Pondo de
lado o mérito da questão, a polêmica em torno dos viadutos criou um clima
auspicioso para o futuro de Fortaleza. Nunca antes na história dessa Capital,
houve tamanho envolvimento de tantos cidadãos em torno de um complexo tema
relacionado ao cotidiano urbano da cidade.
O debate
(até aqui, oficialmente renegado) é virtuoso. Um marco. Antes, em 2010, a
discussão que floresceu em torno do projeto para construir um estaleiro na
praia do Titanzinho já sugeria que uma parte mais escolarizada da população não
estava disposta a engolir os usuais pratos feitos montados nos gabinetes
oficiais.
Felizmente,
a ideia do estaleiro da Praia do Futuro foi a pique. A firme oposição de muitos
urbanistas, incluindo uma bem fundamentada manifestação do Instituto dos
Arquitetos, levou o projeto ao naufrágio. Certamente, nunca mais emergirá.
Agora, a
partir do debate ensejado pelos manifestantes contrários à obra dos viadutos,
viceja uma impressionante (e surpreendente) mobilização de mentes
(especializadas ou não) que se põem a discutir o modelo de desenvolvimento
urbano de Fortaleza.
Talvez, o
símbolo dessa boa nova esteja nas imagens, transmitidas ao vivo via internet,
da inusitada reunião do governador com os manifestantes do “ocupe Cocó”. Em
especial, o momento em que o estudante de arquitetura rabisca sua ideia
alternativa no chão de areia aos pés da autoridade.
Sim, os
pratos feitos estão sendo solenemente recusados. No rádio, na TV, no jornal e
nas redes sociais, venho apontando que o maior problema da proposta lançada
pela Prefeitura é a desconfiança com que ela é vista. Não há um projeto, não há
um autor que o defenda. Há apenas uma maquete e um discurso batendo na tecla de
que não há outra opção. Um prato (mal) feito.
Vamos
partir da hipótese de que a melhor alternativa, considerando o custo e o
benefício urbano, seja a apresentada pela Prefeitura. Talvez até seja. Porém,
como saber se não há um método e uma instância plural que permitam as
comparações?
É óbvio
que a queda de braço tende a ser vencida pela Prefeitura. Ela tem legitimidade
democrática e, pelo visto, legal para seguir adiante com seu projeto. Mas, o
preço político a se pagar não será baixo. Os desgastes se acumulam e haverá
sequelas.
Cid Gomes
foi aos manifestantes e, sem disfarce, ofereceu uma falsa vitória.
Textualmente: “Para que não pareça que não tiveram vitória (...) eu atribuo a
legalização (do Parque) a uma deliberação junto com vocês”. Tomara que o
prefeito tenha compreendido a imensidão desse erro e não o reproduza.
A
estratégia da Prefeitura parece ser apenas uma: realizar a obra a todo custo
(político) nem que seja preciso, mais uma vez, estabelecer o conflito com
brutalidades, cassetetes, gás, bombas de efeito moral e uma profusão de
desgastantes imagens nos meios de comunicação e redes sociais.
Com uma
equipe muito jovem, de pouca experiência política e administrativa, o comando
da Prefeitura não consegue elaborar linhas paralelas de atuação capazes de
atender ao forte clamor urbano surgido a partir da virtuosa polêmica.
E, graças,
esse clamor é moderno. Baseia-se nas melhores experiências urbanas mundo afora.
Experiências que inverteram prioridades e replanejaram as cidades substituindo
um tipo de urbanismo que já se mostrou ultrapassado e fracassado.
FÁBIO
CAMPOS 22/08/2013
Fonte:
http://www.opovo.com.br/app/colunas/fabiocampos/2013/08/22/noticiasfabiocampos,3115082/o-grande-legado-do-ocupe-coco.shtml
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