ABERTURA
DO SEMESTRE: Divergências marcam debate sobre mobilidade urbana
28 ago,
2013
Os
projetos de mobilidade urbana de Fortaleza viraram tema do debate “Mobilidade
Urbana: Reflexões Sobre o Desenvolvimento da Cidade”, promovido pela Faculdade
7 de Setembro (FA7), na manhã desta terça-feira (27).
Os
debatedores convidados dividiram opiniões e defenderam o seu ponto de vista. O
evento, no seu primeiro momento, contou com a participação do secretário
executivo da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf), Roberto Resende,
do assessor institucional da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente
(Seuma), João Saraiva, da professora e membro do movimento Crítica Radical,
Rosa da Fonseca, e do advogado, professor da FA7 e vereador (PSOL), João Alfredo.
O coordenador do curso de Comunicação Social, Dilson Alexandre, fez a mediação.
O debate
teve início com a presença da ex-prefeita de Fortaleza e fundadora do movimento
Crítica Radical, Maria Luiza Fontenele. A convidada falou sobre a importância
da realização de um debate sobre esse tema, já que é resultado das
manifestações na cidade. “A preservação do Parque Ecológico do Cocó, por
exemplo, é de extrema importância para nós. A natureza nos proporciona muitos
benefícios e precisamos lutar por ela. Precisamos restabelecer aquela área de
preservação ambiental”, disse.
Em
seguida, o secretário Roberto Resende também agradeceu a oportunidade de
participar do debate, afirmando que iria defender o ponto de vista da
Prefeitura Municipal de Fortaleza. “Estamos há muitos anos trabalhando nessa
questão de mobilidade urbana. Mas, ainda não teremos um modelo de mobilidade
igual a outros lugares do mundo. Exatamente por conta da qualidade do nosso
transporte público. Queremos, portanto, conquistar melhorias para a população”,
prometeu.
Ainda segundo
o secretário, a Prefeitura está cumprindo o projeto original elaborado durante
a gestão anterior. E apenas fez algumas mudanças, para que a obra ficasse mais
funcional. “No projeto original, nós tínhamos uma rotatória e dois viadutos.
Porém, não seria funcional para aquela localização, além de ser mais caro,
então retiramos. Estamos cumprindo tudo que nos foi mandado e autorizado.
Arrancamos as 94 árvores permitidas, mas, em contrapartida já fizemos o
replantio de quase 600 árvores”, frisou.
Para ele,
o viaduto é o meio mais eficaz, do ponto de vista financeiro, técnico e
ambiental, de se conquistar melhorias no trânsito de Fortaleza. O secretário,
inclusive, se dispôs a discutir os projetos alternativos ao viaduto, elaborados
por arquitetos e estudantes de arquitetura e urbanismo. “Estamos levando em
conta esses projetos e incorporando essas novas ideias às nossas obras. Claro que seria possível fazer um novo
projeto. Mas não seria tão eficaz quanto viaduto. Além disso, sairia bem mais
caro. Em vez de R$ 18 milhões, gastaríamos em torno de R$ 90 milhões”,
contou.
O advogado
João Alfredo contestou a fala do secretário e afirmou que as manifestações e o acampamento não são apenas por 94 arvores. “Do
mesmo jeito que as manifestações de junho não foram por R$ 0,20, não são 94
árvores que estão em debate. A nossa luta é maior. Queremos defender a nossa
cidade e a nossa natureza dessas obras impostas. A prefeitura age na
ilegalidade. O Parque do Cocó é uma
Zona de Proteção Ambiental (ZPA) e só pode ter uso indireto, ou seja, para o
turismo, lazer. Se o projeto
original teve uma mudança, que foi a retirada da rotatória, seria necessário
uma nova licença. O que não foi feito”, disse.
João
Alfredo também falou das críticas que vem recebendo da população sobre o acampamento.
“Muitas pessoas acham que os cidadãos
que permanecem há 47 dias acampados, estão ali por questões políticas. Mas,
não. Eles estão ali para defender o Parque. Se não fosse por eles, a prefeitura
já teria destruído tudo. Esse é o problema. A prefeitura quer fazer as coisas
sem debater, sem discutir outras propostas. Nós não queremos que as obras
destruam a natureza. Queremos transportes públicos de qualidade, pois esse
viaduto não vai resolver o nosso problema”, afirmou.
Debate
Cocó 2
“Estamos
há muitos anos trabalhando nessa questão de mobilidade urbana. Mas, ainda não
teremos um modelo de mobilidade igual a outros lugares do mundo”, pontua o
secretário executivo da Seinf, Roberto Resende.
O assessor
institucional da Seuma, João Saraiva, por sua vez, contou que na década de 1980
também lutou pelo Parque do Cocó, sendo um dos fundadores do movimento SOS
Cocó. “Eu acredito que no Cocó haja espaço para o viaduto. A prefeitura está se
esforçando para resolver o problema da mobilidade. Mas, em apenas seis meses,
não é possível fazer muita coisa. O prefeito Roberto Cláudio, por exemplo,
contratou um projeto de um sistema cicloviário para Fortaleza. Estamos com
várias obras que irão facilitar a questão da mobilidade. Além disso, iremos
implantar nesse projeto, uma via exclusiva para ônibus, ligando os terminais”,
contou.
Para a
ativista do Crítica Radical, Rosa da Fonseca, o acampamento está servindo não apenas para evitar o corte das árvores,
mas para sensibilizar a sociedade acerca do assunto. “As pessoas estão mais interessadas em discutir as questões da sua
cidade. Não estão mais aceitando as imposições dos poderes. Estão mais
preocupadas com qualidade de vida, mobilidade urbana e direitos. Elas estão
percebendo que a política não leva a transformação da sociedade”.
Rosa conta
que o Parque do Cocó já sofreu por conta de outras obras liberadas pela
prefeitura. “Tanto a obra do viaduto, como a da Torre Empresarial Iguatemi
devastaram o Parque. E elas foram autorizadas ainda na gestão da ex-prefeita
Luizianne Lins. Não queremos a destruição desse Parque e vamos lutar por ele”,
lamentou. Rosa deseja que a prefeitura discuta novas propostas alternativas ao
viaduto, protegendo a área de preservação ambiental.
Após esse
primeiro momento, o integrante do Nigéria Ninja, grupo de mídia alternativa
responsável pelo documentário “Com Vandalismo”, Yargo Gurjão, foi convidado à
mesa e falou sobre o seu trabalho. “Nós
buscamos mostrar as manifestações de uma maneira diferente dos veículos de
comunicação tradicionais. Registramos as manifestações de dentro, ouvindo as
pessoas que participam e lutam pelos seus direitos”, destacou.
O público
que assistia ao debate formava a sua opinião. Foi o caso da advogada Ângela
Barroso, estudante de Jornalismo, que mora no bairro Guararapes e é a favor da
construção do viaduto. “Quem mora naquela região vem enfrentando um caos por
conta do fluxo de carros. Acredito que o viaduto irá facilitar a mobilização,
diminuindo os engarrafamentos. A área ambiental destruída não vai ser grande.
Se for para o progresso da cidade, vale a pena”, afirmou.
Para a estudante de arquitetura, Fernanda
Castro, a construção do viaduto é um desrespeito ao fortalezense. “Comecei o
meu curso há pouco tempo, mas já posso opinar tecnicamente que há outras opções
para o problema da mobilidade. Outra saída seria se inspirar em outros países e
investir na construção de metrôs. Com transporte público de qualidade, muita
gente opta por deixar o carro na garagem”, opinou.
O
jornalista Gustavo Vieira acompanhou o debate e afirmou que esse tipo de evento
é importante para a população formar sua opinião sobre o assunto. “A população
está sendo bombardeada de informação, tanto pela mídia tradicional, que tem uma
posição, quanto pela mídia alternativa, que defende outro ponto de vista. E
fica sem saber em quem acreditar. Com esse tipo de debate as informações ficam
transparentes, permitindo maior discussão. E a universidade é o local ideal
para isso”, lembrou.
Como parte
da programação de abertura do semestre, foi lançando o portal Quinto Andar, que
é um produto do curso de Comunicação Social da Faculdade 7 de Setembro,
coordenado pelo Núcleo de Produção Jornalística (NPJor).
Para o
coordenador do NPJor, o jornalista e professor Miguel Macedo, o portal é uma
oportunidade para os alunos exercerem a capacidade criativa, “com a divulgação
dos trabalhos das disciplinas técnicas e práticas, nas diferentes áreas do
conhecimento jornalístico. Trata-se de um projeto coletivo, com interação dos
professores e dos alunos, que assumem o protagonismo das produções
individuais”, destacou.
Fonte:
http://quintoandar.fa7.edu.br/fa7-informa/abertura-semestre-divergencias-marcam-debate-mobilidade-urbana/
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