“Antes de dar início a suas reformas, Deng
Hsiao-Ping visitou Cingapura e enalteceu expressamente aquele país como um
modelo que toda a China deveria seguir. Essa mudança tem um significado
histórico mundial: até agora, o capitalismo parece inextricavelmente ligado à
democracia – viu-se, é claro, de tempos em tempos, o recurso da ditadura
direta, mas, depois de uma década ou duas, a democracia se impôs de novo
(lembre-se, por exemplo, apenas dos casos da Coreia do Sul e do Chile). Agora,
no entanto, a ligação entre a democracia e o capitalismo está rompida.
Diante da atual explosão do capitalismo na China, os
analistas com frequência perguntam-se quando a democracia política, como
acompanhamento político natural do capitalismo, se fortalecerá. Não obstante,
uma análise mais detida rapidamente desfaz essa esperança – e se o prometido
segundo estágio democrático que se segue ao autoritário vale de lágrimas nunca
chegar? Talvez seja isso o que há de mais inquietante sobre a China de hoje: a suspeita de que seu capitalismo
autoritário não é apenas uma sobra do nosso passado, a repetição do processo de acumulação capitalista que, na Europa,
deu-se do século 16 ao 18, e sim um
sinal do nosso futuro.
E se ‘a
perniciosa combinação do açoite asiático com a bolsa de valores europeia’
(a velha caracterização de Trotski da Rússia tsarista) provar-se economicamente mais eficiente que o nosso capitalismo
liberal? E se ela sinalizar que a democracia, como a entendemos, não é mais
condição e mola propulsora do desenvolvimento econômico, mas seu obstáculo?’"
(ŽIŽEK, Slavoj. Democracia corrompida - O potencial autêntico da democracia vem perdendo terreno hoje para a ascensão de um novo capitalismo autoritário. In. Dossiê CULT: A democracia e seus impasses, julho, 2012. p. 51)
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