza, desabrigados e cuidados de saúde inadequados.
Há também outras conseqüências, como por exemplo: 1. A
organização do trabalho visando a maximização dos lucros significa que o
emprego de tempo e energia de uma grande parte das pessoas se dá na realização
de trabalhos desagradáveis e nada compensadores. 2. A qualidade e até mesmo a
segurança dos bens e serviços freqüentemente cederão lugar à maximização dos
lucros e aos cortes de gastos. 3. Todos os aspectos da vida que se tornam
mercadorias são retirados da esfera da responsabilidade democrática e passam a
atender não à vontade do povo, mas às exigências do mercado e do lucro. 4. O
capitalismo, com sua ênfase na maximização do lucro e da acumulação de capital,
é necessariamente um sistema de produção que destrói e desperdiça. Consome
vastas quantidades de recursos, atua segundo as exigências de curto prazo do
lucro em vez de agir segundo as necessidades de longo prazo do meio ambiente
sustentável, e implica constante destruição e desperdício para criar nova
demanda.”
(WOOD, Ellen Meiksins. O
que é (anti)capitalismo?. Net: http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/critica17-A-wood.pdf. p. 38-41. Acesso em 09/março/2014)
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