Marcia
Carmo
A segunda greve geral em quatro meses na
Argentina deixou a capital do país, Buenos Aires, com ares de feriado.
Nesta quinta-feira, poucos carros eram vistos
nas ruas e havia pouco movimento nas lojas. Não funcionaram bancos, postos de
gasolina, trens e algumas linhas do metrô, já que bancários e maquinistas,
entre outros, aderiram à paralisação convocada pelas centrais sindicais CGT
(Confederação Geral dos Trabalhadores) e CTA (Central dos Trabalhadores da
Argentina). As linhas de ônibus funcionaram, mas muitos veículos circulavam
praticamente vazios na cidade.
A
companhia aérea estatal Aerolíneas Argentinas cancelou seus voos domésticos e
internacionais, de acordo com a imprensa local, e outras empresas, como Gol,
TAM e a chilena LAN também tiveram alguns voos reprogramados, segundo
informações dos aeroportos Jorge Newberry e de Ezeiza.
A greve de 24 horas incluiu ainda o bloqueio dos
principais acessos de trânsito ao centro da cidade.
O líder da
CGT, Hugo Moyano - crítico ao governo da presidente Cristina Kirchner -, disse
em entrevista coletiva que a greve
"teve 85% de adesão, como é visível nas ruas".
E a CTA
afirmou que a paralisação "mostra a
insatisfação" dos argentinos com "os rumos do país".
Já o
ministro do Interior e do Transporte, Florencio Randazzo, criticou o ato,
chamando-o de "greve política". Por sua vez, o ministro do Trabalho,
Carlos Tomada, afirmou que "a grande maioria do povo argentino foi
trabalhar".
'Sábado de
manhã'
Quando
souberam que diversos ministros e políticos participariam de um encontro
empresarial em Buenos Aires, manifestantes se concentraram em frente ao local
com cartazes que diziam, por exemplo, "chega
de demissões e suspensões de trabalhadores".
Em meio ao
frio e ao forte esquema de segurança, eles deixaram o local antes da chegada do
principal orador do evento, o ministro da Economia, Axel Kicillof.
"Temos
vários motivos para parar hoje, começando com o desemprego, além da inflação e da proposta do governo de ampliar a base
dos trabalhadores que devem pagar imposto de renda", disse à BBC
Brasil o professor de história Cristian Jurado, de 35 anos, que erguia cartaz
do Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST) em frente ao hotel onde as
autoridades estavam.
O taxista
David Safirsztein, de 66 anos, disse que esta quinta parecia "um sábado de
manhã".
"Estou trabalhando, mas acho que a greve
tem razão de ser. Todos estão com medo de perder o emprego. O governo não faz
nada contra a inflação, e quem vai investir na Argentina com essas incertezas
econômicas?",
questionou.
Comércio
com o Brasil
Em seu
discurso, o ministro Kicillof
mostrou números positivos sobre a economia do país, dizendo que o mundo está
crescendo menos, mas que a Argentina
registra crescimento. Economistas críticos do governo afirmam, porém, que o
país estaria em recessão.
"Dentro
do que o mundo está vivendo, nós estamos bem, com crescimento. Nosso principal sócio e comprador, o
Brasil, cresce menos e isso também nos afeta", afirmou Kicillof a
empresários e executivos.
Ele citou
ainda um relatório da Fiesp (Federação
das Indústrias de São Paulo) sobre a "reprimarização" da economia
brasileira, sugerindo menor potencial da indústria. O termo
"primarização" é usado por especialistas para se referir à
desindustrialização.
Segundo o
ministro, nos últimos anos, a economia argentina "cresceu entre os que
mais cresceram e se reindustrializou".
O ministro
tem sido criticado, porém, por opositores que afirmam que a economia "piorou" em seus nove meses de gestão, com o
aumento da inflação e a disparada do dólar paralelo - que nesta semana passou
bateu recorde, superando a barreira dos 14 pesos.
Em suas
manchetes desta quinta, alguns jornais ratificaram o tom crítico ao governo.
"Greve de sindicatos ‘anti K’ (opositor ao kirchnerismo) agrega tensão em um país que em 2014 já perdeu 400 mil
empregos, segundo dados oficiais", publicou o diário econômico El
Cronista.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/08/140828_greve_argentina_pai_mc.shtml
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