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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O relato da experiência de um TA da Unilab

A insensibilidade contextual e a opressão: as consequências de um modelo de gestão baseado nos resultados quantitativos, no tecnicismo e na burocracia.
"Início de trabalho depois de três meses de greve por melhores condições de trabalho.
Não há retorno para casa para o mísero servidor que, com seu salário bojudo, não pode comprar um carro próprio.
Não há onde se hospedar na cidade de menos de 30 mil habitantes. A pousada fecha as portas cedo.
Dormir de favor na casa de alguém? Talvez. Mas e se eu não quiser? Estarei errando? Sendo orgulhoso ou apenas revoltado porque me é negado o direito de dormir sob o teto do barraco de minha família?
Apontem-me o dedo à vontade. Eu deixo.
Hoje, cheguei em casa, do trabalho, às duas da madrugada.
E teria, não pela primeira vez, passado a noite no local de trabalho, ou pior, do lado de fora do local de trabalho, ao relento, se não fosse o fato de um professor ter sido também deixado a mercê do, ou da falta de, transporte público. Ele contratou um táxi de Fortaleza e pagou um quantia com certeza absurda pra voltar pra casa. Me concedeu uma carona.
Eu me pergunto: estou errado quando penso que o empregador não pode exigir do empregado o cumprimento de uma jornada de trabalho que vai até às 22h30min, quando sabe que não há transporte para esse empregado retornar ao seu lar? Isso é realmente correto?
Errado estou eu ao pensar que o empregador não pode, mesmo que circunstancialmente, exigir do empregado transporte próprio?
Estou errado quando não quero dar crédito ao argumento que diz que o servidor da Unilab sabia das condições de trabalho e que, portanto, tem de empurrá-las goela abaixo?
Errado estou eu, se reclamo da FALTA de transporte público? Olha que nem estou falando das lotações, dos atrasos, da imprudência na avenida! Imagina! Quem disse que sou tão exigente pra querer que isso mude! Só quero que me respeitem. Ainda que minha contribuição para a Unilab seja pequeníssima. Ainda que minhas atribuições se resumam quase que a atividades operacionais, de simples execução.
Tudo bem. Eu vim pra Unilab porque quis. Tinha um plano lindo: ensinar o Esperanto. Num ambiente tão internacional como a Unilab, o Esperanto encontra terreno fértil. Até comecei. Criei um blogue (www.esperantounilab.net), comprei alguns livros (como o que se vê na imagem abaixo. É um livro que esboça a história do Esperanto na África. Por ironia do destino, só chegou hoje, quatro meses depois que comprei. aff) e ensinei no pátio porque, para projetos não-oficiais, não havia sala. Uma só pessoa se tornou fluente, é verdade. Mas fiquei feliz. Idealistas costumam crer que o amanhã trará frutos melhores.
Pena que idealistas também se desiludem.
Tudo bem. Eu não nasci em um berço de ouro. Desde os 15 anos, precisei e continuo a precisar de uma atividade remunerada.
Mas, de ti, instituição que maltrata o trabalhador, como se pode não desejar não mais precisar?"

(Paulo Silas Rodrigues Sena)

Fonte: http://taeunilab.blogspot.com.br/2014/06/o-relato-da-experiencia-de-um-ta-da.html

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