Trecho da
obra de Adelaide Gonçalves, "As comunidades utópicas e os primórdios do
socialismo no Brasil", E-topia: Revista Electrónica de Estudos
sobre a Utopia, n.º 2 (2004). ISSN 1645-958X
[...]
V - Colônia Cecília, uma nova experiência
comunitária
Como
escreveu Carlos Rama no seu livro Utopismo Socialista, “O Utopismo prolonga-se
no anarquismo muito mais que em outras correntes socialistas do século
XIX”.
Esse
impulso por um socialismo experimental que
tinha influenciado partidários de
Fourier, de Owen e, depois, de Cabet, trouxe ao Brasil em 1890 um primeiro
grupo de italianos decidido a fundar uma colônia socialista experimental, a
Colônia Cecília. Nessa mesma época, outros emigrantes começavam a chegar fugindo
da miséria e da perseguição política na Europa. Seriam estes trabalhadores que
dariam uma contribuição decisiva na divulgação das idéias socialistas e do
sindicalismo no país. Como em 1840, com Vauthier, Derrion e Benoit-Mure, as
novas idéias nascidas na Europa chegavam ao Brasil.
A Colônia
Cecília nasceu da iniciativa de Giovanni Rossi (1856-1943), engenheiro
agrônomo, médico veterinário e militante anarquista italiano, que defendia a necessidade de colônias
socialistas experimentais onde fosse praticado um projeto social libertário. Em
1878, publica em Milão Un Comune Socialista, bozzeto semi-verídico di Cárdias
[12] – uma novela em torno do amor romântico de Cardias e Cecília, um casal que
compartilha idéias de emancipação social e convence o irmão de Cecília a dispor
de suas terras para a tentativa de um experimento redentor. Assim nasce a
aldeia imaginária de Poggio al Mare, espécie de comunidade idílica que reúne
pescadores e camponeses. Por esta via populariza seu projeto de uma comunidade
libertária e segue se afirmando como
defensor dos experimentos comunitários, alvo que é dos críticos que vêem nestes
ensaios um desvio da ação sindical e política.
Do mesmo
ano de 1878, é a publicação de um artigo de Rossi no periódico Il Lavoro, onde
apresenta pela primeira vez seu projeto de uma comunidade socialista
experimental. Em 1882, edita em Gavardo um periódico, Dal campo allá stalla,
uma ação de propaganda junto aos camponeses tanto da idéia comunitária quanto
da melhoria de seu labor, em torno das novas técnicas agrícolas. Em 1883 inicia
a colaboração ao jornal Il Socialista de Pisa e até 1889 difunde suas idéias na
imprensa operária de Itália:
La
Favilla, de Mantova, In Marcia!, de Pesaro-Fano, Il Secolo, de Milão,
Humanitas, de Nápoles, La Reivindicazioni, de Forlì, La Plebe, de Altri, entre
vários. Em Maio de 1886, na cidade de Bréscia, publica o jornal Lo Sperimental,
dedicado à defesa da fundação de colônias experimentais e, antes de mais, lugar
de irradiação do pensamento dos socialistas românticos, dos utopistas e dos
anarquistas.
Escreve
também a obra Socialismo Practico: Note Storiche, um manuscrito de 296 páginas
considerado pelos estudiosos como uma importante história das comunidades
utópicas, com um vastíssimo conhecimento das tentativas de vida comunitária, no
campo religioso e laico, desde suas origens até aos anos 1880; larga exposição
também do pensamento de Fourier,
nomeadamente suas idéias sobre o “matrimônio progressivo” e as “corporações
amorosas”, assim como a experiência comunitária norte-americana de Oneida e sua
prática de matrimônio coletivo (práticas malthusianas e eugênicas), e ainda largo
comentário sobre Albert Owen e a comunidade de Topolobampo, no México, chegando
mesmo a traduzir integralmente o texto de adesão comunitária de Owen, Our
Principles. Sobre este manuscrito se perguntará sempre as razões que levaram
Giovanni Rossi a não publicá-lo.
Depois de
algumas experiências na Itália e da tentativa malograda em outros lugares,
Rossi decidiu-se pela implantação de uma comunidade no Brasil, onde buscaria
“experimentalmente, uma forma de convivência social que correspondesse da
melhor maneira possível às aspirações de liberdade e justiça”.
O primeiro
grupo anarquista embarcou para o Brasil em Fevereiro de 1890, chegando a
Palmeira, no estado do Paraná, no mês de Abril. Nesta região, onde já existiam
uma Colônia Francesa, de famílias oriundas de Avignon, e Colônias Russas,
instalaram-se os emigrantes anarquistas para criar sua comunidade, iniciando
logo o duro trabalho de desbravamento da mata, abrindo clareiras para o plantio
e manejo da terra para suas casas.
Apesar das
outras colônias serem de emigrantes sem definição ideológica, os anarquistas
italianos estabeleceram desde a sua chegada boas relações, principalmente com
os agricultores franceses, que ajudariam à instalação na nova terra. No
entanto, imediatamente surgiram dificuldades de adaptação a uma vida isolada,
numa terra estranha, com um clima e um solo bem diferentes, que exigiam uma
prática
agrícola
adaptada às características tropicais. Problemas semelhantes aos que os
fourieristas do Saí haviam experimentado décadas antes.
Em
Fevereiro de 1891 chegou um novo grupo à Colônia, que incluía várias famílias
de agricultores, abrindo novas possibilidades para o grupo anarquista pioneiro
pouco experiente na lida com o manejo da terra. Contudo, uma nova dificuldade
se colocava: a comunidade não tinha capital, infra-estrutura e uma produção
agrícola que suportasse o número elevado de novos membros, ultrapassando a
duzentos.
Alguns
conflitos e problemas políticos com as autoridades locais agregaram outro tanto
de obstáculos aos membros da Cecília.
Apesar
disso, a Colônia funcionou, como pretendia Giovanni Rossi, como um laboratório
de experiência sociológica, onde era possível acompanhar a tentativa de criar
novas relações de produção, cooperação e sociabilidade, inclusive no campo das
relações entre os sexos, entre os seus membros. Em termos da total ausência de
normas e regras é elucidativo o relato de Rossi: “Por uma reação natural ao
formalismo estéril e funesto do período passado, o grupo quis ser absolutamente
desorganizado. Nenhuma convenção, nem verbal, nem escrita foi estabelecida.
Nenhum regulamento, nenhum horário, nenhuma delegação de poder, nenhuma regra
fixa de vida ou de trabalho. A voz do primeiro despertava os outros; as
necessidades técnicas do trabalho, evidentes para todos, chamavam a pôr mãos à
obra, às vezes separados, às vezes em conjunto; era o apetite o que nos chamava
a comer, e o sono a buscar repouso” (Comolli 1976: 39; ver também Marcorelles
1976; e Cinéma et anarchie (1984) ).
O tema da
paixão e do amor, que tanta atenção havia merecido de Charles Fourier, também
teve um destaque importante nas análises que Rossi fez sobre a Colônia Cecília:
“Para mim, com este amor sem rivalidade, sem ciúme, sem mentira, o nosso
experimento socialista se completa e do estudo dos problemas sociais, eleva-se
aquele dos sentimentos mais íntimos, mais complexos, mais obscuros, que agitam
a psique humana” (Rossi 1893).
O fim da
Colônia Cecília foi explicado mais tarde por Rossi: "[A colônia]
desapareceu porque foi pobre, e foi pobre porque principiou com pouquíssimos
recursos, com pessoas incapazes para os trabalhos agrícolas e porque estava só
no mundo, que lhe era economicamente estranho" (Rossi 1897). Com o desaparecimento
da comunidade, por volta de 1894, só algumas famílias permaneceriam no local
como
agricultores.
Os anarquistas se espalharam pelo Brasil, desenvolvendo sua militância nos
sindicatos e na imprensa libertária. Giovanni Rossi, depois de viver no sul do
Brasil, onde incentivou a criação das primeiras cooperativas rurais, regressou
à Itália. Nos seus livros, Cecilia,
Comunità Anarchica Sperimentale e Un Episodio D’Amore nella Colonia Cecilia,
bem como em inúmeras cartas, Rossi faz um balanço dessa experiência
comunitária, que poderia valer também para as Colônias do Saí e Palmital:
Deves
compreender bem isto: que quando uma comunidade, seja agrícola, seja
industrial, não tem capacidade e meios de produção suficientes, os seus membros
passam melhor, pelo menos aqui, explorados como assalariados dos capitalistas.
Esta, para mim, foi a causa verdadeira que preparou, pouco a pouco, a
dissolução da Cecília. (idem)
Note-se
que Rossi sublinha o fato da dissolução da Colonia em meio às dificuldades de
vária natureza, o que não significa ter avaliado o experimento em sua dimensão
temporal e social enquanto fracasso. Tal é evidente em artigo de sua lavra, em
Dezembro de 1916, no periódico L’Universitá Popolare:
Para mi,
que forme parte em ella, la Colonia La Cecilia no fué un fracaso... Ella se
proponía un objeto de carácter experimental: darse cuenta si los hombres
actuales son aptos para vivir sin leyes y sin propiedad individual....Hasta
aquel momento, a la exposición doctrinaria de la anrquía, se objetaba: ‘Son
ideas muy bellas, pero impraticables para los hombres actuales’. La Colonia
Cecilia demostró que un centenar de personas, en condiciones económicas más
pronto desfavorables, habían podido vivir dos años, con escasas diferencias y
una satisfacción recíproca, sin leyes, sin reglamentos, sin jefes, sin,
códigos, bajo el regimén de la propiedad común, trabajando espontáneament para
la comunidad.... El resumen, opúsculo publicado con el título Cecilia, comunidad
anarquista experimental, conduce a esta conclusión. Fué redactado por mí y
aprobado por la unanimidad de los colonos. (apud Armand 1982: 14)
Neste
ponto é razoável pôr em tela a discussão proposta em Max Netlau, afirmando a
reflexão de Irving Horowitz que ao referir-se à pertinência da visão de mundo
libertária destacava que não se poderiam avaliar as utopias anarquistas desde o
ponto de vista do êxito, uma vez que são os próprios anarquistas a rechaçarem
esta ótica ao buscarem uma vida alternativa com base em outros valores, na
direção da formação de um novo homem e uma nova mulher (Nettlau 1991:
4).[13]
Sobre sua
autoreflexão acerca do experimento comunitário e de sua idéia de socialismo
anárquico experimental, o estudo de Salvo Vaccaro sobre os textos de Rossi, em
particular do escrito de 1895 Il Paraná del secolo XX [14], ajuda a situar o
pensamento de Rossi no tempo:
Senza
dogmi teorici, senza soluzioni precostituite, anzi com notevoli iniezioni di
autoriflessioni sui limit e di autocrítica sugli effetti della sperimentazione
concreta (e non letteraria), Rossi, dopo vent’anni di utopia vissuta e
praticata, riesce a trarre lucidi giudizi intorno ai déficit di um progetto
sperimentali in ambienti sfavorevoli.
VI - A
repercussão da Colônia Cecília na imprensa anarquista de Portugal
As
pesquisas realizadas indicam grande repercussão do experimento comunitário da
Cecília, ainda que o tratamento seja diferenciado. Nas edições de 1891 do
periódico italiano La Reivindicazione encontram-se artigos críticos a Rossi, em
particular de Errico Malatesta (18 de Março de 1891), para quem Rossi, no Brasil
repete tardiamente, quando o problema social reclama soluções urgentes e
gerais, os experimentos de diletantes, à maneira dos precursores do socialismo
na primeira metade do século XIX.
Os
revolucionários, diz Malatesta, estes sim, permanecem em seu posto de combate.
Já em França, a repercussão é de outra natureza, como se pode observar da
leitura de vários artigos nos periódicos La Revolte, Revue Libertaire, Les
Temps Nouveaux, referidos por Jean Maitron em sua história do movimento
anarquista francês. Na Argentina e Uruguai encontram-se artigos referentes à
Colônia Cecília e, em Buenos Aires, deve-se ao anarquista catalão José Pratt a
tradução, em 1896, de Un episodio d’amore nella colonia Cecília, além dos
testemunhos de José Batlle y Ordoñez, um saintsimoniano em visita à Cecília.
Nos países de língua alemã a obra de propaganda da Colônia é realizada por
Alfred Sanftleben que a partir de 1894 publica textos de Rossi em vários
periódicos de língua alemã (Socialist, de Berlim, Zukunft, de Viena, Freiheit,
de Nova York) e em 1897 publica uma tradução integral de Cecília, Comunitá
Anarchica Sperimentale, incluindo comentários de várias personalidades da
época, e alguns contraditando o experimento.[15]
O jornal
anarquista de Lisboa, A Revolta, dá a conhecer a seu público em 1893, as
notícias que chegam diretamente do Brasil via imprensa anarquista de Barcelona e da Argentina, através dos jornais
El Productor, La Revolte e El Perseguido.[16]
Assim
observamos em várias edições do periódico as referências ao episódio da Colônia
Cecília em notas que situam o leitor em relação à experiência libertária
praticada no sul do Brasil, desde a localização, clima, disposição das casas e
arranjos de equipamentos coletivos:
A 17
kilometros da pequena cidade de Palmeira,
no Paraná, Brasil, e a 900 metros acima do nível do mar, está situada a colônia
socialista-anarquista Cecília, numa superfície de 278 hectares, pouco mais ou
menos. O clima é bom, nem demasiado frio, nem demasiado quente. A aldeia, que
se compõe de 22 casas de madeira e de armazéns, cozinha, refeitório e currais a
200 metros d’aquellas, chama-se – Anarchia.
Falam do
pioneirismo e do limite numérico de adesão, ao menos masculina, o que evidencia
as dificuldades de provisão mínima de subsistência na Colônia.
É a
primeira colônia anarquista que se fundou. Recebe muitos jornais anarquistas,
mas solicita de todos os das línguas italiana, francesa, espanhola, inglesa e
portuguesa, que lhe enviem exemplares de cada número. Presentemente só pode
receber dois ou três sapateiros, sem família, um serralheiro e algumas mulheres
livres de preconceitos. Os impacientes, porém, que não quiserem esperar que as
circunstâncias permitam recebê-los, podem ir, e fundar perto de Cecília uma
nova colônia anarquista, levando tudo que lhes pareça necessário.
Informam
sobre o cultivo da terra, pequenos arranjos industriosos, alimentação,
habitação, educação das crianças, dificuldades materiais e culturais de
adaptação, sacrifícios pessoais diante da natureza inóspita e das hostilidades
do meio:
Além de
cultivarem a terra, os nossos camaradas teem uma pequena indústria – sapataria, carpintaria e
tanoaria, e tratam de instruir as crianças nos nossos justos princípios. A vida
que levam é uma vida de sacrifícios, porque lhes faltam muitas coisas úteis, e
bem dificilmente se habituam a isso os que estavam acostumados à vida fácil das
cidades. A sua alimentação consiste em pão, batatas, arroz e legumes, e carne
de porco, de tempos a tempos.
Ainda que
as narrativas da experiência comunitária apresentem o quadro de dificuldades,
estas não são dadas como incontornáveis e os anarquistas de Lisboa e do Porto,
agrupados em torno do jornal A Revolta, e aceitando a apreciação de seus
congêneres argentinos e espanhóis, destacam como exemplo anarquista praticado
na Cecília, o modo de vida livre, o apoio mútuo no trabalho, a ausência de
chefia ou de outra autoridade, a ausência de mecanismos de força, de regras,
como se vê aqui :
Fundada em
Abril de 1890 por 8 camaradas; reconstituída em Junho de 1891, esta colônia
compõe-se atualmente de 66 pessoas, as quais vivem uma vida completamente
livre, sem nenhuma lei, sem nenhum regulamento, numa palavra, sem nenhuma
autoridade; trabalhando cada uma segundo as suas forças, guiada tão somente
pelo desejo de ser útil.
Os relatos
das dificuldades materiais, do meio e das gentes, transborda para as
dificuldades nas relações interpessoais, tema onde o jornal é cuidadoso no
trato, responsabilizando a presença feminina como supostamente portadora dos
preconceitos da ordem burguesa:
Muitos
membros da Colônia, as mulheres principalmente, não estão completamente
emancipados dos preconceitos burgueses, e isto levanta pequenos desaguisados,
sem contudo perturbar a harmonia, que é bem melhor do que em qualquer família
da sociedade burguesa.
A
afirmação pouco veraz do quadro de harmonia da Colônia e a certeza de futuro
assegurado parece ser o justificado caminho para conquistar adesões entre os
anarquistas de Portugal a quem os da Cecília recorrem em busca de contribuições
para o fomento da Colônia. Afinal tratava-se desde logo da prática deste lado
dos valores do internacionalismo e da solidariedade diante de um empreendimento
que ao longe fazia sua propaganda do ideal pela ação:
O futuro
da colônia está assegurado, mas por agora ainda não podemos ajudar a propaganda,
como era nosso desejo.
Contamos
fazê-lo mais para diante, se conseguirmos estabelecer aqui indústria produtiva,
para o que decidimos, emitir entre os nossos camaradas ou grupos, ações de
5$000 réis cada uma, reembolsável pouco a pouco, depois de três anos. E se
previne que Puy Mayol não tem nada com a Colônia.
Os jornais
El Productor e El Perseguido demonstram seu apoio à experiência de Rossi, sem
no entanto deixar de advertir os leitores para os paradoxos ou as ambigüidades
que advém de tal empresa, fazendo coro neste sentido às discussões em curso nos
círculos anarquistas europeus acerca das contradições presentes desde sempre
nas experiências comunitárias, inclusive a idéia de ‘colônia’ que alguns julgam
imprópria, pela alusão e proximidade no tempo e no espaço com as colônias de
exploração e de povoamento, matriz das políticas de governo na América
Latina:
Uma tão
diferente ordem de coisas, como é uma sociedade anarquista, não pode subsistir
dentro do mundo velho, tirânico e explorador; tudo que é exeqüível depois da
revolução social, é impossível hoje; enquanto um ensaio qualquer não adquire proporções,
não é raro a tolerância social, máxime verificando-se o ensaio em territórios
afastados e despovoados, mas assim que adquirir importância, a pata autoritária
aniquila a empresa e apodera-se de tudo, com pretextos vários.
O jornal
La Revolte, na mesma senda da crítica conceitual ao empreendimento, observa
seus limites quanto à realização anarquista em seus fundamentos, o que não
impede de efetivar apoio aos camaradas da Cecília, inclusive intermediando em
Barcelona a coleta de fundos:
A falta de
recursos de que esta se dá vê-se do apelo de fundos dirigido pelos colonos de
Cecília aos seus irmãos da Europa –não tardará a lembrar aqueles que, sem
esperança no futuro, vão procurar, longe da civilização, um solo livre onde
realizem suas concepções duma sociedade melhor – que na sociedade atual, onde
tudo se encadeia, é impossível a qualquer tentativa, por mais isolada que seja,
subtrair-se completamente à sua funesta ação; a burguesia em toda a parte,
detém o solo, os produtos e os meios de produção, e pesa, como todo o seu peso,
sobre os que querem fugir-lhe. Toda tentativa anarquista não pode ser
inteiramente anarquista, pelo fato de, ao seu lado, subsistir a organização
burguesa que a domina.
Acrescenta
ainda, transcrevendo um jornal francês, espécie de corolário à sua apreciação
crítica: “O que é possível em grande, não é necessariamente em pequeno, ou
reciprocamente. Foi o erro de Cabet, de Fourier, de Considérant, ter crido na
experiência racional duma idéia, que exige para ser realizada, a refundição
moral de toda a sociedade antiga”.
Por sua
parte, o jornal El Perseguido avalia que
a Colônia terá de passar por muitas vicissitudes e de sofrer muitos desenganos,
porque não produzindo todo o necessário, tem de comprar vários artigos ou de
passar sem eles, e comprando-os, paga-los-á mais caros e está obrigada a
sofrer, como nós, a exploração do homem pelo homem; e que é mister que o
comunismo anárquico entre na posse de tudo, para que dê resultados
satisfatórios.
Anexo I
adelaide.anexoI.htm– Comunidades da utopia social na América Latina do século
XIX
Anexo II –
Uma bibliografia para o estudo das comunidades utópicas e os primórdios do
socialismo no Brasil
[12] A
primeira edição é de 1878 (Milão:Bignami), a segunda de 1881 (Livorno), a terceira traz um prefácio
de
Andrea
Costa em 1884 (Brescia: Tipografia Sociale Operaia) e a quarta de 1891
(Livorno: Favilinni).
[13]
Nettlau refere-se ao estudo de Horowitz 1975: vol.1, 15-16
Trecho da
obra de Adelaide Gonçalves, "As comunidades utópicas e os primórdios do
socialismo no Brasil", E-topia: Revista Electrónica de Estudos
sobre a Utopia, n.º 2 (2004). ISSN 1645-958X
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