Campus do Pici (UFC) - Fortaleza/Ce/Brasil |
GARÇAS
Antes não
havia garças. (Antes
dos ventos).
Restos de
estrelas navegavam a noite
(a nuvem escura)
e se
alvejavam em seixos e ossos.
À mesma noite
acrescentam-se
sombras: eram as penas
e a plumagem.
As garças
não eram feitas: surgiam. Leves,
feitas de vôo
(o vôo
primeiro). Garças de asas
emendadas em asas,
as garças
passam penhascos, além,
os prados cinza.
O verde
inda é longe. Longe, as aves
adivinham a terra.
As garças
descem (como atraídas) e
sentem a primeira
sede. A
água compreendida pela
sede. Jamais
a
informação da água: as garças gestadas
de puro vôo.
Nos
ventos, o olhar enfastiou-se.
As garças
buscam clarão de madrugadas
(ou de
crepúsculos: nenhum sinal
por
distinguir a cor das horas).
As garças
pisam areias virgens
(imprimem
sua chegada: a cruz aberta)
beiras de
charcos, beiras de lagos,
restos de
mar incendiados ao meio-dia.
Às vezes,
as garças se animam
com o
assovio dos ventos chamando
a noite. E
dançam. Dançam o passado
cravado às
asas. Nunca procuram
caminhos
de volta: foram apagados.
Fonte: http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet051.htm
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