O III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) será realizado
de 16 e 19 de maio de 2014, em Juazeiro (BA), com o lema “Cuidar da Terra,
Alimentar a Saúde, Cultivar o Futuro”. Cerca de 2 mil pessoas de todo o país,
dentre elas 70% agricultoras e agricultores, mais diversos segmentos da
sociedade, participarão de seminários, debates e atividades culturais.
Uma feira de Saberes e Sabores, com produtos da agricultura
familiar e das populações tradicionais, será instalada no centro da
Universidade Federal do Vale São Francisco (Univasf), local do evento, com
produtos agroecológicos de todas as regiões do país.
Também serão organizadas instalações pedagógicas contando as
histórias dos territórios por onde passaram as caravanas agroeocológicas e
culturais. Haverá palestras com intelectuais brasileiros e estrangeiros, e um
grande show na noite de sábado. Ao final do evento será entregue ao governo uma
carta política sobre as discussões nas atividades e demandas do movimento
agroeocológico.
Confira a matéria sobre as caravanas agroecológicas e a
preparação para o III ENA:
O legado das caravanas agroecológicas rumo ao III Encontro
Nacional de Agroecologia
Um processo muito rico e mobilizador,
essa é a principal impressão dos participantes e organizadores das Caravanas
Agroecológicas e Culturais que ocorreram em todo o país nos últimos meses.
Planejadas pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), em parceria com várias
organizações locais, fazem parte do processo preparatório rumo ao III Encontro
Nacional de Agroecologia (ENA), que será realizado de 16 e 19 de maio, em
Juazeiro (BA). Cerca de 2.500 pessoas estavam envolvidas nas atividades.
Ao todo foram realizadas oito caravanas, compondo um cenário
diversificado do campo agroecológico. Cada região foi representada pelas suas
características, principalmente as comidas típicas e manifestações culturais.
Divididas por rotas, as visitas às experiências promoveram uma troca de saberes
intensa entre os agricultores, técnicos, estudantes, gestores públicos, dentre
outros setores da sociedade. Evidenciar as virtudes e dificuldades enfrentadas
pelas iniciativas agroecológicas em curso país afora foi um dos objetivos.
Segundo Denis Monteiro, secretário executivo da ANA, as
caravanas foram importantes para mostrar a diversidade de experiências
agroecológicas realizadas nos territórios e fortalecer os processos de
mobilização social nesses locais. A partir dessas realizações, disse Monteiro,
diferentes organizações que atuam nos territórios se encontraram e unificaram
suas lutas políticas de forma mais consistente.
caravana_zona_da_mata“Foram experiências variadas, um
momento para visibilizar essa diversidade e evidenciar queas experiências
agroecológicas têm uma contribuição muito importante no desenvolvimento desses
territórios. Também foram importantes para evidenciar que tem projetos
antagônicos em disputa nesses locais, como o caso da Chapada do Apodi,que é
emblemático. Demonstraram que a melhor opção é o fortalecimento das
experiências agroecológicas e não a implementação de grandes projetos com uso
intensivo de agroquímicos, ou com a implementação de mineração em grandes áreas
impactando esses territórios”, disse.
A Articulação tem um trabalho extenso de mapeamento e
sistematização de experiências, com uma série de ferramentas, como produção de
vídeos, publicações esistema de informação em rede. A proposta da caravana é
uma inovação metodológica na ANA, uma forma de mobilizar os atores locais para
que eles possam estudar e compreender melhor seu território. Pensar o
fortalecimento da agroeocologia, a ampliação da escala das suas experiências, é
uma das metas. A expectativa é que outras regiões, estados, organizações e
movimentos, em parceria com as universidades e trabalhadores urbanos, realizem
outras caravanas.
O acúmulo desse processo está sendo sistematizado em
boletins, fotografias, vídeos e outras ferramentas, para dar continuidade e
visibilidade ao III ENA, onde todo esse material será apresentado e debatido.As
atividades possibilitaram transitar por realidades distintas, como a vida na
beira dos rios na Amazônia, os mercados orgânicos na região sul, as lutas pela
terra no Tocantins, as violações e desafios impostos pelos grandes projetos no
Rio Grande do Norte, dentre outras. Algumasdenúncias apareceram em várias
caravanas, como a questão dos agrotóxicos, tão combatida pelos agricultores
familiares envolvidos com associações, cooperativas e entidades agroecológicas,
assim como o desenvolvimento dos transgênicos.
Segundo Sara Pimenta, da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag) e GT Mulheres da ANA, as mulheres tiveram
participação destacada nas caravanas e com grande expectativa se preparam para
o III ENA. A expressão dos seus trabalhos na agricultura familiar, envolvimento
e protagonismo político na agroecologia estavam presentes em todo o processo,
segundo ela.
“Participaram ativamente na
organização e das atividades durante as caravanas. Eram camponesas, assentadas
da reforma agrária, indígenas, quilombolas, agricultoras familiares, jovens,
estudantes, e assessoras técnicas que apresentavam suas experiências, práticas
e conhecimentos na defesa da biodiversidade, do patrimônio genético, na
produção de alimentos saudáveis e na luta por políticas públicas voltadas para
a agroecologia. Seu compromisso manifestado com alegria e entusiasmo, apesar da
ação devastadora dos grandes projetos e do agronegócio, demonstrou sua enorme capacidade
de resistência e luta em defesa da agricultura familiar, camponesa e da
agroecologia”, afirmou Sara.
É na troca de saberes e sabores que o conhecimento se amplia
e aperfeiçoa, de forma interdisciplinar e descentralizada. Essa é a impressão
de vários agricultores que acompanharam as Caravanas. Participante ativo da
caravana da região sul, o agricultor Genildo de Jesus, morador de Manaus (AM),
falou sobre a importância de saber o funcionamento dos solos, frutos, manejos,
climas, plantas, povos, tudo sobre outros biomas. Essa troca de experiência
entre os agricultores, segundo ele, se traduz na prática em seu território.
“Esses eventos são fundamentais. Você nunca pode dizer que o
milho só dá em São Paulo ou no Rio Grande do Sul, você só sabe experimentando.
Quando eu viajo por aí pego as sementes de outra área para experimentar na
minha terra, por isso já estou produzindo plantas que não são do Amazonas. É
preciso plantar na policultura. Pode observar que na natureza tem plantas de
várias espécies misturadas, então temos que trabalhar dessa mesma forma”,
ressaltou.
Segundo a presidenta do Conselho Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional (Consea), Maria Emília Pacheco,também do núcleo
executivo da ANA, que visitou as experiências em Santarém (PA), ficou provada a
capacidade de trabalho e mobilização das organizações. Agora, complementa, é
preciso fazer uma leitura transversal dessas construções sócio políticas.
“As caravanas mostraram a capacidade de trabalho e
mobilização das organizações. É importante perceber os vários sentidos que
expressaram: as formas de resistência e manifestação de conflitos; a construção
social da agroecologia, mostrando as diferentes percepções das populações com
suas identidades próprias e sua história; a abordagem territorial mais presente
em algumas experiências do que em outras. Lembrando a nossa experiência do
Encontro de Diálogos e Convergências, esse exercício se manifestou mais
claramente nos nexos com as questões da saúde e soberania e segurança alimentar
e nutricional. O contexto do Ano Internacional da Agricultura Familiar, em
2014, poderá representar um importante momento político para a afirmação da
proposta agroecológica”, destacou.
As caravanas permitem de forma
coletiva observar e vivenciar no campo as experiências agroecológicas em suas
dimensões econômicas, sociais, ambientais e culturais, assim como as ameaças
que estas experiências enfrentam para se desenvolver, além de divulgar e
mobilizar a sociedade em favor do tema. Essa é a avaliação de Irene Cardoso,
presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), entidade referência
no meio acadêmico em relação à agroecologia. O agronegócio, a concentração de
terra, os mineriodutos, as barragens e a discriminação, são algumas das ameaças,
complementou.
“O interessante é que vemos tudo isto em um curto espaço de
tempo e em um território. Isto nos permite a visão do todo de forma integrada.
Os percursos ainda permitem o encontro, mesmo que de forma rápida, com parcela
da sociedade que embora já tenha ouvido falar e entenda a necessidade nem
sempre tem a oportunidade de conhecer e entrar em contato com quem está
construindo o movimento e prática agroecológica. As caravanas permitem ainda o
contato com pessoas que nunca ouviram falar sobre agroecologia. Procuramos
assim, criar na sociedade brasileira um ambiente político, social e cultural
que propicie o seu florescimento”, afirmou a também professora da Universidade
Federal de Viçosa (UFV).
Fonte:
http://terradedireitos.org.br/agenda/iii-encontro-nacional-de-agroecologia/
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