Na manhã
desta sexta-feira (17), o Comando Local de Greve dos servidores da Universidade
Federal do Ceará - UFC promoveu um debate sobre Autonomia Universitária e
Paridade, com a participação de representantes do Sindicato dos Docentes das
Universidades Federais do Estado do Ceará - ADUFC, Diretório Central dos
Estudantes - DCE, Federação de Sindicatos dos Trabalhadores em Universidades
Brasileiras - Fasubra e do advogado Clóvis Renato, mediado pela coordenadora
Geral do SINTUFCe, Telma Araújo. Cerca de 110 servidores compareceram à
atividade no Pátio da Reitoria.
O
Presidente da ADUFC-Sindicato, Prof. André Vasconcelos, defendeu a construção
de uma nova realidade na UFC, a partir da união dos três segmentos - alunos,
professores e técnico-administrativos. "Durante algum tempo, as direções
sindicais (Adufc e SINTUFCe) estiveram entregues a esse projeto de
privatização. Agora, temos gestões comprometidas com democratização. Precisamos
avançar para um projeto de educação pública, gratuita e de qualidade", destacou.
André
Vasconcelos comprometeu-se a trabalhar pela união da comunidade universitária e
reforçou a importância de todos estarem empenhados nesse processo.
"Precisamos convencer os professores de que isso é o melhor - nos unirmos
em torno de um projeto que seja bom para a universidade. Precisamos da paridade
e a Adufc está comprometida com isso", acrescentou.
Representando
a Fasubra, Almiram Rodrigues, também coordenador de Comunicação e Imprensa do
SINTUFCe, explicou que a autonomia que a categoria defende é a que só existirá
plenamente com a democratização, com a paridade não somente na eleição para
Reitor, mas também nos Conselhos, Pró-Reitorias, e cargos de direção. "A
gente não quer apenas votar, queremos ser votados. Esses cargos não podem ser
concorridos somente por docentes, mas também por técnicos. Essa é a luta que
vem crescendo e acumulando forças. Nossa proposta é a de ocuparmos os espaços
atualmente exclusivos para professores", explicou Almiram Rodrigues,
destacando que muitos técnico-administrativos já possuem pós-graduação -
especialização, mestrado e doutorado - em gestão, com plenas condições de
contribuir na universidade em cargos, hoje, restritos a docentes.
"O
Conselho Universitário, por exemplo, não tem um mínimo de democracia. Queremos
participar e dividir a gestão da universidade com os docentes. Somos 3.200
técnicos na ativa na UFC e só três pessoas nos representam no Conselho
Universitário. Na hora dos votos, só temos direito a espernear. Temos somente
os nossos votos e dos estudantes, que geralmente estão com a gente. Não temos
como fazer negociação dentro dos conselhos", protestou Almiram.
O
coordenador da Fasubra e do SINTUFCe também lamentou a existência de técnicos
em cargos comissionados que enfraquecem a luta da categoria ao compactuar com o
sistema desigual posto. "Nós chamamos um boicote para a eleição para
Reitor e cerca de 500 companheiros, mesmo assim, votaram. Há um sentimento
entre muitos desses de que estão devendo uma favor a alguém. O que esses
companheiros precisam entender é que, se estão ocupando esses cargos, é porque
eles têm competência", complementou.
Almiram
também falou sobre as negociações junto ao governo em prol da democratização
das universidades. A reivindicação apresentada é por uma alteração na legislação
que trata do processo de escolha dos dirigentes das universidades, e também
pela aprovação do PL 7.398/2006, que trata do Projeto Universidade Cidadã para
os Trabalhadores. Segundo o coordenador, "nosso instrumento, hoje, é esse
projeto de lei e a discussão junto ao Ministério da Educação dentro do GT da
Democratização".
Jurídico
O advogado
Clóvis Renato, assessor sindical do SINTUFCe, encorajou os servidores a
rejeitarem a realidade imposta pelo modelo de administração da universidade e
do governo e a abandonarem a comodidade, sob risco de perderem o que já foi
conquistado. "O capitalismo nunca será compatível com a democracia. Que
democracia é essa que está nos conclamando a estarmos aqui, em que uma lei de
greve não é aprovada, em que a liberdade sindical não passa (no congresso), em
que as manifestações são violentamente reprimidas, em que a negociação coletiva
com o servidor público não acontece, em que o servidor vai para uma mesa de
negociação com o governo e este diz que não pode fazer nada?", provocou.
Segundo o
advogado, estabeleceu-se uma visão hegemônica, em que acredita-se que só quem
sabe o certo a ser feito é quem está no poder. "Mas, na verdade, quem
entende da própria realidade e das soluções necessárias é o trabalhador, que
está na luta e vivenciando. Pergunte o que é a insalubridade para quem trabalha
com pessoas doentes e perto de equipamentos radioativos! Vocês são doutores na
área de vocês, porque ninguém vai entender melhor do que vocês o que é
vivenciado em suas funções e setores. O certo não é, necessariamente, o que
está na lei. A lei veio da luta de vocês", destacou Clóvis Renato.
"Minha
maior intenção é vencer essa indolência. Tem cara que não tá nem aí - para ele,
nem fede, nem cheira. Temos que trazer esse povo pra luta. Como dizia Raul
Seixas, um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só (...e o sonho
que se sonha junto é realidade)! Temos que botar na cabeça que temos que
contribuir nesse processo. Temos que mudar as concepções, abandonar a
indolência e chegar para a luta. Quanta coisa há para lutar!", destacou
Clóvis.
"Por
que a lógica é essa e a gente não faz esse questionamento? Há uma crise e o
corte vem primeiro para a educação. Na hora da crise, começam logo cortando os
direitos dos trabalhadores. Enquanto vocês próprios não entenderem o valor que
vocês têm, vocês não terão valor, não vão se unir e não vão evitar que se perca
o que já foi conquistado. Somos capazes de lutar por democracia em todos os
setores e não devemos aceitar nenhuma postura autoritária em nenhum
lugar", concluiu
Estudantes
Falando em
nome do DCE, o estudante Jackson finalizou as falas dos integrantes da mesa. O
aluno da Faculdade de Economia da UFC lamentou que "ao passo em que a
universidade se expande, mais ela vai sendo tirada da sociedade e dos
trabalhadores". Para ele, "há uma burguesia que opera de forma macro
e também na universidade afetando a democracia. Há um coronelismo exercido pelo
Reitor e pró-reitores que impõem o que querem nesse feudo, que é a
universidade. Só está na direção quem fecha com a política do governo".
O
estudante conclamou os servidores a exigir que isso mude na universidade.
"Eles querem mostrar que somos fracos e que não podemos fazer nada.
Quebram a unidade dos servidores públicos oferecendo bolsas de estudos para que
o estudante ocupe um cargo de servidor. Além disso, fazem isso quando exploram
os terceirizados. Estão precarizando e enfraquecendo a classe. E esse é o
momento de puxar debates e acabar com o marasmo na universidade. Temos que
quebrar coletivamente com essa barreira".
E
complementou: "os estudantes e técnicos não têm demandas específicas? O
Reitor só governa para professores? Sem o voto paritário o Reitor faz o que ele
quiser. O discurso é o de que o sistema público é corrupto e que os professores
e técnicos não querem trabalhar. Mas, como terão motivação para trabalhar sem
uma estrutura decente? Falta até papel e pincel! Precarizam, privatizam e tiram
da população e dos trabalhadores a educação pública e de qualidade. O governo
quer colocar o professor contra o técnico e dividir a categoria. O governo
Dilma não é dos trabalhadores e está pegando pesado fingindo ser. O DCE está
apoiando essa luta e construindo a conscientização dos estudantes contra essa
realidade que encontramos na universidade".
Após as
falas, foi aberto o espaço para as perguntas e considerações dos servidores aos
componentes da mesa. A servidora Rejane, lotada na Pró-Reitoria de Extensão,
pediu que esse tema seja discutido mais vezes e elogiou a iniciativa.
"Estou nessa greve pelas eleições paritárias; e a unidade, nesse momento é
fundamental. O sistema 70-15-15 é uma palhaçada! Sem paridade, não há poder de
decisão. O Reitor já se posicionou e é hora de aproveitarmos essa unidade e
fazermos o documento a ser entregue ao Reitor em defesa da democracia",
defendeu.
A
servidora Ana Maria, lotada na Pró-Reitoria de Graduação, propôs um seminário
para que todos possam compreender bem o que é a paridade e a importância dessa
mudança. "Segundo pesquisa da Universidade de Brasília, de 2012, 37
universidades já optaram pela paridade. A lei não pode ser utilizada como
argumento, visto que tantas universidades não a utilizam", explicou,
defendendo a autonomia também na UFC.
Fonte:
http://www.sintufce.org.br/index.php/noticias/item/857-servidores-e-alunos-debateram-autonomia-universitaria-e-paridade-nessa-sexta-feira
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