“A crise da democracia
O que chamamos “crise da democracia” não ocorre, portanto,
quando as pessoas deixam de acreditar em seu próprio poder, mas, ao contrário,
quando deixam de confiar nas elites, naqueles de quem se espera que saibam por
elas e que as orientem, quando experimentam a ansiedade que indica que “o
(verdadeiro) trono está vago”, que a decisão é agora de fato sua. Há, assim,
nas “eleições livres” sempre um aspecto mínimo de polidez: os que estão no
poder educadamente fingem não reter o poder e nos pedem que decidamos
livremente se queremos dar-lhes o poder – uma forma que imita a lógica de um
gesto que se espera que seja recusado.
[...]
Da mesma forma que a liberdade (de
mercado) é não liberdade para aqueles que vendem sua força de trabalho, da
mesma maneira que a família é comprometida pela família burguesa sob a forma de
prostituição legalizada, a democracia é comprometida por sua forma parlamentar
com seu concomitante apassivamento da grande maioria e os crescentes
privilégios executivos implicados pela contagiosa lógica de estado de
emergência.”
(ŽIŽEK, Slavoj. Democracia corrompida - O potencial
autêntico da democracia vem perdendo terreno hoje para a ascensão de um novo
capitalismo autoritário. In. Dossiê CULT: A democracia e seus impasses, julho,
2012. p. 53)
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