Total de visualizações de página

Clique na imagem e se transforme

domingo, 5 de janeiro de 2014

Reflexão: Noção de Classe - 05 (THOMPSON)

Existe atualmente uma tentação generalizada em se supor que a classe é uma coisa. [...] ‘Ela’, a classe operária, é tomada como tendo uma existência real, capaz de ser definida quase matematicamente – uma quantidade de homens que s encontra numa certa proporção com os meios de produção. Uma vez isso assumido, torna-se possível deduzir a consciência de classe que ‘ela’ deveria ter (mas raramente tem), se estivesse adequadamente consciente de sua própria posição e interesses reais. Há uma superestrutura cultural, por onde esse reconhecimento desponta sob formas ineficazes. Essas ‘defasagens’ e distorções culturais constituem um incômodo, de modo que é mais fácil passar para alguma teoria substitutiva: o partido, a seita ou o teórico que desvenda a consciência de classe, não como ela e, as como deveria ser.
Mas um erro semelhante e diariamente cometido do outro lado da divisória ideológica. Sob uma forma, é uma negação pura e simples. [...] assume-se que qualquer noção de classe é uma construção pejorativa, imposta às evidências. Nega-se absolutamente a existência da classe. Sob outra forma, e por uma inversão curiosa, é possível passar de uma visão dinâmica para uma visão estática de classe. ‘Ela’ – a classe operária – existe, e pode ser definida com alguma precisão como componente da estrutura social. A consciência de classe, porém, é algo daninho, inventado por intelectuais deslocados, visto que tudo o que perturba  a coexistência harmoniosa de grupos que desempenham diferentes ‘papéis sociais’ (assim retardando o crescimento econômico) deve ser lamentado como um ‘sintoma de motim injustificado’. O problema consiste em determinar a melhor forma de condicioná-‘la’, para que aceite seu papel social, e de melhor ‘tratar e canalizar’ suas queixas.

Se lembrarmos que a classe é uma relação, e não uma coisa, não podemos pensar dessa maneira. ‘Ela’ não existe, nem para ter um interesse ou uma consciência ideal, nem para se estender como um paciente na mesa de operações de ajuste. Tampouco podemos inverter as questões [..].


(THOMPSON, Eduard P. A formação da classe operária inglesa. Parte I -  A árvore da liberdade.  3v. Coleção Oficinas da História. Tradução: Denise Bottmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p. 09-14)   

Nenhum comentário: