“Penso que temos de refletir um pouco a
respeito do que significa ‘democracia’. Para mim, não se trata de um regime com
características fixas, mas de um processo que, apesar de constituir formas
institucionais, não se esgota nelas. É tempo de voltar a Espinosa e imaginar a
democracia como uma potencialidade do social que, se de um lado exige a criação
de formas e de configurações legais e institucionais, por outro não se pode
parar.
[...]
O tema da igualdade atravessou, com
maior ou menor força, as chamadas sociedades ocidentais. Em outros termos, o
socialismo foi – e deverá ser, sustento eu – uma força fundamental na
democratização de sociedades que, embora não socialistas no sentido expresso
nas cartilhas, acabaram por adotar valores, instituições e políticas de
solidariedade e de equidade social. O estado social dos anos 1950 a 1970
resulta dessa incorporação de perspectivas igualitárias. Gosto de dizer que em
vários países ocorreu um ‘efeito esquerda’ e, se não tomou o Palácio de
Inverno, introduziu limites ao mercado e fixou em nosso mapa civilizatório o
caráter inegociável da igualdade como valor.”
(Renato Lessa. Democracia em debate. In. Dossiê CULT: A democracia e seus impasses, julho, 2012. p. 57)
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