Professores de Lisboa e UFC - alunos do PPGD UFC (Mestrado e Doutorado) |
A Jornada
Internacional de Direitos Fundamentais de 2013, realizada na Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa, em Portugal, ocorreu no dia 15 de outubro
com Mesa de Abertura formada pelo Diretor da Faculdade de Direito de Lisboa Dr.
Eduardo Vera-Cruz Pinto, pelo Professor Dr. Fernando Araújo e pelo Coordenador
do Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará Dr.
Hugo de Brito Machado Segundo.
PPGD UFC participação efetiva |
O evento foi
uma realização conjunta entre a Faculdade de Direito de Lisboa e o Programa de
Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, por meio do
Instituto de Direito Brasileiro, presidido pelo Professor Dr. Fernando Araújo
da Universidade de Lisboa.
No início,
os professores saudaram os presentes e reafirmaram o compromisso das instituições
jurídicas de Portugal e do Brasil com a manutenção da realização das jornadas
internacionais, de forma a manter o caráter do conhecimento universal, com a
participação dialogada embasada nos estudos desenvolvidos em âmbito jurídico.
Ainda, destacaram o papel agregador da Professora Dra. Maria Vital da Rocha,
sempre compromissada com a organização do evento.
O painel 1
‘Banalização, politização e
desmoralização dos direitos fundamentais’ foi apresentado pelo Professor
Dr. Fernando Araújo e pelo Dr. Miguel Patrício, ambos da Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa (FDUL).
O
Professor Fernando Araújo iniciou sua fala destacando o uso indiscriminado dos
direitos fundamentais nas argumentações jurídicas, o que gera banalização,
politização e desmoralização dos de tais direitos.
Sugeriu a leitura da obra ‘L’etre et le néant – Essai d’ontologie phénoménologique’ de Jean-Paul Sartre; ‘After Virtue’, de Alasdair Maclntyre; ‘Ina Different Voice’ de Carol Gilliagan, bem como ressaltou que a reflexão mais desafiante sobre a temática é que os direitos fundamentais representam apenas metade da humanidade, não tendo ainda alcançado a outra metade. Quando ressaltou que:
“O problema da ética da virtude nos leva a
questão das virtudes heroicas, compreensão muito utilizada na Idade Média com a
contextualização dos santos católicos, mas difere da vontade perpétua e
constante das pessoas criarem um hábito que as vai redimindo aos poucos, de
modo mais pragmático, que se dá na contemporaneidade. Deve-se reabilitar a
discussão a respeito da ética da virtude, que reaviva a condição humana, com
uma ética da solicitude e da compaixão, o que deve ser entendido com muita
sutileza.”
O debatedor, Professor Doutor da FDUL Miguel Patrício, salientou que a lógica dos direitos fundamentais passa por uma ética redutora, uma vez que permite arranjar um elenco que seja facilmente aplicado.
O debatedor, Professor Doutor da FDUL Miguel Patrício, salientou que a lógica dos direitos fundamentais passa por uma ética redutora, uma vez que permite arranjar um elenco que seja facilmente aplicado.
Para o
professor, a ideia de um sistema absoluto, perfeito e acabado é perdida, de
modo que com o passar do tempo se apresentam novos itens a serem colocados no
elenco, os quais acabam a gerar uma nova ordem que se pretende que seja de
cumprimento seguro e atenda a suas finalidades, de modo que a questão dos
direitos fundamentais não se encontra resolvida.
O segundo
painel, 'Limites aos Cortes
Orçamentários e o Retrocesso dos Direitos Sociais’, foi proferido pela
Profa. Dra. Raquel Cavalcanti Ramos Machado (Faculdade 7 de Setembro) e teve
como debatedora a aluna do Mestrado em Direito da Universidade Federal do Ceará
Débora Bezerra de Menezes S. Maia.
Na
palestra foi ressaltada a postura do Estado brasileiro no tocante à manutenção
de direitos já conquistados, tais como a impossibilidade de redução dos vencimentos
de servidores públicos, sendo viável o aumento de tributos.
Em uma das participações dos ouvintes, foi destacado que a vedação ao retrocesso dos direitos sociais é utópica, de modo que mesmo em um contrato quando há alterações deve ser equalizado.
Em uma das participações dos ouvintes, foi destacado que a vedação ao retrocesso dos direitos sociais é utópica, de modo que mesmo em um contrato quando há alterações deve ser equalizado.
Débora
Bezerra (Mestranda pela UFC) ressaltou diversos aspectos empíricos relacionados
ao tema e comentou sobre a fala da expositora e inserindo mais questionamentos
ao painel.
O terceiro
painel ‘Reformas e Pensões como Direitos
(In)violáveis’ foi proferido pelo Professor Dr. José de Melo Alexandrino
(FDUL) e teve como debatedora a Profa. Dra. Nazaré Costa Cabral.
A
contrário do que possa parecer, alertou a palestrante, o Direito Constitucional
não é domínio do definitivo, mas do lógico; seu grande adversário é o tempo,
que faz com que o Direito tenha uma dinâmica.
A validade
das normas da constituição pode ser afetada por fatos, inclusive com
estreitamento dos efeitos, como o que está ocorrendo em Portugal diante da
crise que se instalou na economia mundial desde 2008.
Afirmou a expositora que há um direito fundamental à convivência social, o qual tem justificado as violações nos direitos sociais. Assim, a questão da inviolabilidade dos direitos sociais é relativa uma vez que sem empregos e sem produtividade não há como manter os patamares das pensões, os quais não são invioláveis.
Afirmou a expositora que há um direito fundamental à convivência social, o qual tem justificado as violações nos direitos sociais. Assim, a questão da inviolabilidade dos direitos sociais é relativa uma vez que sem empregos e sem produtividade não há como manter os patamares das pensões, os quais não são invioláveis.
A
professora debatedora iniciou sua fala ressaltando a importância da troca de
experiências entre Brasil e Portugal proporcionada pela Jornada Internacional
de Direitos Fundamentais. Em seguida, passou a traçar paralelos entre as normas
da Constituição de Portugal e as decisões do Supremo Tribunal de Justiça do
país, com sugestões para minorar os efeitos das medidas de austeridade impostas
pela Troika.
Tratou
sobre a importância da existência de mecanismos de transição para as ações
relacionadas às violações no montante das pensões, seguindo-se, por exemplo,
pela proporcionalidade local.
O termo
‘Troika’, atualmente, é utilizado para denominar as equipes constituídas pela
Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional para
negociar as condições de resgate financeiro na Grécia, na Irlanda, na França,
na Espanha, na Itália e em Portugal, após a crise econômica desencadeada nos
Estados Unidos da América em 2008 que se alastrou pelo mundo.
O último
painel da manhã foi ‘Direito Fundamental
à Saúde e a Recusa ao Tratamento Médico’, apresentado em mesa que teve como
expositora a Professora Doutora Maria Vital da Rocha (UFC/FA7) e, como
debatedores, os mestrandos em Direito da Universidade Federal do Ceará Fernanda
Castelo Branco e Duílio Lima Rocha.
A
Professora Doutora Maria Vital da Rocha (UFC/FA7) agradeceu a participação e a
organização conjunta Brasil/Portugal, em especial a atuação da servidora Maria
José Abreu, da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Em continuidade,
passou a destacar os problemas ligados aos brasileiros em questões que envolvem
a saúde pública e em contextos nos quais há possibilidade de escolha pelo
paciente de recusa de tratamento médico.
Recepção aos convidados no almoço - FDUL |
Destacou
que a análise da liberdade de escolha pelo paciente deve considerar a
capacidade dos enfermos em formar e manifestar a vontade. Assim, passou a
sopesar aspectos da liberdade de escolha com o direito a vida, também com base
em dispositivos do Código Penal com relação ao dever médico. Rememorou, para
tanto, que o conceito relacionado à inviolabilidade difere do ligado a
indisponibilidade, esclarecendo didaticamente a distinção.
Na ocasião, mencionou o caso dos ‘Testemunhas de Jeová’, religiosos que não aceitam qualquer tipo de transfusão de sangue, o que se apresenta como um desafio para os médicos responsáveis pela vida dos pacientes, bem como o caso dos manifestantes que declaram greve de fome frente ao Poder Estatal.
Na ocasião, mencionou o caso dos ‘Testemunhas de Jeová’, religiosos que não aceitam qualquer tipo de transfusão de sangue, o que se apresenta como um desafio para os médicos responsáveis pela vida dos pacientes, bem como o caso dos manifestantes que declaram greve de fome frente ao Poder Estatal.
Para a
professora deve haver respeito à liberdade de escolha, desde que o interessado
tenha discernimento do que está escolhendo, cabendo ao médico informar
claramente a situação e respeitar a opção. Em casos de inconsciência ou
limitação psíquica, deve-se passar a escolha aos responsáveis pelo incapaz.
Duílio
Lima Rocha (Mestrado UFC), como debatedor, apresentou artigos da Constituição
de 1988 no Brasil, traçando análises pragmáticas a respeito da efetividade da
saúde tomada como um direito fundamental, primando pela efetivação.
Fernanda
Castelo Branco (Mestrado UFC) iniciou seu debate apresentando um caso prático
que está acompanhando em Fortaleza, no qual uma colega da faculdade teve de
retirar o pâncreas e desenvolveu diabetes passando a necessitar de medicamentos
e equipamentos para manter seu nível de saúde equilibrado, quando urgiu que
buscasse o Judiciário diante da negativa do Estado em garantir a vida digna.
Adiante, passou a analisar as falas da professora e do primeiro expositor.
O
Professor Dr. Hugo de Brito Machado Segundo (Coordenador do Programa de Pós
Graduação em Direito da UFC) questionou a liberdade da vontade e as limitações
possíveis pelo Estado, ressaltando alguns casos em concreto.
O primeiro
painel da tarde teve como tema ‘A
Proteção dos Direitos Fundamentais no Direito da Concorrência’, apresentado
pela Professora Dra. Paula Vaz Freire (FDUL) e debatido pelo Professor Dr.
Miguel Moura e Silva (FDUL).
O painel seguinte ‘Os Direitos Fundamentais dos Shareholders’ (acionistas) teve como expositora a Profa. Dra. Ana Perestrelo de Oliveira (FDUL) e debatedor o Prof. Dr. Luís Morais (FDUL).
O sétimo
painel ‘Direitos Fundamentais dos
Trabalhadores’ teve como expositor o Doutorando em Direito da Universidade
Federal do Ceará Clovis Renato Costa Farias (Professor membro do Escritório de
Direitos Humanos do Centro Universitário Christus - Unichristus) e como
debatedora a mestranda em Direito da UFC Camila Vieira Nunes Moura.
Clovis
Renato (UFC) proferiu sua exposição tomando como base a noção de Trabalho
Decente divulgada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em discurso
que primou pela não regressão social e pela efetivação dos direitos dos
trabalhadores.
Explicou
que o conceito de trabalho decente o reconhece como produtivo, remunerado
adequadamente, exercido em condições de liberdade, equidade, segurança, sem
qualquer forma de discriminação e capaz de garantir uma vida digna às pessoas
que vivem dele.
A fala do
doutorando partiu de questionamentos que foram sendo sopesados com
exemplificações e dados mundiais que revelam boas e péssimas práticas nas
relações do trabalho. Assim, apresentou comentando os seguintes
questionamentos:
1) Até
que ponto o texto das constituições e o dos convênios (convenções) está morrendo,
bem como se está ocorrendo uma repaginação do trabalho decente para se amoldar
as crises econômicas.
2) Qual
será o futuro das Constituições no tocante às normas sociais, diante das
‘medidas de austeridade’ adotadas pelos governos.
3) Até
quando as medidas de austeridade pontuais, flexibilizadoras dos direitos dos
trabalhadores, serão tomadas como solução para o problema econômico e quando se
transformarão em motivação contrária à economia mundial?
4) É
possível que as medidas de austeridade se tornem fator de desigualdade no
mercado, apto a gerar conflitos entre as potências econômicas? O que tal
percepção poderá gerar?
5) A discussão sobre a eficácia horizontal e a ampliação do rol de direitos fundamentais dos trabalhadores pode ser manejada como meio de minorar os efeitos em caso de crises econômicas?
5) A discussão sobre a eficácia horizontal e a ampliação do rol de direitos fundamentais dos trabalhadores pode ser manejada como meio de minorar os efeitos em caso de crises econômicas?
6) Até que ponto a lógica da desregulamentação
ou da redução progressiva pode impactar nas pautas de Direitos Humanos e
Fundamentais?
7) Os
direitos fundamentais dos trabalhadores podem ser considerados como
contratuais, com aplicação direta da teoria revisional, sem implicar em
precarização humana?
8) Qual
o papel do diálogo social na gestão empresarial e governamental? E qual a
importância da criação de órgãos estatais específicos para mediar os conflitos
nas relações laborais, quando necessário?
Camila
Vieira Nunes Moura (Mestranda em Direito/UFC), como debatedora, levantou
questionamentos acerca do princípio da solidariedade, do papel dos
intervenientes nos contextos de crise no mercado afetando drasticamente as
relações de trabalho e nas interligações de tal temática com demais direitos
sociais, tais como a moradia.
Clovis
Renato reafirmou a importância da manutenção da Democracia, da Liberdade
Sindical e da atuação mediadora de órgãos específicos do Estado para a solução
das questões laborais em tempos de crise econômica. Recriminou atitudes
generalizantes de pacotes impostos por organismos internacionais, tais como as
da Troika para Portugal em 2012.
Homenagem a Profa. Maria Vital pela FDUL |
Esclareceu
que a crise, se comprovada, deve ser considerada por ‘setor em crise’, não com
medidas genéricas, para tanto, cabe às próprias categorias, quando em situação
alarmante devidamente comprovada, buscarem a via da negociação coletiva
elaborando normas pontuais e de duração razoável durante o agravamento da
situação, com retorno ao status anterior com a normalização do contexto
gravoso.
O penúltimo painel ‘Cognição Humana e Ciência do Direito’ foi exposto pelo Prof. Dr. Hugo de Brito Machado Segundo (Coordenador do Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará) e debatido pelos mestrandos em Direito da UFC Thales José Pitombeira Eduardo e Ana Cecília Bezerra de Aguiar.
O penúltimo painel ‘Cognição Humana e Ciência do Direito’ foi exposto pelo Prof. Dr. Hugo de Brito Machado Segundo (Coordenador do Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará) e debatido pelos mestrandos em Direito da UFC Thales José Pitombeira Eduardo e Ana Cecília Bezerra de Aguiar.
Dr. Hugo
Segundo dispôs sobre as diversas teorias a respeito da cognição humana,
refletindo sobre o conceito de Juiz Hércules em contrapartida ao relativismo
acadêmico. Mencionou o fundamento do falibilismo no contexto da evolução
ciência enquanto instrumento de desenvolvimento social.
O
debatedor Thales Pitombeira ressaltou a importância da Filosofia para o Direito
contemporâneo e para o manejo dos conceitos pela sociedade, relembrando o
filósofo Popper e Kuhn.
Ana
Cecília Bezerra destacou diversos pontos da temática ressaltando um
posicionamento mais crítico a respeito das análises dos pesquisadores, que
necessitam ser distanciadas das posturas meramente dogmáticas no ensino
jurídico, também embasando sua análise em Popper.
‘A Memória e os Direitos Fundamentais’
foi o tema do painel de encerramento da Jornada, sendo proferido pelo Prof. Dr.
Mário Boto Ferreira (Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa) e
debatido pela Profa. Dra. Rute Saraiva (FDUL).
O evento foi encerrado às 18h30min com o agradecimento a todos os participantes pela organização e com a reafirmação do compromisso de manutenção do diálogo acadêmico entre Brasil e Portugal.
A mesa de conclusão dos trabalhos foi composta pelos professores Hugo de Brito Machado Segundo (UFC/Brasil), Maria Vital da Rocha (UFC/FA7/Brasil) e Rute Saraiva (FDUL/Portugal).
Além das falas, como confirmação da satisfação, do reconhecimento e do compromisso entre as instituições de ensino superior, a Coordenadora do evento Profa. Dra. Rute Saraiva entregou uma medalha, concedida pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a Profa. Dra. Maria Vita da Rocha, bem como o Prof. Dr. Hugo de Brito Machado Segundo entregou uma placa de agradecimento, reconhecimento do compromisso e homenagem, concedida pelo Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, a Profa. Dra. Rute Saraiva.
Clovis
Renato Costa Farias
Doutorando
em Direito
Programa
de Pós Graduação (Mestrado e Doutorado)
Universidade
Federal do Ceará
Membro
do GRUPE e da ATRACE
Professor
membro do Escritório de Direitos Humanos do Centro Universitário Christus –
Unichristus
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