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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS) - Rede Global de Saberes

A Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS) nasce no Fórum Social Mundial (FSM) de 2003, espaço de encontro e intercâmbio dos movimentos sociais. A UPMS surge para articular os conhecimentos diversos, fortalecendo novas formas de resistência e contribuindo para a reinvenção da emancipação social, entendida aqui como a base em que projetos plurais transformam relações de poder em relações de autoridade partilhada
A UPMS - Rede Global de Saberes - visa contribuir para o maior conhecimento recíproco entre os movimentos sociais. A justiça social global inclui também a justiça global entre saberes. Quanto melhor se conhecer e valorizar a diversidade dos saberes que os movimentos mobilizam nas suas lutas, mais esclarecidas serão as ações transformadoras de cada um dos movimentos e mais autônomos e reflexivos os seus protagonistas

A UPMS destina-se a ativistas e dirigentes dos movimentos sociais, membros de organizações não governamentais, bem como cientistas sociais, investigadores e artistas empenhados na transformação social progressista. A formação pretendida por esta iniciativa decorre de um processo de auto-educação com duas vertentes. Por um lado, a auto-educação de ativistas e líderes dos movimentos e organizações sociais através de debates entre si e com cientistas sociais/intelectuais/artistas, aprofundando os quadros analíticos e teóricos que lhes permitam enriquecer as suas práticas e ampliar as alianças entre movimentos. Por outro lado, a auto-educação de cientistas sociais/intelectuais/artistas envolvidos solidariamente com os movimentos sociais através de debates entre si e com os ativistas e lideres dos movimentos e organizações sociais. A UPMS promove diálogos entre os conhecimentos académicos e os conhecimentos populares, de modo a diminuir a distância entre uns e outros e tornar os conhecimentos académicos mais relevantes para as lutas sociais concretas levadas a cabo pelos movimentos e organizações sociais. Nesta dupla aprendizagem reside a novidade da UPMS. Para prossegui-la, a UPMS supera a distinção convencional entre ensino e aprendizagem – assente na distinção entre educadores e educandos – e cria contextos e momentos de aprendizagem recíproca. A constatação de ignorâncias recíprocas é o seu ponto de partida. O seu ponto de chegada é a produção partilhada de conhecimentos, tão globais quanto os processos de globalização e tão diversos quanto somos todos os que lutam contra a globalização neoliberal, o capitalismo, o colonialismo, o sexismo, o racismo, a homofobia e outras relações de dominação e de opressão
A UPMS funciona através de uma rede de interações orientada para promover o conhecimento e a valorização crítica da enorme diversidade dos saberes e práticas protagonizados pelos diferentes movimentos e organizações. Sua essência está no seu caráter inter-temático, forjado através da promoção de reflexões e articulações entre diferentes movimentos como os feministas, operários, indígenas, negros, quilombolas, LGBT, estudantis e ecológicos, entre outros.
Todo este trabalho tem sido feito com base em dois procedimentos metodológicos básicos formulados por Boaventura de Sousa Santos e partilhados nas experiências de UPMS já realizadas até o momento: a tradução intercultural e interpolítica e a ecologia de saberes. A tradução intercultural visa aumentar a inteligibilidade recíproca e necessária entre movimentos, organizações e pesquisadores sem destruir a autonomia dos movimentos, suas linguagens próprias e conceitos, observando o que os divide e o que os une para tentar organizar ações coletivas. Muitas vezes, o que separa os movimentos não são questões de conteúdo, mas antes de linguagem, de diferentes tradições históricas e culturais de luta. 
Por ser uma tentativa de facilitar o diálogo sem destruir a identidade dos interlocutores, a tradução tem como objetivo trazer à tona os pontos de aproximação entre as práticas sociais desenvolvidas pelos grupos, mas não como simples troca de ideias e sim como um primeiro passo para articulações e concentração de esforços em projetos transformadores comuns. A ecologia de saberes, por sua vez, refere-se à combinação e ao enriquecimento mútuo de conhecimentos acadêmicos solidários e conhecimentos nascidos na luta social. Assenta-se no reconhecimento da pluralidade de saberes heterogêneos, da autonomia de cada um deles e articulação horizontal entre eles.                                                          
A UPMS realiza oficinas que, preferencialmente, duram dois dias de trabalho e de convívio, em que os participantes devem permanecer em regime residencial. Embora o elemento central da UPMS sejam estas oficinas, que podem ocorrer em qualquer parte do mundo, a Universidade Popular dos Movimentos Sociais possui um espaço físico no Memorial do Fórum Social Mundial em Porto Alegre (Rio Grande do Sul - Brasil), destinado a guardar e tratar seu arquivo e memória.
Como bem comum, a organização de oficinas da UPMS está aberta a todos desde que respeitem seus dois documentos fundamentais, elaborados e deliberados coletivamente: a carta de princípios (http://www.universidadepopular.org/site/media/documentos/Carta_de_Principios_UPMS_-_portugues.pdf) e as orientações de metodologia (http://www.universidadepopular.org/site/media/documentos/Orientacoes_metodologicas_UPMS_-_portugues.pdf).
A UPMS é um bem comum, sem estruturas físicas e amarras pedagógicas e, portanto, precisa de referências político-metodológicas para configurar uma identidade comum. A Carta de Princípios e as orientações metodológicas são os principais documentos da UPMS e foram produzidos e deliberados coletivamente a partir das assembléias da UPMS realizadas no âmbito dos Fóruns Sociais Mundiais.

O respeito a estes documentos é de suma importância, o que não significa enrijecer o processo. É possível que, ao longo da dinâmica da UPMS, estes documentos sejam repensados e rediscutidos nas suas futuras assembleias nos Fóruns Sociais Mundiais. garantindo que a diversidade seja permanentemente respeitada e contemplada.

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