“Poderíamos efetivamente distinguir muitos tipos de ‘anticapitalismo’
explorando a forma como veem a compatibilidade entre capitalismo e democracia.
Num extremo, ficariam aqueles para quem a democracia é compatível com um
capitalismo reformado, em que empresas gigantescas são socialmente mais
conscientes e responsáveis perante a vontade popular, e certos serviços sociais
são ditados por instituições públicas e não pelo mercado, ou no mínimo
regulados por alguma agência pública responsável. É possível que essa concepção
seja menos anticapitalista que antineoliberal ou antiglobalização. No outro
extremo, estariam aqueles que acreditam que, apesar da importância da crítica
da luta em favor de qualquer reforma democrática no âmbito da sociedade
capitalista, o capitalismo é, na essência, incompatível com a democracia. E é
incompatível não apenas no caráter óbvio de que o capitalismo representa o
governo de classe pelo capital, mas também no sentido de que o capitalismo
limita o poder do ‘povo’ entendido no estrito significado político. Não existe
um capitalismo governado pelo poder popular, não há capitalismo em que a
vontade do povo tenha precedência sobre os imperativos do lucro e da
acumulação, não há capitalismo em que as exigências de maximização dos lucros
não definam as condições mais básicas da vida.
Este livro pertence à segunda categoria de
anticapitalismo. Ele conclui que “um capitalismo humano, ‘social’,
verdadeiramente democrático e equitativo é mais irreal e utópico que o
socialismo”.”
(WOOD, Ellen Meiksins. Democracia contra Capitalismo: a renovação do materialismo histórico.
São Paulo: Boitempo, 2011 – livro publicado em 1995 – análise de artigos de
1981-1994)
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