O SBT terá de pagar R$ 59 mil a um participante do programa
de perguntas e respostas “21”. Baseada em texto fictício, a emissora considerou
errada uma resposta correta que havia sido dada pelo concorrente.
Ao rejeitar recurso da emissora, a Terceira Turma do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve entendimento de segunda instância
que aplicou a teoria da perda da chance e considerou o direito dos
telespectadores à informação verdadeira.
O participante era torcedor do Corinthians e deveria
responder a questões sobre o time. Se acertasse a pergunta sobre o placar do
jogo de inauguração do estádio do Pacaembu, em 1940, receberia R$ 70 mil e
poderia concorrer a R$ 120 mil na fase seguinte.
Preto no branco
O jogo contra o Atlético-MG ficou em 4 a 2 para os
paulistas. O participante escolheu a resposta certa. Porém, os produtores
consideraram para o gabarito informações publicadas de forma intencionalmente
erradas no livro Corinthians é Preto no Branco, de Washington Olivetto e
Nirlando Beirão.
Ocorre que o livro traz, nas páginas pretas, informações
reais sobre o time. Mas, nas páginas brancas, as histórias são inventadas pelos
autores. Nas páginas que tratavam do jogo em questão, a história fictícia
apontava o placar de 4 a 0, com dados reais sobre os marcadores do Corinthians,
mas sem nenhuma menção aos gols dos mineiros.
Bibliografia e verdade
O contrato entre o concorrente e o SBT indicava que o livro
seria a bibliografia a ser considerada nas respostas. Por esse motivo, ao
julgar a ação movida pelo participante, o juiz de primeiro grau considerou a
indenização indevida. Mas o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) reformou a
sentença para impor a condenação de R$ 59 mil.
Para os desembargadores paulistas, ainda que o contrato
tenha visado dar maior segurança às partes e evitar polêmicas, não poderia
impor ao concorrente a obrigação de dar resposta errada baseada na parte
ficcional da obra.
O ministro Sidnei Beneti, relator do recurso interposto pelo
SBT, confirmou o entendimento do TJSP: “O concurso era sobre o clube, não sobre
o livro. O dever de veracidade mais se acentuava tratando-se de programação
pública, transmitida a milhares de telespectadores – muitos dos quais também
perfeitamente conhecedores da história do clube e crendo-se a assistir a
certame sobre o clube e não a certame de bibliografia livresca”.
Direito do telespectador
Conforme o voto condutor no TJSP, a liberdade dos meios de
comunicação se contrapõe ao direito difuso dos indivíduos a receber informações
corretas, exatas, desinteressadas, transparentes, pluralistas e imparciais. “A
liberdade dominante é a de ser informado”, anota o relator do acórdão atacado
no STJ, desembargador Francisco Loureiro.
“No caso, o que foi vendido ao público telespectador é que
um candidato responderia a questões variadas sobre o Corinthians, e não sobre
uma obra de ficção sobre o Corinthians”, acrescentou Loureiro.
Para ele, a interpretação do contrato sob a perspectiva da
boa-fé objetiva e da causa do negócio jurídico aponta que o livro só poderia
ser considerado como gabarito em sua parte preta (verdadeira), sob pena de
comprometer o formato do programa e o interesse do público.
Perda da chance
O valor da indenização foi calculado com base na chance que
o candidato tinha de continuar no programa. Se acertasse a resposta, passaria à
fase final, na qual poderia ganhar R$ 120 mil. Como sua resposta foi
considerada errada, levou apenas R$ 1 mil de consolação.
Para o TJSP, a chance perdida foi de metade do valor total
possível, R$ 60 mil. Como já tinha recebido R$ 1 mil, a indenização ficou em R$
59 mil.
“Pelos conhecimentos do autor e segurança nas respostas
anteriores, poderiam suas probabilidades de sucesso ser calculadas até mesmo em
percentual superior à metade. O tema, porém, está fora da divergência posta
nestes embargos, de modo que não pode ser alargada a condenação”, anotou o
relator na corte local.
O ministro Beneti considerou que o recurso do SBT não reunia
condições de ser apreciado quanto a esse ponto, porque a avaliação do contrato
e da responsabilidade da emissora pela perda da chance envolveria matéria de
fatos e provas.
Duas das primeiras súmulas do STJ impedem a análise desse
tipo de questão em recurso especial. Os tribunais locais são, nas palavras do
relator, soberanos para esse exame.
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Fonte: STJ
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