O
planejamento para o mundial não incluiu a Polícia Federal, diz o presidente do
sindicato dos delegados de SP, Amaury Portugal. No blog do Serapião
Para o
presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Federal de São Paulo e
vice-presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Amaury
Portugal, a PF foi deixada de lado do planejamento da Copa do Mundo e tem sua
capacidade de ação reduzida pela falta de investimentos do governo federal.
Em
entrevista ao Blog do Serapião, Portugal aponta também as principais
dificuldades enfrentadas pela Polícia Federal e afirma que sem investimentos em
tecnologia, capacitação profissional e renovação de armamentos a PF não
conseguirá combater a crime organizado.
Blog do
Serapião: Qual o balanço que o Sindicato faz do ano passado?
Amaury
Portugal: Em 2013 não houve nada de excepcional, a PF, como tem acontecido nos
últimos anos, tem perdido muitas verbas, ou não tem recebido muitas verbas. A
questão de recebimento de material, que era expressiva no passado, há sete ou
seis anos, diminuiu muito. Aeronaves, viaturas, armamentos, não houve renovação
de armamento. A PF, apenas com os recursos que ela tem constitucionalmente,
procurou dinamizar esses setores, mas com muita dificuldade. Sobre as
operações, elas se desenvolvem, mas nada de excepcional. Em um país como o
nosso, com uma fronteira extensa como é, nesse cenário dificílimo para
segurança pública, com o crime organizado querendo concorrer com as forças
regulares. A PF tem passado algumas dificuldades.
BS: Isso
vem de quando, essa queda no repasse de verbas para a PF?
AP: Desde
o fim do governo Lula. Foram sete anos muito bons para a PF, ela se
reestruturou, ela ganhou outro corpo, recebeu armamentos moderníssimos, recebeu
viaturas. No último ano do governo dele começou a cair e depois continuou
sempre em queda. Houve tempos que estava critica a situação, mas agora estamos
mantendo a média. Nós mantemos uma estreita relação com a administração,
inclusive com o ministro José Eduardo Cardozo. Mas existe a dificuldade do
recebimento de valores.
BS: Qual a
avaliação que o sindicato faz dos motivos dessa queda de repasses, vê motivos
econômicos ou uma decisão política?
AP: Acho
que são as duas coisas. Acho que é uma conjuntura econômica, na prática não
vejo uma economia forte. Isso pesou muito, para todos os setores, inclusive
segurança pública. E não falo que isso seja apenas no âmbito federal, no estado
também a coisa está complicado, principalmente aqui em São Paulo.
BS: Nessa
situação, a Polícia Federal tem condições de combater um crime organizado cada
vez mais bem estruturado?
AP: Hoje,
a Polícia Federal precisa ser moderna, ela tem que ter meios tecnológicos
modernos. Escuta ambiental, interceptações, drones (aeronaves não tripuladas),
que aqui conhecemos como VANTs. Por exemplo, nós fizemos um estudo mostrando
que para vigiar toda a extensão de nossas fronteiras precisávamos de cerca
quinze VANTs, temos apenas um, que nem sabemos se ele é utilizado. O principal
desafio desse ano é superar essa defasagem de investimentos para que a Polícia
Federal esteja preparada para combater o crime organizado.
BS: Falta
apenas dinheiro ou também liberdade?
AP: Na
visão do sindicato, dificilmente um policial federal se deixa pressionar pelo
poder público. Como dizia o ex-ministro Marcio Thomaz Bastos, a Polícia Federal
é um órgão do Estado, ela tem que ter autonomia para trabalhar. Mas sabemos que
entre gabinetes essa autonomia pode desaparecer. Mas temos tido avanços no
sentido de coibir essa interferência, como a lei 12.830 sancionada pela
presidenta Dilma, que dá total autonomia para os delegados. Com ela, fica
impossível retirar do delegado qualquer investigação ou inquérito que ele
esteja presidindo. Estamos mais seguros nesse sentido. Mas o problema é a
operacionalidade e nisso estamos decaindo muito.
BS: Essa
falta de dinheiro explica a diminuição no número de grandes operações, como as
registradas nos primeiros anos do governo Lula?
AP: O
principal motivo é falta de recurso, que caiu desde o último ano do governo
Lula e continua a cair com a presidente Dilma. O outro é que você não sente por
parte do poder público a vontade necessária para que a Polícia Federal seja
atuante como era há alguns anos.
BS: Qual é
o resultado dessa falta de investimento?
AP: Eu
participei recentemente de uma reunião com representantes das polícias de
outros países. Nesse encontro, discutimos o avanço da criminalidade organizada.
A previsão deles é que, até 2025, o crime organizado estará em paridade de
forças com o poder do Estado. Esse é o resultado, sem investimento corremos o
risco de ficar a mercê do crime. Se a coisa continuar a ser dirigida dessa
forma, eu não sou otimista. Não se pode ficar nesse jogo de empurra-empurra
entre governo federal e estadual. Outra coisa, não podemos ter no comando dos
órgãos de seguranças pessoas sem experiência. Como é o caso do estado de São
Paulo, o secretário é um promotor. O caso da Secretária Nacional de Segurança
Pública, que também é presidida por alguém sem a experiência necessária.
BS: Neste
ano o Brasil recebe a Copa do Mundo. O clima é um pouco tenso e temos a
possibilidade de grandes manifestações. A Polícia Federal está preparada?
AP: Não, a
Polícia Federal está completamente despreparada, a Polícia Federal foi alijada
do planejamento da parte de segurança pública desses grandes eventos. Isso
ficou a cargo do Ministério da Justiça, exército e outros setores do governo. A
polícia Federal tinha seus especialistas, mas houve choque na hora da definição
de como seria a organização desses eventos. A Polícia Federal foi deixada de
lado no momento de pensar como seria a organização desses grandes eventos.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-serapiao/201cpolicia-federal-esta-completamente-despreparada-para-a-copa-do-mundo201d-diz-sindicato-7294.html
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