Na tarde da
última sexta, dia 26/06, os trabalhadores da Maternidade Escola e do Hospital
das Clínicas da UFC, empregados da SAMEAC, ocuparam e realizaram grande
manifestação na Praça do Ferreira em Fortaleza, das 15 às 18h.
Na Praça do
Ferreira, além das diversas falas políticas, jurídicas e depoimentos, houve a
apresentação do Grupo da Dança “W. H. S:
Warriors” (Evonn Borry Allen – 8604.3986 / 85258054), com diversas danças rítmicas
e estilizadas.
Panfletagem na Avenida José Bastos |
O Movimento
em Defesa dos Trabalhadores da SAMEAC (MDTS) foi criado, de forma autônoma e
independente, pelos obreiros que se viram prejudicados pela Portaria nº
208/2015 do Ministério da Educação (MEC), impondo a despedida de todos até
31/12/2015 dos mais de setecentos trabalhadores, para os quais o Poder Público
não sinalizou com nenhuma medida de transição ou renovação de convênios com a
UFC ou com a EBSERH.
Há prejuízos
inquestionáveis para a Dignidade da Pessoa Humana, para o Valor Social do
Trabalho, para os Direitos Humanos relacionados aos trabalhadores, em sua
maioria (60% a 70%) com possibilidade de aposentadoria próxima. Há
trabalhadores que laboram no Complexo Hospitalar em condições insalubres há
mais de trinta anos, a maioria dos contratos de trabalho está ativa há mais de
vinte anos, com casos de 29 e 30 anos em atividade.
Fato mais
grave é a SAMEAC/Instituto Compartilha ter sido criada, contemporaneamente à
criação da UFC, para prestar um serviço social de construir e instalar uma
maternidade em Fortaleza, no correr dos anos 50, e ter sido completamente
repassada à responsabilidade da UFC, com seus empregados e prédio junto,
atendidos os fins filantrópicos.
Construído o
prédio, contratados os empregados, funcionando a Maternidade Escola Assis
Chateaubriand (MEAC), daí o nome SAMEAC, após anos de parceria, diversos
empregados da SAMEAC foram absorvidos pela UFC, como servidores públicos
estatutários, por força do art. 19 do ADCT da Constituição de 1988, restando a
parcela que agora a União pretende despedir, hoje mais preparados tecnicamente
e adaptados ao serviço, mas com idade que os coloca em imensurável desvantagem
no mercado do excludente sistema capitalista. Restam, praticamente, todas as
centenas de trabalhadores e trabalhadoras, pais/mães/arrimos de família, que
foram contratados após 1983, há exatos 32 anos.
A SAMEAC/Instituto
Compartilha, declarou no MPT que as rescisões giram em torno de R$ 20 milhões e
não tem patrimônio físico-financeiro para arcar com eventuais indenizações, nem
está clara a posição da União em honrar com o passivo dos mais de 700
empregados, que laboram há dezenas de anos junto à UFC no convênio firmado, uma
vez que tudo o que recebe é diretamente encaminhado aos trabalhadores.
Diante de
tal quadro, mais ações para apresentar o problema à sociedade estão sendo encaminhadas,
enlaçando posturas políticas reivindicatórias e jurídicas, dentre as quais se
destacam a reunião com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), em Brasília, a
Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (ALCE), televisionada
e radiodifundida, manifestação do Coletivo Crítica Radical no Programa Paulo
Oliveira (Rádio Verdes Mares, 810 AM), participação do Programa Antenas e
Rotativas de Cid Carvalho (Rádio Cidade,
860 AM), Programa Crítica Radical (TV internet), panfletagens nos sinais,
difusão pelas páginas virtuais do Grupo Vida, Arte e Direito, entrevista no
Programa Show da Manhã com Ênio Carlos (Aurélio Menezes, Verdes Mares, 810 AM),
Matéria no Jornal da TV Diário, matéria no Diário do Nordeste, manifestação na
Praça do Ferreira, dentre outras.
O Reitor da
Universidade Federal do Ceará (UFC), apesar de formalmente solicitado, já
desmarcou duas vezes a audiência para receber os empregados, bem como se esquiva
de marcar na página oficial “Agenda do Reitor” as reuniões. Os possíveis
encontros, solicitados via documento protocolado na instituição, têm sido
agendadas por telefone, via Secretaria da Reitoria e desmarcadas informalmente.
Mais deputados estaduais apoiam o MDTS |
No
Ministério Público do Trabalho, o Procurador do Trabalho Dr. Carlos Leonardo,
na última audiência mencionou achar possível uma prorrogação nos moldes feitos
entre a FUNPAR e a UFPR, em acordo que preservou 916 trabalhadores e trabalhadoras
por mais 5 anos, demarcou responsabilidade solidária entre a entidade sem fins
lucrativos e a instituição federal de ensino, assim como respeitou os
empregados que estejam em vias de aposentadoria. Contudo, destacou que há procedimento,
com ação civil pública, próprio instaurado pelo Ministério Público Federal, o
qual tem independência para agir e deve ser provocado com tal objetivo.
O Ministério
Público Federal, Procurador da República Dr. Marcelo Monte, foi devidamente
acionado, com a apresentação dos problemas dos trabalhadores da SAMEAC, tratou
por telefone com o advogado Clovis Renato, que lhe encaminhou a listados
empregados e o acordo firmando no Paraná. Foi solicitada audiência, a qual
encontra-se aguardando o retorno das férias do membro do MPF.
Programa Cid Carvalho - Antenas e Rotativas - 860, AM |
Grande mídia cearense |
No mesmo passo,
o Procurador do MPF, Dr. Oscar Costa Filho, que acompanha procedimento que
investiga a situação da saúde no Estado do Ceará, tomou conhecimento da
situação e comprometeu-se a dialogar no sentido da humanização dos
desligamentos com os colegas membros do Ministério Público Federal.
Apresentação solidária Grupo de Dança |
Em âmbito
nacional, Clovis Renato e a diretoria do SINDSAÚDE estiveram em Brasília para apresentar
o problema gerado pela Portaria nº 208/2015 do MEC, que impõe despedidas a
milhares de trabalhadores pelo Brasil. Solicitou-se à Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Saúde (CNTS), diante de sua legitimação ativa e representação
nacional, para propor ação visando anular as decisões do Tribunal de Contas da
União (TCU), no Supremo Tribunal Federal (STF). Tal ação deve tomar como base a
decisão do STF proferida em 16/04/2015, que entende ser possível a parceria do
Poder Público com entidades sem fins lucrativos na prestação dos direitos
sociais, tais como a saúde.
O deputado
Chico Lopes e o secretário de Ensino Superior do MEC, Jesualdo Farias, debateram
a situação dos trabalhadores da Sociedade de Assistência à Maternidade Escola
Assis Chateaubriand (SAMEAC). Na reunião participaram a presidente do Sindicato
dos Empregados dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Ceará
(Sindsaude), Marta Brandão, o advogado Clovis Renato, do Movimento em Defesa
dos Trabalhadores da SAMEAC (MDTS), além de outros integrantes do Sindsaúde.
Conforme o
Deputado Federal, “a decisão do Tribunal
de Contas da União dificulta mudanças quanto à situação dos trabalhadores da
SAMEAC. Ainda faltam definições quanto ao repasse dos recursos à entidade. A luta agora é para manter o vínculo dos
trabalhadores com a UFC, prorrogando o contrato da Universidade com a SAMEAC
por pelo menos mais cinco anos”.
Rosa da
Fonseca, Coletivo Crítica Radical, destacou que “é preciso direcionar uma luta mais ampla para pensar uma alternativa
mais ampla contra essa lógica destrutiva, pois é um verdadeiro absurdo, um
crime e uma calamidade o que está sendo imposto a estes pais e mães de família.”
Apoio do Coletivo Crítica Radical |
Maria Luiza
Fontenele, Coletivo Crítica Radical, destacou sobre o Movimento que “os seres humanos estão sendo tratados como
material descartável, parte de uma lógica de um sistema que está entrando em
colapso. O trabalhado encarado como mercadoria, não como algo para dignificar o
homem, de modo que o Movimento em Defesa dos Trabalhadores da SAMEAC é
necessário e representa uma revolta legítima.”
Keila Camelo
(Coordenação Geral dos SINTUFCE – servidores da UFC), uma das delegadas eleitas
pelo Estado do Ceará para representar os servidores da UFC no CONFASUBRA, em MG,
lutou para convencer os delegados do Congresso da maior entidade sindical dos
servidores públicos nas Universidades para assinarem uma moção de apoio aos
empregados da SAMEAC.
A moção foi
conseguida após apresentação e convencimento por Keila Camelo de um áudio e um
texto do advogado do MDTS Clovis Renato sobre a situação jurídica da SAMEAC na
UFC. Após tal “corpo a corpo” em favor do MDTS, a moção foi aprovada por
unanimidade pelos 1300 delegados do Congresso da FASUBRA, sendo encaminhada ao
MEC, à UFC, à EBSERH, à SAMEAC, parlamentares federais e outros.
Mais de 14
entidades sindicais e representativas estão apoiando o Movimento, destacando-se
o SINDSAÚDE, o SINDPD, o Conselho Regional de Fisioterapia, o Sindicato dos
Enfermeiros, o COREN, o SIMEC, o Sindicato dos Radiologistas, o SINTUFCE, dentre
outros.
Clovis Renato - advogado MDTS |
Em tal
contexto, têm surgido lamentáveis declarações dos que prestaram concurso para a
EBSERH, certamente por falta de compreensão sobre terceirização, solidariedade
e dignidade humana, uma vez que tal empresa pode ruir com a ação de
inconstitucionalidade do Procurador Geral da República que tramita no STF desde
2013.
Deve-se
conscientizar tais trabalhadores e propensos obreiros da EBSERH, uma vez que
estão adotando postura desumana e desqualificadora contra pessoas que laboram
há 30 anos, ininterruptamente, na saúde cearense, pessoas com idades que giram
dos 40 aos 60 anos de idade.
É grave
compreenderem que a culpa por não terem sido todos chamados ainda diante da
manutenção dos trabalhadores da SAMEAC, sem atentarem para a crise financeira
que se instaura no país.
Esclarece-se
que todos têm condições de conviver no Complexo Hospitalar, que carece de muitas
pessoas além do previsto, diante da demanda infinita por saúde neste Estado. O
Governo Federal informou (União Federal via MEC) que não há recursos para
chamar a todos os que prestaram concurso no
momento, que a União está tentando equacionar a crise, não há bloqueio em
razão dos trabalhadores da SAMEAC. Para tanto, conforme chega o orçamento, os
concursados celetistas da EBSERH estão sendo chamados para trabalhar, sem que
tenha sido necessário dispensar, até o momento os trabalhadores da SAMEAC.
Pena que o
Poder Público e este sistema coloca pessoas contra pessoas, em perspectiva
repleta de individualismo, pena que a EBSERH veio para terceirizar a saúde
pública, pena que os atuais empregados da EBSERH não sejam servidores
estatutários, mas tão celetistas como os da SAMEAC, os quais podem, em breve,
estar reivindicando o mesmo pleitos dos já idosos trabalhadores da SAMEAC.
O MDTS não é
contra os trabalhadores da EBSERH, mas contra o sistema que a implantou e ao
modo desumano adotado pelo Poder Público ao tratar pessoas como mercadorias e
descartar valorosas grandezas de humanidade.
Reunião de organização do Ato Praça do Ferreira - Complexo Hospitalar |
Importante
esclarecer aspectos históricos da SAMEAC que a colocam em situação especial,
que não pode ser equiparada à terceirização ora combatida por segmentos
trabalhistas, devendo o Poder Público dar tratamento diferenciado com os
trabalhadores da SAMEAC, especialmente, os mais antigos.
A SAMEAC
funciona há 51 anos prestando serviços diretamente à Universidade Federal do
Ceará, sendo completamente financiada pelo Poder Público, sem patrimônio
próprio, com mais de setecentas pessoas em atividade, em grande parte com mais
de vinte anos de serviço. Nunca teve fins lucrativos, não recebe remuneração
contratual como SAMEAC e os bens que foi adquirindo foram repassados à UFC, o
que demarca sua situação diferenciada, a qual deve receber tratamento, também,
excepcional.
A fundação
da UFC e a da SAMEAC ocorreram em períodos comuns da História de Fortaleza,
tendo a UFC (1954/1955) e a SAMEAC (1960) firmado o primeiro convênio, até
então ininterrupto, em 1965. Conforme os dados históricos, não existia a figura
jurídica da “terceirização” de mão de obra, com empresa interposta visando
lucro, nem as finalidades da SAMEAC e da UFC, ambas sem fins lucrativos e
completamente mantidas pelo Poder Público, se alinhavam a tal ideia.
Ressalte-se que a SAMEAC é instituição com fins sociais e sempre doou seu
patrimônio material ao Poder Público, além de prestar serviço por meio de seu
pessoal.
Em sua
história, a contratação dos empregados da SAMEAC seguiu o padrão adotado para a
contratação de milhares de funcionários públicos da UFC em sua fundação. A
contratação de celetistas pelo Poder Público nos anos 60 era comum, de modo
que, por ocasião da promulgação da Constituição de 1988, houve, inclusive, a
estabilização dos obreiros que estivessem em serviço há pelo menos cinco anos
continuados da data da promulgação da CF/88, os quais não tinham sido admitidos
na forma regulada no art. 37, da Constituição (concurso público).
Verificação de glicemia e aferição de pressão arterial |
Desse modo,
não somos defensores da terceirização, mas entendemos que o caso Sameac é
diferente, pois há 51 anos o governo não lembrou de reconhecer o trabalho
social e das pessoas que foram propositalmente confundidos com terceirizados. O
justo teria sido reconhecer todos os trabalhadores da Sameac em 1988 como
servidores, depois encerrar suas atividades, mas não foi feito e estamos
lutando pelas sobras de dignidade e reconhecimento, por pessoas com dezenas de
anos trabalhando para a UFC que dão suas vidas pela saúde cearense.
O MDTS aguarda os desdobramentos das ações e pedidos já encaminhados, com nova audiência, marcada informalmente, com o Reitor Henri Campos, para o dia 30/06, às 16h, na Reitoria da UFC. Assim, também, com o Ministério Público Federal e a CNTS, com esperanças de não necessitar acionar diretamente o Poder Judiciário em face de desdobramentos prejudiciais à dignidade dos trabalhadores.
O MDTS aguarda os desdobramentos das ações e pedidos já encaminhados, com nova audiência, marcada informalmente, com o Reitor Henri Campos, para o dia 30/06, às 16h, na Reitoria da UFC. Assim, também, com o Ministério Público Federal e a CNTS, com esperanças de não necessitar acionar diretamente o Poder Judiciário em face de desdobramentos prejudiciais à dignidade dos trabalhadores.
Clovis Renato Costa Farias
Advogado do MDTS
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