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domingo, 9 de março de 2014

O caso do Iraque e o Capitalismo (Ellen Meikisisn Wood - Texto publicado em 2004)

“[...] Nenhum poder coercitivo global existente ou concebível pode controlar diretamente todos os Estados de uma vez, nem mesmo o poderio militar dos Estados Unidos, o mais forte que o mundo já viu e o mais desproporcionalmente superior ao de qualquer rival em potencial. Em vista disso, uma nova doutrina militar está se desenvolvendo nos Estados Unidos, que pode representar uma tentativa de dominar esta complexa realidade e que está ameaçando o mundo todo.
A administração Bush está desenvolvendo a doutrina da guerra permanente, sem alvos ou objetivos identificáveis, e sem final. Somos informados de que este tipo de guerra sem fim é necessária para confrontar adversários sem Estado na ‘guerra contra o terrorismo’. Porém, como uma estratégia de combate ao terrorismo não é muito convincente, provavelmente agravará o problema que se propõe a resolver. Uma estratégia desse tipo não é muito eficiente contra inimigos sem Estado.
Tem, no entanto, um sentido perverso ao lidar com o sistema global de Estados na qualidade de um poder imperial cuja hegemonia depende, não da captura de territórios ou da subordinação de colônias, mas do controle cotidiano da economia global, administrada e implementada por Estados locais. Como os militares estadunidenses não podem estar em todos os lugares ao mesmo tempo, o melhor que o Estado americano pode fazer é manter sua imensa e desproporcional força militar como um aviso constante, criando uma ameaça permanente de guerra, com amostras regulares da guerra verdadeira e de seu corolário: a crescente supressão da democracia e das liberdades civis.
A guerra contra o Iraque é, naturalmente, o exemplo típico dessa doutrina militar. Seu objetivo não consistiu apenas em consolidar o controle estadunidense sobre as reservas mundiais de petróleo, mas também em fazer um ‘efeito demonstração’. Os Estados Unidos escolheram especialmente esta guerra para enviar sua mensagem ao mundo sobre a hegemonia global americana, não porque o Iraque representasse qualquer tipo de ameaça ao poder imperial ou a qualquer de seus aliados, mas, pelo contrário, porque não havia nenhuma ameaça significativa e os Estados Unidos podiam dar ao mundo o espetáculo de ‘choque e pavor’ com um risco mínimo.
É verdade que a ocupação do Iraque parece estar revertendo para a forma antiga de colonização direta. Mas, de um modo geral, a preferência dos Estados Unidos – e de todo o imperialismo capitalista – é evitar o domínio colonial direto e confiar na hegemonia puramente econômica, que é menos custosa, menos arriscada e mais lucrativa. Não obstante a ocupação do Iraque, a estratégia preferida ainda é manter a hegemonia econômica sem afundar no domínio colonial direto e comandar a economia global através de Estados locais complacentes. O inconveniente é que essa complacência não pode ser garantida e o sistema global de múltiplos Estados pode ficar perigosamente instável. Em conseqüência, esse grandioso – e freqüentemente contraditório – projeto imperial tende a empurrar a potência imperial para aventuras militares e tende a criar seus próprios imperativos territoriais.”


(WOOD, Ellen Meiksins. O que é (anti)capitalismo?. Net: http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/critica17-A-wood.pdf. p. 47-48. Acesso em 09/março/2014)

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