Corremos o risco de
caminhar para uma violência política cada vez mais incontrolável
As
repercussões da agressão sofrida pelo coronel da Polícia Militar Reynaldo
Simões Rossi, durante manifestação em São Paulo, na noite de sexta-feira, e a
entrevista nas Páginas Azuis do O POVO do sociólogo português Boaventura Sousa
dos Santos, ontem, são dois temas interligados e que têm tudo a ver com o
futuro próximo do Brasil. Ambos ensejam a oportunidade de uma reflexão sobre os
desafios enfrentados pelo Brasil, na presente conjuntura histórica.
A agressão
ao militar foi atribuída aos “black blocs”, um grupo de militantes políticos
supostamente anarquista (no sentido de não aceitar nenhuma forma de poder
político institucionalizado) e que tem feito uso da violência, desvirtuando
manifestações pacíficas de rua com a tática de provocar enfrentamentos com a
Polícia e destruir o patrimônio público e o privado. A natureza de sua
composição é polêmica, mas, desconfia-se de que – no mínimo – está sendo
manipulado inconscientemente por forças interessadas em provocar uma
intervenção militar em nome da “restauração da ordem”.
De
qualquer forma, o fenômeno remete-nos à crise do atual modelo institucional da
democracia representativa, que não está conseguindo responder às demandas de
participação dos cidadãos (organizados ou não), abrindo espaço para a erupção
de atores (manipulados ou não) sem qualquer compromisso com as regras do regime
democrático. Não só o caso da agressão, em si, do militar (repudiada pela
opinião pública e pela presidente Dilma Rousseff), mas a própria tática dos
“black blocs” é rejeitada pela quase totalidade da opinião pública (conforme
revelam as pesquisas) e têm contribuído para a diminuição da participação
popular nas manifestações.
É aí que
entra uma das observações do sociólogo Boaventura ao O POVO.
Depois de reconhecer os avanços do processo social brasileiro, frisou que o
Brasil “não abriu espaço para a democracia participativa”. E acrescentou: “Os
indignados na Espanha e em Portugal querem o mesmo: uma democracia real. Querem
ser incluídos politicamente”.
Sem isso,
certamente, corremos o risco de caminhar para uma violência política cada vez
mais incontrolável. Eis por que essa deveria ser a discussão central, nesta
véspera de campanha eleitoral para 2014: como implantar a democracia
participativa no Brasil.
Fonte: O
Povo
Black bloc
Black bloc
(do inglês black, negro; bloc, agrupamento de pessoas para uma ação
conjunta ou propósito comum, diferentemente
de block: bloco sólido de
matéria inerte) é o nome dado a uma
tática de ação direta, de corte anarquista, caracterizada pela ação de grupos
de afinidade mascarados e vestidos de preto que se reúnem para protestar em
manifestações de rua, utilizando-se da propaganda pela ação para desafiar o establishment e as forças da ordem.
Esses grupos são estruturas efêmeras,
informais, não hierárquicas e descentralizadas. Unidos, adquirem força suficiente para confrontar a polícia, bem como
atacar e destruir propriedades públicas e privadas.
As roupas
e máscaras pretas, que dão nome à tática, visam garantir o anonimato dos
indivíduos participantes, caracterizando-os, em conjunto, como um único e
imenso bloco.
Black
Blocs diferenciam-se de outros grupos
anticapitalistas por frequentemente realizarem ataques à propriedade privada,
como forma de chamar a atenção para sua oposição ao que consideram símbolos do
capitalismo, às corporações multinacionais e aos governos que as apoiam. Um
exemplo desse tipo de ação foi a destruição das fachadas de lojas e escritórios
do McDonald's, da Starbucks, da Fidelity Investments e outras instalações de
grandes empresas no centro de Seattle, em 1999, durante as manifestações contra
a conferência de ministros de países integrantes da Organização Mundial do
Comércio (OMC).
Equívocos
Existe um
entendimento, difundido principalmente pelas grandes redes comerciais de
comunicação de massa, segundo o qual o Black bloc seria uma organização
internacional. No entanto, isso é um equívoco: Black Bloc não é uma organização mas uma tática utilizada por vários
grupos anticapitalistas, que não mantêm muitas conexões entre si. Pode haver vários grupos black bloc dentro
de uma única manifestação, com diferentes formas e táticas. Na mesma manifestação, podem formar-se
diversos blocos negros, com diferentes objetivos e táticas. Esses blocos
podem até mesmo entrar em confronto, a exemplo do que ocorreu nos protestos
contra o G8, em Gênova, 2001,5 e em Québec, 2007, quando policiais se
infiltraram entre os Black Bloc.
Ideologia
Os grupos
Black Bloc se constituem principalmente
de anarquistas e integrantes de movimentos afins (anticapitalistas e
anti-globalização), que se organizam em conjunto para determinada ação de
protesto. O objetivo pode variar em
cada caso, mas, em termos gerais, trata-se de expressar solidariedade diante da
ação repressiva do Estado e de veicular uma crítica, segundo a perspectiva
anarquista, acerca do objeto do protesto no momento.
"Não somos violentos, jamais atacamos
pessoas", protestam os "veteranos" do bloco. "Não é
violência destruir os símbolos do capitalismo selvagem, da exploração, da
globalização"
- lojas, caixas automáticos, carros de
luxo. Nunca andam armados. Objetos simples, muitas vezes encontrados pelo
caminho, são transformados em armas improvisadas (pedras, extintores de
incêndio, placas de trânsito, vergalhões de aço encontrados em canteiros de
obras). O importante é ser imprevisível,
incontrolável e visível apenas no breve momento da ação, graças à inconfundível
máscara e às roupas pretas.
História
A expressão Schwarzer Block nasce no início
dos anos 1980 na Alemanha. Foi de fato utilizada
pela primeira vez por parte da polícia alemã para identificar os Autonomen
(similares aos Autonomi italianos, que se situavam na área da esquerda extraparlamentar,
mas com uma substancial diferença quanto ao uso de táticas violentas) que,
durante as manifestações e passeatas antinucleares e em favor da Rote Armee
Fraktion, geralmente usavam roupas e
máscaras negras para que o conjunto dos manifestantes formasse uma massa
compacta e bem identificável, seja para parecerem numericamente superiores,
seja para atraírem a solidariedade e a ajuda de outros grupos ideologicamente
afins, durante as manifestações. As máscaras
e os gorros ou capacetes têm a função de proteger os membros do grupo e ao
mesmo tempo impedir a identificação dos participantes, por parte da polícia.
Black Bloc
em protesto anti-UE
A mesma denominação foi posteriormente
utilizada em inglês - Black Bloc - nos Estados Unidos, durante as manifestações
contra o Pentágono (1988) e durante
os protestos contra a Primeira Guerra do Golfo (1991). Outras aparições
significativas dos Black Bloc ocorreram em Seattle (30 de novembro a 4 de
dezembro de 1999) durante as manifestações contra a conferência de ministros
dos países membros da OMC, em Praga (26 a 28 de setembro de 1999), quando a
cidade foi ocupada durante a reunião dos países membros do Fundo Monetário
Internacional e do Banco Mundial. O Black Bloc também apareceu em Gotemburgo
(14 e 15 de junho de 2001) nas manifestações contra o Conselho Europeu.9 Em
Gênova (20 de julho de 2001), durante a cúpula do G8, as manifestações
destruíram partes da capital da Ligúria. Na época, houve suspeitas de que
grupos Black Block estivessem atuando como provocadores, em cumplicidade com a
polícia. Mais tarde, ficou claro que havia policiais infiltrados nos grupos.
Além disso, os Black Bloc foram criticados por outros ativistas, por provocarem
uma violenta reação da polícia, o que, além de inviabilizar as manifestações
pacíficas de diferentes organizações, resultou na morte do jovem Carlo
Giuliani, por um policial. Em Québec (20 de abril de 2007) durante a cúpula das
Américas, os Black Bloc destruíram as redes metálicas que protegiam o local da
reunião. Tais redes haviam sido definidas pelos manifestantes como o muro da
vergonha. Em 2009, a City, o centro financeiro de Londres, foi transformada em
praça de guerra durante os protestos contra a reunião do G-20. A tropa de
choque tentou dispersar os manifestantes, e um homem acabou morto. Em todas as
ocasiões, o padrão das ações dos Black Bloc basicamente se repete. No Rio de
Janeiro e em São Paulo, em 2013,13 não foi diferente: enfrentaram a polícia com
paus e pedras, quebraram vitrines de lojas e bancos (que consideram símbolos do
capitalismo), fizeram barricadas incendiando lixeiras, destruíram veículos
(principalmente carros da polícia).
Em alguns
casos, porém, a reação policial às ações do Black Bloc pode ser muito mais
violenta. Em Gênova (2001), depois de
atirar e passar duas vezes por cima do corpo de Carlo Giuliani com um carro, a
polícia realizou, na noite do dia seguinte, 21 de julho, um ataque ao complexo
de escolas A. Diaz. No local, funcionavam a coordenação do Genoa Social Forum
("Fórum Social de Gênova") e a sala de imprensa da Indymedia, além de
um dormitório improvisado. O motivo
da invasão teria sido a suspeita de que lá haveria integrantes do Black Bloc.
Na sequência, os policiais passaram a espancar brutalmente todos os que se
encontravam no prédio. Ao final, 93 pessoas foram presas; 61 foram feridas
e levadas a hospitais, três das quais em estado grave e uma (o jornalista
britânico Mark Covell) em estado de coma. Posteriormente, 125 policiais foram
indiciados pelas agressões. O episódio foi tema do filme Diaz - Don't Clean Up
This Blood (em português, Diaz - Não limpe esse sangue), de Daniele Vicari.
Referências
Peasant Revolt’ - N30
Black Bloc Communique. ACME Collective (A communique from one section of the Black Bloc: N30 in Seattle). In VAN DEUSEN, David; MASSOT, Xaviar (ed.).
The Black Bloc Papers - An Anthology of Primary Texts From The North American
Anarchist Black Bloc 1988-2005. The Battle of Seattle Through The Anti-War
Movement, p.42
Infoshop.org
Autonomia and the Origin of the Black Bloc
A agência Reuters se referiu a "algo em torno de 2.000 militantes
conhecidos como o 'black block' [sic]". "German organizers condemn
violence at anti-G8 demos". Reuters, 3 de junho de 2007.
a b K, 2001, "Being
black block". In On Fire: The Battle of Genoa and the Anti-capitalist
movement, p. 31-5. London: One Off Press, 2001.
a b Strana violenza: se il potere ha paura, scatena i black bloc
Manifestazione in Québec, agosto 2007
Black Blocs for Dummies
German autonomen:
morality police Louis Proyect: The Unrepentant Marxist.
Gothenburg Riots: An Eye
witness Reports
A ordem liberal e a baixaria. A manobra do governo italiano, permitindo que
fossem devastados bairros inteiros de Gênova, visava a responsabilizar pela
violência centenas de organizações não violentas. A tentativa fracassou, mas o
preço foi alto: um morto e 600 feridos... Por Susan George. Biblioteca Diplô,
agosto de 2001
A Personal Account of the
G8 Demonstrations in Genoa July 2001
GENOVA G8: Há 10 anos, o mundo assistia ao "inferno". Radio
Italiana.
O Black Bloc está na rua. Nem grupo nem movimento, essa tática de
guerrilha urbana anticapitalista pegou carona nos protestos atuais. Como esse
fenômeno pode impactar o Brasil. Por Piero Locatelli e Willian Vieira. Carta
Capital, 21 de agosto de 2013.
Davos, Londres, Praga, Gotemburgo: protestos explodem no rastro de Seattle.
Ação do grupo Black Bloc foi semelhante ao que acontece agora nos protestos no
Brasil. O Globo, 11 de outubro de 2013.
Diaz-choc, l’agente: la polizia si decida a chiedere scusa. Libre
idee, 17 de
abril de 2012
L'incubo della Diaz, botte calci e sangue. ANSA, 10 de julho de 2011.
G8, Fournier: Sembrava una macelleria. La Repubblica, 13 de junho de
2007.
Gênova-G8 - O julgamento dos acontecimentos da Escola Diaz. Mídia
independente, 18 de maio de 2006.
The Genova G8 Diaz trial
- Chilean night. Por Oscar Beard. Indymedia 21 de janeiro de 2006
Sobre o filme Diaz – Não limpe esse sangue (2012)Leitura complementar
Albertani, Claudio. (2002). "PAINT IT BLACK:
Black blocs, Tute Bianche et Zapatistes dans le mouvement
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Dupuis-Déri, Francis. (2010). "The Black Blocs
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Gautney, Heather. (September 2009). "Between
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Katsiaficas, George. The Subversion of Politics:
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The Black Bloc Papers: An Anthology of Primary Texts
From The North American Anarchist Black Bloc 1988-2005, por Xavier Massot &
David Van Deusen, Breaking Glass Press
Black Blocs and Contemporary Propaganda of the Deed,
por Jeff Shantz
Neither Washington Nor Stowe: Common Sense For The
Working Vermonter, por David Van Deusen e Green Mountain Anarchist Collective,
Catamount Tavern Press.
Fonte:
Wikipédia
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