Denominam-se Vedas as quatro
obras, compostas em um idioma chamado Sânscrito védico, de onde se originou
posteriormente o sânscrito clássico. Inicialmente, os Vedas eram transmitidos
apenas de forma oral por que . Ainda hoje, em algumas regiões da Índia, como
Kerala, há escolas védicas onde as crianças aprendem de cor o seu conteúdo.[1]
Há muitas dúvidas sobre a época em
que os Vedas foram compostos. Até recentemente, aceitava-se que eles teriam
sido elaborados por volta de 1500 a.C. Mas essa datação se baseava apenas em
evidências linguísticas e na teoria da invasão ariana, que tem sido colocada em
dúvida.[2] Pode ser que sua composição tenha se iniciado por volta de 2000
a.C., ou mesmo antes.
Os Vedas formam a base do extenso
sistema de escrituras sagradas do hinduísmo, que representam a mais antiga
literatura de qualquer língua indo-europeia. A palavra Veda, em sânscrito, da
raiz विद् vid- (reconstruída como sendo derivada do proto-indo-europeu weid-) que
significa conhecer, escreve-se वेद veda no alfabeto devanágari e
significa "conhecimento". É a forma guna da raiz vid- acrescida do
sufixo nominal -a.
São estes os quatro Vedas:
Rigveda ("veda dos
hinos")
Yajurveda ("veda do
sacrifício")
Samaveda ("veda dos cantos
rituais")
Atarvaveda
Muitos historiadores consideram os
Vedas os textos sobreviventes mais antigos. Estima-se que as partes mais novas
dos vedas datam a aproximadamente 1000 a.C.; o texto mais antigo (Rigveda)
encontrado é, atualmente, datado a aproximadamente 1500 a.C. ou 2000 a.C., mas
a maioria dos indólogos concordam com a possibilidade de que uma longa tradição
oral existiu antes disso. Representam o mais antigo extrato de literatura
indiana e, de acordo com estudantes modernos, são escritos em uma forma de
linguagem que evoluiu no sânscrito. Eles consideram o uso do sânscrito védico
como a linguagem dos textos um anacronismo, embora seja geralmente aceita.
Conteúdo
Os vedas consistem de vários tipos
de textos, todos datando aos tempos antigos. O núcleo é formado pelos mantras
que representam hinos, orações, encantações, mágicas e fórmulas, rituais,
encantos etc. Os hinos e orações são endereçados a uma grande quantidade de
deuses (e algumas deusas), dos quais importantes membros são Rudra, Varuna,
Indra, Agni, etc. Os mantras são suplementados por textos relativos aos rituais
sacrificiais nos quais esses mantras são utilizados e também textos explorando
os aspectos filosóficos da tradição ritual, narrativas e muito mais
Organização
Os mantras são colecionados em
antologias chamadas de Samhitas. Existem quatro Samhitas: Rk (poesia), Sāman
(música), Yajus (oração), e Atharvan (um tipo de sacerdote). Refere-se
normalmente a eles como Rigveda, Samaveda, Iajurveda, e Atarvaveda respectivamente.
Cada Samhita é preservado em um número de versões (shakhas), sendo que as
diferenças entre elas são mínimas, exceto no caso do Iajurveda, onde as duas
versões "brancas" (shukla) contém somente os mantras, enquanto as
quatro versões "negras" (krishna) entremearam os brâmanas junto aos
mantras.
O Rigveda contém a mais antiga
parte dos textos, e consiste de 1028 hinos. O Samaveda é mais um arranjo do
Rigveda para música. O Iajurveda dá orações sacrificiais e o Atarvaveda dá
encantos, encantamentos e fórmulas mágicas. Separadamente destes, há alguns
materiais seculares perdidos e lendas.
A próxima categoria de textos são
os brâmanas. Estes são textos rituais que descrevem em detalhes os sacrifícios
nos quais os Mantras eram usados, como também comentam o significado do ritual
sacrificial. Os brâmanas são associados com um dos Samhitas. Os brâmanas podem
formar ou textos separados, ou, no caso do Iajurveda "Negro", podem
ser parcialmente integrados no texto do Samhita. O mais importante dos brâmanas
é o brâmana Shatapatha do Iajurveda "Branco".
Os Aranyakas e os Upanixades são
trabalhos teológicos e filosóficos. Geralmente formam parte dos brâmanas (como
o Upanixade Brhadaranyaka). São a base da escola de Vedanta de Darsana.
Posição e compilação
A tradição hindu considera os
vedas incriados, eternos e que são revelados a sábios (Rishis). Orishi Krishna
Dwaipayana, melhor conhecido como Veda Vyasa – Vyasa significando
"editor" ou "compilador" – supostamente distribuiu esta
massa de hinos nos quatro livros dos Vedas, sendo cada livro supervisionado por
um de seus discípulos. Paila organizou os hinos do Rig Veda. Aqueles que eram
cantados durante cerimônias religiosas e sociais foram compilados por
Vaishampayana com o título de Yajus mantra Samhita (ver Iajurveda). Jaimini é
dito de ter coletado hinos que eram fixados a música e melodia —
"Saman" (ver Sama-Veda). A quarta coleção de hinos e cantos conhecida
como Atharva Samhita foi colecionada por Sumanta.
Filosofias e seitas que
desenvolveram-se no subcontinente indiano tiveram diferentes posições nos
Vedas. No budismo e no jainismo, a autoridade do Veda é repudiada, e ambos
desenvolveram-se em religiões separadas. As seitas que não rejeitaram
explicitamente os Vedas continuaram seguidores do Sanatana Dharma, que é
conhecido, nos tempos modernos, como hinduísmo.
Posteriormente, no hinduísmo, os
Vedas ocuparam uma posição exaltada. São considerados shruti, ou seja,
revelação, e a casta brâmaneica baseada nos Vedas forma uma importante parte da
vida religiosa hindu nos dias de hoje. Vedanta, Ioga, Tantra, e até mesmo
Bhakti consideram os Vedas uma revelação.
Estudo
Nos dharmashastras, o estudo dos
Vedas foi considerado um dever religioso dos três altos varnas[desambiguação
necessária] (Brâmanes, Xatrias e Vaixás). Mulheres e Shudras não precisavam nem
podiam estudar o Veda (isso começou a acontecer só na idade Védica ou Sutra
posterior, porque numerosas evidências sugerem que todos os humanos eram
igualmente permitidos a estudar os Vedas, e muitos "autores" védicos
eram mulheres). Elaborar métodos para preservar o texto (aprendendo de cor e
não escrevendo), disciplinas subsidiárias (Vedanga) etc., foram desenvolvidos
nas escolas védicas. No décimo quarto século, Sayana escreveu célebres
comentários sobre os textos védicos.
Atualmente os estudos védicos são
cruciais para a compreensão da linguística Indo-europeia, como também na
história indiana antiga.
Algumas escolas do hinduísmo
recomendam que os mantras védicos sejam interpretados de forma mais simbólica e
filosófica.[1]
Existem também, como partes
complementares dos Vedas de explicações sobre os rituais, comentários e
narrativas esotéricas: (Brahmanas, Aranyakas, e Upanishads). Esses textos fazem
parte integral da literatura shruti, esclarecendo também a complexidade dos
tratados Samhitas em uma forma filosófica e metafórica para revelar os
atributos essências referentes aos conceitos: Senhor Supremo (Ishvara),
Espirito Cósmico (Brâhman) e Alma do Ser(Atman).
Referências
MARTINS, Roberto de Andrade. As
dificuldades de estudo do pensamento dos Vedas. Pp. 113-183, in: FERREIRA,
Mário; GNERRE, Maria Lucia Abaurre; POSSEBON, Fabricio (orgs.). Antologia
Védica. Edição bilíngue: sânscrito e português. João Pessoa: Editora
Universitária UFPB, 2011.
BIANCHINI, Flávia. A origem da
civilização indiana no vale do Indo-Sarasvati: teorias sobre a invasão ariana e
suas críticas recentes. Pp. 57-108, in: GNERRE, Maria Lúcia Abaurre; POSSEBON,
Fabrício (orgs.). Cultura oriental: língua, filosofia e crença. Vol. 1. João
Pessoa: Editora da UFPB, 2012.
Fonte: Wikipédia
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