“Que era o Comunismo, no momento em que
Marx redige o Manifesto Comunista? O Comunismo já existia na Europa, não foi
criado por Marx e Engels, de modo que, tanto o Comunismo quanto o Manifesto
Comunista foram produto de determinadas circunstâncias. Para tanto, as teorias
que surgiram após a atuação de Marx foi o Marxismo, criado da convergência de
fatores históricos vivenciados por Marx. Marx não teria escrito o Manifesto do
Partido Comunista (1848) se o Comunismo não fosse uma doutrina já existente. O
Comunismo já era um movimento bastante desenvolvido bem antes de Marx se
aproximar dele, por isso a primeira frase é ‘um fantasma percorre a Europa, o fantasma do Comunismo’. Marx não
estava inventando, pois já existia, esse ‘fantasma’ já tinha uma realidade. O
que Marx fez com o Comunismo foi dar ao ‘fantasma’, que era, na verdade, um
movimento social, político, um programa político, um sentido, um objetivo histórico
e uma orientação política. O Comunismo era uma maneira de designar um conjunto,
eu não diria de teorias, mas de doutrinas e, sobretudo, de intenções expressas
por grupos de operários e algum ou outro intelectual, mais raramente, que se
propunha a submeter revolucionariamente a ordem de coisas existentes. O
Comunismo era oriundo das camadas mais baixas da sociedade que chamava,
genericamente, Comunismo a uma ordem de coisas em que não houvesse a exploração
do homem pelo homem, embora, nas suas formulações não deixasse claro como,
através de que vias e porque métodos se poderia chegar a essa tal ordem que
era, genericamente denominada de Comunismo e que se baseava na comunidade dos
bens, isto é, abolição da propriedade privada. O Comunismo propunha uma
superação da ordem existente, eliminar a propriedade privada e declarar os
bens, os meios de produção da riqueza social, propriedade comum de toda a sociedade,
desta maneira, eliminando a exploração. Em 1848, surge um fator que gerou a
necessidade de elaboração de um manifesto, pois dentro dos grupos operários e
das camadas oprimidas da sociedade que se propunham, genericamente, a chegar a
esta ordem de coisas, se viu a necessidade de tornar explícito, para além das
declarações de intenções, um programa histórico e político que tornasse o
Comunismo, não apenas uma palavra, ou como dizia Marx, ‘um fantasma’, mas um
programa político real. O primeiro fator que vai convergir é a evolução da classe
operária em direção da necessidade de formular um objetivo histórico, ou seja,
de passar do estágio de organizar conspirações, insurreições, revoltas, etc.,
para um estágio de expor, publicamente, seus objetivos históricos. O Manifesto
Comunista é oriundo da classe operária. O segundo elemento que levou a
elaboração do Manifesto Comunista é oriundo da burguesia e da intelectualidade,
ou seja, a crise da inteligência ou da intelectualidade, burguesa e pequeno
burguesa, que leva muitos dos seus representantes a se aproximar do movimento
da classe operária.
Também
existia a palavra Socialismo,
posteriormente, depois da análise do programa de Gotha, vai se falar em duas
faces, o Comunismo e o Socialismo, mas, naquele momento, não se pensava numa
primeira fase, com uma sociedade Socialista e depois uma segunda fase, uma
sociedade Comunista. Eram duas doutrinas diferenciadas. Socialismo até 1848
designava algo bastante diverso do Comunismo. Em geral, eram designados
socialistas todas aquelas pessoas que tinham algum tipo de preocupação social
ou que propunham planos de reforma social para que a miséria extrema que a
Revolução Industrial tinha provocado na Inglaterra e que começava a provocar em
todos os países da Europa continental ou naqueles nos quais a Revolução
Industrial começava a se desenvolver, enfim, planos de reforma social ou
posicionamentos políticos em favor de uma sensibilidade social maior por parte
das autoridades. Todas as pessoas que partilhavam esses posicionamentos políticos
eram denominadas socialistas. Poderíamos dizer que o Socialismo era uma
doutrina oriunda das camadas sensíveis ou bondosas da burguesia e,
eventualmente, da pequena burguesia. Se propunha a reformar a ordem de coisas
existentes, tornando-a mais suave, fazendo algumas leis que melhorassem a
situação dos operários, dos camponeses pobres, dos pobres da sociedade. O
Socialismo era a manutenção da propriedade privada dos bens, ou seja, a
manutenção da propriedade privada, com leis sociais que mitigassem os extremos
de pobreza, de miséria, de opressão que essa ordem produzia. Em 1848 já havia
diversos manifestos socialistas e surge o primeiro manifesto comunista. Por
isso, anteriormente ao Manifesto Comunista, Engels se refere ao Socialismo,
pejorativamente, como uma tentativa de renovar uma ordem de coisas que está
podre na sua própria base.”
(Osvaldo
Coggiola. Curso Livre Marx e Engels - "Manifesto Comunista" e
"Crítica do Programa de Gotha" | Aula 2)
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