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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Comunidades que tentaram um novo modo de vida no Brasil desde o século XIX?

Trecho da obra de Adelaide Gonçalves, "As comunidades utópicas e os primórdios do socialismo no Brasil", E-topia: Revista Electrónica de Estudos sobre a Utopia, n.º 2 (2004). ISSN 1645-958X
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V - Colônia Cecília, uma nova experiência comunitária
Como escreveu Carlos Rama no seu livro Utopismo Socialista, “O Utopismo prolonga-se no anarquismo muito mais que em outras correntes socialistas do século XIX”. 
Esse impulso por um socialismo experimental que  tinha  influenciado partidários de Fourier, de Owen e, depois, de Cabet, trouxe ao Brasil em 1890 um primeiro grupo de italianos decidido a fundar uma colônia socialista experimental, a Colônia Cecília. Nessa mesma época, outros emigrantes começavam a chegar fugindo da miséria e da perseguição política na Europa. Seriam estes trabalhadores que dariam uma contribuição decisiva na divulgação das idéias socialistas e do sindicalismo no país. Como em 1840, com Vauthier, Derrion e Benoit-Mure, as novas idéias nascidas na Europa chegavam ao Brasil. 
A Colônia Cecília nasceu da iniciativa de Giovanni Rossi (1856-1943), engenheiro agrônomo, médico veterinário e militante anarquista italiano, que  defendia a necessidade de colônias socialistas experimentais onde fosse praticado um projeto social libertário. Em 1878, publica em Milão Un Comune Socialista, bozzeto semi-verídico di Cárdias [12] – uma novela em torno do amor romântico de Cardias e Cecília, um casal que compartilha idéias de emancipação social e convence o irmão de Cecília a dispor de suas terras para a tentativa de um experimento redentor. Assim nasce a aldeia imaginária de Poggio al Mare, espécie de comunidade idílica que reúne pescadores e camponeses. Por esta via populariza seu projeto de uma comunidade libertária e segue  se afirmando como defensor dos experimentos comunitários, alvo que é dos críticos que vêem nestes ensaios um desvio da ação sindical e política. 
Do mesmo ano de 1878, é a publicação de um artigo de Rossi no periódico Il Lavoro, onde apresenta pela primeira vez seu projeto de uma comunidade socialista experimental. Em 1882, edita em Gavardo um periódico, Dal campo allá stalla, uma ação de propaganda junto aos camponeses tanto da idéia comunitária quanto da melhoria de seu labor, em torno das novas técnicas agrícolas. Em 1883 inicia a colaboração ao jornal Il Socialista de Pisa e até 1889 difunde suas idéias na imprensa operária de Itália:
La Favilla, de Mantova, In Marcia!, de Pesaro-Fano, Il Secolo, de Milão, Humanitas, de Nápoles, La Reivindicazioni, de Forlì, La Plebe, de Altri, entre vários. Em Maio de 1886, na cidade de Bréscia, publica o jornal Lo Sperimental, dedicado à defesa da fundação de colônias experimentais e, antes de mais, lugar de irradiação do pensamento dos socialistas românticos, dos utopistas e dos anarquistas. 
Escreve também a obra Socialismo Practico: Note Storiche, um manuscrito de 296 páginas considerado pelos estudiosos como uma importante história das comunidades utópicas, com um vastíssimo conhecimento das tentativas de vida comunitária, no campo religioso e laico, desde suas origens até aos anos 1880; larga exposição também do pensamento de  Fourier, nomeadamente suas idéias sobre o “matrimônio progressivo” e as “corporações amorosas”, assim como a experiência comunitária norte-americana de Oneida e sua prática de matrimônio coletivo (práticas malthusianas e eugênicas), e ainda largo comentário sobre Albert Owen e a comunidade de Topolobampo, no México, chegando mesmo a traduzir integralmente o texto de adesão comunitária de Owen, Our Principles. Sobre este manuscrito se perguntará sempre as razões que levaram Giovanni Rossi a não publicá-lo. 
Depois de algumas experiências na Itália e da tentativa malograda em outros lugares, Rossi decidiu-se pela implantação de uma comunidade no Brasil, onde buscaria “experimentalmente, uma forma de convivência social que correspondesse da melhor maneira possível às aspirações de liberdade e justiça”. 

O primeiro grupo anarquista embarcou para o Brasil em Fevereiro de 1890, chegando a Palmeira, no estado do Paraná, no mês de Abril. Nesta região, onde já existiam uma Colônia Francesa, de famílias oriundas de Avignon, e Colônias Russas, instalaram-se os emigrantes anarquistas para criar sua comunidade, iniciando logo o duro trabalho de desbravamento da mata, abrindo clareiras para o plantio e manejo da terra para suas casas. 
Apesar das outras colônias serem de emigrantes sem definição ideológica, os anarquistas italianos estabeleceram desde a sua chegada boas relações, principalmente com os agricultores franceses, que ajudariam à instalação na nova terra. No entanto, imediatamente surgiram dificuldades de adaptação a uma vida isolada, numa terra estranha, com um clima e um solo bem diferentes, que exigiam uma prática
agrícola adaptada às características tropicais. Problemas semelhantes aos que os fourieristas do Saí haviam experimentado décadas antes.
Em Fevereiro de 1891 chegou um novo grupo à Colônia, que incluía várias famílias de agricultores, abrindo novas possibilidades para o grupo anarquista pioneiro pouco experiente na lida com o manejo da terra. Contudo, uma nova dificuldade se colocava: a comunidade não tinha capital, infra-estrutura e uma produção agrícola que suportasse o número elevado de novos membros, ultrapassando a duzentos.
Alguns conflitos e problemas políticos com as autoridades locais agregaram outro tanto de obstáculos aos membros da Cecília. 
Apesar disso, a Colônia funcionou, como pretendia Giovanni Rossi, como um laboratório de experiência sociológica, onde era possível acompanhar a tentativa de criar novas relações de produção, cooperação e sociabilidade, inclusive no campo das relações entre os sexos, entre os seus membros. Em termos da total ausência de normas e regras é elucidativo o relato de Rossi: “Por uma reação natural ao formalismo estéril e funesto do período passado, o grupo quis ser absolutamente desorganizado. Nenhuma convenção, nem verbal, nem escrita foi estabelecida. Nenhum regulamento, nenhum horário, nenhuma delegação de poder, nenhuma regra fixa de vida ou de trabalho. A voz do primeiro despertava os outros; as necessidades técnicas do trabalho, evidentes para todos, chamavam a pôr mãos à obra, às vezes separados, às vezes em conjunto; era o apetite o que nos chamava a comer, e o sono a buscar repouso” (Comolli 1976: 39; ver também Marcorelles 1976; e Cinéma et anarchie (1984) ). 
O tema da paixão e do amor, que tanta atenção havia merecido de Charles Fourier, também teve um destaque importante nas análises que Rossi fez sobre a Colônia Cecília: “Para mim, com este amor sem rivalidade, sem ciúme, sem mentira, o nosso experimento socialista se completa e do estudo dos problemas sociais, eleva-se aquele dos sentimentos mais íntimos, mais complexos, mais obscuros, que agitam a psique humana” (Rossi 1893). 
O fim da Colônia Cecília foi explicado mais tarde por Rossi: "[A colônia] desapareceu porque foi pobre, e foi pobre porque principiou com pouquíssimos recursos, com pessoas incapazes para os trabalhos agrícolas e porque estava só no mundo, que lhe era economicamente estranho" (Rossi 1897). Com o desaparecimento da comunidade, por volta de 1894, só algumas famílias permaneceriam no local como
agricultores. Os anarquistas se espalharam pelo Brasil, desenvolvendo sua militância nos sindicatos e na imprensa libertária. Giovanni Rossi, depois de viver no sul do Brasil, onde incentivou a criação das primeiras cooperativas rurais, regressou à Itália.  Nos seus livros, Cecilia, Comunità Anarchica Sperimentale e Un Episodio D’Amore nella Colonia Cecilia, bem como em inúmeras cartas, Rossi faz um balanço dessa experiência comunitária, que poderia valer também para as Colônias do Saí e Palmital: 
Deves compreender bem isto: que quando uma comunidade, seja agrícola, seja industrial, não tem capacidade e meios de produção suficientes, os seus membros passam melhor, pelo menos aqui, explorados como assalariados dos capitalistas. Esta, para mim, foi a causa verdadeira que preparou, pouco a pouco, a dissolução da Cecília. (idem) 
Note-se que Rossi sublinha o fato da dissolução da Colonia em meio às dificuldades de vária natureza, o que não significa ter avaliado o experimento em sua dimensão temporal e social enquanto fracasso. Tal é evidente em artigo de sua lavra, em Dezembro de 1916, no periódico L’Universitá Popolare: 
Para mi, que forme parte em ella, la Colonia La Cecilia no fué un fracaso... Ella se proponía un objeto de carácter experimental: darse cuenta si los hombres actuales son aptos para vivir sin leyes y sin propiedad individual....Hasta aquel momento, a la exposición doctrinaria de la anrquía, se objetaba: ‘Son ideas muy bellas, pero impraticables para los hombres actuales’. La Colonia Cecilia demostró que un centenar de personas, en condiciones económicas más pronto desfavorables, habían podido vivir dos años, con escasas diferencias y una satisfacción recíproca, sin leyes, sin reglamentos, sin jefes, sin, códigos, bajo el regimén de la propiedad común, trabajando espontáneament para la comunidad.... El resumen, opúsculo publicado con el título Cecilia, comunidad anarquista experimental, conduce a esta conclusión. Fué redactado por mí y aprobado por la unanimidad de los colonos. (apud Armand 1982: 14) 
Neste ponto é razoável pôr em tela a discussão proposta em Max Netlau, afirmando a reflexão de Irving Horowitz que ao referir-se à pertinência da visão de mundo libertária destacava que não se poderiam avaliar as utopias anarquistas desde o ponto de vista do êxito, uma vez que são os próprios anarquistas a rechaçarem esta ótica ao buscarem uma vida alternativa com base em outros valores, na direção da formação de um novo homem e uma nova mulher (Nettlau 1991: 4).[13] 
Sobre sua autoreflexão acerca do experimento comunitário e de sua idéia de socialismo anárquico experimental, o estudo de Salvo Vaccaro sobre os textos de Rossi, em particular do escrito de 1895 Il Paraná del secolo XX [14], ajuda a situar o pensamento de Rossi no tempo: 
Senza dogmi teorici, senza soluzioni precostituite, anzi com notevoli iniezioni di autoriflessioni sui limit e di autocrítica sugli effetti della sperimentazione concreta (e non letteraria), Rossi, dopo vent’anni di utopia vissuta e praticata, riesce a trarre lucidi giudizi intorno ai déficit di um progetto sperimentali in ambienti sfavorevoli. 
VI - A repercussão da Colônia Cecília na imprensa anarquista de Portugal
As pesquisas realizadas indicam grande repercussão do experimento comunitário da Cecília, ainda que o tratamento seja diferenciado. Nas edições de 1891 do periódico italiano La Reivindicazione encontram-se artigos críticos a Rossi, em particular de Errico Malatesta (18 de Março de 1891), para quem Rossi, no Brasil repete tardiamente, quando o problema social reclama soluções urgentes e gerais, os experimentos de diletantes, à maneira dos precursores do socialismo na primeira metade do século XIX.
Os revolucionários, diz Malatesta, estes sim, permanecem em seu posto de combate. Já em França, a repercussão é de outra natureza, como se pode observar da leitura de vários artigos nos periódicos La Revolte, Revue Libertaire, Les Temps Nouveaux, referidos por Jean Maitron em sua história do movimento anarquista francês. Na Argentina e Uruguai encontram-se artigos referentes à Colônia Cecília e, em Buenos Aires, deve-se ao anarquista catalão José Pratt a tradução, em 1896, de Un episodio d’amore nella colonia Cecília, além dos testemunhos de José Batlle y Ordoñez, um saintsimoniano em visita à Cecília. Nos países de língua alemã a obra de propaganda da Colônia é realizada por Alfred Sanftleben que a partir de 1894 publica textos de Rossi em vários periódicos de língua alemã (Socialist, de Berlim, Zukunft, de Viena, Freiheit, de Nova York) e em 1897 publica uma tradução integral de Cecília, Comunitá Anarchica Sperimentale, incluindo comentários de várias personalidades da época, e alguns contraditando o experimento.[15] 
O jornal anarquista de Lisboa, A Revolta, dá a conhecer a seu público em 1893, as notícias que chegam diretamente do Brasil via imprensa anarquista de  Barcelona e da Argentina, através dos jornais El Productor, La Revolte e El Perseguido.[16] 
Assim observamos em várias edições do periódico as referências ao episódio da Colônia Cecília em notas que situam o leitor em relação à experiência libertária praticada no sul do Brasil, desde a localização, clima, disposição das casas e arranjos de equipamentos coletivos: 
A 17 kilometros da pequena cidade de Palmeira,  no Paraná, Brasil, e a 900 metros acima do nível do mar, está situada a colônia socialista-anarquista Cecília, numa superfície de 278 hectares, pouco mais ou menos. O clima é bom, nem demasiado frio, nem demasiado quente. A aldeia, que se compõe de 22 casas de madeira e de armazéns, cozinha, refeitório e currais a 200 metros d’aquellas, chama-se – Anarchia. 
Falam do pioneirismo e do limite numérico de adesão, ao menos masculina, o que evidencia as dificuldades de provisão mínima de subsistência na Colônia. 
É a primeira colônia anarquista que se fundou. Recebe muitos jornais anarquistas, mas solicita de todos os das línguas italiana, francesa, espanhola, inglesa e portuguesa, que lhe enviem exemplares de cada número. Presentemente só pode receber dois ou três sapateiros, sem família, um serralheiro e algumas mulheres livres de preconceitos. Os impacientes, porém, que não quiserem esperar que as circunstâncias permitam recebê-los, podem ir, e fundar perto de Cecília uma nova colônia anarquista, levando tudo que lhes pareça necessário. 
Informam sobre o cultivo da terra, pequenos arranjos industriosos, alimentação, habitação, educação das crianças, dificuldades materiais e culturais de adaptação, sacrifícios pessoais diante da natureza inóspita e das hostilidades do meio: 
Além de cultivarem a terra, os nossos camaradas teem uma pequena  indústria – sapataria, carpintaria e tanoaria, e tratam de instruir as crianças nos nossos justos princípios. A vida que levam é uma vida de sacrifícios, porque lhes faltam muitas coisas úteis, e bem dificilmente se habituam a isso os que estavam acostumados à vida fácil das cidades. A sua alimentação consiste em pão, batatas, arroz e legumes, e carne de porco, de tempos a tempos. 
Ainda que as narrativas da experiência comunitária apresentem o quadro de dificuldades, estas não são dadas como incontornáveis e os anarquistas de Lisboa e do Porto, agrupados em torno do jornal A Revolta, e aceitando a apreciação de seus congêneres argentinos e espanhóis, destacam como exemplo anarquista praticado na Cecília, o modo de vida livre, o apoio mútuo no trabalho, a ausência de chefia ou de outra autoridade, a ausência de mecanismos de força, de regras, como se vê aqui : 
Fundada em Abril de 1890 por 8 camaradas; reconstituída em Junho de 1891, esta colônia compõe-se atualmente de 66 pessoas, as quais vivem uma vida completamente livre, sem nenhuma lei, sem nenhum regulamento, numa palavra, sem nenhuma autoridade; trabalhando cada uma segundo as suas forças, guiada tão somente pelo desejo de ser útil. 
Os relatos das dificuldades materiais, do meio e das gentes, transborda para as dificuldades nas relações interpessoais, tema onde o jornal é cuidadoso no trato, responsabilizando a presença feminina como supostamente portadora dos preconceitos da ordem burguesa: 
Muitos membros da Colônia, as mulheres principalmente, não estão completamente emancipados dos preconceitos burgueses, e isto levanta pequenos desaguisados, sem contudo perturbar a harmonia, que é bem melhor do que em qualquer família da sociedade burguesa. 
A afirmação pouco veraz do quadro de harmonia da Colônia e a certeza de futuro assegurado parece ser o justificado caminho para conquistar adesões entre os anarquistas de Portugal a quem os da Cecília recorrem em busca de contribuições para o fomento da Colônia. Afinal tratava-se desde logo da prática deste lado dos valores do internacionalismo e da solidariedade diante de um empreendimento que ao longe fazia sua propaganda do ideal pela ação: 
O futuro da colônia está assegurado, mas por agora ainda não podemos ajudar a propaganda, como era nosso desejo.
Contamos fazê-lo mais para diante, se conseguirmos estabelecer aqui indústria produtiva, para o que decidimos, emitir entre os nossos camaradas ou grupos, ações de 5$000 réis cada uma, reembolsável pouco a pouco, depois de três anos. E se previne que Puy Mayol não tem nada com a Colônia. 
Os jornais El Productor e El Perseguido demonstram seu apoio à experiência de Rossi, sem no entanto deixar de advertir os leitores para os paradoxos ou as ambigüidades que advém de tal empresa, fazendo coro neste sentido às discussões em curso nos círculos anarquistas europeus acerca das contradições presentes desde sempre nas experiências comunitárias, inclusive a idéia de ‘colônia’ que alguns julgam imprópria, pela alusão e proximidade no tempo e no espaço com as colônias de exploração e de povoamento, matriz das políticas de governo na América Latina: 
Uma tão diferente ordem de coisas, como é uma sociedade anarquista, não pode subsistir dentro do mundo velho, tirânico e explorador; tudo que é exeqüível depois da revolução social, é impossível hoje; enquanto um ensaio qualquer não adquire proporções, não é raro a tolerância social, máxime verificando-se o ensaio em territórios afastados e despovoados, mas assim que adquirir importância, a pata autoritária aniquila a empresa e apodera-se de tudo, com pretextos vários. 
O jornal La Revolte, na mesma senda da crítica conceitual ao empreendimento, observa seus limites quanto à realização anarquista em seus fundamentos, o que não impede de efetivar apoio aos camaradas da Cecília, inclusive intermediando em Barcelona a coleta de fundos: 
A falta de recursos de que esta se dá vê-se do apelo de fundos dirigido pelos colonos de Cecília aos seus irmãos da Europa –não tardará a lembrar aqueles que, sem esperança no futuro, vão procurar, longe da civilização, um solo livre onde realizem suas concepções duma sociedade melhor – que na sociedade atual, onde tudo se encadeia, é impossível a qualquer tentativa, por mais isolada que seja, subtrair-se completamente à sua funesta ação; a burguesia em toda a parte, detém o solo, os produtos e os meios de produção, e pesa, como todo o seu peso, sobre os que querem fugir-lhe. Toda tentativa anarquista não pode ser inteiramente anarquista, pelo fato de, ao seu lado, subsistir a organização burguesa que a domina. 
Acrescenta ainda, transcrevendo um jornal francês, espécie de corolário à sua apreciação crítica: “O que é possível em grande, não é necessariamente em pequeno, ou reciprocamente. Foi o erro de Cabet, de Fourier, de Considérant, ter crido na experiência racional duma idéia, que exige para ser realizada, a refundição moral de toda a sociedade antiga”. 
Por sua parte, o jornal El Perseguido avalia  que a Colônia terá de passar por muitas vicissitudes e de sofrer muitos desenganos, porque não produzindo todo o necessário, tem de comprar vários artigos ou de passar sem eles, e comprando-os, paga-los-á mais caros e está obrigada a sofrer, como nós, a exploração do homem pelo homem; e que é mister que o comunismo anárquico entre na posse de tudo, para que dê resultados satisfatórios. 
Anexo I adelaide.anexoI.htm– Comunidades da utopia social na América Latina do século XIX 
Anexo II – Uma bibliografia para o estudo das comunidades utópicas e os primórdios do socialismo no Brasil
[12] A primeira edição é de 1878 (Milão:Bignami), a segunda de  1881 (Livorno), a terceira traz um prefácio de
Andrea Costa em 1884 (Brescia: Tipografia Sociale Operaia) e a quarta de 1891 (Livorno: Favilinni). 

[13] Nettlau refere-se ao estudo de Horowitz 1975: vol.1, 15-16
Trecho da obra de Adelaide Gonçalves, "As comunidades utópicas e os primórdios do socialismo no Brasil", E-topia: Revista Electrónica de Estudos sobre a Utopia, n.º 2 (2004). ISSN 1645-958X 

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