William Griffith Wilson (Estados
Unidos, 26 de novembro de 1895-24 de janeiro de 1971), também conhecido por
Bill Wilson ou Bill W. - nome pelo qual ficou conhecido no mundo inteiro - foi
o cofundador do grupo de mútua ajuda Alcoólicos Anônimos juntamente com o Dr.
Robert Smith, mais conhecido como Dr. Bob S. ou Dr. Bob.
Origens
Filho de um alcoólico, foi
abandonado por ambos os pais e ficou aos cuidados dos avós. Bill, mais tarde,
começara ele próprio a beber, para comemorar ou para esquecer. Casou-se em 1918
com Lois Burnham, que, anos mais tarde, o ajudaria na fundação dos Al-Anon,
organização destinada ao apoio às famílias de alcoólicos. Todavia, Wilson, que
fez carreira militar, não conseguiu abandonar o álcool durante quase vinte
anos, vindo a ser internado quatro vezes por esse motivo. A primeira vez
ocorreu em 1933, ano em que as suas crises devido ao alcoolismo foram mais
agudas. Este ano de 1933 foi uma época de penúria e mesmo miséria para os
Wilson, a viverem a ressaca da Grande Depressão iniciada em 1929, que atirara
ambos para o desemprego. Wilson, constantemente bêbado, tornou-se um destroço
humano, mendigando para beber.
Surge o AA
Em 1934, porém, ano da última das
suas crises, bebeu o último copo, tinha já 39 anos e uma saúde arruinada, para
além de uma carreira destruída. O seu último internamento, em Nova Iorque,
precisamente em 1934, foi de fato um momento marcante, pois sentira uma
iluminação divina que o ajudaria a libertar-se dos grilhões destruidores do
álcool e o conduziria à fundação dos Alcoólicos Anónimos (AA). Bill começou
esta sua cruzada contra o álcool a partir do apoio da religião, através do
Grupo Oxford, uma sociedade evangélica em que um seu amigo estava e que antes fora
também alcoólico, mas deixara através de um tratamento à base de barbitúricos e
de beladona ("purga e vómito"). Bill aderiu ao Grupo e à
"receita", deixando de beber. Depois de meio ano sóbrio, Bill quase
que caía outra vez na bebida, quando era já outra vez um homem de negócios. Foi
um momento trágico e difícil, mas lembrara-se, no entanto, de ajudar um outro
alcoólico, o que entendeu que o poderia livrar de vez do álcool. Assim,
estava-se em 10 de junho de 1935, conseguiu convencer um alcoólico intratável,
o Dr. Robert Smith, a abandonar a bebida, naquilo que foi considerada a
primeira reunião dos Alcoólicos Anónimos. De um pedido de 15 minutos para
conversar com Smith, acabaram por estar horas a fio os dois, conseguindo ambos
juntar forças para abandonar para sempre a bebida. Por isso, o princípio
fundamental da filosofia dos A. A. é de que só um alcoólico pode ajudar outro
alcoólico. A casa de Bill, em Clinton Street, em Brooklyn, Nova Iorque,
tornou-se o local sagrado da instituição e das suas reuniões durante alguns
anos, até os Wilson daí serem despejados e obrigados a viver em condições
provisórias ou em quartos emprestados.
Fundação, livros e Al-Anon
Em 1938 criou a Fundação
Alcoólicos e um ano depois publicou o livro Alcoólicos Anónimos, manual de base
para quem quisesse deixar a bebida, incluindo na obra os 12 passos para esse
efeito. De início, o livro não vendeu nada.
Em 1940 Wilson conseguiu receber um
apoio do milionário americano John Rockfeller Jr. mas de apenas trinta dólares
por semana, nada mais, pois achava que o dinheiro poderia corromper os A. A.
uma organização que tanto o impressionara. Em 1953 publicou mesmo um livro com
esse título, Doze Passos e Doze Tradições, que é uma autêntica carta de
princípios e de organização para os Alcoólicos Anónimos.
Os 12 passos
representam as doze fases para a cura do alcoolismo, tendo sido depois
aplicados para outros vícios tais como o tabagismo, o sexo, o jogo, as dívidas,
drogas, neurose, etc. Antes, em 1951, Lois fundou a referida organização
Al-Anon, projetando a sua experiência de familiar de uma ex-alcoólico para
apoiar as famílias de outros viciados na bebida ou em fase de a deixar. Bill, à
medida que os A.A. ganharam expressão e notoriedade na América e fama e seguidores
fora dela, tornou-se o seu símbolo e figura referencial, quase mítica. Wilson
foi de facto uma figura proeminente e decisiva para muitos alcoólicos, pois
defendia que, acima de tudo, a fórmula que pode operar o milagre da sobriedade
é a mudança de ânimo, podendo-se encontrar forças em Deus ("que até podia
ser um radiador", dizia). O alcoolismo acabou por ser considerado doença
crónica e a ação dos A. A. muito serviu para que a classe médica assim
reconhecesse essa dependência do álcool. Hoje são mais de 2 milhões os A. A. em
mais de 150 países e muitos são os que já deixaram o álcool graça aos conselhos
de Bill Wilson e às reuniões com outros viciados de forma a purgar a mente e
ganhar forças e um novo ânimo. Wilson foi sempre uma figura discreta na parte
final da vida, quando a sua atividade em luta contra o alcoolismo era já uma
realidade social americana e ele um verdadeiro mito. Recusou prêmios,
condecorações, pagamentos por conselhos e distinções, até uma foto de capa na
Time.
Falecimento
Apesar de ter parado de beber,
era um fumante inveterado. Faleceu a 24 de janeiro de 1971, durante um
tratamento dos pulmões em Miami, Flórida, vítima de pneumonia e de um enfisema.
Bill W. and Dr. Bob
Em 1995, foi criada a peça
teatral Bill W. and Dr. Bob, baseada nas vidas dos fundadores de AA e suas
esposas. Os autores da peça são os teatrólogos Stephen Bergman e Janet
Surrey[1] e foi produzida por Bradford S. Lovette, Dr. Michael Weinberg, Judith
Weinberg e The New Repertory Theatre. Os intérpretes são os atores Robert
Krakovski (Bill W.) e Patrick Husted (Dr. Bob) e as atrizes Rachel Harker (Lois
Wilson) e Kathleen Doyle (Anne Smith).
A peça teve sua primeira produção
Off-Broadway em 2007[2] e retornou aos palcos em 2011.
Prêmios
A peça conquistou os seguintes
prêmios[3]
2010: Top Theatre Stories in Cleveland - Cleveland
Plain Dealer
2010: Best Play Award - Regional British Columbia
Drama Festival
2007: National Performing Arts Award - National
Council on Alcohol
1995: One of the best plays of the year — San Diego
Union Tribune
1995: Robert Wood Johnson Foundation Award para Samuel
Shem, Harvard Medical School Division on Addictions
Livro: Alcoólicos Anônimos
Texto em Português
A história de como muitos
milhares de homens e mulheres se recuperaram do Alcoolismo
PREFÁCIO
DA PRIMEIRA EDIÇÃO EM PORTUGUÊS
Este livro, originalmente
publicado em 1939, na altura em que os membros de A.A. eram apenas cerca de uma
centena, foi traduzido em 27 línguas. Em Novembro de 1994, data prevista para a
publicação desta edição, o número de membros de Alcoólicos Anónimos a nível
mundial foi avaliado moderadamente em mais de 2.000.000 com mais de 90.000
grupos em 141 países. Esta tradução contém o texto básico do programa A.A. de
recuperação da doença do alcoolismo, programa esse cuja mensagem tem
permanecido inalterada ao longo de mais de cinco décadas. Embora algumas
referências e expressões que aparecem no texto reflictam realidades históricas
e sociais dos Estados Unidos da América há meio século, a essência do programa
de A.A. afigura-se eminentemente traduzível; os seus princípios básicos,
independentemente da língua em que são expressos, têm sido aplicados com êxito
por indivíduos de ambos os sexos de todas as idades e de nacionalidades muito
diferentes em todo o mundo. Diferenças linguísticas, distinções sociais e
profissionais, diferenças de classe, sexo ou etnia que, por vezes têm levantado
enormes barreiras em outras esferas da actividade humana, parecem não
constituir obstáculo à transmissão eficaz da mensagem de A.A., mensagem essa
que se baseia na experiência partilhada de sofrimento e está enraizada numa
comunidade de amor que transcende os caprichos de nascimento e circunstância.
INTRODUÇÃO
(À 3ª EDIÇÃO AMERICANA)
Esta é a terceira edição* do
livro "Alcoólicos Anónimos". A primeira edição apareceu em Abril de
1939 e, nos dezasseis anos seguintes, mais de 300.000 exemplares foram postos
em circulação. A segunda edição, publicada em 1955, atingiu mais de 1.150.000
exemplares.
Por este livro se haver tornado o
texto básico da nossa Sociedade e ter ajudado tantos alcoólicos, homens e
mulheres, a se recuperarem, existe um sentimento que se opõe a quaisquer
mudanças radicais que se pretendam introduzir. Consequentemente, a primeira
parte que descreve o programa de recuperação de A.A., preservou-se sem
alteração ao longo de revisões efectuadas na segunda e terceira edições. A
parte chamada "A Opinião do Médico" manteve-se intacta, tal como foi
originalmente redigida em 1939 pelo falecido Dr. William D. Silkworth, o maior
benfeitor médico da nossa Sociedade.
Na segunda edição foram
acrescentados os apêndices, as Doze Tradições e as direcções para se entrar em
contacto com o A.A.. Mas a principal modificação diz respeito à parte das
histórias pessoais, que foi alargada para reflectir o crescimento da
Comunidade. "A História de Bill", "O Pesadelo do Dr. Bob" e
uma outra história pessoal da primeira edição deixaram-se intactas; três foram
editadas e a uma delas deu-se-lhe outro título; foram redigidas novas versões
de duas histórias com novos títulos; acrescentaram-se trinta novas histórias; e
a secção das histórias foi dividida em três partes, com os mesmos títulos.
Nesta terceira edição, a Parte I
("Os Pioneiros de A.A.") não sofreu alteração. Nove das histórias na
Parte II ("Eles Pararam A Tempo") foram transpostas da segunda
edição; oito novas histórias foram acrescentadas. Na Parte III ("Eles
Perderam Quase Tudo") conservaram-se oito histórias e cinco são novas.
Todas as modificações feitas ao
longo dos anos no Livro Azul (a alcunha predilecta que os membros de A.A. dão a
este volume) têm a mesma finalidade: a de representar mais exactamente a
Comunidade dos Alcoólicos Anónimos e desse modo chegar a mais alcoólicos. Se
tem um problema de bebida, esperamos que se detenha ao ler uma das quarenta e
quatro histórias pessoais e pense: "De facto, isto aconteceu-me'; ou, mais
importante, "Sim, eu senti-me assim'; ou, o mais importante de tudo,
"Sim, eu acho que este programa também pode resultar para mim".
PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO
Prefácio como apareceu na
primeira impressão da primeira edição em 1939.
Nós, os Alcoólicos Anónimos,
somos mais de uma centena* de homens e mulheres que nos recuperámos de uma
condição mental e física aparentemente irremediável. O objectivo principal
deste livro é de explicar a outros alcoólicos precisamente como nos
recuperámos. Esperamos que estas páginas se tornem tão convincentes que não
seja necessária mais nenhuma prova de autenticidade. Cremos que a descrição das
nossas experiências ajudará todos a entender melhor o alcoólico. Muitos não
compreendem que o alcoólico é uma pessoa muito doente. Além disso, temos a
certeza de que o nosso modo de vida tem vantagens para todos.
É importante permanecermos
anónimos porque actualmente somos muito poucos para atendermos ao grande número
de pedidos pessoais que possam resultar desta publicação. Como somos na maior
parte pessoas de negócios ou com profissões liberais, não poderíamos, nestas
circunstâncias, prosseguir convenientemente com os nossos empregos. Gostaríamos
que ficasse bem claro que a nossa actividade junto de alcoólicos não é
profissional.
Ao escrevermos ou falarmos
publicamente sobre alcoolismo, recomendamos a todos os nossos membros que
omitam o seu nome e se identifiquem em vez disso como "um membro dos
Alcoólicos Anónimos".
Muito sinceramente pedimos de
igual modo à imprensa que respeite este pedido, porque senão seríamos muito
prejudicados.
Não somos uma organização no
sentido convencional do termo. Não há taxas de admissão nem quotas de qualquer
espécie. O único requisito para ser membro é um desejo sincero de parar de
beber. Não estamos ligados a nenhuma religião, seita ou confissão em
particular, nem nos opomos a quem quer que seja. Procuramos simplesmente ser de
utilidade aos que sofrem desta doença.
Teremos interesse em ter notícias
dos que obtiverem resultados com este livro, particularmente dos que começaram
a trabalhar com outros alcoólicos. Gostaríamos de ajudar nesses casos.
Quaisquer perguntas por parte de
organismos científicos, médicos e religiosos serão bem recebidas.
PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO
Os números referidos neste
prefácio descrevem a Comunidade em 1955
Desde que foi escrito o Prefácio
original deste livro em 1939, produziu-se um milagre em grande escala. A nossa
primeira tiragem expressava a esperança de "que um dia todo o alcoólico em
viagem possa encontrar no seu destino um grupo de Alcoólicos Anónimos.
Já," prosseguia o texto inicial, "surgiram noutros sítios grupos de
dois, três e cinco de nós."
Passaram dezasseis anos entre a
primeira impressão deste livro e o aparecimento da nossa segunda edição em
1955. Neste curto espaço de tempo, os Alcoólicos Anónimos cresceram rapidamente
para 6.000 grupos com um número de membros que excede de longe 150.000
alcoólicos recuperados. Há grupos em todos os Estados Unidos da América e em
todas as províncias do Canadá. O A.A. conta com várias comunidades florescentes
nas Ilhas Britânicas, nos países Escandinavos, na África do Sul, na América do
Sul, no México, no Alasca, na Austrália e no Havai. Em suma, inícios
prometedores foram feitos em 50 países estrangeiros ou possessões americanas.
Neste momento, estão em formação grupos na Ásia. Muitos dos nossos amigos
encorajam-nos, dizendo que isto é apenas um começo, um simples presságio de um
futuro ainda mais vasto que se nos depara.
A centelha que iria dar origem ao
primeiro grupo A.A. surgiu em Akron, Ohio, em Junho de 1935, por ocasião de uma
conversa entre um corretor da Bolsa de Nova Iorque e um médico de Akron. Seis
meses antes, o corretor tinha-se libertado da sua obsessão pelo álcool através
de uma inesperada experiência espiritual, na sequência de um encontro com um
amigo alcoólico que tinha estado em contacto com os Grupos de Oxford dessa
época. Tinha também sido imensamente ajudado pelo falecido Dr. William D.
Silkworth, um especialista em alcoolismo de Nova Iorque, que é actualmente
venerado como uma espécie de santo da ciência médica pelos membros de A.A. e,
cuja história, que data das origens da nossa Sociedade, figura nas primeiras
páginas deste livro. Através deste médico o corretor aprendeu a grave natureza
do alcoolismo. Sem conseguir aderir a todos os princípios dos Grupos de Oxford,
ele compenetrou-se da necessidade do inventário moral, da confissão dos
defeitos de personalidade, da reparação dos danos causados a outros, da
disponibilidade para ajudar os outros e da necessidade da crença e dependência
de Deus.
Antes da sua viagem a Akron o
corretor tinha-se empenhado com grande esforço junto de muitos alcoólicos, com
base na teoria de que só um alcoólico pode ajudar outro alcoólico, embora só
tenha conseguido com isso manter-se ele próprio sóbrio. O corretor fora a Akron
num assunto de negócios que tinha fracassado, deixando-o no pavor de poder
recomeçar a beber. De repente, tomou consciência de que para se salvar a si
próprio, tinha de levar a sua mensagem a outro alcoólico. Este outro alcoólico
veio a ser o médico de Akron.
Este médico tinha repetidamente
tentado resolver o seu dilema alcoólico por meios espirituais, porém sem o
conseguir. Mas, quando o corretor lhe comunicou a descrição do Dr. Silkworth
sobre o alcoolismo e o seu carácter irremediável, o médico voltou-se de novo
para a solução espiritual da sua doença com uma disposição que nunca tinha tido
até aí. Ficou sóbrio sem nunca mais voltar a beber até ao momento da sua morte
em 1950. Isto veio aparentemente provar que um alcoólico podia influenciar
outro de um modo que uma pessoa não alcoólica jamais poderia fazer. A
experiência indicava igualmente que o trabalho persistente de um alcoólico com
outro era vital para uma recuperação permanente.
Os dois homens começaram então
activamente a dedicar os seus esforços aos alcoólicos que chegavam à enfermaria
do Akron City Hospital. Justamente o seu primeiro caso, considerado
desesperado, recuperou imediatamente e veio a ser o terceiro membro de A.A.
Nunca mais voltou a beber. Esta actividade prosseguiu em Akron durante o verão
de 1935. Os fracassos foram muitos com êxitos pontuais animadores. Quando o
corretor voltou para Nova Iorque no outono de 1935, o primeiro grupo de A.A.
estava na realidade já formado, embora ninguém se tivesse apercebido disso na
altura.
No final de 1937, o número de
membros com um período de sobriedade apreciável era suficiente para convencer
os outros de que uma nova luz tinha surgido no mundo sombrio dos alcoólicos.
Um segundo pequeno grupo
formou-se rapidamente em Nova Iorque. Além disso, alcoólicos dispersos por
vários sítios tinham captado os princípios básicos utilizados em Akron ou Nova
Iorque e tentavam formar novos grupos noutras cidades.
Tinha agora chegado a altura,
pensavam os membros dos grupos que prosseguiam com os seus esforços, de
anunciar ao mundo a sua mensagem e singular experiência. Esta determinação deu
os seus frutos na primavera de 1939 com a publicação deste livro. Tinha-se
atingido aproximadamente uma centena de membros, homens e mulheres. A sociedade
nascente, até aí sem nome, começou então a chamar-se Alcoólicos Anónimos em
função do título do seu próprio livro. O período inicial de andar à deriva
chegava ao seu fim e o A.A. entrava numa nova fase da sua época pioneira.
O aparecimento do novo livro deu
origem a uma série de acontecimentos. O Dr. Harry Emerson Fosdick, eclesiástico
de renome, fez-lhe uma crítica favorável. No outono de 1939, Fulton Oursler,
então director da revista Liberty, publicou nesta revista um artigo intitulado
"Os Alcoólicos e Deus". O artigo desencadeou uma avalanche de 800
pedidos de informação desesperados ao pequeno escritório recém-constituído de
Nova Iorque. Respondeu-se a cada pergunta com um cuidado minucioso e
enviaram-se folhetos e livros. Homens de negócios, já membros de grupos
existentes, foram ter com eventuais novos membros durante as suas viagens.
Formaram-se novos grupos e descobriu-se, para surpresa geral de todos, que a
mensagem de A.A. podia ser transmitida tanto por correio como verbalmente. No
fim de 1939, estimava-se em 800 o número de alcoólicos em vias de recuperação.
Na primavera de 1940, John D.
Rockefeller Jr., ofereceu um jantar a vários amigos para o qual tinha convidado
membros de A.A. para contarem as suas experiências. Esta novidade espalhou-se
rapidamente pelo mundo fora através da imprensa; os pedidos de informação
afluíram de novo em série e várias pessoas procuravam nas livrarias o livro
"Alcoólicos Anónimos". Em Março de 1941, o número de membros tinha
crescido para os 2.000. Foi então que Jack Alexander escreveu um artigo de
fundo no Saturday Evening Post e apresentava ao grande público uma imagem de
A.A. tão convincente, que fomos literalmente inundados pelos alcoólicos com
necessidade de ajuda. No fim de 1941, o A.A. contava com 8.000 membros. O
processo de rápido crescimento estava em plena actividade. O A.A. tinha-se
tornado uma instituição nacional.
A nossa Sociedade entrou então
num período de adolescência simultaneamente tímido e emocionante. O teste a que
tinha de se submeter era o seguinte: conseguiria este grande número de
alcoólicos, outrora irresponsáveis, juntar-se e trabalhar concertadamente?
Haveria que esperar lutas em questões de admissão, liderança e dinheiro? Teria
que se assistir a lutas pelo poder e prestígio? Surgiriam cisões susceptíveis
de desintegrar o A.A.? Em breve o A.A. se defrontaria com estes mesmos
problemas por todos os lados e em todos os grupos. Porém, desta horrível
experiência, a princípio devastadora, surgiu a convicção de que o A.A. teria de
sobreviver em conjunto ou morrer separadamente. Teríamos de lutar pela unidade
da Comunidade ou desaparecer de cena.
Tal como descobrimos os
princípios pelos quais cada alcoólico poderia viver, tivemos assim que criar
princípios pelos quais os grupos de A.A. e o A.A. no seu conjunto poderiam
sobreviver e funcionar eficazmente. Concluiu-se que nenhum alcoólico, homem ou
mulher, poderia jamais ser excluído da nossa Sociedade; que os nossos líderes
poderiam servir mas nunca governar; que cada grupo deveria ser autónomo e que
não haveria qualquer espécie de terapia profissional. Não haveria taxas de
admissão nem quotas; as nossas despesas deveriam ser suportadas pelas nossas
próprias contribuições voluntárias. Era necessário reduzir a organização à
expressão mais simples, mesmo nos nossos centros de serviço. As nossas relações
públicas tinham que assentar mais na atracção do que na promoção. Decidiu-se
que todos os membros deveriam respeitar o anonimato a nível da imprensa, rádio,
televisão e cinema. E, em nenhuma circunstância, deveríamos caucionar outras
organizações ou associar-nos formalmente a elas, nem entrar em controvérsias
públicas.
Isto constituiu a essência das
Doze Tradições de A.A., que se encontram na sua versão integral na página 136
deste livro. Embora nenhum destes princípios tivesse a força de regra ou lei,
havia um consenso tão generalizado sobre eles por volta de 1950, que foram
ratificados na nossa primeira Conferência Internacional em Cleveland.
Actualmente, a notável unidade de A.A. é um dos maiores atributos da nossa
Sociedade.
À medida que as dificuldades
internas do nosso período de adolescência iam diminuindo, a aceitação pública
de A.A. crescia a passos largos, em função de dois factores principais: do
grande número de recuperações e de lares restabelecidos. Estes factores
produziam efeito por toda a parte. Dos alcoólicos que tentavam verdadeiramente dar
uma oportunidade ao A.A., 50% ficavam sóbrios imediatamente e assim se
mantinham; 25% alcançavam a sobriedade depois de algumas recaídas e, dos
restantes, os que ficavam no A.A. faziam progressos. Milhares de outros vieram
a umas tantas reuniões de A.A. e acharam que o programa não era para eles. Mas
uma grande parte destes - aproximadamente dois em cada três - voltava com o
tempo.
Uma outra razão para explicar a
aceitação geral de A.A. foi a ajuda de amigos - amigos da classe médica, do
meio religioso e da imprensa, assim como tantos outros que se tornaram os
nossos idóneos e persistentes defensores. Sem o seu apoio, o A.A. só teria
conseguido progredir muito lentamente. Algumas das recomendações que nos deram
os nossos primeiros amigos da medicina e da religião vêm mais adiante neste
livro.
Os Alcoólicos Anónimos não são
uma organização religiosa. Também não assumem qualquer ponto de vista médico,
embora colaborem amplamente com a classe médica e eclesiástica.
Como o álcool não respeita
pessoas, nós somos na América uma amostra muito representativa da sua população
e, em países estrangeiros, observa-se o mesmo processo democrático a despontar
no horizonte. No âmbito das religiões, incluímos católicos, protestantes,
judeus, hindus e um pequeno número de muçulmanos e budistas. Mais do que 15%
dos nossos membros são mulheres.
Actualmente, o número de membros
cresce na ordem dos 7% ao ano. Até aqui, apenas tocámos ao de leve no problema
global dos vários milhões de alcoólicos efectivos e potenciais que existem em
todo o mundo. Nunca seremos capazes, com toda a probabilidade, de alcançar mais
do que uma razoável fracção do problema alcoólico em todas as suas
ramificações. Quanto à terapia para o próprio alcoólico, não temos seguramente
nenhum monopólio. Contudo, temos uma enorme esperança de que todos aqueles que
ainda não conseguiram encontrar uma resposta, possam encontrar uma nas páginas
deste livro e se juntem agora a nós no caminho para uma nova liberdade.
PREFÁCIO DA
TERCEIRA EDIÇÃO
Em Março de 1976, na altura em
que esta edição foi para impressão, o número mundial de membros de Alcoólicos
Anónimos estimava-se moderadamente que excedesse um milhão, com cerca de 28.000
grupos em mais de 90 países.(1)
Sondagens efectuadas em grupos
nos Estados Unidos e no Canadá indicam que o A.A. está a alcançar não só cada
vez mais pessoas, como também uma variedade cada vez mais ampla. Mais de um
quarto dos membros são mulheres e, entre os membros jovens, a proporção é
praticamente de um terço. Sete por cento dos A.A.s que se submeteram a estas
sondagens têm menos de 30 anos de idade e, entre estes, vários têm menos de
vinte anos.(2)
Os princípios básicos do programa
de A.A., segundo parece, aplicam-se a pessoas das mais diferentes condições e
estilos de vida, do mesmo modo que o programa levou a recuperação a pessoas das
mais diversas nacionalidades. Os Doze Passos, que resumem o programa, podem
chamar-se the Twelve Steps num país, les Douze Etapes noutro, mas traçam
exactamente o mesmo caminho para a recuperação que foi aberto pelos primeiros
membros de Alcoólicos Anónimos. Apesar do grande crescimento em número e em
implantação da Comunidade, ela mantém-se na sua essência simples e pessoal.
Diariamente, algures no mundo, a recuperação começa quando um alcoólico fala com
outro alcoólico, partilhando a sua experiência, força e esperança.
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