Johann
Heinrich Pestalozzi (Zurique, 12 de janeiro de 1746 — Brugg, 17 de fevereiro de
1827) foi um pedagogista suíço e educador pioneiro da reforma educacional.
Biografia
Seu pai
morreu quando ainda era criança, foi criado pela mãe, sua família empobreceu.
As dificuldades para sobreviver fortaleceram sua alma ainda na infância. Ele
conheceu de perto o preconceito social e teve de lutar muito para se tornar
conhecido numa sociedade dividida entre nobres e plebeus e entre ricos e pobres.
Durante esse período recebeu orientação religiosa protestante, mas
considerava-se sempre um cristão, sem defender qualquer religião.
Após a
leitura do Emílio, de Rousseau, Pestalozzi foi influenciado pelo movimento
naturalista e tornou-se um revolucionário, juntando-se aos que criticavam a
situação política do país.
Na
Universidade de Zurique associa-se ao poeta Lavater num grupo de reformistas.
Gastou parte de sua juventude nas lutas políticas mas, em 1781, com a morte do
amigo e político Bluntschli, abandonou o partido para dedicar-se à causa da
educação.
Casou-se
aos 23 anos e comprou um pedaço de terra onde intentou o cultivo de ruiva
(Rubia tinctorum – planta herbácea de onde se pretendia tirar um corante) mas,
não sendo agricultor, fracassou.
Por este
tempo havia feito de sua casa na fazenda uma escola. Escreveu "As Horas
Noturnas de um Ermitão" (Die Abendstunde eines Einsiedlers – 1780),
contendo uma coleção de pensamentos e reflexões. A este livro seguiu-se sua
obra-prima: Leonardo e Gertrudes ("Leonard und Gertrud" – 1781), um
conto onde narra a reforma gradual feita primeiro numa casa, depois numa
aldeia, frutos dos esforços de uma mulher boa e dedicada. A obra foi um sucesso
na Alemanha, e Pestalozzi saiu do anonimato.
O horror
da guerra: nasce o "Método Pestalozzi"
A invasão
francesa da Suíça em 1798 revelou-lhe um caráter verdadeiramente heróico.
Muitas crianças vagavam no Cantão de Unterwalden, às margens do Lago de
Lucerna, sem pais, casa, comida ou abrigo. Pestalozzi reuniu muitos deles num
convento abandonado, e gastou suas energias educando-os. Durante o inverno
cuidava delas pessoalmente com extremada devoção mas, em junho de 1799, o
edifício foi requisitado pelo invasor francês para instalar ali um hospital, e
seus esforços foram perdidos.
Pestalozzi
com órfãos em Stans
Em 1801
Pestalozzi concentrou suas ideias sobre educação num livro intitulado
"Como Gertrudes ensina suas crianças" (Wie Gertrude Ihre Kinder
Lehrt). Ali expõe a sua didática pedagógica, o Método Pestalozzi, de partir do
mais fácil e simples, para o mais difícil e complexo. Continuava daí, medindo,
pintando, escrevendo e contando, e assim por diante.
Em 1799
obteve permissão para manter uma escola em Burgdorf, onde permaneceu
trabalhando até 1804. Em 1802 foi como deputado a Paris, e fez de tudo para
fazer com que Napoleão se interessasse em criar um sistema nacional de educação
primária; mas o conquistador disse-lhe que não podia perder tempo com o
alfabeto.
A Escola
Em 1805
ele mudou-se para Yverdon, no Lago Neuchâtel, e por vinte anos dedicou-se ao
seu trabalho continuamente. Ali era visitado por todos que se interessavam pela
educação, como Talleyrand, d'Istria de Capo, e Mme. de Staël. Foi elogiado por
Humboldt e por Fichte. Dentre seus discípulos incluem-se Denizard Rivail (Allan
Kardec), Ramsauer, Delbrück, Blochmann, Carl Ritter, Froebel e Zeller.
Por volta
de 1815 dissensões surgiram entre os professores de sua escola, e os últimos 10
anos de seu trabalho foram marcados por cansaço e tristeza. Em 1825 ele se
aposentou em Neuhof. Escreveu suas memórias e seu último trabalho, "O
canto do cisne", vindo a morrer em Brugg.
Legado
Como ele
próprio disse, o verdadeiro trabalho de sua vida não se deu em Burgdorf ou em
Yverdon. Estava em seus primeiros momentos como educador, com a sua observação,
a preparação do homem integral, a prática junto aos órfãos de Stans.
Pestalozzi
foi um dos pioneiros da pedagogia moderna, influenciando profundamente todas as
correntes educacionais, e longe está de deixar de ser uma referência. Fundou
escolas, cativava a todos para a causa de uma educação capaz de atingir o povo,
num tempo em que o ensino era privilégio exclusivo.
"A vida educa. Mas a vida que educa não é
uma questão de palavras, e sim de ação. É atividade."
Johann
Heinrich Pestalozzi
Os
trabalhos completos de Pestalozzi foram publicados em Stuttgart em 1819, 1826,
e uma edição por Seyffarth apareceu em Berlim, em 1881.
A teoria
dos três estados de desenvolvimento moral
Trechos
extraídos do Livro Minhas indagações sobre a marcha da natureza no
desenvolvimento da espécie humana escrito por Pestalozzi em 1797, (traduzido do
original alemão Meine Nachforschungen über den Gang der Natur in der
Entwicklung des Menschengeschlechts):
Estado
natural
O homem
nesse estado é filho puro do instinto, que o conduz simples e inocentemente
para todos os gozos dos sentidos.
Estado
social
O homem
como espécie, como povo não se submete ao poder como ser moral, nem tampouco
entra na sociedade e na cidadania para servir a Deus ou amar ao próximo. Ele
entra na sociedade e no estado de cidadania para tornar sua vida mais alegre e
para gozar tudo o que seu ser animal e sensorial tem que gozar e para que seus
dias sobre a terra transcorram satisfeitos e tranquilos. O direito social não é
assim um direito moral, mas apenas uma modificação do direito animal. ( …)
O poder só
pode exigir de mim que eu seja um homem social. Ele não pode exigir que eu seja
um homem moral. Se eu o sou, sou-o para mim e não para ele. O poder só pode
exigir de mim que eu seja um homem moral na medida em que ele mesmo o seja,
isto é, se ele não for poder, não se comportar como poder. Só pode exigir de
mim, se ele viver a força de sua divindade, não para ser servido, mas para
servir e dar a vida para a redenção de muitos. (…)
Simples
satisfação é a cota do estado natural. Esperança é a cota do estado social. Não
pode ser diferente: toda a estrutura da vida social repousa em representações
que basicamente não existem – ela é uma representação. Propriedade, lucro,
profissão, autoridade, leis são meios artificiais para satisfazerem minha
natureza animal pela escassez de liberdade animal. (…)
Estado
moral
Se eu
alcançar na minha condição e na profissão tudo o que eu posso alcançar, se
minha felicidade está garantida pelo direito, em suma, se eu, no pleno sentido
da palavra, for um cidadão e se a palavra de meu país, liberdade – liberdade –,
soasse novamente na boca dos homens honestos e felizes, estaria eu então
satisfeito no meu íntimo? Deveria pensar que sim, mas não é verdade (…), o
direito social não me satisfaz, o estado social não me realiza, não posso
permanecer tranquilo sobre o fundamento da minha formação civil, como não posso
permanecer no mero prazer sensual e animal – sou , em todo o caso, através
dessa formação, emudecido; na minha alma entraram desconfiança, sinuosidade e intranquilidade,
que nenhum direito social pode desfazer. (…)
Se eu te
declaro animal no envoltório do teu nascimento, não coloco o objetivo da tua
perfeição nos limites do invólucro da tua origem. Vejo o interior do teu ser
como divino, assim como o ser interior da minha natureza (…). Se o homem planta
uma árvore ou uma flor, ele a enterra no solo, põe esterco na raiz e a cobre de
terra. Mas o que ele faz com tudo isso ao ser íntimo da flor? O material,
através do qual a semente se desenvolve, é em toda a natureza infinitamente de
menor valor que a semente em si. (…)
Logo vi
que as circunstâncias fazem o homem, mas vi também que o homem faz as
circunstâncias, tem uma força em si mesmo que pode conduzir de várias maneiras,
segundo sua vontade. (…)
Como obra
da natureza, sinto-me livre no mundo para fazer o que me agrada e me sinto no
direito de fazer o que me serve.
Como obra
da espécie, sinto-me no mundo atado a relações e contratos, fazendo e
suportando o que essas relações me prescrevem como dever.
Como obra
de mim mesmo, sinto-me livre do egoísmo da minha natureza animal e das minhas
relações sociais, e ao mesmo tempo no direito e no dever de fazer o que me
santifica e o que santifica o meu ambiente.(…)
Como obra da natureza, sou um animal perfeito.
Como obra de mim mesmo, esforço-me pela perfeição. Como obra da espécie,
procuro me tranquilizar num ponto sobre o qual a perfeição de mim mesmo não é
possível.
A natureza fez a sua obra inteira, assim também
faze a tua.
Reconhece-te a ti mesmo e constrói a obra do teu
enobrecimento sobre a consciência profunda de tua natureza animal, mas também
com a consciência completa da tua força interior de viver divinamente no meio
dos laços da carne.
Quem quer
que tu sejas, acharás nesse caminho um meio de trazer tua natureza em harmonia
contigo mesmo. Queres porém fazer tua
obra apenas pela metade, quando a natureza fez a dela inteira? Queres
estacionar no degrau intermediário entre tua natureza animal e tua natureza
moral, sobre o qual não é possível o acabamento de ti mesmo? – Então não te
espantes de que serás um costureiro, um sapateiro, um amolador ou um príncipe,
mas não serás um homem.
Não te
espantes então de que tua vida seja uma luta sem vitória e que nem sequer te
tornes o que a natureza, sem a tua ação, fez de ti – mas muito menos serás um
meio-homem civil. (…)
O
princípio de que o bem do homem e o direito do homem repousam inteiramente na
subordinação das minhas exigências animais e sociais à minha vontade moral é
outra maneira de dizer o resultado do meu livro.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Heinrich_Pestalozzi
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