Ocorreram nos dias 20, 21 e 22 de maio
o Seminário de Direitos Humanos promovido pelo Escritório de Direitos Humanos
da Unichristus (EDH), organizado pela Coordenação do EDH, o X Encontro de
Iniciação à Pesquisa e à Docência, dias 20 e 21, e o VIII Encontro de
Pesquisadores, organizados pela Coordenação de Pesquisa Profa. Andréia Costa,
todos com participação direta da Coordenação Geral Prof. Gabrielle Bezerra e
Henrique Frota.
EDH/Unichristus |
Em 2013, o
Seminário versou sobre o tema ‘O que são Direitos Humanos?’, e abordou uma
pluralidade de temáticas que pulsam na atualidade, tais como: segurança pública
e DHs, liberdade religiosa e DHs, redução da maioridade penal e DHs, a PEC 37 e
a defesa e promoção dos DHs, dentre outros.
As mesas
do Seminário do EDH foram pensadas com o fito de provocar o diálogo entre
distintas compreensões acerca das temáticas abordadas. Além disso, estudantes
extensionistas do EDH de 2013 participaram da organização do Seminário,
acompanhados dos extensionistas do EDH de 2012 que apresentaram resumos e
artigos na Semana de Iniciação à Pesquisa.
Contou-se com uma boa participação de estudantes de Direito da Unichristus
no Seminário, com o viés
voltado à formação humana dos alunos, a IES recebeu convidados renomados (professores,
doutrinadores, juízes, agentes da polícia) com ampla atuação na área de
proteção aos direitos humanos, a fim de promover o diálogo e a discussão sobre
assuntos polêmicos que se encontram no centro das atenções tanto dos juristas
quanto da população em um todo.
Alunos, George Marmelstein e Profa. Priscyl |
A primeira palestra do EDH teve o tema Concepções de Direitos Humanos e contou
com a presença do Juiz Federal e professor de Direito Constitucional George
Marmelstein, além do Major da PM e Diretor Geral da Guarda Municipal de
Fortaleza, Plauto Roberto Lima.
Por meio de uma conversa informal, mas bastante concisa,
George Marmelstein discutiu conceitos básicos do que seriam Direitos Humanos. As
origens são antigas, passando a existir a partir do momento em que o homem se
considerou capaz de se revoltar. Na visão do palestrante, os Direitos Humanos
simbolizam o combate à opressão.
Conforme o Leandro Terto (aluno do EDH), a principal ideia
retirada das palavras do Major Plauto de Lima, foi o fato de que, diante de um
crime (exemplo dado pelo palestrante dos crimes patrimoniais), devemos analisar
a situação com uma visão mais abrangente, tentando “entender” o criminoso. Para
o Major Plauto, entender não significa justificar um delito, mas compreendermos
a situação em que vive o criminoso, bem como a vida que teve, antes de
simplesmente julgá-lo ou condená-lo pelo crime que cometeu.
Profs. Raposo, Torquilho, Danilo e Jânio |
No dia seguinte (22) no período da manhã deu-se a palestra sobre a PEC 33/2011 e o Sistema de Separação de Poderes, tendo a mesa sido composta pelos professores da Unichristus
Danilo Ferraz e Jânio Cunha e pelo professor convidado da UFC e da Unifor
Gustavo Raposo. Iniciou-se o debate com o professor Gustavo falando sobre a
importância que devemos dar a História brasileira antes de qualquer discussão e
mostrando no decorrer de sua fala que esse problema atual com a PEC-33 deve-se
ao processo de independência do país.
O
professor Danilo Ferraz ressaltou a importância de conhecermos a história para
entendermos o que acontece, sendo melhor fazer parâmetros para o Ministério Público,
delimitando funções e respeitando as atribuições policiais, sem invasão de
competências.
A
principal ideia retirada da discussão, para a aluna do curso de Direito,
Carmelita Coêlho (EDH), é que se faz importante não só criticar uma proposta,
mas analisar os aspectos que a fizeram surgir, enfatizando as complexidades e
os impactos práticos.
O Prof. Jânio
Cunha falou sobre a separação de poderes, dispondo ser um sistema fixo amarrado
dependente do contexto histórico, e que hoje existem dúvidas sobre a quem
compete o Poder de decidir por último no Estado Democrático de Direito, visto
que há uma invasão das matérias na separação de poderes, e que o judiciário
está decidindo temas que são de cunho político, uma vez que, na atualidade,
existe uma credibilidade maior do poder judiciário.
Yuri, Andréia, Torquilho e Rafaela |
No mesmo dia, no período da noite, realizou-se, com a presença dos
professores Antonio Torquilho Praxedes, Yuri de Nóbrega Sales, Rafaella Brito e
Andreia Sales, (todos da Unichristus) a Mesa Redonda ‘Direitos Humanos,
Diversidade e Pluralismo Religioso’. Deu-se importante relevo à resolução do
Conselho Federal de Medicina (CFM) que dispõe não haver uma psicopatologia
sexual, logo, não se podendo tratar a homoafetividade como uma patologia, uma
doença. Está impossibilitada, pois, a reorientação sexual por meio de
tratamentos médicos e psiquiátricos. Postura diferente, ressaltada e combatida
pela mesa, é a defendida pelo pastor Silas Malafáia, que afirma com uma certeza
absoluta que não existe “gene gay” logo é uma escolha da pessoa ser ou não
homossexual. Da mesma forma, usando da sua oratória como pastor e seus
conhecimentos como psicólogo (ora atuando como um personagem, ora como outro,
como melhor convir), prega uma possível cura gay, levantando, de forma errônea,
a bandeira dos Direitos Humanos, com a fala de que é um direito dos gays a
busca pela cura, pois como uma pessoa pode livremente buscar “ser” gay, também
pode querer voltar à vida heterossexual.
Por fim, foi ressaltado pelo professor Antônio Torquilho Praxedes
que a intolerância gera intolerância, que por sua vez gera uma sociedade onde
as pessoas não conseguem conviver com as diferenças, criando quase um estado
totalitário ao estilo alemão, no qual se faz uma eugenia social, selecionando
os ‘bons’ e renegando os ‘maus’, os diferentes. Afirmou ser papel da religião
pregar o amor ao próximo, não o ódio, a exclusão do semelhante.
Roseno e os professores da Unichristus |
Ainda no dia 22 debateu-se o tema Redução
da Maioridade Penal, um dos mais polêmicos e controversos do evento. Para
integrar a mesa, fizeram-se presentes o Advogado Renato Roseno e os professores
Luiz Abrantes Pequeno, Leandro Bessa, Clesio Arruda e Paula Tesser, professores
da Unichristus.
Roseno abordou momentos históricos e, imediatamente, demonstrou sua
aversão à redução da maioridade penal, pois destacou a ineficácia histórica a
punição como forma de ressocialização. Antes, citou que “quem só de Direito sabe, nem de Direito sabe”. Destacou a
seletividade constatada ao observar-se os que estão cumprindo medidas socioeducativas
- encarcerados (adolescentes pardos ou negros, de até 24 anos e pobres).
Argumentou que toda forma de penalidade é seletiva alegando, inclusive, que os
ricos lotam de processos o STJ e o STF, enquanto os pobres lotam os presídios.
Questionou a plateia quanto à idade de responsabilização no Brasil e, após
ouvir a resposta “dezoito anos”, alertou que o ECA há muito tempo diz ser “doze
anos”, demonstrando, então, a diferença entre maioridade penal e idade de responsabilização.
Em seguida, o professor e sociólogo Clésio Arruda apresentou gráficos, números
e reflexões, ressaltando as diferenças entre os termos “jovem”, “menor” e
“suspeito”, empregados de acordo com a classe social que o agente de certo fato
típico se insere (quando certo crime é cometido por um jovem da classe média
alta, trata-se o agente como “jovem”, quando de classe baixa, “menor”, ou
“delinquente”, v.g.).
Renato Roseno concluiu suas premissas afirmando que o Código Penal é
político e seletivo. Demonstrou, após isso, um caso emblemático em que um jovem
- classe baixa, morador de periferia, estudante de escola pública e usuário de
drogas – responde a um questionário de pesquisa qualitativa e, ao chegar aos
quesitos que o incluem no mundo das drogas, respondeu sem fazer as marcações no
campo correto, como se dissesse “eu não faço parte desta droga”. Para
finalizar, leu o poema Triste Partida – Patativa do Assaré e nos restou claro
que não é favorável à redução da maioridade penal.
O Professor e Promotor de Justiça Luiz Abrantes, experiente no combate à
violência e consciente da ineficácia do sistema carcerário, é contra a redução
da maioridade, pois afirma ser a ressocialização uma utopia. Alega que somente
uma pequena parte da juventude das classes C, D e E, por suas próprias pernas,
caminha para o mundo do crime. Citou artigos do ECA, do Código Penal e da
Constituição Federal para sustentar sua argumentação. Porém, defendeu a
adequada proporcionalidade na aplicação das penas aos atos infracionais praticados
pelos adolescentes. Seus argumentos condenam qualquer tipo de impunidade,
baseando-se em cálculos de dosimetrias de penas.
Finalizada a primeira rodada do debate, o Professor Leandro defendeu
seu ponto de vista argumentando que não há segurança, mas há um clamor por mais
segurança aparente, com mais viaturas, com mais policiais. Sustentou que a
Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen foi superada pelas atrocidades que ela
possibilitou por um Direito desprovido de conteúdo. Comentou que o Direito sem considerações
sociológicas ou antropológicas, puro e simplesmente aplicado, compara-se à
vingança. Na evolução do direito de punir do Estado, partirmos da vingança
privada (aplicada pela família), passamos pela vingança divina (aplicada pelos
escolhidos pelas divindades) e chegamos à pública, pois o Estado detém o
monopólio da violência. Reduzir a maioridade penal, conforme o Professor
Leandro, é retroceder ao século XVIII e, assim, estaríamos aplicando a
vingança, não o Direito. Punir o adolescente é o discurso da vez e este, em vez
de ser considerado vítima, pois dezesseis jovens são mortos todos os dias, é
retratado como o perigo hodierno. Finalizou argumentando que o Estado não põe
em prática as normas sociais, mas quer punir.
Prof. Davi, Rafaela e Leandro |
Na Mesa Redonda seguinte, realizada no período noturno, abordou-se a Lei
Carolina Dieckmann pelos professores Davi Peixoto, Rafaella Brito e José Rangel
a aplicação prática da lei 12.737, a Lei Carolina Dieckmann, que inclui ao Código Penal os artigos 154-A e
154-B.
A bancada atentou inicialmente para o fato de os crimes
cibernéticos já estarem sendo tratados em outros dispositivos do Código Penal,
como os artigos 313-A, 313-B, e 325 §1º. O Professor José Rangel expos que, por
se tratar de um crime de menor potencial ofensivo e por ter pena máxima de dois
anos, dificilmente alguém vai ter a liberdade restrita, se convertendo a pena
em multas. Ressaltou ainda que o Direito Penal não é o primeiro a solucionar os
problemas, mas deve ser o último meio de resolvê-los. Seria mais interessante
ser a presente lei tutelada pelo Direito Civil.
O Professor Davi Peixoto asseverou que a lei é inócua, pois o
crime de informática é um crime “meio” com o qual se pratica um crime “fim”
(como invadir um computador pessoal para praticar estelionato), e segundo o
Princípio da Consunção, o primeiro crime é desconsiderado, só se julgado crime
final. Ao final da palestra, teceu-se uma crítica à tendência do legislador em
criminalizar condutas achando resolver problemas sociais e políticos com a
simples criminalização delas. Deve-se lembrar que direito é fato, valor e norma
(não somente norma) e deve ser visto como uma construção a partir da realidade
social.
Roberta, Olívia, Clovis e Camila |
A mesa final do evento tratou o tema ‘União Homoafetiva e
Casamento Civil entre Pessoas do Mesmo Sexo’. A mesa foi composta pelo
Professor Clovis Renato Costa Farias (orientador do Projeto Comunidade e
Direitos Sociais do EDH/Unichristus), a Advogada Olivia Pinto (Comissão de
Diversidade Sexual OAB/CE), a Defensora Pública do Estado do Ceará Roberta
Quaranta e a Profa. Camila Gonçalves.
Foram abordadas as polêmicas pelo fato de o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) determinar em resolução a obrigatoriedade dos cartórios de todos
os estados brasileiros celebrarem a união civil de casais do mesmo sexo. Essa
decisão causou polêmica no Superior Tribunal de Justiça porque muitos cartórios
não queriam registrar tais uniões.
Segundo relato de Bianca Rocha (aluna EDH/Unichristus), ouvinte no
evento, o problema nos remete à reflexão sobre a caracterização de “família”. A
família tradicional é composta por um homem, uma mulher e filhos, mas está
atualmente modificada. Há famílias com apenas uma mulher e um filho, um homem e
um filho, como também, pessoas do mesmo sexo ou de gêneros diferentes podem
compô-la. É dispensável o preconceito de cartórios em não querer aceitar a
união civil, sendo que ela já é aceita pela jurisprudência pátria.
Em razão de o Seminário ter ocorrido em conjunto com a Semana de
Iniciação à Pesquisa, além de possibilitar uma maior participação dos
estudantes por não haver aulas nesse período, contribuiu com um clima
universitário de ensino, pesquisa e extensão caminhando conjuntamente.
Ao final, Coordenadora do EDH/Unichristus agradeceu aos estudantes
extensionistas do EDH que tanto contribuíram com a realização do Seminário, aos
professores da Unichristus que abrilhantaram o Seminário com suas palestras, e
aos professores Clesio Arruda, Clovis Renato, Rafaela Brito, Antonio Torquilho,
Henrique Frota, Gabrielle Bezerra e Andreia Costa que construíram, em conjunto
com a coordenação do EDH, o Seminário, desde a sua concepção à sua realização.
Também se pôde notar uma satisfação por parte dos alunos, que lotavam
os auditórios, como relatado por Venâncio Camurça, aluno do segundo semestre
(EDH/Unichristus): “foi uma grande oportunidade para aprendermos sobre a seara
atual dos direitos humanos, e eventos como esse, nos ajudam a compreender o
direito como um produto social, não só como normas positivadas”.
Andréa
Ponte
Aluna do Projeto Comunidade e Direitos Sociais/EDH –
Unicrhistus
Bianca
Rocha Filgueiras
Aluna do Projeto Comunidade e Direitos Sociais/EDH –
Unicrhistus
Carmelita
Coêlho
Aluna do Projeto Comunidade e Direitos Sociais/EDH –
Unicrhistus
Francisco
Leandro de Brito Terto
Aluno do Projeto Comunidade e Direitos Sociais/EDH –
Unicrhistus
Jéssica
Maria Costa Marques
Aluna do Projeto Comunidade e Direitos Sociais/EDH –
Unicrhistus
José
Antônio Luiz Neto
Aluno do Projeto Comunidade e Direitos Sociais/EDH –
Unicrhistus
Maria
Carmelita Coêlho Felix
Aluna do Projeto Comunidade e Direitos Sociais/EDH –
Unicrhistus
Monique
de Medeiros Teixeira
Aluna do Projeto Comunidade e Direitos Sociais/EDH –
Unicrhistus
Venâncio
Camurça Magalhães Júnior
Aluno do Projeto Comunidade e Direitos Sociais/EDH –
Unicrhistus
Clovis
Renato Costa Farias
Doutorando em Direito da UFC/Bolsista da CAPES
Professor membro do EDH/Unichristus
Orientador do Projeto Comunidade e Direitos
Sociais
Membro do GRUPE, do Instituto Pensar Direito
(IPD) e da ATRACE
Vice Presidente da Comissão de Direito Sindical
da OAB/CE
Autor da obra ‘Desjudicialização: conflitos
coletivos do trabalho’ e das Páginas:
Vida, Arte e Direito
(vidaarteedireito.blogspot.com)
Periódico Atividade (vidaarteedireitonoticias.blogspot.com)
Canal Vida, Arte e Direito
(www.youtube.com/user/3mestress)
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