“[...] Conforme já enfatizaram Hoggart e Hobsbawn, os
padrões culturais e estéticos das classes dominantes penetraram a cultura das
classes subalternas, a começar da passagem da tradição oral para a linguagem
escrita, num processo contraditório vinculado aos modos de busca e conquista de
respectability.
[...]
De outra parte, a pretensa homogeneidade cultural do
proletariado emergente está também comprometida em razão de outros fatores
históricos, entre os quais podem ser lembrados: as diferenças nacionais entre
trabalhadores imigrantes de origens diversas; a reciclagem de hábitos da vida
rural numa paisagem urbana cambiante e marcada pelos novos ritmos da fábrica;
as enormes variações culturais de ordem regional e/ou local [...]; as formas
heterogêneas do processo de trabalho industrial, incluindo desde as unidades
semi-artesanais e manufatureiras até a grande indústria mecanizada; as
concepções político-culturais divergentes entre as várias tendências que atuam
no movimento operário (por exemplo, anarcocoletivistas, anarcosindicalistas,
social-democratas, comunistas, sindicalismo “amarelo”, círculos católicos,
independentes etc.).
[...] Não há, pois, como separar rigidamente os planos da
“política” e da “cultura”. Anarcosindicalistas, socialistas ou sindicalismo
reformista, cada uma destas correntes constrói uma imagem particular da classe
operária e tais concepções não são estranhas às práticas culturais efetivas,
mas as informam e lhes oferecem “estilos” variados.”
(HARDMAN, Francisco Foot. Nem pátria, nem patrão! p. 238-241)
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