Segundo
uma pesquisa do Instituto Datafolha, ficar sem trabalho é a terceira maior
preocupação dos brasileiros.
No Nordeste, está o maior número de
brasileiros que temem o desemprego, 16%. Nas regiões Norte e Centro-Oeste são
14%. No Sudeste, 11% e no Sul, está o menor número, 8%. Vagas existem. Achar,
você acha.
“Tem em
todo lugar. Você vê, no jornal, contratando 70, 100 pedreiros. Mas, infelizmente,
o salário não atende ao que você quer”, lamenta o pedreiro João Couto Jr.
O número de vagas com carteira assinada quase
dobrou em dez anos.
Mais gente teve oportunidade de trabalho
com direitos garantidos.
“Quando as pessoas dizem que têm medo do
desemprego, elas querem dizer não só de ficar sem trabalho, mas de ficar sem o
trabalho com carteira”, explica o economista da USP Helio Zylberstein.
A concorrência é grande. Mas fila de dobrar
quarteirão não é mais para emprego, é para contracheque bom.
“Rapaz, não é tão difícil encontrar vaga, é
difícil encontrar pessoas que queiram pagar honestamente”, afirma o
pedreiro Genivaldo da Conceição.
E dentre
todos os trabalhadores, são os jovens os
que mais se preocupam com a qualidade do emprego.
“Existem ofertas de emprego, mas a carência
é muito grande de um pessoal capacitado para isso. E o jovem é o principal
afetado porque ele vem de uma situação de que ele não tem experiência”,
conta a coordenadora de treinamento e seleção Edialeda Bergmann.
Onde há chance
de contração, os salários não são nenhuma maravilha.
“Os empregos têm crescido mais nos setores que
oferecem empregos não tão bons, vagas não tão boas: o pequeno comércio, o setor
de serviços”, diz Hélio Zylberstein.
Em 2002, 21,8% dos trabalhadores ganhavam mais
de cinco salários mínimos. Dez anos depois, em 2012, apenas 12,8% ganhavam mais
de cinco salários mínimos. Essa queda
pode ser explicada em parte pela valorização do salário mínimo no mesmo
período, mais de 200%.
“A saída é
se capacitar. O jovem tem de entender que ele precisa se preparar para competir
nesse mercado”, defende o economista Hélio Zylberstein.
Nicholas
já entendeu muito bem.
“A gente
está tentando ser profissionais de excelência. O mercado de trabalho não quer
mais um. Ele quer excelência”, conta o estudante Nicholas Vieira de Castro.
Assim que
terminou o Ensino Médio, numa escola pública da periferia de Brasília,
descobriu um curso gratuito de auxiliar administrativo. Batalhou uma bolsa e já
está fazendo as malas para estudar inglês nos Estados Unidos.
“Eu não
sonho assim com algo grande. Eu sonho com algo que faça diferença”, afirma
Nicholas.
Jean
também vem de família pobre. Mas sempre achou que havia uma saída contra o
desemprego.
“Eu sempre
tive o pensamento de ser diferente. Por exemplo: na minha família, acho que não
tem ninguém que tenha chegado à 5ª série, por exemplo”, diz a auxiliar de
Recursos Humanos Jean Barbosa de Freitas.
Ele, ao
contrário, chegou à faculdade. Entrou numa grande empresa de Brasília como
jovem aprendiz, programa criado em 2000 e regulamentado em 2005, e acha que foi
contratado por causa de uma ideia fixa.
“Fazer as
coisas bem feitas, com rapidez, com qualidade e sempre tentar ser uma
referência onde eu estiver. É assim que eu penso”, conta Jean.
Existe uma parcela da juventude brasileira que
os especialistas chamam de geração "Nem Nem": jovens que nem estudam,
nem trabalham. Acontece que isso nem sempre é uma escolha, ou resultado de
desinteresse, ou falta de compromisso. Às vezes uma realidade muito dura ajuda
a explicar essa situação.
Num dos
becos do Morro dos Alagoanos, no centro de Vitória, um rapaz passa seus dias
num cômodo escuro.
“Não tem televisão, não tem nada, só essa
geladeira mesmo, minha cama normal. Eu fico deitado, nessa minha cama, ouvindo
uma musiquinha num rádio pequeno”, diz o desempregado Warlley Sacramento
Pires.
E nem tem
tanto tempo que ele fazia um bico aqui outro ali.
“Como eu sou um rapaz novo, né? E como a
gente é de família pobre, eu tive que procurar meter a cara no trabalho e
esquecer um pouco da escola”, explica.
Mas agora, sem estudo - e com uma carteira
vazia que ninguém quer assinar - Warlley vive a tragédia de jogar a toalha
aos 19 anos.
“Me deixou triste, me abateu tanto que eu
perdi essa mente, o baixo astral, no caso, realmente desceu”, afirma
Warlley.
Em
Salvador, um remédio contra a desesperança. Quem vê Cláudia dando aula de
depilação, não imagina o que ela viveu na época do desemprego.
“Aquele princípio de depressão. Aquela
coisa: pra onde eu vou? Então eu fiz um pouquinho de tudo, trabalhei com
artesanato, com alimentação”, diz a depiladora Cláudia Pereira.
Aos 40 anos voltou a estudar. Se capacitou,
virou professora de curso técnico. E não parou mais.
“Minha vida mudou tanto que eu voltei para a
faculdade”, conta Cláudia.
Daiane já
tinha faculdade. Estava empregada. Mas, por opção, resolveu parar.
“Primeiro eu almejava trabalhar pra mim, não
queria mais trabalhar com carteira assinada. E segundo porque eu tinha a meta
pessoal de ter um filho”, afirma a administradora Daiane do Nascimento
Silva.
Emily é o
orgulho de Daiane e do marido. Mas, para voltar ao mercado, não há outro jeito.
Daiane tem de se atualizar.
Jornal
Nacional: Ele segura as pontas enquanto você vem fazer o curso?
Daiane:
Sim, no dia do curso ele chega mais cedo do trabalho, que ele também trabalha
com ele, e aí ele fica com ela.
De que
outra forma se pode competir?
“Você
inicia com um curso que você começa de capacitação e sempre você tem que estar
se atualizando, porque a área de beleza, se duvidar, está lançando mais
produtos do que até a área médica”, explica a empresária Carolina Ribeiro.
O sonho de
Yasmim é ser a rainha dos salões de beleza. Alcançar a fama cortando cabelo.
“Eu falava
pra minha mãe direto, que ela vai me ver ainda, e já está aqui, vai me ver
ainda dando entrevista!”, diz a estudante Yasmin França.
O caminho?
Turbinar o currículo para fazer a diferença.
“Aonde
você chega existe um milhão de pessoas. Mas se você fizer diferente desse um
milhão de pessoas você vai conseguir e vai alcançar o sucesso, que é o que eu
quero”, afirma Yasmin.
A série de
reportagens que o Jornal Nacional tem apresentado com base nessa pesquisa do
Datafolha sobre as maiores preocupações dos brasileiros pode ajudar os
eleitores a analisar as propostas dos candidatos a governador e a
presidente. A propaganda eleitoral
começa no dia 19.
Fonte:
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/08/terceira-maior-preocupacao-dos-brasileiros-e-ficar-sem-trabalho.html
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