Universidades
são instituições “pluridisciplinares de formação de quadros profissionais de
nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber
humano”. “São centros de criação, transmissão e difusão da cultura, da ciência
e da tecnologia”, com foco e finalidade na formação e desenvolvimento humano. O
interior orgânico dessas instituições deve constituir-se de ambientes ricos de
conhecimento e saudáveis de convivência. No caso da Universidade Federal do
Ceará (UFC), os indicadores de avaliação institucional nos âmbitos do ensino,
da pesquisa e da extensão apontam que a ambiência do conhecimento e da produção
intelectual stricto e latu sensu vai muito bem.
Entretanto,
pode-se afirmar, categoricamente, que os ambientes que dão suporte
administrativo e técnico ao fazer institucional no que se refere ao convívio
harmônico e saudável das pessoas que neles atuam deixam muito a desejar.
Está-se, pois, diante de um enorme paradoxo: a Universidade vai bem, mas os
atores e autores que participam e contribuem para o processo do seu
desenvolvimento não vão bem na mesma proporção. A estrutura de poder imperante
no seu interior não condiz com a grandeza de sua função social e produção
intelectual. A começar pelo processo de escolha dos candidatos a reitor para
composição da lista tríplice a ser encaminhada à Presidência da República
objetivando a nomeação do reitor.
Esse processo,
conduzido pelo Conselho Universitário, estabelece uma divisão “hierárquica” da
comunidade universitária conferindo ao voto dos docentes o peso de 70%, 15% aos
técnico-administrativos e 15% aos estudantes. O nome disso é segregação ou
apartheid institucional. Em decorrência, os “territórios institucionais” são
ocupados a bel-prazer do reitor eleito, sem nenhuma discussão com a comunidade
universitária que fica à mercê de suas ordens e “desordens”.
Os três
segmentos que estruturam as universidades – alunos, técnico-administrativos e
docentes –, possuem e desenvolvem responsabilidades que se completam para dar
conta do trabalho institucional, cada um no seu lugar, cada qual na sua função,
mas unidos e imbuídos em um só propósito: oferecer à sociedade brasileira os
preceitos teóricos e práticos fundamentais para o seu desenvolvimento, nas suas
mais variadas demandas.
A autonomia
universitária, constitucionalmente garantida, fica para trás, aliás, só é
aplicada quando lhe convém. Se a Universidade não pode arguir sua autonomia
para vencer os argumentos da lei, pelo menos poderia fazer valer sua soberania
e instalar, conceitualmente e de forma definitiva, a democracia dentro dela.
Daí a necessidade premente da sociedade civil participar e discutir de forma frequente
o que acontece tanto nos fóruns administrativos como no meio acadêmico, na
pesquisa e extensão, por se tratar de investimento alto custeado pela
população.
José
Raimundo Soares
opiniao@opovo.com.br
Coordenador
geral do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais no Estado do
Ceará (Sintufce)
Fonte:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/dom/2015/07/04/noticiasjornaldom,3464810/artigo-60-anos-da-ufc-universidade-e-democracia.shtml
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