Por: Saúde
Web Em: 27/09/2012 às 14:53:46
Hoje há, pelo menos, 343 conflitos ambientais no
Brasil com impacto na saúde coletiva. As populações mais atingidas são
indígenas (33,67%), agricultores familiares (31,99%) e quilombolas (21,55%), em
regiões rurais (60,85%), urbanas (30,99%) e em áreas com características não
definidas (8,17%). Esses são alguns dos dados apresentados pelo Mapa da Injustiça Ambiental e Saúde no
Brasil, elaborado pela Fiocruz e pela ONG Fase. Misto de espaço para
denúncias e instrumento de monitoramento, o projeto sistematiza e traz a
público – por meio de seu site – informações sobre casos de injustiça ambiental
em todo o Brasil.
O mapa enfoca
a relação entre essas injustiças ambientais e os problemas de saúde, adotando
uma concepção ampliada de saúde. Ou seja: considera não apenas sua dimensão
biomédica, mas questões relacionadas aos conflitos, à qualidade de vida,
cultura, tradições e violência. Segundo o coordenador geral do projeto, o
pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Marcelo Firpo, a
questão essencial é o combate ao atual modelo de desenvolvimento que despreza
os direitos humanos em favor de um produtivismo exacerbado. “Nenhum crescimento econômico deveria
justificar assassinatos, qualquer tipo de violência ou a perda da qualidade de
vida das populações, atingidas em seus territórios. Mas não é isso o que
acontece”, critica. Além de Firpo, o mapa conta com a coordenadoria
executiva de Tania Pacheco e outros pesquisadores que avaliam, sistematizam e
revisam as informações antes de disponibilizá-las no site.
Selecionando
conflitos sistematicamente denunciados pelas próprias populações, por
movimentos sociais e pela Rede Brasileira de Justiça Ambiental desde o início
de 2006, o mapa revela que a principal
resultante do impacto ambiental sofrido pelas populações é a piora em sua
qualidade de vida (79,8%). O segundo
grave problema das comunidades é a violência, nas formas de ameaça (37,71%),
coação física (15,82%), lesão corporal (12,12%) e assassinato (10,10%).
Outros problemas de saúde também impactados significativamente em situações de
injustiça ambiental são doenças não
transmissíveis (40,07%) e insegurança alimentar (30,98%).
Violência e
insalubridade
Firpo
ressalta que os números da violência são essenciais na análise da interface
entre saúde, ambiente, direitos humanos e democracia, demonstrando o quanto as
populações que lutam por seu modo de vida e contra os interesses econômicos são
atacadas. Quanto às doenças não transmissíveis, ele resgata o conceito de zonas
de sacrifício ou infernais – do sociólogo americano Robert Bullard – e resume:
“Por exemplo, pessoas passam a habitar
áreas poluídas e sem a mínima infraestrutura próximas aos grandes
empreendimentos, fábricas poluentes ou lixões em busca de empregos e
sobrevivência, e acabam sofrendo pelo agravamento de doenças como câncer e
problemas respiratórios.”
Em relação à insegurança alimentar, a questão é
diretamente ligada à degradação
ambiental e às transformações
nos modos de vida locais. “As monoculturas
de eucalipto, por exemplo, geram
problemas de acesso à água e isso afeta outras culturas agrárias. No caso
de populações tradicionais, como indígenas e quilombolas, a ruptura nos modos
de vida não é apenas material, mas também simbólica”, exemplifica.
O projeto
teve apoio inicial do Departamento de Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do
Ministério da Saúde e deverá continuar a ser apoiado, a partir do final deste
ano, pela Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Visite o site do
Mapa e conheça detalhes sobre os conflitos ambientais no Brasil e seus impactos
sobre a saúde coletiva.
Fonte: ISAGS
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