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sábado, 8 de junho de 2019

Krishnamurti - o libertador da mente


" Eu sustento que a verdade é uma terra não trilhada e que não a alcançareis por nenhum caminho, nenhuma religião, nenhuma seita... não quero seguidores. (14)
"Se houver apenas 5 pessoas que queiram escutar, que queiram viver, que tenham a face voltada para a eternidade, será suficiente. De que serve ter milhares que não compreendem, completamente imbuídos de preconceitos, que não desejam o novo, mas preferem traduzi-lo ao gosto de seus egos estéreis, estáticos?... Desejo que todos os que queiram compreender-me sejam livres, não para me seguirem, não para fazer de mim uma gaiola que se torne uma religião, uma seita. Deverão, antes, estar livres de todos os temores - do medo da religião, do medo da salvação, do medo da espiritualidade, do medo do amor e do medo da morte, do medo da própria vida." (14)
"... propósito declarado de tornar os homens incondicionalmente livres - dos temores e limitações que separam o homem do homem." (16)
"Mantém-se firme na determinação de não nos permitir que evitemos a nossa responsabilidade pela fealdade do mundo que nós mesmos criamos. ( Não é a própria vida o que acha feia. Mostra-se sumamente sensível à beleza natural e a ver com olhos de poeta). 'O mundo está em nós', diz ele, com efeito - e em nós mesmos encontraremos as causas da desordem em que o pusemos, avidez, nacionalismo, competição, intolerância, egoísmo de toda espécie." (16)


"Vocês têm alguma coisa para dizer aos seus semelhantes? Eles o escutam. Mas, antes de mais nada, nunca peçam para serem ouvidos. E muito menos para serem chamados de mestres. Semeiem, é isto já será bastante. Não procurem colher. A colheita talvez não seja sua. Apenas o sol e a chuva são decisivos para as germinaçoes frutíferas. " (contacapa do livro)
"Nem o melhor livro de cozinha pode substituir o pior dos jantares." (20 - Prefácio Aldous Huxley)
"A verdade nunca foi pregada por Buda, porque temos de descobri-la dentro de nós mesmos." (Sutras - p 20)
"Para se compreender a miséria e a confusão existentes em nós mesmos e, portanto, no mundo, temos de encontrar dentro de nós mesmos a clareza que nasce do pensar correto. Tal clareza não se presta à organização, pois não podemos permuta-la entre nós. O pensamento de grupo organizado é puramente maquinal. A clareza não é resultado de asserção verbal, mas de intenso autopercebimento e correto pensar. O pensamento correto nâo é produto ou mero cultivo do intelecto, nem é, tampouco, conforme a padrão algum, por mais digno e nobre que este seja. Ele vem com o autoconhecimento. Se não vos compreenderdes, não tereis base para pensar; sem autoconhecimento, o que pensais não é verdadeiro." (21)
"Pode-se ter esperanças nos homens, mas não na sociedade nem em sistemas religiosos organizados; só em vós e em mim." (21)
"A verdade não pode ser repetida." (21)
"Quando vitais o Bagavad-gita, ou a Bíblia, ou algum livro sagrado chinês, é bem certo que só estais repetindo, não é? E o que estais repetindo não é a verdade. É mentira, porque a verdade não pode ser repetida." A mentira pode ser ampliada, 
aventada, repetida, mas a verdade não. Quando se repete a verdade, ela deixa de ser verdade, e por esse motivo os livros sagrados não têm importância. É pelo 
autoconhecimento, e não pela crença nos símbolos de outra pessoa, que o homem alcança a realidade eterna, na qual se alicerça seu próprio ser. A crença na perfeita eficácia e no valor superlativo de qualquer sistema de símbolos não leva à libertação, e sim à repetição da História, aos mesmos desastres passados. "A crença separa, inevitavelmente. Se tendes uma crença, ou se buscais segurança em vossa crença particular, acabais separado 
daqueles que buscam a segurança noutra forma de crença. Todas as crenças organizadas baseiam-se na separação, 
ainda que preguem a fraternidade." O homem que resolveu satisfatoriamente o problema de suas relações com os 
dois mundos, o dos fatos e o dos símbolos, é um homem sem crenças. Em relação aos problemas da vida prática, 
ele se serve de uma série de hipóteses operacionais, que correspondem aos seus fins, mas não são levadas mais a sério do que qualquer outra espécie de utensílio ou 
instrumento. Em relação aos seus semelhantes e à realidade em que se radicam, tem ele as experiências diretas do amor e da intuição." (22)
"Os homens de boa vontade não devem ter fórmulas, porque as fórmulas, inevitavelmente, só levam a um pensar cego." (23)
"É quase universal a submissão às fórmulas, o que é inevitável, pois nosso sistema de educação está baseado em o que pensar, e não em como pensar." (23)
"Se reagis a um desafio com o velho condicionamento, vossa reação não vos habilitará a compreender o desafio novo. Por consequência, "o que é preciso fazer para enfrentar o novo desafio é despojar-se completamente, desnudar-se de todos os conhecimentos e experiências, para enfrentar-se o desafio de maneira nova". Em outras palavras: os símbolos nunca deveriam ser elevados à categoria de dogmas, e nenhum sistema ser considerado como mais do que um recurso provisório. A crença nas fórmulas e a ação conforme com tais crenças não nos podem levar à solução do nosso problema. "Só pela compreensão criadora de nós mesmos existirá um mundo criador, um mundo feliz, um mundo sem idéias." O mundo em que não existissem idéias seria um mundo feliz, porque seria um mundo livre das poderosas forças 
condicionadoras que impelem os homens a empreenderem ações impróprias." (23)
"A educação que não nos ensina a pensar, mas só o que pensar, é uma educação que requer uma classe governante de pastores e senhores. Mas "a idéia de guiar alguém é anti-social e antiespiritual". Ao homem que a exerce, a liderança traz a satisfação do seu desejo de poder e, aos que são guiados, a satisfação do desejo de certeza e de segurança. O guru fornece uma espécie de ópio. Mas, perguntar-se-á: "E que estais vós fazendo? Não estais atuando como nosso guru?" "Ora" responde Krishnamurti, "eu não estou procedendo como vosso guru, porque, antes de tudo não vos estou proporcionando nenhuma ssatisfação. Não vos estou prescrevendo o que deveis fazer, de momento em momento ou de dia em dia, mas só vos estou mostrando uma coisa; podeis leva-la ou deixa-la aqui, e isso depende de vós e não de mim. Não vos peço coisa alguma, nem vossa veneração, nem vossa lisonja, nem vossos insultos, nem vossos deuses. Eu digo: aqui está o fato; levai-o ou deixai-o ficar. E 
E a maioria de vós o deixará ficar, pela razão muito óbvia de nele não encontrardes satisfação". (24)
"Para encontrar a solução, deve a mente abrir-se à realidade, enfrentar a evidência dos mundos exterior e interior, sem preconceitos ou restrições. ("0 culto de Deus é liberdade perfeita. Reciprocamente, a perfeita liberdade é culto de Deus.") Tornando-se disciplinada, a mente não sofre modificação radical; é o mesmo "eu", porém atado, mantido sob controle." (24)
"Mas o que vos faz escolher? O que vos faz dizer que uma coisa é boa, verdadeira, nobre, e o resto não?" A escolha, evidentemente, baseia-se no prazer, recompensa, ou preenchimento; ou é apenas uma reação do nosso condicionamento ou tradição. Por que 
escolhemos? Por que não examinamos cada pensamento? Quando muitas coisas nos interessam, por que escolhemos 
uma só? Por que não examinamos cada interesse? Por que não deixamos de criar resistência, examinando cada interesse que surge, em vez de nos concentrarmos numa só ideia, num interesse único? Afinal, somos constituídos de muitos interesses, temos muitas máscaras, consciente ou inconscientemente. Por que escolhemos um único interesse, rejeitando todos os outros e consumindo todas as nossas energias no combatê-los, criando assim resistência, conflito e atrito? Se, ao contrário, consideramos cada pensamento que se manifesta - cada pensamento e não só uns poucos pensamentos - nâo haverá exclusão. É muito difÍcil, porém, examinar cada pensamento. Porque, enquanto o consideramos, um outro pensamento se insinua. Mas, se estivermos conscios, sem esforço para dominar ou justificar, veremos que, pelo simples observar daquele pensamento, nâo há intrusâo de nenhum outro. Só quando condenamos, comparamos, cotejamos, se insinuam outros pensamentos." (26)
"Há uma transcendental espontaneidade da vida, uma 'Realidade Criadora', a qual só se revela imanente quando a mente está em estado de 'vigilante passividade', de 'percebimento sem escolha' ". (27)
"O processo libertador deve começar com o "percebimento sem escolha" daquilo que desejais e das vossas reações ao sistema de símbolos que vos diz se deveis ou se não o deveis querê-lo. (...) Esse percebimento sem escolha a cada momento e em todas as circunstâncias da vida é a única meditação eficaz. (...). A verdadeira libertação é "uma liberdade interior da realidade criadora". "Ela não é um dom, tem de ser descoberta e experimentada. Não é uma aquisição que se acrescentará à pessoa para sua glorificação. É um 'estado de ser' silencioso, em que não há "vir a ser", onde há existência completa." (27)
"O saber é um conjunto de símbolos e, na maioria das vezes, um obstáculo à sabedoria, ao descobrimento do "eu", de 
momento a momento. A mente que alcançou a serenidade da sabedoria "conhecerá o ser, saberá o que é amar." (28)
"O amor não é pessoal nem impessoal. Amor é amor, que não pode ser definido ou descrito pela mente como exclusivo ou inclusivo. O amor é sua própria eternidade; o supremo, o imensurável". (28)
"Examinemos a questão, sem julgarmos, sem condenarmos, sem justificarmos." (29)
"Para compreendermos o medo, temos de compreender o desejo, temos de compreender o pensamento." (30)
"Os problemas existenciais básicos estão interrelacionados - não na teoria, mas na prática... Se envolver no processo de análise.... o único meio para se resolver qualquer um de nossos problemas existenciais é ir além do tempo - é 'libertar-se do conhecido'." (30)
"A sua análise do desejo foi bela e cristalina. A percepção causa uma reação sensorial, disse ele; o pensamento intervém -"Eu quero...", "Eu não quero...", "Eu desejo..." - e assim é gerado o desejo. O desejo não é causado pelo objeto de desejo, mas persistirá com diversos objetos enquanto intervier o pensamento. Portanto, não nos libertaremos do desejo suprimindo ou evitando a experiência sensorial (o modo do asceta). O único meio para nos libertarmos do desejo é libertando-nos do pensar." (32-33)

"No momento em que acumulais conhecimentos a respeito de vós mesmos, esses conhecimentos perturbam o percebimento. Quando vos olhais através de uma cortina de conhecimentos que acumulastes acerca de vós mesmos, há desfiguração daquilo que vedes." (38)
"Para conhecer-vos - e deveis conhecer a vós mesmos, de ponta a ponta - o processo de acumulação de conhecimento a respeito de vós mesmos deve terminar; e esse término pode verifica-se quando deixardes de julgar, de avaliar, de condenar, de justificar." (38)
"... ver as coisas claramente como são, sem a desfiguração causada por nosso condicionamento, não é questão de tempo; é uma questão de imediata necessidade." (38)
"Eu acho que não é absolutamente necessário sonhar; isto é um desperdício de energia. Se estais desperto, conscio, sem escolha, momento por momento, e portanto, não estais acrescentando nada ao que antes conhecestes; se estais observando tudo o que vos cerca, bem como todo movimento de pensamento, dentro em vós, descobrireis, então que o sonhar cessa completamente (...). Se não estais semi-adormecidos durante o dia, porém completamente despertos, observando tudo o que se passa dentro de vós - cada movimento de pensamento, cada sentimento, cada reação - descobrireis, então, que quando dormis não sonhais." (39)
"Há violência em todos nós, consciente ou inconscientemente. Existe agressividade, o desejo de ser ou 'vir a ser' algo, o impulso para nos 'expressarmos' custe o que custar, para nos preenchermos sexualmente, nas relações sociais, no escrever, no pintar. Tudo isso são formas de violência." (45)
"Acho que a crise surgida no mundo não é econômica, nem social, porém uma crise na mente, na consciência." (46)
"... tudo isso são evidentes fatos psicológicos e para os compreenderdes não necessitais de ler um único livro de psicologia ou de filosofia, porque tendes o livro dentro de vós, o livro composto pelo homem através dos séculos." (51)
"... se observardes o processo do pensar, sem vos tornar um observador separado da coisa observada; se perceberdes o inteiro movimento de pensamento, sem aceita-lo nem condena-lo - então, essa própria observação dará fim imediato ao pensamento - e a mente, por conseguinte, se tornará compassiva, se achará num estado de constante mutação. " (54)
"Ser livre implica solidão completa - libertação do medo. É só então que somos indivíduos, não é verdade? Só somos indivíduos quando cessa completamente o temor: o temor da morte, da opinião alheia, o temor que reslulta de nossos próprios desejos e ambições, o temor da fustração, o temor do não-ser. O estar só é, sem dúvida, inteiramente diferente do estar em isolamento." (57)
"Ser livre de temor significa, com efeito, estar isento de todo desejo de segurança econômica ou social, ou do desejo de encontrar segurança em nossa experiência pessoal." (58)
"...toda a nossa perspectiva das coisas é prejudicada pelo temor. (...) 
E pode alguém ficar livre do temor por meio de algum exercício, de alguma espécie de disciplina, pelo auto-esquecimento, pela imolação de si mesmo, pelo cultivo de qualquer crença ou dogma, ou pela identificação com uma nação qualquer? 
É claro que nenhuma dessas coisas nos pode dar a libertação do temor, visto o próprio "processo" de imitação, de submissão, de auto-sacrifício, radicar-se no temor; e ao reconhecermos a inutilidade de tudo isso e percebermos como a mente está sempre ocupada em "projetar" defesas, abrigar-se em crenças e conhecimentos e em todas essas coisas está sempre emboscado o temor." (58-59)
"... o que cada um de nós pode fazer, porém, é tornar-se bem conscio do temor, sem lutar contra ele, sem analisa-lo, e, portanto, sem levantar defesas. 
E quando a mente se acha de fato muito tranquila, passivamente conscia de todas as formas de terror que surgem, e sem empreender nenhuma ação contra elas, nessa quietude, existe a possibilidade de se dissolver o temor, sendo esta a única revolução real, fundamental; e, então, há individualidade. Enquanto há temor, não há singularidade, individualidade." (59)
"Porque só quando não existe temor pode existir amor." (60)
"A maioria de nós, porém, anda sempre com a mente agitada, cheia de problemas, numa eterna busca de segurança; e como pode a mente, em tais condições, ser inde- 
pendente, livre de influências e temores? Como pode ela compreender aquela força criadora, aquela realidade qualquer que ela seja ou descobrir se ela existe ou não existe? 
Só quando a mente está inteiramente livre de temor há a possibilidade de realizar-se uma revolução fundamental a qual nada tem em comum com a revolução econômica ou política; e para se ser livre de temor não se requer presteza de raciocínio, mas vigilância constante, e um considerável percebimento, paciente, persistente, do inteiro processo do pensamento, o qual pode ser observado apenas nas relações, em nossas atividades de cada dia. 
O autodescobrimento se realiza pela compreensão do que é, e o que é o processo real do pensamento em qualquer momento que passa. Isso, positivamente, é meditação, e requer uma tranqüilidade de espírito em que não haja exigência alguma.
Somente quando começamos, vós e eu, a conhecer a nós mesmos, a mente pode estar livre de temores, e só então há a possibilidade não apenas de paz interior, mas de felicidade exterior para o homem." (60-61)
"O que é justo e o que é injusto hão de variar sempre em conformidade com o condicionamento e a experiência de cada pessoa, e têm, por conseguinte, importância muito reduzida; mas saber-se a todas as horas o que é verdadeiro 
- isso, sem dúvida, é de grande relevância." (61)
"Saber, porém, a todas as horas o que é verdadeiro, conhecê-lo inteiramente, profundamente, isso não é nenhuma opinião, nem raciocínio, nem dogma. O que é verdadeiro não depende de crença alguma. Descobrir o que é verdadeiro é compreender que é, momento por momento - isso exige muita vigilância, isenta de julgamento ou comparação; exige uma mente aberta, para observar e para sentir." (62)

"Embora eu reconheça sentir-me lisongeado pela admiração e suscetível à crítica, a minha mente continua a ser 
governada por essas influências; ela é atraída ou repelida, como a agulha da bússola em presença do magneto. Qual é o primeiro passo para sermos realmente livres?" (63-64)
"A dificuldade está em que quereis ser livres; não quereis, porém, compreender o problema. Sois infenso tanto à lisonja como a crítica. Desgosta-vos o ser criticado; mas, ao mesmo tempo, se bem que desejais ser insinuante, ser admirado, sentis desprezo por vós mesmo, por serdes tão infantil; desejais, por isso, livrar-vos das duas coisas.
E o resultado é que ficais com três problemas, não é verdade? É o que todos nós fazemos: quando temos um problema que não sabemos resolver, acrescentamos-lhe outros e ficamos multiplicando problemas, sucessivamente. 
Nessas condições, qual é a nossa questão? A questão não é a de acharmos a maneira de não sermos influenciados pela admiração nem pela crítica, mas, sim: por que desejamos ser admirados, por que nos importamos tanto quando somos criticados? 
Este é que é o problema, não achais? Por que desejais admiração? Porque o ser admirado vos faz feliz, dá-vos estímulo, faz-vos trabalhar melhor. Desejais que vos estimulem por não vos sentir seguro em vós mesmo, e necessitais, por isso, do amparo de outros; e sois susceptível à 
crítica porque ela nos revela o que sois. 
Tal é a razão por que estais sempre fugindo à crítica e desejoso de admiração, de estímulo, de lisonja; assim, mais uma vez, vos vedes envolvido na batalha do querer e do não querer. 
Tudo isso indica, sem dúvida, uma pobreza interior do vosso ser, não é verdade? Não há um sentimento profundo de confiança. 
Não me refiro à arrogante confiança da experiência, que é apenas um meio de fortalrcer o 'eu' e, portanto, sem muita significação. Refiro -me à confiança que resulta do compreenderdes a vós mesmo, do perceberdes todo o significado da admiração, do estímulo, da crítica. 
A compreensão ae vós mesmos não depende de ninguém; ela se apresentará se estiverdes muito vigilante, atento encontrando-vos com o que é em cada momento que passa e abstendo-vos de julga-lo. 
O autoconhecimento proporciona uma confiança em que o "eu" não se torna importante. Não é a confiança do "eu" 
que acumulou considerável experiência, ou do "eu' que possui um grande depósito no banco, ou do "eu" que tem um vasto cabedal de conhecimentos. Nisso não existe confiança e, sim, só e sempre, temor. 
Entretanto, quando a mente começa a tornar-se conscia de si mesma e das suas reações, quando percebe todas as suas atividades, momento por momento, sem inclinação para a comparação ou o julgamento, então, desse conhecimento, resulta uma confiança inteiramente livre do "eu". 
Essa mente não busca a admiração nem evita a crítica; já Ihe não importa nem uma nem outra coisa, pois a cada momento encontra libertação na compreensão do que é. 
O que é é a reação, a réplica (response), o impulso, o desejo da mente, em qualquer momento dado; e se observardes realmente o que é, se vos tornardes conscios de verdes realmente o que é, 
todo o seu conteúdo, sentireis a presença de uma liberdade extraordinária, manifestando-se sem que a mente a tenha procurado. 
Quando a mente busca a liberdade, o que está querendo é livrar-se de alguma coisa. e isso não é liberdade nenhuma, senão, unicamente, uma reação semelhante à revolução política, que é uma reação contra o regime vigente. 
A liberdade surgida com a compreensão do que é não representa reação contra alguma coisa; e uma libertação criadora e, por conseguinte, completa em si mesma. 
Mas a compreensão do que é exige muito discernimento, muita tranquilidade mental. A liberalidade não resulta de nenhuma espécie de compulsão, de nenhuma atração, de nenhum desejo; pode manifestar-se, apenas, quando a mente percebe sem julgamento, sem escolha, de modo que a cada momento se vê a si mesma tal como é. 
A mente que busca liberdade nunca a encontrará, pois procurar liberdade significa barrar, afastar o que é; mas, 
quando a mente começa a compreender o que é, sem escolha, essa própria compreensão produz uma descarga 
criadora, que é liberdade. 
A lilberdade é ímpar, ela é a verdadeira individualidade, e nela se encontra a verdadeira bem-aventurança." (65-66)
"Toda mudança operada por ajustamento, compulsão ou temor não é transformação nenhuma." (66)
"Se a mente puder estar quieta, atenta para o que se acha entre as palavras, se puder por-se em tal estado de 'afinação', será então capaz de "escutar" integralmente, na totalidade; e é esse escutar, possivelmente, que traz a revolução, e não o esforço consciente para compreender." (69)
"Se prestais atenção ao que estou dizendo e o segues sem esforço, encontrareis a solução correta; e o descobrimento é a revolução no centro." (71)
"Liberdade de uma determinada qualidade não é liberdade nenhuma, e o homem livre de algo assemelha-se ao homem que está contra o governo: enquanto está contra alguma coisa não é um homem livre. A liberdade é completa em si; não resulta de alguma atitude, não é contra algum estado ou qualidade." (78)

Amor por J. Krishnamurti
"A necessidade de segurança nas relações gera inevitavelmente o sofrimento e o medo. Essa busca de segurança atrai a insegurança." (79)
"Em todo o mundo, certos homens chamados "santos" sempre sustentaram que olhar para uma mulher é pecaminoso; dizem que não podemos aproximar-nos de Deus se nos entregamos ao sexo e, por conseguinte, o negam, embora eles próprios se vejam devorados por ele. Mas, 
negando o sexo, esses homens arrancam os próprios olhos, decepam a própria língua, uma vez que estão negando toda a beleza da Terra. Deixaram famintos os seus corações e a sua mente; são entes humanos "desidratados"; baniram a beleza, porque a beleza está ligada à mulher." (80)
"Assim, para examinarmos a questão do amor o que é o amor devemos primeiramente libertar-nos das incrustações dos séculos, lançar fora todos os ideais e ideologias sobre o que ele deve ou não deve ser. Dividir qualquer 
coisa em o que deveria ser o que é é a maneira mais ilusória de enfrentar a vida. 
Ora, como iremos saber o que é essa chama que denominamos amor - não a maneira de expressa-lo a outrem, porém o que ele próprio significa? Em primeiro lugar, rejeitarei tudo o que a Igreja, a sociedade, meus pais e amigos, todas as pessoas e todos os livros disseram a seu respeito, porque desejo descobrir por mim mesmo o que ele é. Eis um problema imenso, que interessa a toda a humanidade; há milhares de maneiras de defini-lo e eu próprio me vejo todo enredado neste ou naquele padrão, conforme a coisa que, no momento, me dá gosto ou prazer. Por conseguinte, para compreender o amor, não devo em primeiro lugar libertar-me de minhas inclinações e preconceitos? Vejo-me 
confuso, dilacerado pelos meus próprios desejos e, assim, digo entre mim: "Primeiro, dissipa a tua confusão. Talvez 
tenhas possibilidade de descobrir o que é o amor através do que ele não é." (81)
"O governo ordena: "Vai e mata, por amor à pátria!" Isso é amor? A religião preceitua: "Abandona o sexo, pelo amor de Deus". Isso é amor? O amor é desejo? Não digais que não. Para a maioria de nós, é; desejo acompanhado de prazer, prazer derivado dos sentidos, pelo apego e o preenchimento sexual. Não sou contrário ao sexo, mas vede o que ele implica. O que o sexo vos dá momentaneamente é o total abandono de vós mesmos, mas, depois, voltais à vossa agitação; por conseguinte, desejais a constante repetição desse estado livre de preocupação, de problema, do "eu". Dizeis que amais vossa esposa. Nesse amor está implicado o prazer sexual, o prazer de terdes uma pessoa em 
casa para cuidar dos filhos e cozinhar. Dependeis dela; ela vos deu o seu corpo, suas emoções, seus incentivos, um certo sentimento de segurança e bem-estar. Um dia, ela vos abandona; aborrece-se ou foge com outro homem, e eis destruído todo o vosso equilíbrio emocional; essa perturbação, de que não gostais, chama-se ciúme. Nele existe sofrimento, ansiedade, ódio e violência. Por conseguinte, o que realmente estais dizendo é: "Enquanto me pertences, eu te amo; mas, tão logo deixes de pertencer-me, começo a odiar-te. 'Enquanto posso contar contigo para satisfação de minhas necessidades sociais e outras, amo-te, mas, tão logo deixes de atender às minhas necessidades, não gosto mais de ti'. Há, pois, antagonismo entre ambos, há separação, e quando vos sentis separados um do outro, não há amor. Mas, se puderdes viver com vossa esposa sem que o pensamento crie todos esses estados contraditórios, essas intermináveis contendas dentro de vós mesmos, talvez então - talvez- sabereis o que é o amor. Sereis então completamente livre, e ela também; ao passo que, se dela dependeis para os vossos prazeres, sois seu escravo. Portanto, quando uma pessoa ama, deve haver liberdade a pessoa deve estar livre, não só da outra, mas também de si própria. 
No estado de pertencer a outro, de ser psicologicamente nutrido por outro, de outro depender em tudo isso existe sempre, necessariamente, a ansiedade, o medo, o ciúme, a culpa, e enquanto existe medo, não existe amor. A mente que se acha nas garras do sofrimento jamais conhecerá o amor; o sentimentalismo e a emotividade nada, absolutamente nada, têm que ver com o amor. Por conseguinte, o amor nada tem em comum com o prazer e o desejo." (82)
"O amor não é produto do pensamento, que é o passado. O pensamento não pode de modo nenhum cultivar o amor. O amor não se deixa cercar e enredar pelo ciúme; porque o ciúme vem do passado. O amor é sempre o presente ativo. Não é "amarei" ou "amei". Se conheceis o amor, não seguireis ninguém. O amor não obedece. Quando se ama, não há respeito nem desrespeito." (83)
"Não sabeis o que significa amar realmente alguém - amar sem ódio, sem ciúme, sem raiva, sem procurar interferir no que o outro faz ou pensa, sem condenar, sem comparar não sabeis o que isso significa? Quando há amor, há comparação? Quando amais alguém de todo o coração, com toda a vossa mente, todo o vosso corpo, todo o vosso ser, existe comparação? Quando vos abando- 
nais completamente a esse amor, não existe "o outro". 
O amor tem responsabilidades e deveres, e emprega tais palavras? Quando fazeis alguma coisa por dever, há nisso amor? No dever não há amor. A estrutura do dever, na qual o ente humano se vê aprisionado, o está destruindo. Enquanto sois obrigado a fazer uma coisa, porque é vosso dever fazê-la, não amais a coisa que estais fazendo. Quando há amor, não há dever nem responsabilidade." (83)
" Zelar, com efeito, é cuidar como se cuida de uma árvore ou de uma planta, regando-a, estudando as suas necessidades, escolhendo o solo mais adequado, trata-la com carinho e ternura; mas quando preparais os vossos filhos para se adaptarem à sociedade, os estais preparando para serem mortos. Se amásseis vossos filhos, não haveria guerras." (84)
"Mas, se desejais continuar a descobrir, vereis que o medo não é amor, a dependência não é amor, o ciúme não é 
amor, a posse e o domínio não são amor, responsabilidade e dever não são amor, autocompaixão não é amor, a agonia de não ser amado não é amor, que o amor não é o oposto do ódio, como também a humildade não é o oposto da vaidade. Dessarte, se fordes capaz de eliminar tudo 
isso, não à força, porém lavando-o assim como a chuva fina lava a poeira de muitos dias depositada numa folha, então, talvez, encontrareis aquela flor peregrina que o homem sempre buscou sequiosamente. 
Se não tendes amor não em pequenas gotas, mas em abundância; se não estais transbordando de amor, o mundo irá ao desastre. Intelectualmente, sabeis que a unidade humana é a coisa essencial e que o amor constitui o único caminho para ela, mas quem pode ensinar-vos a amar? 
Poderá uma autoridade, um método, um sistema ensinarvos a amar? Se alguém vo-lo ensina, isso não é amor." (85)
"Podeis dizer: "Eu me exercitarei para o amor. Sentar-me-ei todos os dias para refletir sobre ele. Exercitar-me-ei para ser bondoso, delicado e me forçarei a ser atencioso com os outros"? Achais que podeis disciplinar-vos para amar, que 
podeis exercer a vontade para amar? Quando exerceis a vontade e a disciplina para amar, o amor vos foge pela janela. Pela prática de um certo método ou sistema de amar, podeis tornar-vos muito hábil, ou mais bondoso, ou entrar num estado de não-violência, mas nada disso tem algo em comum com o amor." (86)
"Neste mundo tão dividido e árido não há amor, porque o prazer e o desejo têm a máxima importância, e, todavia sem amor, vossa vida diária é sem significação. Também, não podeis ter o amor se não tendes a beleza. A beleza não é uma certa coisa que vedes - não é uma bela árvore, um belo quadro, um belo edifício ou uma bela mulher; só há beleza quando o vosso coração e a vossa mente sabem o que é o amor. Sem o amor e aquele percebimento da beleza, não há virtude, e sabeis muito bem que tudo o que fizerdes - melhorar a sociedade, alimentar os pobres - só criará mais malefício, porque, quando não há amor, só há fealdade e pobreza em vosso coração e vossa mente. Mas, quando há amor e beleza, tudo o que se faz é correto, 
tudo o que se faz é ordem. Se sabeis amar, podeis fazer o que desejardes, porque o amor resolverá todos os outros problemas. 
Alcançamos, assim, este ponto, poderá a mente encontrar o amor sem precisar de disciplina, de pensamento, de coerção, de nenhum livro, instrutor ou guia - encontra-lo assim como se encontra um belo por-de-sol?" (86)
"Uma coisa me parece absolutamente necessária: a paixão sem motivo, a paixão não resultante de compromisso ou ajustamento, a paixão que não é lascívia. O homem que não sabe o que é paixão jamais conhecerá o amor, porque o amor só pode existir quando a pessoa se desprende totalmente de si própria.
A mente que busca não é uma mente apaixonada, e não buscar o amor é a única maneira de encontra-lo; encontra-lo inesperadamente e não como resultado de qualquer esforço ou experiência. Esse amor, como vereis, não é do tempo; ele é tanto pessoal como impessoal, tanto um só como multidão. Como uma flor perfumosa, podeis aspirar-Ihe o perfume, ou passar por ele sem o notardes. Aquela 
flor é para todos e para aquele que se curva para aspira-la profundamente a olha-la com deleite. Quer estejamos muito perto, no jardim, quer muito longe, isso é indiferente à flor, porque ela está cheia de seu perfume e pronta a reparti-lo com todos. 
O amor é uma coisa nova, fresca, viva. Não tem ontem, nem amanhã. Está além da confusão do pensamento. Só a mente inocente sabe o que é o amor, e a mente inocente pode viver no mundo não inocente. Só é possível encontra-la, essa coisa maravilhosa que o homem sempre buscou sequiosamente por meio de sacrifícios, de adoração, das 
relações, do sexo, de toda espécie de prazer e de dor, só é possível encontra-la quando o pensamento, alcançando a compreensão de si próprio, termina naturalmente. O amor não conhece oposto, não conhece conflito." (86)
"O que realmente desejais é segurança, não é verdade? Nisso consiste toda a busca do pensamento - ser diferente, mais hábil, mais penetrante, mais engenhoso. Nesse processo o que quereis é achar uma profunda segurança, não? Mas tal coisa existe de fato? A segurança nega a or- 
dem. Não há segurança nenhuma nas relações, na crença, na ação, e por a procurarmos é que criamos desordem. 
Segurança gera desordem, e ao encarardes a crescente desordem existente em vós mesma, quereis por-lhe fim." (92)
"Na área da consciência, com suas fronteiras, largas e estreitas, o pensamento está sempre à procura de um lugar seguro. E assim, o pensamento está criando desordem; a ordem não é produto do pensamento. Quando termina a 
desordem, começa a ordem. O amor não se encontra nas regiões do pensamento. Como a beleza, ele não pode ser retocado com um pincel. Temos de abandonar toda a desordem em nós existente." (92)
"Quando ouvimos com o coração, o mundo se enche de som e os olhos veem claramente." (94)
"Toda aceitação - não importa se em nome de Deus, se em nome do socialismo ou de outra coisa - é suicídio." (95)
"... viver só para si, separadamente, secretamente, exigindo a continuação do prazer, é provocar a separação da morte. Na separação não há amor. O amor não tem identidade. O prazer e a busca do prazer erguem em torno de nós a muralha da separação. Não há morte quando 
cessa a aceitação. O autoconhecimento é a porta que está sempre abertas." (95)
"Meditação é a cessação da palavra. O silêncio não é suscitado por uma palavra, que é pensamento. A ação oriunda do silêncio difere totalmente da ação nascida da palavra; meditação é a libertação da mente de todos os símbolos, imagens e lembranças." (96)
"Psicologicamente, criamos muralhas em torno de nós, muralhas de defesa, muralhas de esperança, de medo, de 
avidez, inveja, ambição, desejo de posição, poder, prestígio. Essas muralhas são criadas pelo pensador. O pensador criou ao redor de si o espaço em que vive e, por isso, nunca é livre. A beleza não é apenas a coisa que vedes; esta constitui uma pequeníssima parte da beleza. A beleza, 
não é resultado do pensamento, não é formada pelo pensamento. Onde há amor, afeição, não há lugar para o pensamento. Onde se encontra o ciúme, a inveja, a avidez, a ambição e o orgulho, não se encontra o amor. Todos sabemos disso. Mas, para descobrirmos o que significa 
amar, tem de haver, necessariamente, liberdade, temos de estar livres de todo tormento, do ciúme, da inveja. Então, o 
descobriremos. 
Da mesma maneira, o ser livre supõe a não-existência de barreiras psicológicas criadas pelo centro. Liberdade significa espaço. A liberdade supõe também a cessação do tempo, não abstratamente, porém de fato. Liberdade significa viver integralmente hoje, depois de se ter compreendido toda a estrutura, a natureza, o significado do passado. O passado é o consciente e também o inconsciente. Uma vez compreendido ele, o que há é só o presente ativo - o viver. Pode isso acontecer, realmente, em nossa vida diária? Posso exercer minha profissão, livre do tempo psicológico, livre da avidez, da inveja e da ambição? Se não posso 
serei então escravo para sempre." (104)
"A rotina, o tédio, o absurdo de passar a vida num detestado escritório, ou numa fabrica a produzir carros ou botões ou o que quer que seja, é uma coisa medonha. Embora a automação e a ciência da cibernética venham futuramente a melhorar a condição do homem, contudo ainda temos de viver esta vida de rotina e trivialidade. E, porque nenhuma significação tem ela, tratamos de fugir para toda espécie de diversão, inclusive a igreja. Mas, se a pessoa está conscia desse processo total do viver e percebe o 
significado do tempo, como pensamento, então o tempo cessa. Isso não se consegue por meio da vontade, nem 
pelo exigir ou desejar, porém, tão só quando se percebe, em seu todo, o significado do tempo. Essa percepção não é alcançada pelo "observador", porém pela vigilância, pela atenção total." (104-105)
"Necessitais de tempo, de muitos dias, de muitos meses no Oriente se diz "de muitas vidas" para atingir o inatingível. É certo isso? Quereis dizer que desejais viver com vossas aflições e sofrimentos, dia por dia, para gradualmente vos libertardes de tudo. . . dentro de uns dez anos? Direis a mesma coisa se tiverdes uma violenta dor de dentes "livrar-me-ei dela gradualmente?". Ou, pode o sofrimento terminar instantaneamente, não no tempo, não na duração? E que é isso que dura? Se dizeis: "Ora, daqui a dez anos, ou mesmo 
amanhã, serei feliz, serei diferente do que hoje sou" que sois hoje? Um feixe de idéias, memórias! palavras, experiências; resultado de propaganda, de influências sociais, de condições econômicas, do clima, dos trajos, da alimentação. Sois o resultado de tudo isso, um feixe de memórias. É isso que quereis perpetuar para, afinal, vos transformardes num 
belo Deus ou numa borboleta...
Parece-me que, por esse caminho, nunca se chega ao fim do sofrimento. A evolução não tornou o homem, em nada, mais brilhante, inteligente, livre. Na história humana já se travaram, nos últimos cinco mil e quinhentos anos, cerca de quinze mil guerras - quase três guerras por ano! - e 
continuamos pelo mesmo caminho. Podemos ter meios de comunicação mais abundantes e confortáveis, mais lazeres, melhores banheiros, carros e roupas melhores, alimentação mais sadia, mas, a outros respeitos, há algum progresso? Ora, por certo, é preciso que o tempo cesse, para aparecer uma coisa nova. O que tem continuidade nunca é criador. Só quando termina o tempo se verifica a criação; e 
a mente que depende de ontem, hoje e amanhã, como meio de alcançar alguma coisa, vive em extremo e irremediável desespero." (107)
"Interrogante: Para aprender, temos de estar inteiramente no agora, e fora do tempo. 
Krishnamurti: Exato. O aprender está fora do tempo. Se não tratamos de aprender, satisfazemo-nos então com teorias. Por favor, não deis explicações. Sobre tudo isso já se escreveram volumes, expuseram-se teorias sem conta, mas aquele que age, aquele que vê e age, já se acha muito além 
de todas as palavras e volumes e teorias, e de todos os deuses. 

Interrogante: Esse estado de atenção completa, essa total concentração de energia é permanente? 
Krishnamurti: Não, minha senhora. Que vontade temos de que tudo seja permanente! Queremos relações permanentes, uma esposa permanente, um marido permanente, uma relação permanente no tocante às idéias, à ação, a 
tudo. Só o que é mecânico deve ser permanente, funcionar sempre com precisão. Há na vida alguma coisa permanente - vossas idéias, vossas relações, alguma coisa? Talvez a vossa casa seja permanente; entretanto, ela própria pode não ser permanente - pois há terremotos. Existe alguma coisa psicologicamente permanente, inclusive vossos deuses, vossas crenças, vossas diversões? Por certo, não há nada permanente; no entanto, a mente está sempre a exigir permanência, segurança, porque tem horror à incerteza. O viver nesse estado de incerteza requer muito equilíbrio e compreensão; se não o indivíduo se tornará neurótico. Só quando se desembaraça do desejo de permanência, a mente é livre, porque não existe, neste mundo de Deus, ou interiormente, em nós mesmos, nada de permanente. Nem vossa própria alma é permanente: isso é invenção dos sacerdotes." (111)
"O atemporal só pode ter existência quando cessa a memória, que é o "eu" e o "meu'. Se percebeis a verdade aí contida - isto é, que através do tempo não se pode compreender ou captar o atemporal - podemos então entrar no problema da memória. A memória de coisas técnicas é essencial; mas a memória psicológica, a que mantém o 'eu.' e o "meu", a que dá identificação e continuidade pessoa, essa é de todo prejudicial à vida e à realidade. (...) (Idem. p. 114)" (117)
"São sutis as atividades de acumulação; a acumulação é a afirmação do "eu", tal como o é a imitação. Chegar a uma conclusão é levantar o individuo uma muralha ao redor de si mesmo, uma proteção segura, que obsta à compreensão." (118)
"... acompanhar o célebre movimento da vida, (...) de uma vigilância profunda e flexível." (118)
"A função do cérebro é registrar como faz um computador. Ele registra o prazer, e o pensamento o provê de energia e do impulso para perseguir o prazer. (...) Então o pensamento diz que tem que haver mais, e persegue esse "mais". (...) É possível registrar só aquilo que é absolutamente necessário e nenhuma outra coisa? Nós registramos continuamente tantas coisas desnecessárias, e dessa maneira erigimos a estrutura do "eu,", do "mim" mesmo -
'eu' me sinto lastimado; "eu," não sou o que deveria ser (...) A totalidade deste registrar é uma ação que outorga a importância ao "eu".(...)" (118)
"A verdade só pode existir onde não há acumulação (...) imitação. " (118)
"A meditação é a purificação da mente de todas as suas acumulações; é expurgá-la da capacidade de adquirir, de identificar, de 'vir a ser'; expurgá-la da expansão do "eu", do preenchimento do "eu". A meditação é o libertar a mente da memória, do tempo. O pensamento é produto do passado (...) O pensamento é a continuidade dessa atividade acumuladora que é o "vir a ser", e nenhum resultado é capaz de compreender ou sentir aquilo que não tem causa. O que se pode formular não é o Real, e a palavra não é a 'experiência'. A memória, a criadora do tempo, é um obstáculo entre nós e o Atemporal" (119)
"Estamos considerando da memória psicológica, não a memória relativa à linguagem, aos fatos, ao desenvolvimento de uma técnica, etc." (119)
"O ansiar é sempre atividade acumuladora e dependente do tempo; o desejo de um objetivo, (...) de sabor, de experiência, desenvolvimento, preenchimento, até mesmo o desejo de Deus ou da Verdade, é um empecilho. Deve a mente expurgar-se de todos os empecílios por ela criados, para que surja a suprema sabedoria." (119)
"Perg. Que entende o senhor por vulgar? 
Krish. Ser como o resto dos homens; com as mesmas aflições, a mesma corrupção, violência, brutalidade, indiferença, insensibilidade. Querer uma colocação, apegar-se a ela, quer sejamos competentes, quer não, morrer no emprego. Eis o que se chama "ser vulgar" - nada ter de novo, original, nenhuma alegria na vida; não ter curiosidade, não ser "intenso", apaixonado, não procurar esclarecer-se, mas meramente conformar-se. É isso o que entendo por "ser vulgar", "ser burguês". Uma maneira mecânica de viver, uma rotina, tédio." (122)
"Estivemos considerando (...) . A mente vulgar, estreita, superficial, está sempre a buscar mais e mais experiências. Por "mente vulgar" entendo aquela que está sempre e só interessada em si própria, em suas atiutdades egocêntricas, a mente pouco profunda." (...) Essa mente vulgar pode ser muito engenhosa, erudita, possuir uma grande capacidade técnica e analítica, entretanto permanece vulgar, superficial, desprezível, quer dizer, essencialmente 'burguesa'" (122)
"O aprender não aproximará de vós a Verdade. E só a mente que se acha numa jornada de descobrimento constante, (...) que não está acumulando, que está morta para tudo o que ontem acumulou e está, portanto, nova, purificada, livre - só essa mente é capaz de descobrir o verdadeiro e promover uma revolução neste mundo. Só ela é capaz de amor e compaixão." (123)
"Ser verdadeiramente crítico não é estar em oposição. Nós, em maioria, fomos adestrados a nos opormos e não a 
criticar. (...) A verdadeira crítica está em tentar-se compreender o pleno significado dos valores, sem o obstáculo das reações defensivas." (129)
"Só quando a mente está vazia existe a possibilidade de criação." (131)
"A realidade é algo que devemos sentir, é não um objeto de especulação. Mas só podemos senti-la depois de a mente-coração haver cessado de acumulado." (132)
"... preconceito, opinião, experiência e saber impede-nos o olhar." (132)
"A compreensão do processo de pensar é meditação." (132)
"(. . .) Agora, para esvaziar o consriente o que significa compreender, no seu todo, o "estado do ser", (...) de consciência - temos de ver de que ele se compõe, temos de 
estar cônscios das várias formas de condicionamento, que são as memórias da raça, família, grupo, etc., as várias 
experiências que não se completaram." (133)

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