Aconteceu na última
quinta-feira, 13, a segunda edição do mês de fevereiro do Cineclube Unifor, com
exibição do documentário A Sociedade do Espetáculo (1973), dirigido e
roteirizado por Guy Debord a partir de seu livro homônimo, escrito em 1967 e
reproduzido quase na íntegra na narração off que se estende por todo o longa.
Construindo uma crítica social
ferina a partir dos construtos teóricos de Karl Marx em Contribuição para a
Crítica da Economia Política (1859), Debord vai além, expondo fatos que só se
tornariam evidentes algumas décadas depois, já na sociedade de mercado da
hipermodernidade: a adoção do espetáculo como forma social de abstração, o
monopólio da aparência sobre a vida e o “assujeitamento” do indivíduo, que
passa a ser mero espectador frente ao protagonismo da mercadoria.
Construído sob a forma de um
discurso ilustrado por imagens em preto-e-branco artístico-performáticas,
fabris, publicitárias e militares, a obra mostra com impressionante força
plástica o fascismo velado da sociedade de consumo, ou, como quer Debord, do
espetáculo, em que “tudo o que era diretamente vivido tornou-se uma
representação” e “a própria insatisfação tornou-se uma mercadoria”.
A exibição foi seguida de
debate com a socióloga Rosa da Fonseca, membro-fundador do movimento Crítica
Radical, e Jorge Paiva, estrategista e líder intelectual do grupo. Ambos
destacaram o pensamento de Guy Debord como norteador da ideologia do Crítica
Radical após o que denominam como uma certa superação de Marx.
A inovação teórica inaugurada
por Debord consistiria em uma leitura do
capitalismo não mais do ponto de vista da luta de classes, mas a partir de uma
crítica do sistema em suas categorias: dinheiro, mercadoria, trabalho etc.
Dessa forma, o autor teria se antecipado à derrocada das revoluções socialistas
ao sugerir que a possibilidade de superação positiva do capitalismo poder-se-ia
dar unicamente a partir de uma ruptura radical com a parafernalha do sistema
(algo que Marx e os bolcheviques jamais se propuseram a fazer).
Rosa da Fonseca enfatiza a
realidade do dinheiro e do capitalismo como construções histórico-culturais,
instâncias não-ontológicas, i.e. não inerentes ao homem, e que estão chegando
ao seu limite – “o capitalismo é uma contradição em processo; a maior parte do
capital que circula hoje no mundo é fictício, vive-se uma bolha”, afirma.
Em sua incitação à recusa da
mediação das relações sociais pelo dinheiro, a socióloga chega a utilizar a
metáfora da necessidade da ruptura da Matrix. Para Jorge Paiva, “o indivíduo
encontra-se enfeitiçado pelo fetiche da mercadoria”, e isso o impede de
enxergar o capital como uma abstração falsa e reificadora, da qual o homem
prescindiu durante longos períodos de sua história.
Rosa, por fim, ao esgotamento
socioeconômico iminente do capitalismo, lança a questão: “A humanidade vai
sucumbir junto com o sistema? Ou vamos
por nossa criatividade à disposição de um novo modelo?”.
O Cineclube Unifor, sob
coordenação do professor Márcio Acselrad, é uma atividade de extensão
universitária formadora de plateias para o cinema, o diálogo e a crítica. Suas
sessões, sempre acompanhadas de debate, ocorrem todas as quintas-feiras, às
13h30 na sala A da videoteca, e são gratuitas e abertas ao público.
Texto: Lia Martins
Ficha Técnica
Título Original: La société du
spectacle
Ano: 1973
Direção: Guy Debord
Roteiro: Guy Debord
Gênero: documentário
Duração: 88 min.
Origem: França
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