“Com ou sem a intenção malévola dos que colocarão em prática
esta política, a dinâmica do capitalismo ameaça a justiça social, a paz, a
democracia e o meio ambiente sustentável. O capital precisa se expandir incessantemente,
e sempre encontrará barreiras no caminho, inclusive aquelas emanadas das suas
próprias contradições internas. O capitalismo sempre comportará crises e
recessões e para aliviar a pressão decorrente da sua própria lógica
contraditória apelará para o recurso de deslocar ou postergar as conseqüências.
Em épocas passadas, o capitalismo nascente foi capaz de superar seus obstáculos
internos estendendo seu alcance geográfico. Mas, na medida em que se aproximou
dos limites do crescimento territorial possível, exauriram-se as possibilidades
de deslocamento das suas contradições através da expansão geográfica. Passou a
depender cada vez mais do artifício de jogar o peso de seus problemas nas
classes trabalhadoras e de subordinar economias utilizando-se de meios que as
prejudicam (ou fazendo-as pagar os custos desta subordinação). As estratégias
da globalização combatidas pelos anticapitalistas fazem parte desse processo.
[...] Mas é importante notar que a lógica essencial do
capitalismo permanece e será, de um modo ou de outro, sempre sentida até que os
princípios fundamentais que operam o sistema sejam substituídos por uma sociedade
democrática na qual a vida humana não esteja subordinada aos imperativos do
mercado.
Não estou querendo dizer que o capitalismo regulado não seja
mais humano que o desregulado, nem que as lutas para reformar o sistema são
pura perda de tempo. Ao contrário, continua vitalmente importante lutar por
toda melhoria possível nas condições de vida e exercer a maior vigilância
possível sobre os efeitos destrutivos do capitalismo. Isso significa lutar pela
desmercantilização e pela democratização do maior número possível de esferas da
vida, por exemplo, nos serviços públicos e sistemas de saúde, na questão da
moradia e no provimento das necessidades básicas, entre outras. Ao final, será
preciso haver uma verdadeira transformação sistêmica; enquanto isso, a boa
notícia é que as possibilidades de lutar dentro do sistema capitalista, para
obter o possível, são maiores do que permite entrever a maioria das concepções
sobre a globalização.
Essas concepções retratam um mundo no qual o poder do
capital está em todo lugar e em lugar nenhum, movendo-se livremente ao redor do
globo, fora do alcance de qualquer controle democrático. Mas este retrato é
muito enganador. Por mais livremente que o capital se mova ao redor do mundo,
ignorando fronteiras territoriais, a verdade é que ele ainda depende tanto
quanto sempre dependeu (ou mais) do suporte local, especialmente aquele
proporcionado pelos Estados nacionais. Isso significa que as forças
verdadeiramente democráticas, no nível local e nacional, dentro ou fora do
Estado, podem fazer uma real diferença. [...] e provar ao mundo o que a
oposição democrática ao poder imperial pode fazer.”
(WOOD, Ellen Meiksins. O
que é (anti)capitalismo?. Net: http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/critica17-A-wood.pdf. p. 48-49. Acesso em 09/março/2014)
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