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quarta-feira, 19 de março de 2014

III Encontro Nacional de Agroecologia – ENA

O III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) será realizado de 16 e 19 de maio de 2014, em Juazeiro (BA), com o lema “Cuidar da Terra, Alimentar a Saúde, Cultivar o Futuro”. Cerca de 2 mil pessoas de todo o país, dentre elas 70% agricultoras e agricultores, mais diversos segmentos da sociedade, participarão de seminários, debates e atividades culturais.
Uma feira de Saberes e Sabores, com produtos da agricultura familiar e das populações tradicionais, será instalada no centro da Universidade Federal do Vale São Francisco (Univasf), local do evento, com produtos agroecológicos de todas as regiões do país.

Também serão organizadas instalações pedagógicas contando as histórias dos territórios por onde passaram as caravanas agroeocológicas e culturais. Haverá palestras com intelectuais brasileiros e estrangeiros, e um grande show na noite de sábado. Ao final do evento será entregue ao governo uma carta política sobre as discussões nas atividades e demandas do movimento agroeocológico.
Confira a matéria sobre as caravanas agroecológicas e a preparação para o III ENA:
O legado das caravanas agroecológicas rumo ao III Encontro Nacional de Agroecologia
Um processo muito rico e mobilizador, essa é a principal impressão dos participantes e organizadores das Caravanas Agroecológicas e Culturais que ocorreram em todo o país nos últimos meses. Planejadas pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), em parceria com várias organizações locais, fazem parte do processo preparatório rumo ao III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que será realizado de 16 e 19 de maio, em Juazeiro (BA). Cerca de 2.500 pessoas estavam envolvidas nas atividades.
Ao todo foram realizadas oito caravanas, compondo um cenário diversificado do campo agroecológico. Cada região foi representada pelas suas características, principalmente as comidas típicas e manifestações culturais. Divididas por rotas, as visitas às experiências promoveram uma troca de saberes intensa entre os agricultores, técnicos, estudantes, gestores públicos, dentre outros setores da sociedade. Evidenciar as virtudes e dificuldades enfrentadas pelas iniciativas agroecológicas em curso país afora foi um dos objetivos.
Segundo Denis Monteiro, secretário executivo da ANA, as caravanas foram importantes para mostrar a diversidade de experiências agroecológicas realizadas nos territórios e fortalecer os processos de mobilização social nesses locais. A partir dessas realizações, disse Monteiro, diferentes organizações que atuam nos territórios se encontraram e unificaram suas lutas políticas de forma mais consistente.
caravana_zona_da_mata“Foram experiências variadas, um momento para visibilizar essa diversidade e evidenciar queas experiências agroecológicas têm uma contribuição muito importante no desenvolvimento desses territórios. Também foram importantes para evidenciar que tem projetos antagônicos em disputa nesses locais, como o caso da Chapada do Apodi,que é emblemático. Demonstraram que a melhor opção é o fortalecimento das experiências agroecológicas e não a implementação de grandes projetos com uso intensivo de agroquímicos, ou com a implementação de mineração em grandes áreas impactando esses territórios”, disse.
A Articulação tem um trabalho extenso de mapeamento e sistematização de experiências, com uma série de ferramentas, como produção de vídeos, publicações esistema de informação em rede. A proposta da caravana é uma inovação metodológica na ANA, uma forma de mobilizar os atores locais para que eles possam estudar e compreender melhor seu território. Pensar o fortalecimento da agroeocologia, a ampliação da escala das suas experiências, é uma das metas. A expectativa é que outras regiões, estados, organizações e movimentos, em parceria com as universidades e trabalhadores urbanos, realizem outras caravanas.
O acúmulo desse processo está sendo sistematizado em boletins, fotografias, vídeos e outras ferramentas, para dar continuidade e visibilidade ao III ENA, onde todo esse material será apresentado e debatido.As atividades possibilitaram transitar por realidades distintas, como a vida na beira dos rios na Amazônia, os mercados orgânicos na região sul, as lutas pela terra no Tocantins, as violações e desafios impostos pelos grandes projetos no Rio Grande do Norte, dentre outras. Algumasdenúncias apareceram em várias caravanas, como a questão dos agrotóxicos, tão combatida pelos agricultores familiares envolvidos com associações, cooperativas e entidades agroecológicas, assim como o desenvolvimento dos transgênicos.
Segundo Sara Pimenta, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e GT Mulheres da ANA, as mulheres tiveram participação destacada nas caravanas e com grande expectativa se preparam para o III ENA. A expressão dos seus trabalhos na agricultura familiar, envolvimento e protagonismo político na agroecologia estavam presentes em todo o processo, segundo ela.
“Participaram ativamente na organização e das atividades durante as caravanas. Eram camponesas, assentadas da reforma agrária, indígenas, quilombolas, agricultoras familiares, jovens, estudantes, e assessoras técnicas que apresentavam suas experiências, práticas e conhecimentos na defesa da biodiversidade, do patrimônio genético, na produção de alimentos saudáveis e na luta por políticas públicas voltadas para a agroecologia. Seu compromisso manifestado com alegria e entusiasmo, apesar da ação devastadora dos grandes projetos e do agronegócio, demonstrou sua enorme capacidade de resistência e luta em defesa da agricultura familiar, camponesa e da agroecologia”, afirmou Sara.
É na troca de saberes e sabores que o conhecimento se amplia e aperfeiçoa, de forma interdisciplinar e descentralizada. Essa é a impressão de vários agricultores que acompanharam as Caravanas. Participante ativo da caravana da região sul, o agricultor Genildo de Jesus, morador de Manaus (AM), falou sobre a importância de saber o funcionamento dos solos, frutos, manejos, climas, plantas, povos, tudo sobre outros biomas. Essa troca de experiência entre os agricultores, segundo ele, se traduz na prática em seu território.
“Esses eventos são fundamentais. Você nunca pode dizer que o milho só dá em São Paulo ou no Rio Grande do Sul, você só sabe experimentando. Quando eu viajo por aí pego as sementes de outra área para experimentar na minha terra, por isso já estou produzindo plantas que não são do Amazonas. É preciso plantar na policultura. Pode observar que na natureza tem plantas de várias espécies misturadas, então temos que trabalhar dessa mesma forma”, ressaltou.
Segundo a presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Maria Emília Pacheco,também do núcleo executivo da ANA, que visitou as experiências em Santarém (PA), ficou provada a capacidade de trabalho e mobilização das organizações. Agora, complementa, é preciso fazer uma leitura transversal dessas construções sócio políticas.
“As caravanas mostraram a capacidade de trabalho e mobilização das organizações. É importante perceber os vários sentidos que expressaram: as formas de resistência e manifestação de conflitos; a construção social da agroecologia, mostrando as diferentes percepções das populações com suas identidades próprias e sua história; a abordagem territorial mais presente em algumas experiências do que em outras. Lembrando a nossa experiência do Encontro de Diálogos e Convergências, esse exercício se manifestou mais claramente nos nexos com as questões da saúde e soberania e segurança alimentar e nutricional. O contexto do Ano Internacional da Agricultura Familiar, em 2014, poderá representar um importante momento político para a afirmação da proposta agroecológica”, destacou.
As caravanas permitem de forma coletiva observar e vivenciar no campo as experiências agroecológicas em suas dimensões econômicas, sociais, ambientais e culturais, assim como as ameaças que estas experiências enfrentam para se desenvolver, além de divulgar e mobilizar a sociedade em favor do tema. Essa é a avaliação de Irene Cardoso, presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), entidade referência no meio acadêmico em relação à agroecologia. O agronegócio, a concentração de terra, os mineriodutos, as barragens e a discriminação, são algumas das ameaças, complementou.
“O interessante é que vemos tudo isto em um curto espaço de tempo e em um território. Isto nos permite a visão do todo de forma integrada. Os percursos ainda permitem o encontro, mesmo que de forma rápida, com parcela da sociedade que embora já tenha ouvido falar e entenda a necessidade nem sempre tem a oportunidade de conhecer e entrar em contato com quem está construindo o movimento e prática agroecológica. As caravanas permitem ainda o contato com pessoas que nunca ouviram falar sobre agroecologia. Procuramos assim, criar na sociedade brasileira um ambiente político, social e cultural que propicie o seu florescimento”, afirmou a também professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Fonte: http://terradedireitos.org.br/agenda/iii-encontro-nacional-de-agroecologia/

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