[...] O conteúdo qualitativo da produção conta tão pouco do ponto
de vista do trabalho como do ponto de vista do capital. Apenas interessa a
possibilidade de vender de forma optimizada a força de trabalho. Não se trata
de determinar colectivamente o sentido e a finalidade da actividade própria.
[...] Hoje interessa apenas o «posto de trabalho», o «emprego» - e a própria
literalidade destes conceitos demonstra o carácter autotélico de todo o
empreendimento e a privação de responsabilidade que caracteriza os envolvidos.
Em última análise, o que se produz, para que fins e com que
consequências, é assunto absolutamente indiferente tanto para o vendedor da
mercadoria, que é a força de trabalho, como para o respectivo comprador. Os
trabalhadores das centrais nucleares e das fábricas de produtos químicos
protestam veementemente quando se pretende desactivar as suas bombas-relógio. E
os «empregados» da Volkswagen, da Ford ou da Toyota, são os mais fanáticos
defensores do programa suicida da indústria automóvel. Não apenas porque têm
obrigatoriamente de se vender para «poderem» viver, mas porque na realidade se
identificam com esta existência tacanha. [...] O trabalho forma a
personalidade, dizem eles. Com razão. Forma de facto a personalidade dos
zombies da produção de mercadorias, que já não conseguem conceber uma vida fora
da sua amada engrenagem, à qual se vão ajustando dia após dia. [...] as elites
da sociedade do trabalho não têm o direito de desfrutar de nenhuma pausa. [...]
Não estão autorizados - menos ainda do que a qualquer outro indivíduo - a
interrogarem-se sobre o sentido e sobre as consequências da sua infatigável
actividade, e não podem dar-se ao luxo de ter sentimentos ou atenções. É por
isso que se consideram realistas quando devastam o mundo, desfiguram as cidades
e levam as populações à miséria no meio da maior riqueza.
Fonte: Manifesto conta o Trabalho - Grupo Krisis
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