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domingo, 9 de março de 2014

Capitalismo - um pouco de História (Ellen Meikisins Wood)

“Nos anos seguintes à Guerra, os Estados Unidos, e as principais economias capitalistas em geral, viveram um longo boom econômico. Em tais condições, eles tinham um interesse real em desenvolver as economias do Terceiro Mundo, na medida em que isso favorecesse as suas economias, porque precisavam expandir seus mercados. Esta foi, portanto, a era das estratégias de ‘desenvolvimento’ e ‘modernização’. Mas o boom terminou nos anos 1970 – em parte porque a competição entre as potências capitalistas produziu uma crise de superprodução e queda de lucros; e um movimento descendente começou. O que os Estados Unidos e seus aliados passaram a exigir do resto do mundo passou a ser algo diferente. Entre outras coisas, os Estados Unidos precisavam encontrar emprego para o excesso de capital que não podia mais ser aplicado lucrativamente em investimentos produtivos. Precisavam deslocar seus problemas internos para outros lugares. Então os Estados Unidos usaram o controle que possuíam sobre o sistema financeiro mundial para facilitar a movimentação de capitais e desencadearam uma orgia de especulação financeira, facilitada (mas certamente não causada) por avanços tecnológicos que tornaram possível a movimentação instantânea de capitais.
Condições foram impostas às economias em desenvolvimento para se adaptarem a essas novas necessidades. No que ficou conhecido como o ‘Consenso de Washington”, e especialmente através do FMI, o poder imperial exigiu uma gama de medidas que teriam o efeito de tornar essas economias mais vulneráveis às pressões do capital global liderado pelos Estados Unidos: por exemplo, a ênfase em produtos para a exportação e a remoção dos controles de importação, tornando os produtores totalmente dependentes do mercado para sua sobrevivência, enquanto, ao mesmo tempo, sujeitava-os, especialmente na área agrícola, à competição dos produtores ocidentais altamente subsidiados; a privatização dos serviços públicos, que assim poderiam passar ao controle das companhias sediadas nas principais potências capitalistas; altas taxas de juros e desregulação financeira, que proporcionaram enormes ganhos aos interesses financeiros dos Estados Unidos, enquanto criavam uma crise de endividamento no Terceiro Mundo (e, numa das perenes contradições do capitalismo, provocavam a recessão “em casa” no centro do império); e assim por diante.
Este regime é o que conhecemos por “globalização” – e a primeira coisa que devemos saber sobre ele é que foi resultado não dos sucessos do capitalismo, mas dos seus fracassos. Foi e é um modo de adiar o momento da prestação de contas para o capital sediado no centro do império e um modo de jogar o peso dos encargos em outro lugar. [...]”

(WOOD, Ellen Meiksins. O que é (anti)capitalismo?. Net: http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/critica17-A-wood.pdf. p. 43. Acesso em 09/março/2014)

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