Fevereiro de 2017
As reformas trabalhista e
previdenciária que o Governo e o capital pretendem realizar no Brasil objetivam
disciplinar a vida dos trabalhadores por 50, talvez 100 ou mais anos. Nossos
netos e bisnetos serão afetados por elas, recebendo o legado que nossa geração
lhes transmitirá. E isso pode consistir em jornadas de 12 horas, perda do
direito de férias, trabalho desenvolvido no seio familiar, invasivamente,
intervalo de 15 ou 30 minutos para almoço, salários miseráveis, precarização,
aposentadoria fictícia etc. Um retrocesso social sem tamanho.
Algumas entidades sindicais
parecem simpatizar com certas propostas das reformas e sentam com seus autores
para negociar seus termos. O argumento é o mais frágil possível: a reforma
virá, inexoravelmente; então, é melhor negociar os anéis. Trata-se de concepção
ingênua, equivocada. Por que a reforma virá? Porque o movimento sindical já a
aceitou ao sentar na mesa para discuti-la. Ou seja: abraçou-se com mandacaru.
Não atina que o ataque ao movimento sindical se legitimará, e que o próximo
alvo, já prenunciado nessas mudanças, serão os direitos sindicais, o direito de
greve, pois logo se fragilizará a organização sindical, revogar-se-ão as
garantias e se fomentará o ódio do trabalhador contra sua entidade de classe, a
qual se tornará desnecessária por não poder defender, ou por defender mal, seus
representados.
Negociando as reformas
trabalhista e previdenciária, o sindicalismo contribui para que sejam aprovadas
efetivamente. As alterações se instalarão, assim, com o DNA sindical. Isso dará
legitimidade às mudanças, mas o preço que o sindicalismo pagará será muito
alto. Os trabalhadores não perdoarão, especialmente quando forem instigados
pelos próprios autores das reformas, mestres que são em estimular o ódio entre as
pessoas. Então, o sindicalismo compreenderá os espinhos do mandacaru.
No momento, é melhor que o
sindicalismo retorne às bases e ouça o brado dos seus representados, realizando
assembleias repetidas vezes ao longo do País e colhendo a opinião dos trabalhadores,
já que o Governo não quer ouvi-los. E que informe aos trabalhadores,
diariamente, as providências e o encaminhamento dessas questões.
Gérson Marques
fgersonmarques@yahoo.com.br
Professor da Universidade Federal
do Ceará (UFC)
Fonte: http://www.opovo.com.br/jornal/opiniao/2017/02/gerson-marques-abracando-mandacaru.html
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