GRES Portela
O Grêmio
Recreativo Escola de Samba Portela é uma das mais tradicionais e conhecidas
escolas de samba da cidade brasileira do Rio de Janeiro. É carinhosamente chamada de "A Majestade do Samba" e forma,
juntamente com a Deixa Falar e a
Mangueira, a tríade das escolas fundadoras do carnaval carioca.4
Foi fundada oficialmente como um bloco
carnavalesco, chamado Conjunto Oswaldo Cruz, em 11 de abril de 1923,1
no bairro de Oswaldo Cruz. Embora haja estudiosos que acreditam que a escola
tenha sido fundada em 1926, o ano oficial de fundação é 1923, mesmo ano de
criação do bloco "Baianinhas de Oswaldo Cruz", que já continha o
embrião da primeira diretoria portelense, com Paulo da Portela, Alcides Dias
Lopes (mais conhecido como "Malandro Histórico"), Heitor dos
Prazeres, Antônio Caetano, Antônio Rufino, Manuel Bam Bam Bam, Natalino José do
Nascimento (o "seu Natal"), Candinho e Cláudio Manuel.
Mudou de
nome por duas vezes - "Quem Nos Faz É O Capricho" e "Vai Como
Pode" -, até assumir definitivamente a denominação Portela, em meados da
década de 1930.4 5
Ao longo das
primeiras décadas do carnaval carioca, a Portela tornou-se uma das principais
escolas de samba do Rio de Janeiro, compondo um quarteto de grandes ao lado de
Mangueira, Acadêmicos do Salgueiro e Império Serrano.4 Adotando como
símbolo a águia e as cores azul e
branco, a Portela conquistou 21 títulos do carnaval, marca imbatível até hoje.
Foram dois bicampeonatos, dois tricampeonatos, dois tetracampeonatos, um
pentacampeonato, um hexacampeonato e um heptacampeonato.
A escola de
samba é responsável por algumas inovações nos desfiles de carnaval. Por
exemplo, em 1935, foi a primeira escola a introduzir uma alegoria
- um globo terrestre idealizado por Antônio Caetano. No carnaval de 1939 apresentou aquele que é considerado o
primeiro samba de enredo, além de levar ao desfile fantasias totalmente
enquadradas ao enredo. Também introduziu
a comissão de frente e, mais tarde, a primeira escola a uniformizá-la.1
Além da
relevância para o carnaval carioca, a Portela firmou-se como um dos grandes celeiros de grandes compositores do
samba, comprovado por sua ativa e tradicional Velha Guarda. Entre bambas
portelenses ao longo de sua história, destacam-se além dos fundadores Paulo da Portela e Antônio Rufino, os
sambistas Aniceto da Portela, Mijinha, Manacéa, Argemiro, Alberto Lonato, Chico
Santana, Casquinha, Alcides Dias Lopes, Alvaiade, Colombo, Picolino, Candeia,
Waldir 59, Zé Ketti, Wilson Moreira, Monarco, Noca da Portela, Paulinho da
Viola, entre outros - sem deixar de mencionar de importantes
instrumentistas, como Jair do Cavaquinho
e Jorge do Violão, a Portela tem uma participação importante na vida
cultural do Rio de Janeiro. Prova desse reconhecimento foi a escola ser
agraciada, em 2001, com a Ordem do Mérito Cultural.
Apesar da
grande tradição no cenário do samba no Rio de Janeiro, a escola vivenciou muitos momentos de atrito, especialmente no
relacionamento da diretoria da escola e sambistas. Desavenças culminaram com o afastamento, em 1941, do fundador Paulo da
Portela. Durante a década de 1970, novos desentedimentos levaram sambistas como
Candeia, Zé Ketti e Paulinho da Viola a deixarem a escola - embora os dois
últimos tenham retornado anos depois. Já na década de 1980, uma nova rusga
interna gerou uma dissidência, que resultou na criação de uma segunda escola, a
Tradição.
Embora ainda
seja a maior detentora de carnavais no Rio de Janeiro, a tradicional escola de
samba de Oswaldo Cruz tem amargado três décadas sem título - o último deles foi
conquistado em 1984.6
Localização
Existe uma
controvérsia sobre o bairro da escola. A região
onde a Portela foi fundada é descrita historicamente como Oswaldo Cruz,
enquanto a sua quadra atual, é culturalmente percebida como Madureira. No
entanto, o decreto que oficializou os
bairros cariocas, na década de 1980, deu um contorno diferente ao que era até
então reconhecido pelas demais fontes, colocando a sede antiga da Portela como
parte de Turiaçu, e a nova como Oswaldo Cruz.7
A primeira sede da escola, no Bar do Nozinho,
na Estrada do Portela, em Oswaldo Cruz, foi posteriormente transferida para
outro endereço, no mesmo logradouro, posteriormente apelidado de
"Portelinha" (historicamente Oswaldo Cruz, oficialmente Turiaçu).
Devido ao tamanho considerado pequeno do
local, as disputas internas de samba-enredo, durante a década de 1960, já não
mais podiam ser realizadas em sua sede, sendo que para isso, a Portela passou a
alugar o Imperial Esporte Club, em Madureira, numa localidade que à época era
chamada de Magno, devido à Estação Magno.
A Portela em 1972, construiu o
"Portelão", sua nova sede, na então Rua Arruda Câmara N°81
(posteriormente chamada de Rua Clara Nunes)8 em Oswaldo Cruz.
História
Antecedentes
O nome Portela tem origem na época do Brasil
colonial, quando a então freguesia de Irajá, ao longo dos séculos XVIII e XIX
era uma região ocupada por produtivos engenhos de açúcar, entre os quais, o
Engenho do Portela, entre a Fazenda
do Campinho até o Rio das Pedras - no que se conhece hoje como Madureira (de
Lourenço Madureira, um dos mercadores mais famosos de seu tempo).9
Com a crise do modelo econômico baseado na
mão-de-obra escrava ao longo de século XIX, a região foi lentamente entrando em crise. Após a Proclamação da
República do Brasil e com as reformas urbanas que resultaram na expulsão de
grande parte da população que vivia no centro do Rio de Janeiro, muitos
acabaram fugindo para regiões mais distantes do centro, ocupando morros e
antigos latifúndios, entre os quais, o antigo Engenho do Portela. Com as
mudanças no Rio de Janeiro, até então região
do Rio das Pedras herdaria o nome do rio vizinho, batizado ao sanitarista
Oswaldo Cruz que exterminou a febre amarela na cidade.
A região de
Oswaldo Cruz foi ocupada principalmente por ex-escravos de Minas Gerais e do antigo Estado do Rio Janeiro (que não
incluía a cidade do Rio de Janeiro, distrito federal autônomo) e, durante o
processo de higienização do centro do Rio, não recebeu assistência elementar do
poder público, por que não havia água ou eletricidade comuns nos bairros
cariocas mais abonados. O acesso e a
movimentação dos moradores também era dificultado por imensos valões. A principal via da região era a
estrada do Portela, que herdou o nome do antigo engenho.
Entre as dificuldades sociais, os moradores de
Oswaldo Cruz manifestavam-se culturalmente em festas religiosas, batucadas e
jongo, herança do passado e dos antepassados escravos, algo que influenciaria a
história da Portela.9
Origens
A história da Portela remete aos idos de
1921, quando Esther Maria Rodrigues (1896-1964) e seu marido Euzébio Rosas,
então porta-bandeira e mestre-sala do cordão Estrela Solitária, de Madureira,
mudaram-se daquele bairro para Osvaldo Cruz, onde fundaram o bloco Quem Fala de
Nós Come Mosca.10
Uma dissidência desse bloco, comandada por Galdino
Marcelino dos Santos, Paulo Benjamin de Oliveira (conhecido como Paulo da
Portela), Antônio Rufino e Antônio da Silva Caetano, deu origem em 1922 a outro
bloco, o Baianinhas de Osvaldo Cruz, que logo no ano seguinte adotou um
estatuto e montou uma diretoria.10, fato que faz com que a data de
fundação da Portela seja muitas vezes remetida erroneamente a 1923. O bloco, no
entanto, não durou muito tempo.
Em abril de 1923, reunidos numa casa, onde
também funcionava o Bar do Nozinho, na Estrada do Portela, número 412, Rufino,
Caetano e Paulo decidiram criar um outro bloco, que teve seu documento de
fundação assinado em 11 de abril de 1926, nascendo assim o Conjunto
Carnavalesco Osvaldo Cruz, que teve Paulo da Portela como seu primeiro
presidente.2 nota 1 Em seus dados oficiais, todavia,
a Portela considera sua fundação em 11 de abril de 1923.11 nota 2
Em 1929
acontece o primeiro concurso de sambas conhecido. Organizado pelo pai-de-santo
Zé Espinguela, este concurso contou com a participação de sambistas do Estácio,
da Mangueira e de Oswaldo Cruz, tendo sido divulgado por Zé Espinguela na
coluna que ele tinha no jornal Vanguarda, e sendo vencido pelo Conjunto de
Oswaldo Cruz.12 Após esta vitória o bloco muda de nome para Quem nos Faz é o
Capricho, por influência de Heitor dos Prazeres, que além de sugerir o nome,
desenhou sua bandeira.13.
Em 1931,
quando as escolas de samba ainda estão sendo definidas, o grupo muda novamente
de nome, desta vez para Vai como Pode (na verdade, "Vae Como Pode",
na grafia da época). Tal mudança foi
motivada por uma briga entre seus integrantes, quando em 1930, Heitor dos
Prazeres teria se apropriado dos direitos autorais de Rufino, registrando em
seu nome o samba "Vai mesmo", prática comum entre os sambistas da
época, mas não tolerada em Oswaldo Cruz.13 Após este evento,
Heitor se afastou definitivamente da escola, indo para a agremiação De Mim
Ninguém Se Lembra; Paulo também ficou um tempo afastado.
Uma nova bandeira para a agremiação foi
desenhada por Antônio Caetano, que passou a ocupar o cargo de presidente e se
escolheu como cores o azul e o branco - já associadas à agremiação desde 1929.
O modelo de bandeira, com faixas
diagonais partindo de um círculo central, mais tarde se tornaria um padrão para
a maioria das escolas de samba. Segundo Caetano, tal modelo seria inspirado na
Bandeira do Sol Nascente, uma das bandeiras oficiais do Japão.14.
Também na mesma ocasião foi escolhida a
águia como símbolo da entidade, pois esta simbolizaria, para Caetano, o voo
mais alto que os sambistas desejariam alçar.
Escola de
samba
Ainda em
1931, mesmo sem um concurso oficial, a agremiação apresentou-se com duas
inovações em termos de escolas de samba, trazidas dos ranchos: o enredo
"Sua Majestade, O Samba", e uma alegoria de uma figura humana
integrada por instrumentos de percussão.14
Nos três
anos seguintes, disputou os primeiros concursos de Carnaval. O primeiro deles
foi organizado em 7 de fevereiro de 1932 pelo jornalista Mário Filho, do jornal
"O Mundo Sportivo", com grande repercussão na imprensa. Os dois
seguintes foram promovidos pelo jornal rival, O Globo, até que em 1935, a
Prefeitura do Rio de Janeiro resolveu subvencionar o evento, oficializando-o como
parte do carnaval carioca.15 Com isso, as escolas de samba
precisavam legalizar suas situações perante a Delegacia de Costumes e
Diversões, para receber alvará de funcionamento como grêmios recreativos.16
A dois dias
do desfile de carnaval, marcado para 3 de março, o delegado Dulcídio Gonçalves
recusou-se a renovar a licença da Vae Como Pode, por considerar o nome chulo e
indigno de uma escola de samba.17 16 Ele próprio
sugeriu que a agremiação fosse batizada como Portela, em referência ao
logradouro Estrada do Portela, onde os sambistas se reuniam. Assim, Paulo da Portela, Cláudio Manuel, Heitor
dos Prazeres, José Natalino (Natal), Candinho, Alcides Dias Lopes (Alcides
Histórico), Manuel Gonçalves (Manuel Bam-Bam-Bam), Antonio Rufino e Antonio
Caetano criaram o Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela.18
Com o novo nome, a escola de samba venceu pela primeira vez o desfile de
carnaval carioca, com o enredo "O Samba Dominando o Mundo".19
Durante o desfile, a escola levou para a avenida um rústico globo terrestre,
idealizado por Antônio Caetano, introduzindo, desta forma, as alegorias nos
desfiles das escolas de samba.1
Nos dois
desfiles seguintes, conquistou respectivamente terceiro e segundo lugares com
os enredos "Voando para a glória" e "O Carnaval-Samba de
Boaventura". Em 1938, o enredo da escola foi "Democracia do
Samba", mas não houve competição, por conta das fortes chuvas que
impediram que a comissão julgadora chegasse ao local dos desfiles.20
Já em 1939, a Portela foi novamente campeã com o enredo "Teste ao
Samba", que é considerado por muitos como o primeiro samba-enredo7
nota 3 Em 1940, a escola conquistou o quinto lugar com o enredo
"Homenagem à Justiça".
Em 1941, após um desentendimento com o mestre-sala
Manuel Bambambã, Paulo da Portela não desfilou. Paulo durante muito tempo brigou para que todos os componentes
desfilassem devidamente fantasiados ou se não, vestidos com as cores da escola,
porém no dia deste desfile ele voltava de uma apresentação em São Paulo,
juntamente com Heitor dos Prazeres e Cartola, e estavam todos vestidos de preto
e branco. Sem tempo de trocarem de
roupa, combinaram assim de desfilar, os três, em cada uma de suas escolas de
samba. Porém, na vez de desfilarem pela Portela, Bambambã não permitiu que os
outros dois, por não serem da escola e ainda não estarem devidamente vestidos,
pudessem desfilar.21 Na
verdade, Bambambã já tinha desentendimentos anteriores com Heitor, quando da
passagem deste pela Portela, ocasião em Bambambã o havia esfaqueado. Na
hora do ocorrido, poucos portelenses
perceberam o que estava ocorrendo, porém, posteriormente ao desfile, muitos
ficaram a favor de Bambambã, pois julgaram falta de coerência por parte de
Paulo da Portela, que tanto havia brigado pelo respeito as cores da escola no
desfile, querer desfilar daquela maneira.22 Após o incidente,
Paulo da Portela jamais desfilou novamente por sua escola do coração. Porém,
durante as tentativas dos Estados Unidos de construir uma "relação de
boa-vizinhança" com os seus vizinhos da América do Sul, Paulo da Portela
foi escolhido para ser o modelo da criação do personagem Zé Carioca, bem como
para representar o samba no exterior. Por conta disso
a Portela excursionou pelos Estados Unidos, e acabou sendo apresentada no
evento pelo próprio Paulo da Portela.23
Nas décadas
de 1940 e 1950, comandada pelo ilustre bicheiro Natal da Portela, que era amigo
de Paulo da Portela, a escola conquistou inúmeros campeonatos, com destaque
para o heptacampeonato consecutivo, entre 1941 e 1947, respectivamente com os
enredos "Dez Anos de Glória"; "A Vida no Samba";
"Carnaval de Guerra"; "Brasil Glorioso"; "Motivos
Patrióticos"; "Alvorada do Novo Mundo"; "Honra ao
Mérito". Ainda neste ano, houve um racha no carnaval carioca, com a
criação da FBES para fazer frente à UGESB. A Portela manteve-se sempre ao lado
da segunda, exceto uma passagem de um ano pela UCES em 1950. Durante os quatro
desfiles de racha, a escola conquistou o terceiro lugar em 1948,nota 4
com o enredo "Princesa Isabel"; nos dois anos seguintes, dois vices-campeonatos,
com os enredos "Despertar do Gigante" e "Riquezas do
Brasil"; e em 1951, o décimo campeonato da história da escola de samba,
com o enredo "A Volta do Filho Pródigo".
Em 1952, o
carnaval carioca novamente ficou sob responsabilidade de uma entidade, com a fusão da FBES com a UESB, surgindo a
Associação das Escolas de Samba. A partir deste ano, foram criados
dois grupos - no primeiro inscreveram-se escolas de samba com um mínimo de 300
componentes e, no segundo, exige-se um mínimo de 100 componentes.ref>Academia
do Samba 1952</ref> No entanto, não houve concurso para o grupo
principal, por conta de um forte temporal que provocou o abandono dos jurados.
No desfile do ano seguinte, mais um título, desta vez com o enredo "Seis
Datas Magnas", este composto por Candeia (então com 17 anos) e Altair
Prego. Em 1954, a escola resolveu homenagear o Quarto Centenário da cidade de
São Paulo, com o enredo "São Paulo Quatrocentão", que deu o quarto
lugar à agremiação. Nos dois desfiles seguintes, que passaram a contar com
acesso e rebaixamento, a Portela chegou apenas a um terceiro e quarto lugares,
com os temas "Festas Juninas em Fevereiro" e "Tesouros do
Brasil, Riquezas do Brasil ou Gigante Pela Própria Natureza".
De 1957 a
1960, a escola conquistou um tetracampeonato, com os respectivos enredos
"Legados de D. João"; "Vultos Efemérides do Brasil";
"Brasil, Panteon de Glórias"; "Rio, Cidade Eterna".nota 5 -
Academia do Samba 1960</ref>
Ainda na
década de 1960, a Portela conquistou mais três carnavais, chegando a 18
campeonatos no total. Em 1962, o título veio com o enredo "Rugendas ou
Viagens Pitorescas pelo Brasil". Em 1964, com "O Segundo Casamento de
D. Pedro II ", sendo que a escola utilizou violinos em sua bateria,
realizando uma harmonia durante o desfile da escola.24 Em 1966, com
"Memórias de um Sargento de Milícias" - este, composto pelo jovem
Paulinho da Viola.
Década de
1970
No primeiro
carnaval da década de 1970, a Portela conquistou o campeonato com o enredo
"Lendas e Mistérios da Amazônia", que se tornou um clássico dos
carnavais cariocas.25 De autoria dos compositores Catoni, Jabolô e Valtenir, o
enredo tinha um inesquecível refrão em onomatopéia "Ô esquindô, lá, lá,
esquindô lê, lê", que imitava o som dos instrumentos da bateria.26 A partir
desse carnaval, o carro abre-alas passou a trazer, ininterruptamente, a águia,
símbolo da escola – ora de grandes proporções, ora menor; com ou sem
movimentos.25 Entre 1971 e 1979, a escola viveria seu maior jejum de carnavais
até então, embora tenha se mantido sempre estre as cinco mais bem colocadas,
incluindo três vice-campeonatos (em 1971, 1974 e 1977). Apesar de ficar sem
títulos no período, a Portela fez desfiles e teve enredos memoráveis nesse
período.
Em 1972, a
escola resolveu apostar em um carnavalesco, o médico Hiram da Costa Araújo, o
primeiro da história da escola. Ele ajudou a criar o departamento cultural e de
carnaval da Portela, que organizava coletivamente os carnavais da agremiação, e
foi o responsável por introduzir muitas inovações nos desfiles da agremiação,
que passaram a rivalizar com os luxuosos carnavais de Joãosinho Trinta. No
entanto, essa modernização geraria sérios atritos com integrantes mais
tradicionais da escola, que criticavam os desfiles grandiloquentes elaborados
por Araujo, e distantes dos tempos de ouro da Portela.27
Naquele ano
de 1972, o enredo "Terra da Vida (Ilu Ayê)", de Cabana e Norival
Reis, exaltava a cultura e as tradições negras, se tornando um dos mais
importantes da história da escola, que ficou em terceiro lugar no desfile.28 No
ano seguinte, a escola comemorava seus 50 anos, com o enredo "Passárgada,
o Amigo do Rei", baseado no poema "Vou-me embora pra Pasárgada",
de Manuel Bandeira, com um desfile repleto de alusões ao universo das crianças
(com alegorias que lembravam parques de diversões).27 Com o enredo "O
Mundo Melhor de Pixinguinha", em 1974, a escola homenageou Pixinguinha,
grande músico brasileiro que havia falecido pouco tempo antes. Além da divisão
por conta da proposta de um desfile exuberante - muito distinto dos tempos mais
tradicionais da escola -, muitos integrantes ficaram indignados quando o
presidente Carlinhos Maracanã convidou a dupla Jair Amorim e Evaldo Gouveia
para compôr o enredo da Portela daquele ano, quebrando uma tradição de
compositores de fora da escola.27
Em 1975, a
Portela apresentou outro enredo que se tornaria um clássico, "Macunaíma,
Herói da Nossa Gente", baseado na história do personagem de Mário de
Andrade. A escola só conseguiu um quinto lugar. E o relacionamento entre a diretoria
da escola e sambistas culminaram em mais desentendimentos. O principal deles
resultou na saída, no ano seguinte, de sambistas como Candeia e Wilson Moreira,
que fundaram o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo.nota
6 Outros sambistas como Zé Kéti e Paulinho da Viola também abandonaram Oswaldo
Cruz, mas com exceção de Candeia (morto em 1978), eles retornariam a Portela na
década de 1980.4 No desfile de 1976, a escola apresentou o enredo "O Homem
do Pacoval", contando as histórias e mistérios da Ilha de Marajó, e acabou
ficando em quarto lugar - embora tenha faturado o Estandarte de Ouro de melhor
escola.27 29
Em 1977, o
desfile da escola foi sobre a Festa da Aclamação, um festejo feito no Rio de
Janeiro em 1818, comemorativo da aclamação de Dom João VI como rei de Portugal.
A Portela ficou com o vice-campeonato, perdendo apenas por um ponto da
Beija-Flor.30 No ano seguinte, a Portela apresentou um enredo sobre
a "mulher brasileira". Mais uma vez houve desentendimentos entre a
diretoria e sambistas mais tradicionais - estes criticavam principalmente o
samba-enredo, mais uma vez de autoria da dupla Jair Amorim e Evaldo Gouveia.
Com todas as fantasias e alegorias foram criadas pelas figurinistas Rosa
Magalhães e Lícia Lacerda, a escola acabou ficando apenas no 5º lugar.31 Desgastado,
o carnavalesco Hiram Araújo deixou a Portela logo após aquele carnaval, sendo
substituído por Viriato Ferreira, então braço-direito de Joaosinho Trinta na
Beija-Flor.27
No último
desfile da década de 1970, a Portela abocanhou o terceiro lugar, com o enredo
"Incrível, Fantástico, Extraordinário!", em um ano no qual a escola
abriu seu desfile com uma águia em isopor, sem bater as asas.32 33
Década de
1980
A década de
1980 começou positiva para a Portela. Com o enredo "Hoje tem
marmelada?", a escola desfilou o carnaval de 1980 mais uma vez na condição
de favorita ao título, ao lado da Beija-Flor - que havia dominado os desfiles
da segunda metade da década anterior. Em uma apuração disputada, a Portela
conquistou seu 20° título, colocando fim ao jejum de nove anos sem títulos. Era
a primeira vez que a tradicional azul e branco de Oswaldo Cruz conquistava um
carnaval na Rua Marquês de Sapucaí, onde, seria erguido o sambódromo carioca.
Mas a conquista foi dividida com a escola de Nilópolis e a Imperatriz.34
Em 1981, com
o enredo "Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor de uma Noite".
Novamente em uma apuração acirrada e protagonizada por Imperatriz, Beija-Flor e
Portela, a escola de Oswaldo Cruz ficou com a terceira colocação.35 No ano
seguinte, o carnavalesco Viriato Ferreira afastou-se durante os preparativos
para o carnaval, por discordâncias sobre a forma de desfile que a diretoria
pretendia. A dupla Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo assumiu o desenrolar
final do enredo "Meu Brasil Brasileiro", que culminou em mais um
vice-campeonato para a Portela.36 Os dois carnavalescos continuaram
na escola para o desfile de 1983, com o enredo "A Ressurreição da Coroa,
Reisado, Reino e Reinado". Mais uma vez, os portelenses ficaram com o
segundo lugar - em um desfile que ficou marcado pela última aparição de Clara
Nunes, dias antes de ser internarda para a fatídica cirurgia que lhe custaria a
vida.37
Em 1984,
finalmente o Sambódromo da Marquês de Sapucaí ficou pronto. E naquele ano,
seriam disputados dois carnavais, mais um "supercampeonato". Com o
enredo "Contos de Areia", os carnavalescos Edmundo Braga e Paulino
Espírito Santo prepararam um desfile em homenagem aos portelenses Paulo da
Portela, Natal e Clara Nunes, que foram representados respectivamente pelos
orixás Oranian, Oxóssi e Iansã. Foi um carnaval inesquecível para os
portelenses.38 O samba-enredo composto por Dedé da Portela e Norival Reis
tornou-se mais a entrar para a história da Portela e do carnaval carioca.
Acompanhados pela bateria do mestre Marçal, que tinha à frente Regina e Paulo
Roberto como mestre-sala e porta-bandeira, mais de 5.000 componentes
desfilaram. A comissão de frente destacava Manacéa, Alberto Lonato, Ary do
Cavaco, Casquinha, Chico Santana e outros grandes sambistas tomaram parte da
tradicional comissão de frente portelense.38 A apuração confirmou o favoritismo
da Portela, que com 203 pontos (dois a mais que a Império Serrano), faturou seu
21º título. No campeonato extra do dia 10 de março, para celebrar a inauguração
do sambódromo carioca, desfilaram Portela, Império Serrano, Caprichosos de
Pilares (primeiras colocadas no desfile de domingo), Mangueira, Mocidade
Independente, Beija-Flor (primeiras colocadas do desfile de segunda-feira),
Unidos do Cabuçu e Acadêmicos de Santa Cruz (campeãs do grupo 1-B). A Portela
ficou com a segunda colocação nessa apresentação.38
Mas mal
havia terminado o carnaval 1984 e os portelenses acompanharam mais uma
desavença. O presidente Carlinhos Maracanã resolveu extinguir sete alas da
Portela. Os respectivos diretores de alas, além de Nézio Nascimento (filho de
Natal da Portela), fundaram um movimento que culminou em no surgimento da
Tradição. Outros figuras importantes da história da escola, como Tia Vicentina
(irmã de Natal), Marlene (filha de Nozinho) e Vilma Nascimento (famosa
porta-bandeira) e até os sambistas Paulo César Pinheiro e João Nogueira,
aderiram à escola dissidente - que teve como primeiro nome Sociedade Cultural e
Recreativa Portela Tradição. Por conta de processos na Justiça, o nome Portela
teve de ser retirado.39
Nos quatro
desfiles seguintes, a Portela se manteve entre as melhores colocadas: em 1985 e
1986, ficou na quarta colocação (com os respectivos enredos "Recordar é
Viver" e "Morfeu no Carnaval, a Utopia Brasileira")40 41 ; em
1987 e 1988, levou o terceiro lugar (com os enredos "Adelaide, a Pomba da
Paz" e "Na Lenda Carioca, O Sonho do Vice-Rei").42 43 Em 1989, o
desfile da escola ficou à cargo do carnavalesco Sílvio Cunha, que propôs o
enredo "Achado Não é Roubado", sobre o "descobrimento" do
Brasil. Na apuração, a Portela ficou na sexta colocação, resultado que igualava
1967, ano de sua pior colocação em desfiles cariocas.44
década de
1990
A partir da
década de 1990, a Portela não conseguiu mais emplacar os grandes resultados do
passado. Alguns bons desfiles (como os de 1991 e 1995) fizeram os portelenses
relembrarem os velhos tempos em que a escola estavam entre as melhores do
carnaval, mas foram insuficientes para fazer a azul e branco de Oswaldo Cruz
voltar ao topo do carnaval carioca. Não só a escola deixou de figurar entre as
favoritas dos desfiles, com também passou a se situar apneas em posições
intermediárias, algo incomum ao longo dos 65 anos anteriores. Pela primeira vez
em sua história, a Portela não conquistaria um título em uma década inteira.
O enredo do
desfile de 1990 foi "É de Ouro e Prata Esse Chão". Pela primeira vez,
uma mulher havia vencido uma disputa pelo samba-enredo: Gracíola Silva - ou
apenas Cila, que, antes de fazer parte da ala de compositores, era cantora de
sambas de quadra da escola - compôs o tema daquele carnaval, em parceria com com
Espanhol e Sylvio Paulo. Mais uma vez, a comissão de frente portelense contou
com componentes de sua Velha Guarda. O sambista Zeca Pagodinho, que alguns anos
antes despontava como cantor e compositor, teve também a honra de desfilar ao
lado dos bambas. Outros destaques no desfile foram Efigênia Xavier, Elizeth
Cardoso, Dona Jurema, Surica, Eunice, Marilda, Doca e Jovelina Pérola Negra. Na
apuração, um 10º lugar, o pior da história da escola até então.45 Em 1991, o
carnavalesco Sílvio Cunha elaborou um enredo abordando tipos de vaidade. O
samba-enredo "Tributo à Vaidade", assim como o desfile da escola,
causaram boa impressão no público e na crítica - conquistando quatro
Estandartes de Ouro (samba-enredo, revelação, ala e comissão de frente). Mas o
favoritismo não se confirmou na quarta-feira de cinzas, quando as notas dos
jurados foram apuradas e a Portela terminou apenas com o sexto lugar.46 No ano
seguinte, a escola levou à Sapucaí o enredo "Todo Azul Que o Azul
Tem", com referência a uma das cores portelenses (o azul do céu, do mar,
da natureza, et cetera]]) e que deu um quinto lugar à agremiação.47
Com o enredo
"Cerimônia de Casamento", a Portela levou ao desfile de 1993 um pouco
da história do casamento na sociedade ocidental. Nesse ano, a Velha Guarda da
Portela (com Bretas, Casquinha, Carioca, Monarco, Wilson Moreira, Jair do
Cavaquinho, Periquito, Alberto Lonato, Jorge do Violão, Valdir Galo, Norival
Reis, Casemiro da Cuíca, Marcus, Jaú, Ari do Cavaco, Edir Gomes) e convidados
apresentavam-se pela última vez na comissão de frente da escola - sua presença
era considerada ultrapassada, por não obter mais nota máxima nesse quesito. O
resultado da apuração repetiu a 10ª colocação do carnaval de três anos antes.48
Em 1994, a escola se apresentou com o enredo "Quando o Samba Era
Samba", sobre a história do samba, gênero musical que representa a
identidade nacional brasileira. Assim, a Portela teve pela primeira vez uma
comissão coreografada (eram sete homens e sete mulheres negros). Ainda tendo
dois dos 10 carros alegóricos sem entrar na avenida, a Portela amargou um
sétimo lugar.49
Os
compositores Noca, Colombo e Gelson compuseram o samba-enredo "Gosto que
me enrosco" para o desfile de 1995, que marcou a volta de Paulinho da
Viola, que não desfilava pela Portela havia quase 20 anos depois. A passista
Nega Pelé tomava o lugar de madrinha de bateria da modelo Luiza Brunet, que
ocupava o lugar por anos. O enredo trabalhado pelo carnavalesco José Félix
contava a história do carnaval no Brasil, como uma herança portuguesa com
influência dos demais povos que formam a identidade brasileira, fez sucesso
durante o desfile na Marques de Sapucaí. A crítica especializada apontava
favoritismo para a Portela na apuração, mas a escola ficou apenas 0,5 ponto
atrás da campeã Imperatriz. O vice-campeonato é o melhor resultado dos
portelenses desde o título do carnaval de 1984.50 Para muitos que assistiram o
desfile na Sapucaí, a Portela fez um dos melhores desfiles de todos os tempos,
considerado antológico tanto pela beleza plástica, quanto pela bela trilha
sonora. O azul da Portela se mesclou com do alvorecer: Um momento maravilhoso,
inesquecível. Obrigado Portela, gosto que me enrosco.
Nos dois
desfiles seguintes, a Portela terminou com um modesto oitavo lugar. Em 1996, com
o tema "Essa Gente Bronzeada Mostra o Seu Valor", a escola se
apresentou com expectativa de fazer uma grande apresentação, mas próximo do fim
do desfile, o quinto carro alegórico quebrou, levando prejuízo à apuração.51 Já
em 1997, o enredo "Linda, Eternamente Olinda" homenageava a cidade
pernambucana, um dos principais redutos do carnaval brasileiro. Entre os
destaques do desfile, estava o cantor porto-riquenho Ricky Martin. Novamente, o
desfile foi prejudicado por problemas técnicos (uma das patas da águia, do
carro abre-alas, quebrou).52 Em 1998, com o enredo "Os Olhos da
Noite", idealizado e desenvolvido pelo carnavalesco Ilvamar Magalhães, a
escola conseguiu ficar entre as melhores do carnaval carioca, obtendo um quarto
lugar.53 Em 1999, a Portela apresentou o enredo "De volta aos caminhos de
Minas Gerais", em homenagem ao Estado brasileiro. Como vinha ocorrendo nos
últimos anos, a escola teve problemas durante o desfile. Desta vez, um dos
destaques do carro abre-alas teve um mal-estar ainda no início do desfile,
interrompendo a evolução da escola, o que comprometeria a harmonia. A escola
terminou o carnaval apenas com o oitavo posto.54
O fim da era
Carlinhos Maracanã
Assim como
havia ocorrido no decênio anterior, a Portela passou a primeira década do século
XX sem títulos do carnaval carioca. Na maior parte dos resultados do período, a
escola amargou posições distantes do topo - inclusive, por pouco não foi
rebaixada na apuração do desfile de 2005. Nos dois últimos anos da década,
porém, fez bons carnavais, colocando-se no grupo das quatro melhores escolas de
samba.
A Liga Independente das Escolas de Samba determinou que o
carnaval de 2000 fosse temático, em comemoração aos 500 anos do
"descobrimento" do Brasil, com todas as escolas abordando alguma
parte da história brasileira. A Portela foi à avenida com o enredo "Trabalhadores
do Brasil - A Época de Getúlio Vargas" e, em vez de uma águia, abriu seu
desfile com cinco águias.55 Na apuração, a escola não passou do 10º
lugar, repetindo a pior posição da agremiação nos carnavais de 1990 e 1993. No
ano seguinte, outra vez o 10º posto no julgalmento dos jurados da LIESA para o
desfile portelense, idealizado pelo carnavalesco Alexandre Louzada (de volta a
escola após 15 anos) e que teve o enredo "Querer é Poder", que
abordava as diversas formas de poder.56 Em 2002, a Portela teve como enredo a
história do Estado do Amazonas: "Amazonas, esse desconhecido: delírios e
verdade do eldorado verde" relembrava os mais nostálgicos o tema do
carnaval portelense campeão de 1970, que cantou as lendas e os mistérios da
Amazônia. O compositor David Correia venceu seu principal oponente Noca da
Portela, que tentava sua sexta vitória, e conquistou seu sétimo concurso de
samba-enredo, superando Candeia e Waldir 59, dois dos maiores ícones da
Portela. Mais uma vez, Paulinho da Viola esteve no desfile, ao lado de Dodô - a
primeira porta-bandeira da escola em 1935.57 O bom desfile fez com que
especialistas colocassem a Portela ao menos no desfile das campeãs. Mas na
apuração, duas notas ruins no quesito harmonia - 8.0 e 8.1 - acabaram com as
pretensões portelenses. Com apenas o oitavo lugar, a diretoria da escola
organizou um ato público, do qual participou também o Império Serrano, e foi
feito um "enterro simbólico" de dois julgadores.
No ano
seguinte, a Portela desfilou com o enredo "Ontem, hoje e sempre
Cinelândia: o samba entre em cena na Broadway brasileira", sobre a
Cinelândia, espaço histórico carioca de manifestações políticas, estudantis,
culturais e boêmias. O carnavalesco Alexandre Louzada enfrentou dificuldades
para preparar a escola, que não contou com aporte de recursos que teve no ano
anterior - quando teve ajuda de empresas privadas e o governo do Amazonas. Com
um desfile sem grandes pretensões e um carro-alegórico que teve problemas em
frente à cabine de jurados, a Portela repetiu o oitavo lugar do desfile do ano
anterior.58 Terminado o carnaval 2003, a escola perdeu Louzada, que pediu
demisssão justificado pela falta de investimento da gestão de Carlinhos
Maracanã. Em abril daquele ano, um grupo de 20 homens armados invadiu a quadra
da Portela, em protesto contra a administração do bicheiro a frente da escola
desde 1972. Os invasores exigiam a renúncia de Maracanã e sua substituição por
Nilo Figueiredo, que havia sido vice-presidente na gestão de Natal da
Portela.59 A ocupação durou 24 horas, mas foi o suficiente para colocar pressão
sobre Carlinhos Maracanã. Ainda no final daquele ano, a diretoria afastou o
mestre de bateria Carlinhos Catanha, também por desavenças, e colocou em seu
lugar Mestre Mug.
Em 2004, a
Portela foi uma das quatro escolas que reeditou sambas antigos. Os portelenses
escolheram "Lendas e mistérios da Amazônia", enredo do título de
1970. Naquele mesmo ano, foi homenageada pela própria Tradição, que colocou no
abre-alas o nome Portela e reeditou o samba-enredo portelense "Contos de
Areia". Novamente sem grandes investimentos, a escola de Oswaldo Cruz
ficou apenas com o sétimo lugar, com 384,9 pontos.60 Depois daquele carnaval e
já muito desgastado e alvo de críticas pelos sucessivos fracassos nos carnavais
dos últimos anos, Carlinhos Maracanã afastou-se do comando da Portela, após
mais de três décadas a frente da agremiação. O processo eleitoral foi muito
conturbado.61 Na eleição convocada para 16 de abril, a oposição não havia
lançado chapa, alegando ter sido expulsa da escola. Marcos Aurélio Fernandes,
então assessor de Maracanã e candidato único, venceu o pleito, mas os
oposicionistas entraram na Justiça no início de maio, pouco depois de
Marquinhos (então com 29 anos) ter sido empossado. Uma nova eleição foi marcada
para o final de julho. Houve carreatas organizadas por Madureira e Oswaldo Cruz
e o recadastramento de sócios - embora tenha havido denúncias de assinaturas
falsas. Por muito pouco, integrantes da Velha Guarda tiveram seu direito de
voto cassado, po conta de um acordo entre as chapas - esse direito só foi
obtido novamente na Justiça e às vésperas da eleição. Finalmente, em 26 de
julho, os sócios da Portela com direito a voto escolheram seu novo presidente.
O oposicionista Nilo Figueiredo, velho aliado de seu Natal, conquistava o
cargo, por 131 votos a 118, colocando fim a era de Carlinhos Maracanã na
Portela.61
A nova
diretoria tratou logo de afastar colaboradores da antiga administração, até
mesmo os poucos avanços não foram reconhecidos. Carlos Monte (pai da cantora
Marisa Monte) assumia a diretoria cultural, o título do enredo para 2005 foi
modificado e o carnavalesco Jorge Freitas era dispensado - o carnaval ficaria a
cargo de uma comissão da escola. O samba-enredo vencedor foi o de Noca da
Portela, embora a composição de Júnior Scafura fosse a preferida da maioria dos
portelenses. A escola teve também dificuldades para captar recursos para o
desfile, que viriam de empresas indicadas pela Organização das Nações Unidas,
já que o enredo "Nós Podemos: Oito Idéias para Mudar o Mundo"
divulgaria as oito metas para o Desenvolvimento do Milênio do organismo
internacional.61 Dois dias antes do desfile, a parte traseira do carro
abre-alas pegou fogo no barracão, e não tempo para reparos. No dia do desfile,
o mesmo carro entrou na avenida com a águia desfigurada, já que durante a
concentração os componentes não conseguiram colocar suas asas. Mestre
Marçalzinho (filho de mestre Marçal estreava como diretor de bateria. Um novo
casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Paulo Roberto e Andréia
Neves, defendia o pavilhão portelense. A modelo Naomi Campbell e o ator Renato
Aragão foram duas outras atrações.61 Com grande quantidade de alas, a escola
corria risco de não terminar o desfile dentro do tempo estabelecido. E ao
final, ocorreu um grande incidente. O último carro alegórico, que traria a
Velha Guarda da Portela, não entrou na avenida.nota 7 Sem tempo, a
diretoria decidiu pedir o fechamento do portão da concentração, assim, a Velha
Guarda da escola e sua ala de compositores ficaram impedidos de desfilar. Após
muita discussão e com o desfile dado como encerrado pela LIESA, os portões
foram reabertos e os integrantes da Velha Guarda passaram pela avenida e foram
ovacionados. Além dos grandes constrangimentos dentro do mundo do samba, os
portelenses ficaram apreeensivos com a possibilidade de rebaixamento. Na
apuração, a escola obteve 383,9 pontos, ficando na penúltima colocação e sua
pior posição na história do carnaval. No entanto, o 13º lugar foi o suficiente
para a escola permanecer no Grupo Especial, já que naquele ano apenas uma
agremiação seria rebaixada para o Grupo de Acesso.61 A partir desse
ano, a Portela passou a ter em seu contingente a participação de uma ala com
portadores de necessidades especiais.
Em 2006, a
Portela teve o enredo "Brasil Marca a Tua Cara e Mostra Para o
Mundo", sobre a miscigenação do povo brasileiro. A escola apresentou-se
debaixo de garoa e teve a sua tradicional Velha Guarda, desta vez, no carro
abre-alas. Na apuração, a escola fez 393,2 pontos, ficando na sétima
colocação.62 Em 2007, com o enredo "Os Deuses do Olimpo na Terra do
Carnaval - Uma Festa do Esporte, da Saúde e da Beleza", sobre os Jogos
Pan-americanos de 2007. Com problemas técnicos em dois carros e ficando um pouco
a desejar em quesitos como alegorias e adereços, fantasia, harmonia, a Portela
somou 394,8 pontos na apuração e ficou em oitavo lugar.63
Os dois
desfiles seguintes foram melhores para a Portela, que voltou a ficar entre as
melhores do carnaval carioca. Para a competição de 2008, a escola escolheu um
tema sobre preservação ambiental, com o nome "Reconstruindo a Natureza,
Recriando a Vida: o Sonho Vira Realidade". Dificuldades para obter
recursos e o atraso no trabalho de barracão durante a fase pré-carnavalesca
eram indícios de que a agremiação não faria um bom desfile. Mas com a chegada
dos ensaios técnicos, a Portela superou as desconfianças.64 Com uma boa
apresentação na Marques de Sapucaí,65 a escola somou 396,8 pontos, terminando
na quarta colocação. Era o melhor resultado em 10 anos, e a Portela voltaria a
desfilar entre as melhores do carnaval daquele ano. Em 2009, o enredo escolhido
foi "E Por Falar em Amor… Onde Anda Você"? de autoria dos
carnavalescos Lane Santana e Jorge Caribé, tendo como tema o amor em suas mais
variadas formas e épocas. Assim como no ano anterior, a Portela fez um grande
desfile. Levou a avenida seu maior carro abre-alas (com uma águia dourada) até
então e teve como grandes destaques a comissão de frente, o canto dos componentes
e a bateria. Ainda contou com a volta da modelo Luma de Oliveira à escola,
agora na condição de rainha de bateria. Na apuração, a Portela manteve-se entre
as primeiras e terminou na terceira colocação, com 397,9 pontos - a 1 ponto da
Acadêmicos do Salgueiro e apenas 1 décimo atrás da Beija-Flor.
O
pré-carnaval da Portela para o desfile 2010 foi conturbado. A começar pela
escolha dos carnavalescos Alex de Oliveira e Amauri Santos, que não tinham
experiência com agremiações do Grupo Especial, com a missão de carnavalizar o
enredo "Derrubando fronteiras, conquistando a liberdade… um Rio de paz em
estado de graça!", sobre os impactos da tecnologia no desenvolvimento
social, mas um tema pouco afeito à tradição da Portela. O samba-enredo
escolhido66 67 e os atrasos nos trabalhos de barracão desagradavam e
preocupavam a comunidade portelense. O desfile ficou à quem do esperado, com a
escola somando 295,2 pontos e ficando apenas na nona colocação entre 12
competidoras.68
Ainda em
2010, a diretoria contratou o carnavalesco Roberto Szaniecki para substituir o
duo Amauri Santos e Alex de Oliveira.69 , mas devido a outros carnavais Amauri
se desligou70 Inicialmente, o presidente Nilo Figueiredo, reeleito naquele ano,
havia anunciado que o enredo para 2011 seria "Portela dos Grandes
Carnavais", sobre a própria escola. Mas o dirigente voltou atrás, alegando
falta de patrocínio, e definiu o tema "Rio, Azul da Cor do Mar",
sobre a relação do homem com o mar. Mais uma vez pela falta de recursos e de
planejamento, a escola sofreu com atrasos em sua preparação para o desfile.71
Contudo, o pior estava por vir, quando em 7 de fevereiro de 2011 um incêndio
acidental destruiu os barracões da Portela, Grande Rio e União da Ilha.72 A
escola não teve danos significativos nos carros alegóricos, mas perdeu quase
3.000 fantasias. Respaldados pela prefeitura do Rio de Janeiro, a diretoria da
LIESA e os presidentes das Escolas de Samba do Grupo Especial determinaram que
Portela, Grande Rio e União da Ilha desfilariam, mas não seriam julgadas. Não
haveria ainda rebaixamento para o Grupo de Acesso.73 Pela primeira vez desde o
início dos concursos carnavalescos, em 1932, a Portela não foi avaliada, mas
mesmo assim, a escola fez um bom desfile.74 75
Com o enredo
de carnaval "E o Povo na Rua Cantando. É Feito uma Reza, um Ritual",
sobre festas e rituais da Bahia,76 77 a Portela fez um bom desfile,78
mas terminou a apuração apenas na sexta colocação, com 298,2 pontos.79
.
Para 2013,
cogitou-se[quem?] apresentar um enredo sobre a Lapa[carece de fontes], mas
decidiu falar sobre o bairro de Madureira, onde está localizada atualmente a
quadra da escola. Com um novo casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado
por Róbson e Ana Paula80, que substituem o melhor desse quesito na escola, nos
últimos anos (Rogerinho e Lucinha Nobre, que foram afastados sem motivos pelo
presidente da escola81. O começo do desfile foi tenso. Na
concentração, uma alegoria bateu numa árvore desequilibrando uma destaque de 41
anos que caiu de uma altura de quatro metros. Fora disso fez uma grande
apresentação contando a história do bairro boêmio de Madureira entre muitos
cenários como o Mercadão de Madureira numa alegoria com caixas de madeira e
personagens do cotidiano do bairro. Paulinho da Viola também foi homenageado nesse
enredo em um dos carros alegóricos. A Portela amargou o 7º lugar. Em 29 de
março de 2013, a Portela perdeu seu puxador Gilsinho, que foi para a Unidos de
Vila Isabel.
Novas
mudanças na Presidência
Após o
Carnaval 2013, formou-se um movimento de oposição que promoveu carreatas e
diversos eventos pelo bairro de Madureira, e culminou na eleição de 19 de maio,
onde enfrentaram-se as chapas 1, "Portela Nossa Paixão", encabeçada
pelo então presidente, Nilo, e seu filho, vice-presidente, candidatos à
reeleição, e a chapa 2, "Portela Verdade", formada por Serginho
Procópio, compositor e membro da velha-guarda, e o policial Marcos Falcon, além
de Monarco como presidente de honra da chapa. Após muita expectativa, por volta
das 21:45, Serginho Procópio foi declarado vencedor.82 O próprio Nilo anunciou
o resultado.83 O resultado terminou com 154 votos para Serginho, 151
Nilo e 8 votos nulos.82
Para 2014, a
equipe foi apresentada: o carnavalesco Alexandre Louzada, o diretor de carnaval
Luiz Carlos Bruno, o puxador Wantuir, o mestre-sala Diogo Jesus e a
porta-bandeira Danielle Nascimento e Ghislaine Cavalcanti, coreógrafa da
comissão de frente. O enredo de 2014 "Um Rio de mar a mar: do Valongo à
gloria de São Sebastião" vai abordar como o carioca se adaptou ao longo
dos às transformações na região entre a Zona Portuária e o bairro da Glória. A
azul e branco fez o melhor desfile nos últimos anos, sendo apontada com
favorita junto com Salgueiro e Unidos da Tijuca. Obteve o terceiro lugar, com
299,0 pontos, ficando a 4 décimos da campeã Unidos da Tijuca. O resultado foi
comemorado pela diretoria e torcida.
Antes do
carnaval 2014, a azul e branca de Madureira, assim como a sua afilhada União da
Ilha definiu o enredo para 2015, que será sobre os 450 anos da cidade do Rio de
Janeiro.84 85 O título do enredo é "ImaginaRIO - 450 janeiros de uma
cidade surreal", a escola reforçou o carro de som contratando o intérprete
Wander Pires, que cantará ao lado de Wantuir.
Segmentos
Bateria
Sua bateria é chamada de "A Tabajara do
Samba", e tem como característica principal o toque do Surdo de Terceira
inventado por Sula na década de 1940, e o toque das caixas com uma rufada
peculiar. Foi uma das baterias mais pesadas do carnaval carioca e contava
com um grande número de surdos de Primeira, Segunda e Terceira. Nos últimos
anos, a escola mudou essa característica para se adaptar ao andamento mais
rápido.
Foram
mestres de bateria da Portela: Mestre Betinho da fundação até 1970, Oscar
Bigode em 1971 e 1972, Mestre Cinco entre 1973 e 1977, Mestre Marçal entre 1978
e 1986, Mestre Timbó na década de 1990, Mestre Paulinho de Pilares, Mestre Mug,
Mestre Catanha, Mestre Marçalzinho e, desde 2006, Mestre Nilo Sérgio.
Corte da
bateria
A escola
teve rainhas de bateria famosas, como: Luiza Brunet e Adriane Galisteu e em
meados de 2000, optou-se pela comunidade, tendo EdIcléia das Neves e a
ex-porta-bandeira Dodô da Portela. depois foram rainhas: Valéria Valenssa,
Adriana Bombom e Luma de Oliveira89 . no ano de 2010, Juliana Portela, funkeira
do grupo Jaula das Gostozudas e cria da escola, foi coroada para o posto
deixado por Luma de Oliveira90 . mas foi substituída pela atriz Sheron Menezes,
que esteve como rainha, durante dois anos.
Atualmente
sua rainha e Patrícia Nery, cria da escola que já exerceu esse posto, na
Renascer e permanece, logo após a escola ter descartado o concurso de rainha de
bateria.
Bibliografia
Nélson da
Nóbrega Fernandes. Escolas de Samba: Sujeitos Celebrantes e Objetos Celebrados.
Rio de Janeiro: Coleção Memória Carioca, vol. 3, 2001. [1]
Fonte: Wikipédia
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