"No
imediato pós-segunda guerra mundial, muito poucos países tinham democracia,
vastas regiões do mundo estavam sujeitas ao colonialismo europeu que servira
para consolidar o capitalismo euro-norte-americano, a Europa estava devastada
por mais uma guerra provocada pela supremacia alemã, e no Leste consolidava-se
o regime comunista que se via como alternativa ao capitalismo e à democracia
liberal.
Foi
neste contexto que surgiu na Europa mais desenvolvida o chamado capitalismo
democrático, um sistema de economia política assente na ideia de que, para ser
compatível com a democracia, o capitalismo deveria ser fortemente regulado, o
que implicava a nacionalização de sectores-chave da economia, a tributação
progressiva, a imposição da negociação coletiva e até, como aconteceu na então
Alemanha Ocidental, a participação dos trabalhadores na gestão das empresas. No
plano científico, Keynes representava então a ortodoxia económica e Hayek, a
dissidência. No plano político, os direitos econômicos e sociais (direitos do
trabalho, educação, saúde e segurança social garantidos pelo Estado) foram o
instrumento privilegiado para estabilizar as expectativas dos cidadãos e as
defender das flutuações constantes e imprevisíveis dos “sinais dos mercados”.
Esta
mudança alterava os termos do conflito distributivo mas não o eliminava. Pelo
contrário, tinha todas as condições para o acirrar logo que abrandasse o
crescimento econômico que se seguiu nas três décadas seguintes. E assim
sucedeu.
Desde
1970, os Estados centrais têm vindo a gerir o conflito entre as exigências dos
cidadãos e as exigências do capital, recorrendo a um conjunto de soluções que
gradualmente foram dando mais poder ao capital. Primeiro, foi a inflação
(1970-1980), depois, a luta contra a inflação acompanhada do aumento do
desemprego e do ataque ao poder dos sindicatos (1980-), uma medida
complementada com o endividamento do Estado em resultado da luta do capital
contra a tributação, da estagnação econômica e do aumento das despesas sociais
decorrentes do aumento do desemprego (meados de 1980-) e, logo depois, com o
endividamento das famílias, seduzidas pelas facilidades de crédito concedidas
por um setor financeiro finalmente livre de regulações estatais, para iludir o
colapso das expectativas a respeito do consumo, educação e habitação (meados de
1990-)."(Democracia ou capitalismo?)
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