Luisa Nucada
- da Tribuna
O contrato firmado
com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) prometia trazer
melhorias e resolver os problemas do Complexo Hospital de Clínicas (CHC) que
inclui o Hospital de Clínicas (HC) e a Maternidade Victor Ferreira do Amaral.
Um ano e três meses após a assinatura do acordo de cogestão com a Universidade
Federal do Paraná (UFPR), a situação piorou, na avaliação de profissionais de
saúde, funcionários terceirizados, professores e pacientes ouvidos pela
Tribuna.
De acordo
com trabalhadores, desde que a Ebserh assumiu a administração em outubro de
2014 faltam materiais e suprimentos básicos, como luvas e seringas;
profissionais foram desviados de atividade, atuam em dupla função e sofrem
assédio moral; professores e residentes sentem que a função de ensino da
instituição foi prejudicada; e pacientes sofrem com longas esperas e
procedimentos cancelados por falta de insumos.
Falta de
material
A estudante
Daísa Lourenço Nogueira fez um desabafo em e-mail enviado ao jornal na semana
passada. Seu irmão de 22 anos, diagnosticado com leucemia linfoide aguda e em
tratamento no HC, precisava de uma transfusão de sangue urgentemente. “O banco
tem o sangue, mas não tem os suprimentos necessários de teste e preparo para
que [o sangue] seja aplicado.
Outros
pacientes com o mesmo problema estão há mais de três semanas esperando por
quimioterapia. O hospital todo está apresentando falta de medicamentos e outros
itens (...) Por que isso está acontecendo? Estamos falando de hospital
referência”, relatou. Poucos dias depois, o irmão dela faleceu.
Um servidor
da UFPR que trabalha no centro cirúrgico do HC – e preferiu não se identificar
– conta que técnicos de enfermagem e enfermeiros recebem a indignação de
familiares quando um procedimento é cancelado por carência de insumos. “O
pessoal vem em cima de nós. Às vezes, o paciente já fez o jejum, já criou uma
expectativa, e a cirurgia é cancelada por falta de material”.
Médicos e
professores descontentes
A forma de
administração da Ebserh desagrada também aos médicos do CHC. O presidente do
Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) e secretário-geral da Federação
Nacional dos Médicos (Fenam), Mário Antônio Ferrari, conta que a implantação do
modelo da Ebserh traz preocupações.
“Médicos do
quadro da UFPR que foram colocados à disposição da empresa estão em desvio de
função. Profissionais capacitados que desempenharam por anos atividades
técnicas específicas foram desviados para atividade ambulatorial. Sempre fomos
críticos à adoção do modelo, mas nossa expectativa era de que pelo menos
funcionasse. O que temos observado é muita queixa”, declara.
Ele alerta
ainda para a perda de autonomia da universidade, que pode prejudicar a
qualidade da formação no hospital-escola. É a mesma posição da Associação dos
Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR), que divulgou nota
afirmando que a gestão da Ebserh trouxe “prejuízo às relações de
ensino-aprendizagem”.
Reclamações
variadas
Em visita ao
HC, a reportagem conversou com profissionais terceirizados e verificou que a
insatisfação é geral. Segundo dois trabalhadores da cozinha, falta verba até
para servir comida. “Fecharam o refeitório para os funcionários com a desculpa
de que vão fazer reforma, mas até agora não vimos nada. A verdade é que não tem
dinheiro nem para servir o mesmo número de refeições que antes”, conta um
deles.
Um
funcionário do almoxarifado pertencente ao quadro da Funpar, que trabalha há 29
anos no HC, diz que, depois que a Ebserh assumiu a gestão, tudo piorou: atraso
de salários, carência de insumos e condições de alimentação. “Nosso décimo
terceiro foi sair no dia 23 de dezembro. Nem comida está tendo. O refeitório
fechou e o preço do Restaurante Universitário (RU/UFPR) subiu de R$ 1,90 para
R$ 6 de um dia para o outro”, reclama.
Normalização
até o fim do mês
A assessoria
de imprensa da Ebserh informou que o diretor do hospital, Flávio Tomasich, não
daria entrevista porque estava doente. Segundo a administração do hospital, o
estoque de medicações foi reestabelecido. “O CHC tem se empenhado
sistematicamente para resolução destas questões e nenhum serviço foi fechado
por falta de insumos. A normalização total dos estoques está prevista para o
final deste mês”.
Sobre o
refeitório, o CHC informou que, por razão de reforma, ele permanece fechado
para funcionários e que o preço praticado pelo RU/UFPR é de responsabilidade da
universidade. Com relação aos salários dos funcionários da Funpar, que chegaram
a aprovar indicativo de greve para o feriado de carnaval caso não recebessem em
dia, o hospital declarou que a responsabilidade pelo pagamento não é da Ebserh.
“Os salários estão em dia. Ocorreu um atraso no mês de janeiro devido à
prorrogação do ano fiscal para o dia 8 de janeiro e a problemas no Sistema de
Convênios (Siconv)”, apontou, em nota enviada à Tribuna.
Atendimento
continua bom
Apesar da
escassez de itens básicos e da sobrecarga dos funcionários, pacientes e
familiares têm elogios ao HC. “O atendimento foi ótimo, resolveu o meu câncer,
não tenho do que reclamar. Só tenho a agradecer”, diz Alexsander Faria de
Brito, 19 anos, que faz tratamento contra um tumor no testículo. Os exames,
cirurgias e quimioterapia foram realizados no hospital e ele não teve de lidar
com grandes esperas.
Segundo a
professora Janaína Lima, 21, “o pessoal é muito atencioso”. Seu tio aguardava
uma cirurgia na vesícula. “O único transtorno foi que ele chegou ao UPA 24h e
teve que esperar 18 horas até ser internado, por falta de leito no HC”, relata.
O eletricista Odilon Marques da Luz, 63, tem uma cunhada que trata Doença de
Chagas há 10 anos na instituição. “Sempre foram excelentes. Até ligavam para
ela para lembrar que tinha consulta marcada”.
Fonte:
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/contrato-com-ebserh-ja-passa-de-um-ano-e-crise-no-hospital-de-clinicas-so-aumenta-dm0buxuznoi3g2u23b044kyef
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